Neste nosso quadragésimo sétimo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos de ler o quinto canto da obra, onde Camões canta as dificuldades passadas pelos portugueses na viagem rumo ao Oriente.
CANTO V – ESTROFE 61
“O capitão Vasco da Gama comenta que a frota deixa o Cabo da Boa Esperança, seguindo pela costa africana oriental”
Já Flégon e Piróis vinham tirando
Co’os outros dous o carro radiante,
Quando a terra alta se nos foi mostrando,
Em que foi convertido o grão gigante.
Ao longo desta costa começando
Já de cortar as ondas do Levante,
Por ela abaixo um pouco navegamos,
Onde segunda vez terra tomamos.
“Já Flégon e Piróis vinham tirando co’os outros dous o carro radiante, quando a terra alta se nos foi mostrando, em que foi convertido o grão gigante. Ao longo desta costa começando já de cortar as ondas do Levante, por ela abaixo um pouco navegamos, onde segunda vez terra tomamos. (1)”
(1) Já anoitecia – com Flégon e Piróis, os cavalos que puxam o carro de Febo, deitando o sol no mar – quando uma alta terra que deu lugar ao Gigante Adamastor foi surgindo. Agora começávamos a cortar as ondas da costa africana oriental, com a nossa frota seguindo até que atracamos em terra uma segunda vez. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia, comenta que eles passam pelo Cabo da Boa Esperança e agora seguem navegando na costa oriental africana.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Já anoitecia – com Flégon e Piróis, os cavalos que puxam o carro de Febo, deitando o sol no mar – quando uma alta terra que deu lugar ao Gigante Adamastor foi surgindo. Agora começávamos a cortar as ondas da costa africana oriental, com a nossa frota seguindo até que atracamos em terra uma segunda vez.”
CANTO V – ESTROFE 62
“O capitão Vasco da Gama comenta que eles chegam na Baía de S. Brás”
A gente que esta terra possuía,
Posto que todos Etiopes eram,
Mais humana no trato parecia
Que os outros, que tão mal nos receberam.
Com bailos e com festas de alegria
Pela praia arenosa a nós vieram,
As mulheres consigo e o manso gado
Que apascentavam, gordo e bem criado.
“A gente que esta terra possuía, posto que todos Etiopes eram, mais humana no trato parecia que os outros, que tão mal nos receberam. Com bailos e com festas de alegria pela praia arenosa a nós vieram, as mulheres consigo e o manso gado que apascentavam, gordo e bem criado. (1)”
(1) Os habitantes desta nova terra, que eram os cafres etíopes, foram muito mais amigáveis em nos receber do que os negros da Baia de St. Helena, que nos trataram tão mal. Os homens chegaram até nós com danças e festas de alegria naquelas praias arenosas, trazendo com sigo suas mulheres e o manso gado que pastavam, este que se mostrava gordo e muito bem criado. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia, comenta a recepção calorosa que tiveram na Baía de S. Brás.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Os habitantes desta nova terra, que eram os cafres etíopes, foram muito mais amigáveis em nos receber do que os negros da Baia de St. Helena, que nos trataram tão mal. Os homens chegaram até nós com danças e festas de alegria naquelas praias arenosas, trazendo com sigo suas mulheres e o manso gado que pastavam, este que se mostrava gordo e muito bem criado.”
CANTO V – ESTROFE 63
“O capitão Vasco da Gama descreve a população da Baía de S. Brás”
As mulheres queimadas vêm em cima
Dos vagarosos bois, ali sentadas;
Animais, que eles têm em mais estima
Que todo outro gado das manadas.
Cantigas pastoris, em prosa ou em rima,
Na sua língua cantam, concertadas
Co’o doce som das rústicas avenas,
Imitando de Títiro as Camenas.
“As mulheres queimadas vêm em cima dos vagarosos bois, ali sentadas; animais, que eles têm em mais estima que todo outro gado das manadas. Cantigas pastoris, em prosa ou em rima, na sua língua cantam, concertadas co’o doce som das rústicas avenas, imitando de Títiro as Camenas. (1)”
(1) As mulheres negras vinham sentadas em cima de vagarosos bois, animais estes que os etíopes tinham mais estima do que os demais gados da manada. Cantam em sua língua cantigas pastoris em prosa ou em rima, estas que são harmonizadas com o doce som das rústicas flautas, parecendo imitar as Camenas de Títiro. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia, comenta a recepção calorosa que tiveram na Baía de S. Brás.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“As mulheres negras vinham sentadas em cima de vagarosos bois, animais estes que os etíopes tinham mais estima do que os demais gados da manada. Cantam em sua língua cantigas pastoris em prosa ou em rima, estas que são harmonizadas com o doce som das rústicas flautas, parecendo imitar as Camenas de Títiro.”
CANTO V – ESTROFE 64
“O capitão Vasco da Gama comenta que, após serem muito bem recebidos na Baía de S. Brás e reabastecerem suas naus, eles seguem navegando pela costa africana”
Estes, como na vista prazenteiros
Fossem, humanamente nos trataram,
Trazendo-nos galinhas e carneiros,
A troco d’outras peças que levaram;
Mas como nunca enfim meus companheiros
Palavra alguma lhe alcançaram,
Que desse algum sinal do que buscávamos,
As velas dando, as âncoras levamos.
“Estes, como na vista prazenteiros fossem, humanamente nos trataram, trazendo-nos galinhas e carneiros, a troco d’outras peças que levaram; mas como nunca enfim meus companheiros palavra alguma lhe alcançaram, que desse algum sinal do que buscávamos, as velas dando, as âncoras levamos. (1)”
(1) Os habitantes deste lugar, nos trataram de forma muito gentil e caridosa, trazendo-nos galinhas e carneiros e levando algumas peças nossas em troca; mas, como os meus companheiros portugueses não conseguiam se comunicar de forma alguma com os etíopes para que eles nos ajudassem em nossa empreitada, enfim levantamos as âncoras e devemos vento as velas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que, após a calorosa recepção na Baía de S. Brás, a frota volta ao mar e segue viagem.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Os habitantes deste lugar, nos trataram de forma muito gentil e caridosa, trazendo-nos galinhas e carneiros e levando algumas peças nossas em troca; mas, como os meus companheiros portugueses não conseguiam se comunicar de forma alguma com os etíopes para que eles nos ajudassem em nossa empreitada, enfim levantamos as âncoras e devemos vento as velas.”
CANTO V – ESTROFE 65
“O capitão Vasco da Gama comenta as naus portuguesas seguem navegando pela costa africana oriental”
“Já aqui tínhamos dado um grão rodeio
À costa negra de África, e tornava
A proa a demandar o ardente meio
Do céu, do Polo Antártico ficava.
Aquele ilhéu deixamos, onde veio
Outra armada primeira, que buscava
O Tormentório Cabo, e descoberto,
Naquele ilhéu fez seu limite certo.
“Já aqui tínhamos dado um grão rodeio à costa negra de África, e tornava a proa a demandar o ardente meio do céu, do Polo Antártico ficava. Aquele ilhéu deixamos, onde veio outra armada primeira, que buscava o Tormentório Cabo, e descoberto, naquele ilhéu fez seu limite certo. (1)”
(1) Já tínhamos dado uma grande volta na costa do negro continente africado, com a proa das nossas embarcações seguindo para o Equador e deixando o Polo Antártico para trás. Nós deixamos aquele ilhéu, este que foi o limite da primeira armada portuguesa conduzida por Bartolomeu Dias que buscava o Cabo das Tormentas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que a frota portuguesa segue navegando na costa africana oriental.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Já tínhamos dado uma grande volta na costa do negro continente africado, com a proa das nossas embarcações seguindo para o Equador e deixando o Polo Antártico para trás. Nós deixamos aquele ilhéu, este que foi o limite da primeira armada portuguesa conduzida por Bartolomeu Dias que buscava o Cabo das Tormentas.”
CANTO V – ESTROFE 66
“O capitão Vasco da Gama comenta as dificuldades nesta parte da viagem”
Daqui fomos cortando muitos dias,
Entre tormentas tristes e bonanças,
No largo mar fazendo novas vias,
Só conduzidos de árduas esperanças.
Co’o mar um tempo andamos em porfias,
Que, como tudo nele são mudanças,
Corrente nele são mudanças,
Corrente nele achamos tão possante,
Que passar não deixa por diante.
“Daqui fomos cortando muitos dias, entre tormentas tristes e bonanças, no largo mar fazendo novas vias, só conduzidos de árduas esperanças. Co’o mar um tempo andamos em porfias, que, como tudo nele são mudanças, corrente nele são mudanças, corrente nele achamos tão possante, que passar não deixa por diante. (1)”
(1) Fomos cortando as águas da costa oriental africana por muitos dias, passando por tempestades e por calmaria, enquanto fazíamos novos caminhos que eram conduzidos apenas pelas nossas árduas esperanças. Durante algum tempo sofremos com o mar, pois nele as correntezas sempre são incertas, com elas ora nos deixando avançar, ora nos deixando parados. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continua a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta as dificuldades com as correntezas enquanto navegavam na costa africana oriental.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Fomos cortando as águas da costa oriental africana por muitos dias, passando por tempestades e por calmaria, enquanto fazíamos novos caminhos que eram conduzidos apenas pelas nossas árduas esperanças. Durante algum tempo sofremos com o mar, pois nele as correntezas sempre são incertas, com elas ora nos deixando avançar, ora nos deixando parados.”
CANTO V – ESTROFE 67
“O capitão Vasco da Gama comenta as dificuldades de se navegar nas correntezas da costa africana”
Era maior a força em demasia,
Segundo para trás nos obrigava,
Do mar, que contra nós ali corria,
Que por nós a do vento que assoprava.
Injuriado Noto da porfia
Em que co’o mar (parece) tanto estava,
Os assopros esforça iradamente,
Com que fez vencer a grã corrente.
“Era maior a força em demasia, segundo para trás nos obrigava, do mar, que contra nós ali corria, que por nós a do vento que assoprava. Injuriado Noto da porfia em que co’o mar (parece) tanto estava, os assopros esforça iradamente, com que fez vencer a grã corrente. (1)”
(1) A força das correntezas que nos empurrava para trás era muito grande, muito mais forte que a força dos ventos que nos empurravam para frente. Noto, o vento sul, que parecia estar brigando com as forças do mar, iradamente sopra com mais esforço, vencendo as grandes correntezas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continua a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, continua comenta as dificuldades com as correntezas enquanto navegavam na costa africana oriental.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“A força das correntezas que nos empurrava para trás era muito grande, muito mais forte que a força dos ventos que nos empurravam para frente. Noto, o vento sul, que parecia estar brigando com as forças do mar, iradamente sopra com mais esforço, vencendo as grandes correntezas.”
CANTO V – ESTROFE 68
“O capitão Vasco da Gama comenta a descoberta de um novo local na data do dia dos Reis, nomeando o lugar como Rio dos Reis”
Trazia o sol o dia celebrado,
Em que três reis das partes do Oriente
Foram buscar um Rei, de pouco nado,
No qual Rei outros três há juntamente:
Neste dia outro porto foi tomado
Por nós, da mesma já contada gente,
Num largo rio, ao qual o nome demos
Do dia em que por ele nos metemos.
“Trazia o sol o dia celebrado, em que três reis das partes do Oriente foram buscar um Rei, de pouco nado, no qual Rei outros três há juntamente: neste dia outro porto foi tomado por nós, da mesma já contada gente, num largo rio, ao qual o nome demos do dia em que por ele nos metemos. (1)”
(1) O Sol trazia o celebrado dia 6 de janeiro, dia em que três reis do Oriente foram busca um Rei recém-nascido, este que junta já havia outros três reis. Nesta data nós encontramos outro porto dos negros africanos, e também um largo rio, ao qual demos o nome do Rio dos Reis, por causa da data que o descobrimos. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que a frota portuguesa segue navegando na costa africana oriental.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O Sol trazia o celebrado dia 6 de janeiro, dia em que três reis do Oriente foram busca um Rei recém-nascido, este que junta já havia outros três reis. Nesta data nós encontramos outro porto dos negros africanos, e também um largo rio, ao qual demos o nome do Rio dos Reis, por causa da data que o descobrimos.”
CANTO V – ESTROFE 69
“O capitão Vasco da Gama comenta que a frota se reabastece no Rio do Reis, mas não consegue nenhuma informação sobre as terras indianas”
Desta gente refresco algum tomamos,
E do rio fresca água; mas contudo
Nenhum sinal aqui da Índia achamos
No povo, com nós outros quase mudos.
Ora vê, rei, quamanha terra andamos,
Sem sair nunca deste povo rudo,
Sem vermos nunca nova sem sinal
Da desejada parte oriental.
“Desta gente refresco algum tomamos, e do rio fresca água; mas contudo nenhum sinal aqui da Índia achamos no povo, com nós outros quase mudos. Ora vê, rei, quamanha terra andamos, sem sair nunca deste povo rudo, sem vermos nunca nova sem sinal da desejada parte oriental. (1)”
(1) Conseguimos alguns suprimentos deste povo e água deste rio, mas não conseguimos nenhuma informação sobre as terras indianas com essa gente, que foram para nós quase como mudos. Veja você, rei de Melinde, por quanto andamos sem nunca descobrir nada sobre o Oriente com esses povos bárbaros da África. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que conseguiram mantimentos conforme percorriam a costa africana, mas não obtiveram nenhuma informação para auxiliamos em sua empreitada.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Conseguimos alguns suprimentos deste povo e água deste rio, mas não conseguimos nenhuma informação sobre as terras indianas com essa gente, que foram para nós quase como mudos. Veja você, rei de Melinde, por quanto andamos sem nunca descobrir nada sobre o Oriente com esses povos bárbaros da África.”
CANTO V – ESTROFE 70
“O capitão Vasco da Gama comenta as dificuldades passadas por ele e sua tripulação”
Ora imagina agora, quão coitados
Andaríamos todos, quão perdidos,
De fomes, de tormentas quebrantados,
Por climas e por mares não sabidos,
E do esperar comprido tão cansados,
Quanto a desesperar já compelidos,
Por céus não naturais, de qualidade
Inimiga de nossa humanidade.
“Ora imagina agora, quão coitados andaríamos todos, quão perdidos, de fomes, de tormentas quebrantados, por climas e por mares não sabidos, e do esperar comprido tão cansados, quanto a desesperar já compelidos, por céus não naturais, de qualidade inimiga de nossa humanidade. (1)”
(1) Ora imagina agora o quão dignos de penas andávamos todos nós, o quão perdidos de fome, o quão feridos por causa das tempestades, climas e mares desconhecidos; o quão cansados de esperar algo e estando já desesperados nestas situações perigosas para a vida humana. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a comenta a viagem dos portugueses à Índia no Oriente, diz ao rei de Melinde o quanto eles sofreram durante a viagem.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ora imagina agora o quão dignos de penas andávamos todos nós, o quão perdidos de fome, o quão feridos por causa das tempestades, climas e mares desconhecidos; o quão cansados de esperar algo e estando já desesperados nestas situações perigosas para a vida humana.”
CANTO V – ESTROFE 71
“O capitão Vasco da Gama comenta que, apesar das dificuldades, os marinheiros portugueses se mantiveram resilientes durante toda a viagem”
Corrupto já e danado o mantimento,
Danoso e mau ao fraco e corpo humano
E além disso nenhum contentamento,
Que sequer de esperança fosse engano!
Crês tu, que este nosso ajuntamento
De soldados não fora lusitano,
Que durara ele tanto obediente
Porventura a seu rei e a seu regente?
“Corrupto já e danado o mantimento, danoso e mau ao fraco e corpo humano e além disso nenhum contentamento, que sequer de esperança fosse engano! Crês tu, que este nosso ajuntamento de soldados não fora lusitano, que durara ele tanto obediente porventura a seu rei e a seu regente? (1)”
(1) Estavam as nossas provisões já estragadas, nossos corpos fracos e machucados e, para piorar, não tínhamos nenhuma satisfação para a conclusão da nossa empreitada, nem sequer um engano! Crês tu, rei de Melinde, que, se não fossem lusitanos, esse ajuntamento de soldados continuaria a ser tão obediente ao seu capitão e as ordens de seu rei após tanto infortúnio? Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta os sofrimentos dos portugueses e a resiliência deles em continuar firmes em sua jornada.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Estavam as nossas provisões já estragadas, nossos corpos fracos e machucados e, para piorar, não tínhamos nenhuma satisfação para a conclusão da nossa empreitada, nem sequer um engano! Crês tu, rei de Melinde, que, se não fossem lusitanos, esse ajuntamento de soldados continuaria a ser tão obediente ao seu capitão e as ordens de seu rei após tanto infortúnio?”
CANTO V – ESTROFE 72
“O capitão Vasco da Gama comenta que, se fossem outros povos fazendo esta viagem, com certeza a tripulação já teria se rebelado”
Crês tu, que já não foram levantados
Contra seu capitão, se os resistira,
Fazendo-os piratas, obrigados
De desesperação, de fome, de ira?
Grademente por certo estão provados,
Pois que nenhum trabalho grande os tira
Daquela portuguesa alta excelência
De lealdade firme e obediência.
“Crês tu, que já não foram levantados contra seu capitão, se os resistira, fazendo-os piratas, obrigados de desesperação, de fome, de ira? Grademente por certo estão provados, pois que nenhum trabalho grande os tira daquela portuguesa alta excelência de lealdade firme e obediência. (1)”
(1) Crês tu que, se não fossem portugueses, cederiam à desesperação, fome e ira, levantando-se contra seu capitão se este resistisse e tornando-se todos piratas? As dificuldades desta empresa mais que provam que, mesmo com dificuldades, eles não perdem a virtude da firme lealdade e obediência portuguesa. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta a resiliência dos marinheiros portugueses em se manterem firmes e obedientes.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Crês tu que, se não fossem portugueses, cederiam à desesperação, fome e ira, levantando-se contra seu capitão se este resistisse e tornando-se todos piratas? As dificuldades desta empresa mais que provam que, mesmo com dificuldades, eles não perdem a virtude da firme lealdade e obediência portuguesa.”
CANTO V – ESTROFE 73
“O capitão Vasco da Gama comenta que as naus portuguesas seguem navegando na costa africana oriental”
“Deixando o porto enfim do doce rio,
E tornando a cortar a água salgada.
Fizemos desta costa algum desvio,
Deitando para o pego toda armada;
Por que, ventando Noto manso e frio,
Não nos apanhasse a água da enseada,
Que a costa faz ali daquela banda,
Donde a rica Sofala o ouro manda.
“Deixando o porto enfim do doce rio, e tornando a cortar a água salgada. Fizemos desta costa algum desvio, deitando para o pego toda armada; por que, ventando Noto manso e frio, não nos apanhasse a água da enseada, que a costa faz ali daquela banda, donde a rica Sofala o ouro manda. (1)”
(1) Deixamos, enfim, o porto do Rio dos Reis, tornando a cortar as águas salgadas do mar com nossas naus. Nesta costa fizemos um desvio, seguindo caminho com a armada pelo mar aberto, para que assim o manso e frio vento do Sul não nos fizesse encalhar no porto de Sofala, esta que mandava muito ouro para o Oriente. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia, comenta que, reabastecidos, eles partem de Rio dos Reis seguindo viagem.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Deixamos, enfim, o porto do Rio dos Reis, tornando a cortar as águas salgadas do mar com nossas naus. Nesta costa fizemos um desvio, seguindo caminho com a armada pelo mar aberto, para que assim o manso e frio vento do Sul não nos fizesse encalhar no porto de Sofala, esta que mandava muito ouro para o Oriente.”
CANTO V – ESTROFE 74
“O capitão Vasco da Gama comenta que, estando navegando, a frota fica anima ao encontrar um novo local para atracar”
Esta passada, logo o leve leme
Encomendando ao sacro Nicolau,
Para onde o mar na costa brada e geme,
A proa ínclita duma e d’outra nau:
Quando, indo o coração que espera e teme,
E que tanto ficou dum fraco pau,
Do que esperava já desesperado,
Foi duma novidade alvoroçado.
“Esta passada, logo o leve leme encomendando ao sacro Nicolau, para onde o mar na costa brada e geme, a proa ínclita duma e d’outra nau: quando, indo o coração que espera e teme, e que tanto ficou dum fraco pau, do que esperava já desesperado, foi duma novidade alvoroçado. (1)”
(1) Passado já pela costa de Sofala, o leve leme das naus, que foi dedicado a S. Nicolau, foi direcionado para um lado onde o mar fazia o som das águas quebrando na areia, sendo este sinal de terra. Neste momento, o coração dos marinheiros ficou animado com a possibilidade de estar chegando à Índia, mesmo esta manobra abrindo chances para situações perigosas; sendo que houve uma grande novidade. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que a frota, estando em mar aberto, segue para um caminho que pode haver terra, animando os marinheiros com a possiblidade de estarem mais próximas das terras indianas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Passado já pela costa de Sofala, o leve leme das naus, que foi dedicado a S. Nicolau, foi direcionado para um lado onde o mar fazia o som das águas quebrando na areia, sendo este sinal de terra. Neste momento, o coração dos marinheiros ficou animado com a possibilidade de estar chegando à Índia, mesmo esta manobra abrindo chances para situações perigosas; sendo que houve uma grande novidade.”
CANTO V – ESTROFE 75
“O capitão Vasco da Gama comenta a descoberta de Quelimane”
E foi que, estando já da costa perto,
Onde as praias e vales bem se viam,
Num rio, que ali sai o mar aberto,
Batéis à vela entravam e saiam.
Alegria mui grande foi por certo
Acharmos já pessoas que sabiam,
Navegar; porque entr’elas esperamos
De achar novas algumas, como achamos.
“E foi que, estando já da costa perto, onde as praias e vales bem se viam, num rio, que ali sai o mar aberto, batéis à vela entravam e saiam. Alegria mui grande foi por certo acharmos já pessoas que sabiam, navegar; porque entr’elas esperamos de achar novas algumas, como achamos. (1)”
(1) E foi que, estando já perto da costa, era possível ver as praias e vales, assim como um rio que sai em mar aberto com batéis indo e vindo. Ficamos muito felizes ao encontrar pessoas que sabiam navegar, para que assim conseguíssemos notícias das terras indianas, coisa que realmente aconteceu. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que descobrem o Quelimane, na costa africana.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E foi que, estando já perto da costa, era possível ver as praias e vales, assim como um rio que sai em mar aberto com batéis indo e vindo. Ficamos muito felizes ao encontrar pessoas que sabiam navegar, para que assim conseguíssemos notícias das terras indianas, coisa que realmente aconteceu.”
CANTO V – ESTROFE 76
“O capitão Vasco da Gama comenta que a população de Quelimane eram todos negros e também descreve suas vestes”
Etíopes são todos, mas parece
Que com gente melhor comunicavam:
Palavra alguma arábia se conhece
Entre a linguagem sua, que falavam:
E com pano delgado, que se tece
De algodão, as cabeças apertavam;
Com outro, que de tinta azul se tinge,
Cada um as vergonhas partes cinge.
“Etíopes são todos, mas parece que com gente melhor comunicavam: palavra alguma arábia se conhece entre a linguagem sua, que falavam: e com pano delgado, que se tece de algodão, as cabeças apertavam; com outro, que de tinta azul se tinge, cada um as vergonhas partes cinge. (1)”
(1) Os povos dali são todos negros etíopes como os que já foram encontrados antes, embora parecem ser bem mais civilizados; do idioma que falavam, conheciam alguma coisa do árabe; trajavam um pano de algodão que apertava suas cabeças, enquanto um outro pano, na cor azul, tampava as suas vergonhas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia, descreve os povos que encontram no Quelimane.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Os povos dali são todos negros etíopes como os que já foram encontrados antes, embora parecem ser bem mais civilizados; do idioma que falavam, conheciam alguma coisa do árabe; trajavam um pano de algodão que apertava suas cabeças, enquanto um outro pano, na cor azul, tampava as suas vergonhas.”
CANTO V – ESTROFE 77
“O capitão Vasco da Gama conta que a população local conhece os povos das terras da Índia”
Pela arábica língua, que mal falam,
E que Fernão Martins mui bem entende,
Dizem, que por naus, que em grandeza igualam
As nossas, o seu mar se corta e fende:
Mas que lá donde sai o sol, se abalam
Para onde a costa ao sul se alarga e estende,
E do sul para o sol; terra onde havia
Gente assim como nós da cor do dia.
“Pela arábica língua, que mal falam, e que Fernão Martins mui bem entende, dizem, que por naus, que em grandeza igualam as nossas, o seu mar se corta e fende: mas que lá donde sai o sol, se abalam para onde a costa ao sul se alarga e estende, e do sul para o sol; terra onde havia gente assim como nós da cor do dia. (1)”
(1) Apesar deles falaram muito mal a língua arábica, Fernão Martins a entendia muito bem, conseguindo entender que eles dizem conhecer os povos da Índia, estes que possuem naus tão grandiosas quanto as nossas; com elas, esses povos do Oriente atravessam a costa africana e então retornam para donde vem, sendo eles da mesma cor branca que nós. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que descobriu novidades sobre a Índia com os povos Quelimane.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Apesar deles falaram muito mal a língua arábica, Fernão Martins a entendia muito bem, conseguindo entender que eles dizem conhecer os povos da Índia, estes que possuem naus tão grandiosas quanto as nossas; com elas, esses povos do Oriente atravessam a costa africana e então retornam para donde vem, sendo eles da mesma cor branca que nós.”
CANTO V – ESTROFE 78
“O capitão Vasco da Gama conta que a frota ficou muito animada com as informações sobre à Índia, nomeando o local como Bons Sinais”
Mui grandemente aqui nos alegramos
Co’a gente, e com as novas muito mais:
Pelos sinais, que neste rio achamos
O nome lhe ficou dos Bons Sinais.
Um padrão nesta terra alevantamos;
Que para assinalar lugares tais
Trazia alguns; o nome tem do belo
Guiador de Tobias e Gabelo.
“Mui grandemente aqui nos alegramos co’a gente, e com as novas muito mais: pelos sinais, que neste rio achamos o nome lhe ficou dos Bons Sinais. Um padrão nesta terra alevantamos; que para assinalar lugares tais trazia alguns; o nome tem do belo guiador de Tobias e Gabelo. (1)”
(1) Ficamos muito felizes com a gente desta terra e, mais ainda, com as novidades que nos contaram. Por causa dos bons sinais que achamos neste rio, o nomeamos como Bons Sinais. Colocamos um dos padrões que eu trazia comigo nesta terra, padrão que carrega o belo nome de S. Rafael, guiador de Tobias e Gabelo. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que ele ficou tão contente com o povo e as novidades contas em Quelimane, que nomeou o local como Bons Sinais.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ficamos muito felizes com a gente desta terra e, mais ainda, com as novidades que nos contaram. Por causa dos bons sinais que achamos neste rio, o nomeamos como Bons Sinais. Colocamos um dos padrões que eu trazia comigo nesta terra, padrão que carrega o belo nome de S. Rafael, guiador de Tobias e Gabelo.”
CANTO V – ESTROFE 79
“O capitão Vasco da Gama comenta que eles limpam as naus e reabastecem os suprimentos”
Aqui de limos, cascas, e d’ostrinhos,
Nojosa criação das águas fundas,
Alimpamos as naus, que dos caminhos
Longos do mar vem sórdidas e imundas.
Dos hóspedes, que tínhamos vizinhos,
Com mostras aprazíveis e jacundas,
Houvemos sempre o usado mantimento,
Limpos de todo o falso pensamento.
“Aqui de limos, cascas, e d’ostrinhos, nojosa criação das águas fundas, alimpamos as naus, que dos caminhos longos do mar vem sórdidas e imundas. Dos hóspedes, que tínhamos vizinhos, com mostras aprazíveis e jacundas, houvemos sempre o usado mantimento, limpos de todo o falso pensamento. (1)”
(1) Aqui nós aproveitamos e limpamos as naus de limos, conchas e de ostrinhas, nojosa criação das fundas águas que se grudam por causa dos longos caminhos que percorremos no mar, deixando as embarcações sujas e imundas. Dos hóspedes que tínhamos vizinhos, recebemos ostras e peixes como suprimentos, estes que não tinham nenhuma má intenção. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que eles aproveitaram a pausa no local para limpar as naus e colher mantimentos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Aqui nós aproveitamos e limpamos as naus de limos, conchas e de ostrinhas, nojosa criação das fundas águas que se grudam por causa dos longos caminhos que percorremos no mar, deixando as embarcações sujas e imundas. Dos hóspedes que tínhamos vizinhos, recebemos ostras e peixes como suprimentos, estes que não tinham nenhuma má intenção.”
CANTO V – ESTROFE 80
“O capitão Vasco da Gama comenta que, infelizmente, nem tudo estava ocorrendo bem”
Mas não foi da esperança grande e imensa
Que nesta terra houvemos, limpa e pura
A alegria; mas logo a recompensa
A Ramnúsia com nova desventura.
Assim no céu sereno dispensa:
Com esta condição pesada e dura
Nascemos: o pesar terá firmeza,
Mas o bem logo muda a natureza.
“Mas não foi da esperança grande e imensa que nesta terra houvemos, limpa e pura a alegria; mas logo a recompensa a Ramnúsia com nova desventura. Assim no céu sereno dispensa: com esta condição pesada e dura nascemos: o pesar terá firmeza, mas o bem logo muda a natureza. (1)”
(1) Mas a alegria e a esperança não foi tudo o que tivesses nesta terra, já que a Ramnúsia, a deusa da vingança e inveja, logo nos recompensou com uma nova desventura. Assim o Sereno Céu dispensa o bem e o mal, embora nós tenhamos nascido desta dura condição que o bem é pouco e o mal constante. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta que nem todo ocorreu de forma boa e agradável no Quelimane.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas a alegria e a esperança não foi tudo o que tivesses nesta terra, já que a Ramnúsia, a deusa da vingança e inveja, logo nos recompensou com uma nova desventura. Assim o Sereno Céu dispensa o bem e o mal, embora nós tenhamos nascido desta dura condição que o bem é pouco e o mal constante.”
CANTO V – ESTROFE 81
“O capitão Vasco da Gama comenta o caso de febre e escorbuto na tripulação portuguesa”
E foi, que de doença crua e feia,
A mais que eu nunca vi, desampararam
Muitos a vida e em terra estranha e alheia
Os ossos para sempre sepultaram.
Quem haverá que sem o ver o creia?
Que tão disformemente ali lhe incharam
As gengivas na boca, que crescia
A carne, e justamente apodrecia:
“E foi, que de doença crua e feia, a mais que eu nunca vi, desampararam muitos a vida e em terra estranha e alheia os ossos para sempre sepultaram. Quem haverá que sem o ver o creia? Que tão disformemente ali lhe incharam as gengivas na boca, que crescia a carne, e justamente apodrecia: (1)”
(1) A desventura foi a morte de muitos os meus companheiros, que pereceram por causa de uma doença que eu nunca vi, ficando com seus ossos para sempre sepultados nesta terra estranha e alheia. Quem acreditaria em tal coisa em ver com seus olhos? A doença inchava as gengivas da boca de uma forma uniforme, fazendo a carne cresce e então apodrecer. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses, comenta os terríveis casos de escorbuto e febre que os marinheiros sofriam.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“A desventura foi a morte de muitos os meus companheiros, que pereceram por causa de uma doença que eu nunca vi, ficando com seus ossos para sempre sepultados nesta terra estranha e alheia. Quem acreditaria em tal coisa em ver com seus olhos? A doença inchava as gengivas da boca de uma forma uniforme, fazendo a carne cresce e então apodrecer.”
CANTO V – ESTROFE 82
“O capitão Vasco da Gama comenta os casos de febre e escorbuto na tripulação portuguesa”
Apodrecia c’um fétido e bruto
Cheiro, que o ar vizinho infecionava
Não tínhamos ali médico astuto,
Cirurgião sutil menos se achava;
Mas qualquer neste ofício pouco instruto
Pela carne podre assim cortava
Como se fora morta; e bem convinha,
Pois que morto ficava quem a tinha.
“Apodrecia c’um fétido e bruto cheiro, que o ar vizinho infecionava não tínhamos ali médico astuto, cirurgião sutil menos se achava; mas qualquer neste ofício pouco instruto pela carne podre assim cortava como se fora morta; e bem convinha, pois que morto ficava quem a tinha. (1)”
(1) A carne com um terrível e forte cheiro que corrompia todo o ar em volta; nós não tínhamos nenhum médico astuto, tão pouco um hábil cirurgião para remove-la; qualquer um, mesmo com pouco conhecimento em medicina, logo corta a carne podre como se fosse morta, evitando que ela apodrecesse e matasse o resto do corpo. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses, comenta os terríveis casos de escorbuto e febre que os marinheiros sofriam.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“A carne com um terrível e forte cheiro que corrompia todo o ar em volta; nós não tínhamos nenhum médico astuto, tão pouco um hábil cirurgião para remove-la; qualquer um, mesmo com pouco conhecimento em medicina, logo corta a carne podre como se fosse morta, evitando que ela apodrecesse e matasse o resto do corpo.”
CANTO V – ESTROFE 83
“O capitão Vasco da Gama lamenta os portugueses que morreram na viagem que não puderam ser enterrados em Portugal”
Enfim que nesta incógnita espessura
Deixamos para sempre os companheiros,
Que em tal caminho e em tanta desventura
Foram sempre conosco aventureiros.
Quão fácil é ao corpo a sepultura!
Quaisquer ondas do mar, quaisquer outeiros
Estranhos, assim mesmo com os nossos,
Receberão de todo o ilustre os ossos.
“Enfim que nesta incógnita espessura deixamos para sempre os companheiros, que em tal caminho e em tanta desventura foram sempre conosco aventureiros. Quão fácil é ao corpo a sepultura! Quaisquer ondas do mar, quaisquer outeiros estranhos, assim mesmo com os nossos, receberão de todo o ilustre os ossos. (1)”
(1) Enfim, foi nesta situação que deixamos para sempre enterrados estes nossos companheiros que, mesmo com tantas dificuldades, acompanharam os nossos caminhos nessa aventura. Quão fácil é para o corpo sucumbir e cair na sepultura! Os ossos deles, assim os meus, poderão ser recebidos pelo mar ou em alguma cova numa terra de distante. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta a morte dos marinheiros portugueses, lamenta que tenham que ser sepultados longe de casa.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Enfim, foi nesta situação que deixamos para sempre enterrados estes nossos companheiros que, mesmo com tantas dificuldades, acompanharam os nossos caminhos nessa aventura. Quão fácil é para o corpo sucumbir e cair na sepultura! Os ossos deles, assim os meus, poderão ser recebidos pelo mar ou em alguma cova numa terra de distante.”
CANTO V – ESTROFE 84
“O capitão Vasco da Gama comenta que as naus seguiram navegando, tendo passado por Moçambique e por Mombaça”
Assim que deste porto nos partimos
Com maior esperança e mor tristeza,
E pela costa abaixo o mar abrimos,
Buscando algum sinal de mais firmeza.
Na dura Moçambique enfim surgimos,
De cuja falsidade e má vileza
Já serás sabedor, e dos enganos
Dos povos de Mombaça pouco humanos.
“Assim que deste porto nos partimos com maior esperança e mor tristeza, e pela costa abaixo o mar abrimos, buscando algum sinal de mais firmeza. Na dura Moçambique enfim surgimos, de cuja falsidade e má vileza já serás sabedor, e dos enganos dos povos de Mombaça pouco humanos. (1)”
(1) Desta forma partimos do porto muito tristes, mas com esperanças de estarmos mais próximos das terras indianas; seguimos pela costa africana atravessando as águas do mar em busca de novas terras. Fomos parar na cruel Moçambique, cuja as mentiras e atos malignos tu, vossa majestade, já conhece, assim como também conhecido as mentiras dos povos bárbaros de Mombaça. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a viagem dos portugueses rumo à Índia no Oriente, comenta os eventos que ocorrem na costa africana oriental.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Desta forma partimos do porto muito tristes, mas com esperanças de estarmos mais próximos das terras indianas; seguimos pela costa africana atravessando as águas do mar em busca de novas terras. Fomos parar na cruel Moçambique, cuja as mentiras e atos malignos tu, vossa majestade, já conhece, assim como também conhecido as mentiras dos povos bárbaros de Mombaça.”
CANTO V – ESTROFE 85
“O capitão Vasco da Gama termina seu longo relato sobre a história de Portugal, dos portugueses e da viagem rumo ao Oriente”
Até que aqui, no teu seguro porto,
Cuja brandura e doce tratamento
Dará saúde a um vivo e vida a um morto,
Nos trouxe a piedade do alto assento.
Aqui repouso, aqui doce conforto,
Nova inquietação do pensamento
Nos deste: e vês aqui, se atento ouviste,
Te contei tudo quanto me pediste.
“Até que aqui, no teu seguro porto, cuja brandura e doce tratamento dará saúde a um vivo e vida a um morto, nos trouxe a piedade do alto assento. Aqui repouso, aqui doce conforto, nova inquietação do pensamento nos deste: e vês aqui, se atento ouviste, te contei tudo quanto me pediste. (1)”
(1) E seguimos pela costa africana até, pela piedade do alto assento, chegarmos no teu seguro porto, cuja a brandura e doce tratamento são capazes de dar saúde a um vivo e vida a morte. Em Melinde, bondoso rei, recebemos repouso, conforto e o descanso para os nossos pensamentos. Se atento ouviu, digo que contei tudo o que pediu sobre Portugal, os portugueses e nossas viagens marítimas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama termina de contar ao rei de Melinde a história de Portugal, dos portugueses e das navegações deles rumo à Índia no Oriente.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E seguimos pela costa africana até, pela piedade do alto assento, chegarmos no teu seguro porto, cuja a brandura e doce tratamento são capazes de dar saúde a um vivo e vida a morte. Em Melinde, bondoso rei, recebemos repouso, conforto e o descanso para os nossos pensamentos. Se atento ouviu, digo que contei tudo o que pediu sobre Portugal, os portugueses e nossas viagens marítimas.”
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Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a sexagésima primeira até a octogésima quinta estrofe do quinto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta as dificuldades passadas pelos portugueses na viagem rumo ao Oriente.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.