Neste nosso quadragésimo nono comentário sobre Os Lusíadas, terminaremos de ler o quinto canto da obra, onde Camões canta que lamenta que os nobres portugueses não valorizem as artes e os estudos.

OS LUSÍADAS O LAMENTO DE CAMÕES QUANTO AOS PORTUGUESES
O lamento de Camões quanto aos portugueses

CANTO V – ESTROFE 92

“Camões comenta o quão grandioso é ter seus feitos louvados e celebrados”

 

Quão doce é o louvor, e a justa glória

Dos próprios feitos, quando são soados!

Qualquer nobre trabalha que em memória

Vença ou iguale os grandes já passados,

As invejas da ilustre e alheia história

Fazem mil vezes feitos sublimados:

Quem valerosas obra exercita,

Louvor alheio muito o esperta e incita.

 

“Quão doce é o louvor, e a justa glória dos próprios feitos, quando são soados! Qualquer nobre trabalha que em memória vença ou iguale os grandes já passados, as invejas da ilustre e alheia história fazem mil vezes feitos sublimados: quem valerosas obra exercita, louvor alheio muito o esperta e incita. (1)

(1) O quão saboroso é o doce gosto de ver serem celebrados os seus grandes feitos! Qualquer nobre dedica seus esforços para que seus feitos, após ele já ter partido, sejam considerados iguais ou superiores aos dos seus antepassados! O desejo de se igualar aos grandes nomes já produziu na história mil feitos sublimes! Aqueles que praticam obras valorosas incitam muito práticas semelhantes. Camões canta que é muito prazeroso ver seus feitos serem reconhecidos e que praticar grandes atos incita os próximos a fazerem o mesmo.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O quão saboroso é o doce gosto de ver serem celebrados os seus grandes feitos! Qualquer nobre dedica seus esforços para que seus feitos, após ele já ter partido, sejam considerados iguais ou superiores aos dos seus antepassados! O desejo de se igualar aos grandes nomes já produziu na história mil feitos sublimes! Aqueles que praticam obras valorosas incitam muito práticas semelhantes.”

CANTO V – ESTROFE 93

“Os grandes nomes do passado também ansiavam para ter seus feitos celebrados”

 

Não tinha em tanto os feitos gloriosos

De Aquiles Alexandre na peleja,

Quando de quem o canta, os numerosos

Versos; isso só louva, isso deseja.

Os troféus de Melcíades famosos

Temístocles despertam só de inveja;

E diz, que nada tanto deleitava

Como a voz que seus feitos celebrava.

 

“Não tinha em tanto os feitos gloriosos de Aquiles Alexandre na peleja, quando de quem o canta, os numerosos versos; isso só louva, isso deseja. Os troféus de Melcíades famosos Temístocles despertam só de inveja; e diz, que nada tanto deleitava como a voz que seus feitos celebrava. (1)

(1) Alexandre Magno apreciava mais os versos que cantavam as glórias de Aquiles do que os próprios feitos do herói, já que ele também desejava ter grandes versos que cantassem seus feitos. Temístocles sentia inveja dos famosos espólios de guerra de Melcíades, dizendo que nada o trazia mais prazer do que ter os seus grandes feitos celebrados. Camões canta que os grandes nomes do passado diziam o quão prazeroso era ter seus feitos celebrados nos versos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Alexandre Magno apreciava mais os versos que cantavam as glórias de Aquiles do que os próprios feitos do herói, já que ele também desejava ter grandes versos que cantassem seus feitos. Temístocles sentia inveja dos famosos espólios de guerra de Melcíades, dizendo que nada o trazia mais prazer do que ter os seus grandes feitos celebrados.”

CANTO V – ESTROFE 94

“Os esforços do capitão Vasco da Gama são para mostrar que seus feitos são muito superiores aos cantos nos grandes épicos do passado”

 

Trabalha por mostrar Vasco da Gama

Que essas navegações que o mundo canta,

Não merecem tamanha glória e fama

Como a sua, que o céu e a terra espanta.

Sim! Mas aquele herói que estima e ama

Com dons, mercês, favores e honra tanta

A lira mantuana, faz que soe

Enéias, e a romana glória voe.

 

“Trabalha por mostrar Vasco da Gama que essas navegações que o mundo canta, não merecem tamanha glória e fama como a sua, que o céu e a terra espanta. (1) Sim! Mas aquele herói que estima e ama com dons, mercês, favores e honra tanta a lira mantuana, faz que soe Enéias, e a romana glória voe. (2)

(1) O capitão Vasco da Gama se esforça por mostrar que as navegações de Ulisses e Eneias que são cantadas por Homero e Virgílio, quando comparadas com as suas, não merecem tanta glória e fama. Camões canta que o capitão Vasco da Gama diz que seus feitos são mais celebres dos que os cantos pelos grandes poetas do passado.

(2) Herói foi o Imperador Augusto que, pela estima e amor que tinha, favoreceu e celebrou os versos de Vergílio sobre o herói Eneias, elevando assim a glória romana. Camões canta o quão grandioso foi o Augusto Cesar, imperador de Roma, por favorecer a criação dos versos de seu povo.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O capitão Vasco da Gama se esforça por mostrar que as navegações de Ulisses e Eneias que são cantadas por Homero e Virgílio, quando comparadas com as suas, não merecem tanta glória e fama. Herói foi o Imperador Augusto que, pela estima e amor que tinha, favoreceu e celebrou os versos de Vergílio sobre o herói Eneias, elevando assim a glória romana.”

CANTO V – ESTROFE 95

“Camões lamenta que os nobres portugueses não valorizem tanto as artes e as letras”

 

Dá a terra lusitana Cipiões,

Cesares, Alexandres, e dá Augustos;

Mas não lhe dá contudo aquele dões,

Cuja falta os faz duros e robustos.

Otávio, entre as maiores opressões,

Compunha versos doutos e venustos.

Não dirá Fúlvia, certo que é mentira,

Quando a deixava Antônio por Glafira. 

 

“Dá a terra lusitana Cipiões, Cesares, Alexandres, e dá Augustos; mas não lhe dá contudo aquele dões, cuja falta os faz duros e robustos. Otávio, entre as maiores opressões, compunha versos doutos e venustos. Não dirá Fúlvia, certo que é mentira, quando a deixava Antônio por Glafira. (1)

(1) Nasce na terra lusitana grandes homens, estes que são tão grandes como os Cipiões, Cesares, Alexandres e Augustos; porém ela não fornece os capacidades da ciência e dos estudo que, quando em falta, os faz duros e robustos. Octávio Augusto, mesmo no meio das maiores adversidades, sempre compunhas versos eruditos e graciosos. Fúlvia, por exemplo, não dirá que isso era mentira, quando Marco Antônio, que era seu marido, a deixava para ficar Glafira. Camões canta que, mesmo gerando grandes varões militares, Portugal não produz os dons de estudo e saber.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Nasce na terra lusitana grandes homens, estes que são tão grandes como os Cipiões, Cesares, Alexandres e Augustos; porém ela não fornece os capacidades da ciência e dos estudo que, quando em falta, os faz duros e robustos. Octávio Augusto, mesmo no meio das maiores adversidades, sempre compunhas versos eruditos e graciosos. Fúlvia, por exemplo, não dirá que isso era mentira, quando Marco Antônio, que era seu marido, a deixava para ficar Glafira.”

CANTO V – ESTROFE 96

“Os grandes generais do passado, mesmo sendo homens de armas, sempre se dedicaram as artes e as letras”

 

Vai César sojugando toda a França,

E as armas não o impedem a ciência;

Mas, numa mão a pena e na outra a lança,

Igualava de Cícero a eloquência.

O que de Cipião se sabe e alcança,

É nas comédias grande experiência;

Lia Alexandre a Homero, de maneira

Que sempre lhe sabe à cabeceira.

 

“Vai César sojugando toda a França, e as armas não o impedem a ciência; mas, numa mão a pena e na outra a lança, igualava de Cícero a eloquência. O que de Cipião se sabe e alcança, é nas comédias grande experiência; lia Alexandre a Homero, de maneira que sempre lhe sabe à cabeceira. (1)

(1) O grande general Júlio Cesar, mesmo enquanto subjugava toda a região da Gália (França), não deixa de cultivar as artes e as ciências, tendo a pena na mão e a lança na outra, tanto que seus versos conseguiam até igualar a eloquência de Cícero. Do pouco que se sabe sobre Cipião Africano é que o general romano tinha grande experiência nas artes da comédia; Alexandre Magno lia Homero, tendo sempre o livro à cabeceira. Camões canta que os grandes homens do passado, mesmo sendo fortes líderes militares, não deixavam de se dedicar as artes e aos estudos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O grande general Júlio Cesar, mesmo enquanto subjugava toda a região da Gália (França), não deixa de cultivar as artes e as ciências, tendo a pena na mão e a lança na outra, tanto que seus versos conseguiam até igualar a eloquência de Cícero. Do pouco que se sabe sobre Cipião Africano é que o general romano tinha grande experiência nas artes da comédia; Alexandre Magno lia Homero, tendo sempre o livro à cabeceira.”

CANTO V – ESTROFE 97

“Camões lamenta a ignorância que os nobres portugueses dão aos saberes e as artes”

 

Enfim, não houve forte capitão,

Que não fosse também douto e ciente,

Da lácia, grega ou bárbara nação,

Senão da portuguesa tão-somente.

Sem vergonha o não digo, que a razão

Dalgum não ser por versos excelente,

É não se ver prezado o verso e rima,

Porque, quem não sabe arte, não na estima.

 

“Enfim, não houve forte capitão, que não fosse também douto e ciente, da lácia, grega ou bárbara nação, senão da portuguesa tão-somente. Sem vergonha o não digo, que a razão dalgum não ser por versos excelente, é não se ver prezado o verso e rima, porque, quem não sabe arte, não na estima. (1)

(1) Enfim, não houve um grande general, com exceção dos portugueses que não fosse instruído nas artes e no saber, vide exemplo os romanos, gregos e das demais nações bárbaras. E digo com vergonha que a razão de alguns dos nossos nobres não serem excelentes na criação de versos é porque eles dão o valor devido aos versos e as rimas; vejam que, quem não sabe a arte, não na estima. Camões canta que, ao contrário do resto do mundo, os generais e nobres portugueses não tem apreço pelas artes, sendo isso um grande sinal de ignorância.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Enfim, não houve um grande general, com exceção dos portugueses que não fosse instruído nas artes e no saber, vide exemplo os romanos, gregos e das demais nações bárbaras. E digo com vergonha que a razão de alguns dos nossos nobres não serem excelentes na criação de versos é porque eles dão o valor devido aos versos e as rimas; vejam que, quem não sabe a arte, não na estima.”

CANTO V – ESTROFE 98

“O desprezo pelas artes e as letras só trará mal à Portugal”

 

Por isso, e não por falta de natura,

Não há também Virgílios nem Homeros;

Nem haverá, se este costume dura,

Pios Eneias, nem Aquiles feros.

Mas o pior de tudo é que a ventura

Tão ásperos os faz e tão austeros,

Tão rudos e de engenho tão remisso,

Que a muitos lhe dá pouco ou nada disso.

 

“Por isso, e não por falta de natura, Não há também Virgílios nem Homeros; nem haverá, se este costume dura, pios Eneias, nem Aquiles feros. Mas o pior de tudo é que a ventura tão ásperos os faz e tão austeros, tão rudos e de engenho tão remisso, que a muitos lhe dá pouco ou nada disso. (1)

(1) É por não se valorizar as artes, e não por falta de talentos, que Portugal não possui grandes poetas como Virgílio e Homero, ou heróis sublimes como o piedoso Eneias e o feroz Aquiles; infelizmente, caso este costume dure, nunca teremos tais homens; O pior de tudo é que as grandes proezas nas guerras tornaram os senhores portugueses homens severos e incultos que a muitos lhe dá pouco ou nada disso. Camões canta que Portugal não teve e nunca terá grandes homens por causa do desprezo de seus senhores pelas artes.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“É por não se valorizar as artes, e não por falta de talentos, que Portugal não possui grandes poetas como Virgílio e Homero, ou heróis sublimes como o piedoso Eneias e o feroz Aquiles; infelizmente, caso este costume dure, nunca teremos tais homens; O pior de tudo é que as grandes proezas nas guerras tornaram os senhores portugueses homens severos e incultos que a muitos lhe dá pouco ou nada disso.”

CANTO V – ESTROFE 99

“O capitão Vasco da Gama e seus descentes deveriam agradecer por ter seus nomes eternizados nas letras”

 

Às Musas agradeça ao nosso Gama

O muito amor da pátria, que as obriga

A dar aos seus na lira nome e fama

De toda a ilustre e bélica fadiga:

Que ele, nem quem na estirpe seu se chama,

Calíope não tem por tão amiga,

Nem as filhas do Tejo, que deixassem

As telas d’ouro fino, e que o cantassem;

 

“Às Musas agradeça ao nosso Gama o muito amor da pátria, que as obriga a dar aos seus na lira nome e fama de toda a ilustre e bélica fadiga: que ele, nem quem na estirpe seu se chama, Calíope não tem por tão amiga, nem as filhas do Tejo, que deixassem as telas d’ouro fino, e que o cantassem; (1)

(1) Que o capitão Vasco da Gama agradeça às Musas por dar fama ao seu nome e ao de seus parentes quando elas, por amor à pátria, tocam suas liras e cantam os seus feitos marítimos. É uma pena que ele, assim como os seus parentes e demais nobres portugueses, não cultiva as boas artes; pena ele não querer ter a musa Calíope por amiga, nem as ninfas filhas do Tejo. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, apesar de seus grandes feitos, também não nutre as artes como seu feitio, sendo o capitão portugueses um privilegiado por ter suas glórias cantas e eternizadas nestes versos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Que o capitão Vasco da Gama agradeça às Musas por dar fama ao seu nome e ao de seus parentes quando elas, por amor à pátria, tocam suas liras e cantam os seus feitos marítimos. É uma pena que ele, assim como os seus parentes e demais nobres portugueses, não cultiva as boas artes; pena ele não querer ter a musa Calíope por amiga, nem as ninfas filhas do Tejo.”

CANTO V – ESTROFE 100

“Camões canta que fez seus versos apenas por amor à Portugal e ao seu povo”

 

Porque o amor fraterno e puro gosto

De dar a todo o lusitano feito

Seu louvor, é somente pressuposto

Das Tágides gentis, e seu respeito.

Porém não deixe enfim de ter disposto

Ninguém a grandes obras sempre o peito;

Que por esta, ou por outra qualquer via,

Não perderá seu preço e sua valia!

 

“Porque o amor fraterno e puro gosto de dar a todo o lusitano feito seu louvor, é somente pressuposto das Tágides gentis, e seu respeito. Porém não deixe enfim de ter disposto ninguém a grandes obras sempre o peito; que por esta, ou por outra qualquer via, não perderá seu preço e sua valia! (1)

(1) Porque o amor que tem pela pátria e o puro prazer de dar o devido louvor aos feitos lusitanos é o único propósito das gentis Tágides. Porém, enfim, que ninguém deixe de ter no coração o desejo de realizar grandes obras, porque por estas, seja agora ou depois, haverá de ser recompensado. Camões, tomando-se pelas ninfas tágides, canta que o amor à Portugal e aos seus grandes feitos é a única razão dele cantar seus versos e pede para que, aqueles que tenham algo desejo nobre, não desistam de o realizar.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Porque o amor que tem pela pátria e o puro prazer de dar o devido louvor aos feitos lusitanos é o único propósito das gentis Tágides. Porém, enfim, que ninguém deixe de ter no coração o desejo de realizar grandes obras, porque por estas, seja agora ou depois, haverá de ser recompensado.”

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Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.

Os Lusíadas (Edição Didática) - Volume I e II – Editora Concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a nonagésima segunda até a centésima estrofe do quinto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que lamenta que os nobres portugueses não valorizem as artes e os estudos.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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