Neste nosso quadragésimo oitavo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos de ler o quinto canto da obra, onde Camões canta o fim do relato que o capitão Vasco da Gama fez ao rei de Melinde sobre Portugal.

OS LUSÍADAS O FIM DO RELATO DO CAPITÃO VASCO DA GAMA SOBRE PORTUGAL
O fim do relato do capitão Vasco da Gama sobre Portugal

CANTO V – ESTROFE 86

“O capitão Vasco da Gama diz o rei de Melinde que nenhum outro povo fez tal empreitada como está que os portugueses estão fazendo”

 

Julgas agora, rei, se houve no mundo

Gentes que tais caminhos cometessem?

Crês tu que tanto Eneias e o facundo

Ulisses pelo mundo se entendessem?

Ousou algum a ver do mar profundo,

Por mais versos que dele se escrevessem,

Do que eu vi, a poder d’esforço e de arte,

E do que inda hei de ver, a oitava parte?

 

“Julgas agora, rei, se houve no mundo gentes que tais caminhos cometessem? Crês tu que tanto Eneias e o facundo Ulisses pelo mundo se entendessem? Ousou algum a ver do mar profundo, por mais versos que dele se escrevessem, do que eu vi, a poder d’esforço e de arte, e do que inda hei de ver, a oitava parte? (1)

(1) Julgas, agora, ó rei, se houve no mundo um povo que tentou se aventurar por tais caminhos? Crês tu que Eneias e o talentoso Ulisses se aventuraram tanto pelo mundo quanto nós? Ouve algum outro navegante, por mais versos que dele se escrevessem, que viu tanto do mar profundo quanto eu vi e que eu ainda verei no resto da viagem? Camões canta que o capitão Vasco da Gama questiona o rei de Melinde se algum outro povo fez tal empreitada e seu algum outro marinheiro viu tanto quanto ele viu.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Julgas, agora, ó rei, se houve no mundo um povo que tentou se aventurar por tais caminhos? Crês tu que Eneias e o talentoso Ulisses se aventuraram tanto pelo mundo quanto nós? Ouve algum outro navegante, por mais versos que dele se escrevessem, que viu tanto do mar profundo quanto eu vi e que eu ainda verei no resto da viagem?”

CANTO V – ESTROFE 87

“O capitão Vasco da Gama comenta sobre as grandes obras de Homero e Virgílio”

 

Esse que bebeu tanto da água aônia,

Sobre quem tem contenta peregrina

Entre si Rodes, Smirna e Colofônia,

Atenas, Quios, Argo e Salamina;

Ess’outro que esclarece toda Ausônia,

A cuja voz altíssona e divina,

Ouvindo, o pátrio Míncio se adormece,

Mas o Tibre co’o som se enobrece;

 

“Esse que bebeu tanto da água aônia, sobre quem tem contenta peregrina entre si Rodes, Smirna e Colofônia, Atenas, Quios, Argo e Salamina; Ess’outro que esclarece toda Ausônia, a cuja voz altíssona e divina, ouvindo, o pátrio Míncio se adormece, mas o Tibre co’o som se enobrece; (1)

(1) Homero, que teve seus versos inspirados por tanto beber da fonte de Hipocrêne, e que disputam o seu nascimento as cidades de Rodes, Smirna, Colofônia, Atena, Quios, Argo e Salamania; Virgílio, que honra toda a região da Itália e cujos os divinos e elevados versos adormecem as águas do rio Míncio e enobrece com seu som as águas do rio Tibre. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, falando ao rei de Melinde, diz que Homero ilustrou as terras da Grécia e seus heróis, assim como Virgílio ilustrou as terras da Itália e os heróis romanos, mas os feitos que ambos contam não se comparam com os seus [continua nas próximas estrofes].

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Homero, que teve seus versos inspirados por tanto beber da fonte de Hipocrêne, e que disputam o seu nascimento as cidades de Rodes, Smirna, Colofônia, Atena, Quios, Argo e Salamania; Virgílio, que honra toda a região da Itália e cujos os divinos e elevados versos adormecem as águas do rio Míncio e enobrece com seu som as águas do rio Tibre.”

CANTO V – ESTROFE 88

“O capitão Vasco da Gama comenta os feitos exagerados que são contados nas obras de Homero e Virgílio”

 

Cantem, louvem e escrevam sempre extremos

Desses seus semideuses, e encareçam

Fingindo magas, Circes, Polifemos,

Sirenas que co’o canto os adormeçam;

Dêem-lhe mais navegar a vela e remos,

Os Cicones e a terra onde se esqueçam

Os companheiros, em gostando o loto;

Dêem-lhe perder as águas o piloto.

 

“Cantem, louvem e escrevam sempre extremos desses seus semideuses, e encareçam fingindo magas, Circes, Polifemos, Sirenas que co’o canto os adormeçam; dêem-lhe mais navegar a vela e remos, os Cicones e a terra onde se esqueçam os companheiros, em gostando o loto; deem-lhe perder as águas o piloto. (1)

(1) Homero e Virgílio, que vocês cantem, louvem os feitos extraordinários do seus semideuses, exagerando e fingindo que viram magas, Circes, Polifemos e sereias que os adormecem os marinheiros com os seus cantos; as viagens marítimas deles, onde passaram pelas terras Cicones, pelas terras de Lótos e pelas de terras de Lucânia. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, falando ao rei de Melinde, diz que Homero e Virgílio podem atribuir, exagerar e inventar quaisquer feitos aos seus heróis, pois as realizações dele são verdadeiras e muito maiores [continua na próxima estrofe].

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Homero e Virgílio, que vocês cantem, louvem os feitos extraordinários do seus semideuses, exagerando e fingindo que viram magas, Circes, Polifemos e sereias que os adormecem os marinheiros com os seus cantos; as viagens marítimas deles, onde passaram pelas terras Cicones, pelas terras de Lótos e pelas de terras de Lucânia.”

CANTO V – ESTROFE 89

“O capitão Vasco da Gama conta que os seus feitos, além de verdadeiros, são muito superiores aos que foram registrados nos épicos de Homero e Virgílio”

 

Ventos soltos lhe finjam e imaginem

Dos odores, e Calipsos namoradas,

Harpias que o manjar lhe contaminem,

Descer às sombras nuas já passadas;

Que por muito e por muito que se afinem

Nesta fábula vãs, tão bem sonhadas,

A verdade, que eu conto nua e pura,

Vence toda a grandiosa escritura.”

 

“Ventos soltos lhe finjam e imaginem dos odores, e Calipsos namoradas, harpias que o manjar lhe contaminem, descer às sombras nuas já passadas; que por muito e por muito que se afinem nesta fábula vãs, tão bem sonhadas, a verdade, que eu conto nua e pura, vence toda a grandiosa escritura. (1)

(1) Homero e Virgílio, quando falam de seus heróis, inventam que eles dominaram os grandes ventos, que namoraram com Calipso, que tiveram seus alimentos contaminados por harpias e que eles desceram ao Submundo, onde jazem as nuas sombras do passado. Mesmo que esses grandes poetas continuassem com essas fábulas fãs e tão bem imaginadas, nenhuma chegaria aos pés das que eu, rei de Melinde, te conte, pois essas são verdadeiras e muito mais grandiosas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama termina a sua longa explanação sobre os grandes feitos dos portugueses feita ao rei de Melinde, concluindo dizendo que os eventos que os grandes poetas do passado contam, mesmo que impressionantes e fantásticos, não chegam aos pés dos seus.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Homero e Virgílio, quando falam de seus heróis, inventam que eles dominaram os grandes ventos, que namoraram com Calipso, que tiveram seus alimentos contaminados por harpias e que eles desceram ao Submundo, onde jazem as nuas sombras do passado. Mesmo que esses grandes poetas continuassem com essas fábulas fãs e tão bem imaginadas, nenhuma chegaria aos pés das que eu, rei de Melinde, te conte, pois essas são verdadeiras e muito mais grandiosas.”

CANTO V – ESTROFE 90

“O rei de Melinde e seu povo ficam impressionados com o relato que o capitão Vasco da Gama fez sobre Portugal”

 

Da boca do facundo capitão,

Pendendo estavam todos embebidos,

Quando deu fim à longa narração

Dos altos feitos, grandes e subidos.

Louva o rei o sublime coração

Dos reis em tantas guerras conhecidos:

Da gente louva a antiga fortaleza,

A lealdade d’ânimo e nobreza.

 

“Da boca do facundo capitão, pendendo estavam todos embebidos, quando deu fim à longa narração dos altos feitos, grandes e subidos. Louva o rei o sublime coração dos reis em tantas guerras conhecidos: da gente louva a antiga fortaleza, a lealdade d’ânimo e nobreza. (1)

(1) O rei de Melinde e sua comitiva estavam todos embebidos com a longa narração que o capitão Vasco da Gama fez dos grandes feitos dos portugueses, com eles boquiabertos quando ela terminou. O rei louva o sublime coração dos monarcas portugueses por lutam em tantas guerras, assim como louva o povo lusitano por sua antiga fortaleza, lealdade e nobreza. Camões canta que rei de Melinde e sua comitiva ficam impressionadas com a história de Portugal e dos portugueses, louvam os monarcas lusitanos e seu nobre povo.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O rei de Melinde e sua comitiva estavam todos embebidos com a longa narração que o capitão Vasco da Gama fez dos grandes feitos dos portugueses, com eles boquiabertos quando ela terminou. O rei louva o sublime coração dos monarcas portugueses por lutam em tantas guerras, assim como louva o povo lusitano por sua antiga fortaleza, lealdade e nobreza.”

CANTO V – ESTROFE 91

“Termina o dia e o rei retorna com a sua comitiva para Melinde”

 

Vai recontando o povo, que se admira,

O caso cada qual que mais notou:

Nenhum deles da gente os olhos tira,

Que tão longos caminhos rodeou.

Mas já o mancebo Délio as rédeas vira,

Que o irmão da Lampécia mal guiou,

Por vir a descansar nos tétios braços;

E el-rei se vai do mar aos nobres paços.

 

“Vai recontando o povo, que se admira, o caso cada qual que mais notou: nenhum deles da gente os olhos tira, que tão longos caminhos rodeou. Mas já o mancebo Délio as rédeas vira, que o irmão da Lampécia mal guiou, por vir a descansar nos tétios braços; e el-rei se vai do mar aos nobres paços. (1)

(1) O povo de Melinde, estando espantando de admiração, vai recontando cada um as partes que mais gostou do relato do capitão Vasco da Cama, com nenhum deles tirando os olhos dos portugueses. Mas neste momento o Sol, que guiava as rédeas de sua carruagem de fogo, já descia para o mar, indo descansar nos braços de Tétis e, assim como ele, o rei de Melinde deixa as naus portuguesas e volta para os seus aposentos. Camões canta que o povo de Melinde ficou muito impressionado com o relato do capitão Vasco da Gama.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O povo de Melinde, estando espantando de admiração, vai recontando cada um as partes que mais gostou do relato do capitão Vasco da Cama, com nenhum deles tirando os olhos dos portugueses. Mas neste momento o Sol, que guiava as rédeas de sua carruagem de fogo, já descia para o mar, indo descansar nos braços de Tétis e, assim como ele, o rei de Melinde deixa as naus portuguesas e volta para os seus aposentos.”

 

Gostou do conteúdo? Comece lendo a nossa série de posts sobre Os Lusíadas clicando aqui.

Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.

Os Lusíadas (Edição Didática) - Volume I e II – Editora Concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

os-lusíadasII-editora-concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a octogésima sexta até a nonagésima primeira estrofe do quinto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta o fim do relato que o capitão Vasco da Gama fez ao rei de Melinde sobre Portugal.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

plugins premium WordPress