Neste nosso sexagésimo primeiro comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o sétimo canto da obra, onde Camões canta o encontro dos portugueses com o mouro Monçaide, este que descreve como é a sociedade indiana.

OS LUSÍADAS A SOCIEDADE INDIANA
A sociedade indiana

CANTO VII – ESTROFE 24

“O mensageiro português encontra um mouro no meio do povo indiano”

 

Entra a gente que a vê-lo concorria,

Se chega um Maometa que nascido

Fora na região de Berberia,

Lá onde fora Anteu obedecido.

Ou pela vizinhança já teria

O reino lusitano conhecido,

Ou já foi assinalado de seu ferro:

Fortuna o trouxe a tão longe desterro.

 

Entra a gente que a vê-lo concorria, se chega um Maometa que nascido fora na região de Berberia, lá onde fora Anteu obedecido. Ou pela vizinhança já teria o reino lusitano conhecido, ou já foi assinalado de seu ferro: fortuna o trouxe a tão longe desterro. (1)

(1) No meio das pessoas que vieram ver o mensageiro português, chega um negro muçulmano que parecia ter vinda da região da Berberia (Mauritânia), onde o rei Anteu era monarca; ele talvez conhecesse os portugueses por já ter visitado as vizinhanças do reino lusitano, ou já tivesse os enfrentado alguma vez: a fortuna o trouxe a tão longe lugar. Camões canta que o mensageiro português que foi enviado até o rei de Calecut encontra um mouro no meio da população indiana.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

No meio das pessoas que vieram ver o mensageiro português, chega um negro muçulmano que parecia ter vinda da região da Berberia (Mauritânia), onde o rei Anteu era monarca; ele talvez conhecesse os portugueses por já ter visitado as vizinhanças do reino lusitano, ou já tivesse os enfrentado alguma vez: a fortuna o trouxe a tão longe lugar.

CANTO VII – ESTROFE 25

“O mouro pergunta ao mensageiro português como ele veio parar nas terras da Índia”

 

Em vendo o mensageiro, com jucundo

Rosto, como quem sabe a língua hispana,

Lhe disse: “Quem te trouxe a estoutro mundo,

Tão longe da tua pátria lusitana?”

“Abrindo, lhe responde, o mar profundo,

Por onde nunca veio gente humana,

Vimos buscar do Indo a grão corrente,

Por onde a lei divina se acrescente.”

 

Em vendo o mensageiro, com jucundo rosto, como quem sabe a língua hispana, lhe disse: “Quem te trouxe a estoutro mundo, tão longe da tua pátria lusitana?” “Abrindo, lhe responde, o mar profundo, por onde nunca veio gente humana, vimos buscar do Indo a grão corrente, por onde a lei divina se acrescente.” (1)

(1) O mouro, vendo com seu jovial rosto o mensageiro português, lhe diz na língua hispana que conhecida: “Quem te trouxe a este outro mundo tão distante da tua pátria lusitana? Lhe responde o mensageiro: “Abrindo o profundo mar por caminho que ninguém nunca fez, viemos conhecer a grande corrente do rio Indo e espalhar a lei divina. Camões canta que mouro, estando muito surpreso, questiona o mensageiro sobre como ele chegaram até às Índia, este que responde dizendo que vieram navegando por um novo caminho e que vieram espalhar a sua religião.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O mouro, vendo com seu jovial rosto o mensageiro português, lhe diz na língua hispana que conhecida: “Quem te trouxe a este outro mundo tão distante da tua pátria lusitana? Lhe responde o mensageiro: “Abrindo o profundo mar por caminho que ninguém nunca fez, viemos conhecer a grande corrente do rio Indo e espalhar a lei divina.

CANTO VII – ESTROFE 26

“O mouro, que se chama Monçaide, diz que o rei de Calecut não está na cidade no momento”

 

Espantado ficou da grão viagem

O Mouro, que Monçaide se chamava,

Ouvindo as opressões que na passagem

Do mar o Lusitano lhe contava;

Mas vendo, enfim, que a força da mensagem

Só para o rei da terra relevava,

Lhe diz que estava fora da cidade,

Mas de caminho pouca quantidade;

 

Espantado ficou da grão viagem o Mouro, que Monçaide se chamava, ouvindo as opressões que na passagem do mar o Lusitano lhe contava; mas vendo, enfim, que a força da mensagem só para o rei da terra relevava, lhe diz que estava fora da cidade, mas de caminho pouca quantidade; (1)

(1) O mouro, que se chamava Monçaide, ficou espantado com as dificuldades que o mensageiro disse que a frota lusitana passou para chegar até à Índia; mas vendo ele que a mensagem estava destina para o monarca de Calecut, logo conta que o monarca estava fora da cidade, embora ele não estivesse muito longe. Camões canta que o mouro ficou espantado ao saber da viagem dos portugueses e que conta que o rei de Calecut não está na cidade no momento.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O mouro, que se chamava Monçaide, ficou espantado com as dificuldades que o mensageiro disse que a frota lusitana passou para chegar até à Índia; mas vendo ele que a mensagem estava destina para o monarca de Calecut, logo conta que o monarca estava fora da cidade, embora ele não estivesse muito longe.

 

CANTO VII – ESTROFE 27

“Monçaide convida o mensageiro português para visitar a sua casa e depois pede para conhecer a frota portuguesa”

 

E que entanto que a nova lhe chegasse

De sua estranha vinda, se queria,

Na sua pobre casa repousasse,

E do manjar da terra comeria;

E depois que se um pouco recreasse,

Co’ele pera a armada tornaria,

Que alegria não pode ser tamanha

Que achar gente vizinha em terra estranha.

 

E que entanto que a nova lhe chegasse de sua estranha vinda, se queria, na sua pobre casa repousasse, e do manjar da terra comeria; e depois que se um pouco recreasse, co’ele pera a armada tornaria, que alegria não pode ser tamanha que achar gente vizinha em terra estranha. (1)

(1) E o mouro ainda diz que, enquanto o rei de Calecut não soubesse a extraordinária vinda dos portugueses, o mensageiro poderia repousar em sua humilde casa; comeria frutas daquela terra e, depois de receasse, retornaria com ele para a armada portuguesa. O mouro pedia porque nada o tornaria mais feliz do que encontrar os seus vizinhos portugueses nesta terra tão estranha. Camões canta que o mouro oferece a sua casa para o mensageiro repousar e pede para que ele possa conhecer a armada portuguesa.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

E o mouro ainda diz que, enquanto o rei de Calecut não soubesse a extraordinária vinda dos portugueses, o mensageiro poderia repousar em sua humilde casa; comeria frutas daquela terra e, depois de receasse, retornaria com ele para a armada portuguesa. O mouro pedia porque nada o tornaria mais feliz do que encontrar os seus vizinhos portugueses nesta terra tão estranha.

CANTO VII – ESTROFE 28

“Monçaide é recebido na capitania portuguesa”

 

O Português aceita de vontade

O que o ledo Monçaide lhe oferece;

Como se longa fora já a amizade,

Com ele come e bebe, e lhe obedece.

Ambos se tornam logo da cidade

Pera a frota, que o Mouro bem conhece;

Sabem à capitania, e toda a gente

Monçaide recebeu benignamente.

 

O Português aceita de vontade o que o ledo Monçaide lhe oferece; como se longa fora já a amizade, com ele come e bebe, e lhe obedece. Ambos se tornam logo da cidade pera a frota, que o Mouro bem conhece; sabem à capitania, e toda a gente Monçaide recebeu benignamente. (1)

(1) O mensageiro português aceita o convite feito pelo alegre Monçaide. Como se fosse amigo há muito tempo, ambos comem e bebem juntos e, depois, vão para às embarcações portuguesas, que o mouro já viu em outras ocasiões; sobem à capitania da frota, sendo Monçaide recebido de forma amigável por todos os marinheiros. Camões canta que após comerem e bebem juntos, o mensageiro leva o mouro para conhecer as naus portuguesas e os seus marinheiros.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O mensageiro português aceita o convite feito pelo alegre Monçaide. Como se fosse amigo há muito tempo, ambos comem e bebem juntos e, depois, vão para às embarcações portuguesas, que o mouro já viu em outras ocasiões; sobem à capitania da frota, sendo Monçaide recebido de forma amigável por todos os marinheiros.

CANTO VII – ESTROFE 29

“O capitão Vasco da Gama recebe o mouro com muita alegria e logo vai fazendo perguntas sobre a Índia ao visitante”

 

O capitão o abraça, em cabo, ledo,

Ouvindo clara a língua de Castela;

Junto de si o assenta, e pronto e quedo

Pela terra pergunta e cousas dela.

Qual se ajuntava em Ródope o arvoredo,

Só por ouvir o amante da donzela

Eurídice tocando a lira de ouro,

Tal a gente se junta a ouvir o Mouro.

 

O capitão o abraça, em cabo, ledo, ouvindo clara a língua de Castela; junto de si o assenta, e pronto e quedo pela terra pergunta e cousas dela. Qual se ajuntava em Ródope o arvoredo, só por ouvir o amante da donzela Eurídice tocando a lira de ouro, tal a gente se junta a ouvir o Mouro. (1)

(1) O capitão Vasco da Gama, ouvindo a clara língua de Castela, abraça com muita força e alegria o visitante mouro, o colocando para sentar ao seu lado para que responda as dúvidas sobre à Índia. Assim como as árvores do monte Ródope se moviam para poder escutar Orfeu, marido de Eurídice, tocar sua dourada lira, os marinheiros da frota portuguesa se juntavam ao redor do mouro para escutar suas palavras. Camões canta que o capitão Vasco da Gama fico extremamente feliz ao conhecer o mouro e saber que ele fala a língua de Castela; os marinheiros se reúnem para escutar as coisas que o visitante tinha para contar sobre à Índia.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O capitão Vasco da Gama, ouvindo a clara língua de Castela, abraça com muita força e alegria o visitante mouro, o colocando para sentar ao seu lado para que responda as dúvidas sobre à Índia. Assim como as árvores do monte Ródope se moviam para poder escutar Orfeu, marido de Eurídice, tocar sua dourada lira, os marinheiros da frota portuguesa se juntavam ao redor do mouro para escutar suas palavras.

CANTO VII – ESTROFE 30

“Monçaide questiona o motivo dos portugueses terem se lançado nesta empreitada”

 

Ele começa: “Ó gente, que a natura

Vizinha fez de meu paterno ninho,

Que destino tão grande, ou que ventura

Vos trouxe a cometerdes tal caminho?

Não é sem causa, não oculta e escura,

Vir do longínquo Tejo e ignoto Minho,

Por mares nunca d’outro lenho arados,

A reinos remotos e apartados.

 

Ele começa: “Ó gente, que a natura vizinha fez de meu paterno ninho, que destino tão grande, ou que ventura vos trouxe a cometerdes tal caminho? Não é sem causa, não oculta e escura, vir do longínquo Tejo e ignoto Minho, por mares nunca d’outro lenho arados, a reinos remotos e apartados. (1)

(1) O mouro começa a falar: “Ó gente portuguesa, que a natureza fez vizinha das terras dos meus pais, que grande destino ou que aventura os levou a realizar tal empreitada? Não é sem razão sair das longínquas terras do rio Tejo e do desconhecido Minho e atravessar mares que até então nenhuma embarcação ousou navegar para vir até esses reinos longos e distantes. Camões canta que o mouro Monçaide questiona o motivo dos marinheiros portugueses terem deixado as terras de Portugal e se aventurarem nesta empreitada rumo ao Oriente.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O mouro começa a falar: “Ó gente portuguesa, que a natureza fez vizinha das terras dos meus pais, que grande destino ou que aventura os levou a realizar tal empreitada? Não é sem razão sair das longínquas terras do rio Tejo e do desconhecido Minho e atravessar mares que até então nenhuma embarcação ousou navegar para vir até esses reinos longos e distantes.

CANTO VII – ESTROFE 31

“Monçaide especula que os portugueses fazem tal viagem por motivos religosos”

 

“Deus por certo vos traz, porque pretende

Algum serviço seu, por vós obrado;

Por isso só vós guia e vos defende

Dos imigos, do mar, do vento irado.

Sabei que estais na Índia, onde se estende

Diverso povo, rico e prosperado

Do ouro reluzente e fina pedraria,

Cheiro suave, ardente especiaria.

 

“Deus por certo vos traz, porque pretende algum serviço seu, por vós obrado; Por isso só vós guia e vos defende dos imigos, do mar, do vento irado. Sabei que estais na Índia, onde se estende diverso povo, rico e prosperado do ouro reluzente e fina pedraria, cheiro suave, ardente especiaria. (1)

(1) “Deus vos traz até aqui porque, sem dúvida, pretende que façam algum serviço para ele; só por isso que ele guia e defende dos inimigos, do mar e dos irados ventos. Sabei, portugueses, que estais na Índia, onde estão espalhados diversos povos, ricos e prósperos do reluzente ouro de pedras preciosas, suaves perfumes e especiarias ardentes. Camões canta que o mouro Monçaide diz acreditar que os portugueses vieram ao Oriente para espalhar a sua religião; ele também diz que eles estão na Índia, local que existem povos ricos e prósperos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Deus vos traz até aqui porque, sem dúvida, pretende que façam algum serviço para ele; só por isso que ele guia e defende dos inimigos, do mar e dos irados ventos. Sabei, portugueses, que estais na Índia, onde estão espalhados diversos povos, ricos e prósperos do reluzente ouro de pedras preciosas, suaves perfumes e especiarias ardentes.

CANTO VII – ESTROFE 32

“Monçaide começa a falar sobre a Índia, dizendo que eles estão na província de Malar”

 

“Está província, cujo porto agora

Tomado tendes, Malabar se chama.

Do culto antigo os ídolos adora,

Que cá por estar partes se derrama.

De diversos reis é, mas dum só fora

Noutro tempo, segundo a antiga fama:

Saramá Perimal foi derradeiro

Rei, que este reino teve unido e inteiro.

 

“Está província, cujo porto agora tomado tendes, Malabar se chama. Do culto antigo os ídolos adora, que cá por estar partes se derrama. De diversos reis é, mas dum só fora noutro tempo, segundo a antiga fama: Saramá Perimal foi derradeiro rei, que este reino teve unido e inteiro. (1)

(1) Está província da Índia que estão ancorados os seus navios se chama Malabar; os habitantes daqui adora um antigo culto que se espalha por todas as partes. Aqui existem diversos reis, embora, segundo as antigas tradições, tudo era governado por apenas um monarca, conhecido como Saramá Perimal. Camões canta que o mouro Monçaide diz que os portugueses estão na província de Malabar e que ela possui muitos reis, embora, no passado, fosse unificado sob o comando de um único monarca.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Está província da Índia que estão ancorados os seus navios se chama Malabar; os habitantes daqui adora um antigo culto que se espalha por todas as partes. Aqui existem diversos reis, embora, segundo as antigas tradições, tudo era governado por apenas um monarca, conhecido como Saramá Perimal.

CANTO VII – ESTROFE 33

“Monçaide diz que Malabar antes era governada por um único monarca, mas que tudo veio a mudar quando ele se converteu ao Islã”

 

“Porém, como a esta terra então viessem

De lá do seio arábico outras gentes,

Que o culto maomético trouxessem,

No qual me instruíram meus parentes,

Sucedeu, que pregando convertessem

O Perimal, de sábios e eloquentes:

Fazem-lhe a lei tomar com fervor tanto,

Que pressupôs de nada morrer santo.

 

“Porém, como a esta terra então viessem de lá do seio arábico outras gentes, que o culto maomético trouxessem, no qual me instruíram meus parentes, sucedeu, que pregando convertessem o Perimal, de sábios e eloquentes: fazem-lhe a lei tomar com fervor tanto, que pressupôs de nada morrer santo. (1)

(1) Porém, conforme vinham povos do golfo arábico trazendo o culto de Maomé, este que instruir os meus parentes, acabou que eles converteram o rei Perimal ao islã; como esses sacerdotes islâmicos eram sábios e eloquentes, fizeram o monarca de Malabar adotar a fé com tanto fervor que ele morresse santo. Camões canta que o mouro Monçaide diz que a província de Malabar foi recebendo os povos muçulmanos e Perimal, seu rei, se converteu ao Islã.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Porém, conforme vinham povos do golfo arábico trazendo o culto de Maomé, este que instruir os meus parentes, acabou que eles converteram o rei Perimal ao islã; como esses sacerdotes islâmicos eram sábios e eloquentes, fizeram o monarca de Malabar adotar a fé com tanto fervor que ele morresse santo.

CANTO VII – ESTROFE 34

“Monçaide diz que antigo rei de Malabar se converteu ao Islã e dividiu seu reino”

 

“Nau arma, e nela mete curioso

Mercadoria que ofereça, rica,

Pera ir nelas ser religioso,

Onde o profeta jaz, que a lei publica.

Antes que parta, o reino poderoso

C’os seus reparte, porque não lhe fica

Herdeiro próprio, faz os mais aceitos

Ricos de pobres, livres de sujeitos.

 

“Nau arma, e nela mete curioso mercadoria que ofereça, rica, pera ir nelas ser religioso, onde o profeta jaz, que a lei publica. Antes que parta, o reino poderoso c’os seus reparte, porque não lhe fica herdeiro próprio, faz os mais aceitos ricos de pobres, livres de sujeitos. (1)

(1) O rei indiano Perimal armou naus e, diligente, coloca abundantes mercadorias para dá-las em oferenda em Meca, cidade que o profeta Maomé pregou a lei muçulmana. Antes de partir, o rei, como não tinha um herdeiro, dividiu seu poderoso reino com seus amigos e além disso, fez dos pobres ricos e libertou os escravos. Camões canta que o mouro Monçaide diz que o rei Perimal, ao se converter ao Islã, decidiu deixar seu reino e ir peregrinar em Meca, sendo este o motivo de Malabar, que já foi unificada, ser dividida em vários reinos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O rei indiano Perimal armou naus e, diligente, coloca abundantes mercadorias para dá-las em oferenda em Meca, cidade que o profeta Maomé pregou a lei muçulmana. Antes de partir, o rei, como não tinha um herdeiro, dividiu seu poderoso reino com seus amigos e além disso, fez dos pobres ricos e libertou os escravos.

CANTO VII – ESTROFE 35

“Monçaide diz que Malabar foi dividida em vários reinos, sendo Calecut o principal deles”

 

“A um Cochim, e a outro Cananor,

A qual Chalé, a qual a Ilha da Pimenta,

A qual Coulão, a qual dá Cranganor,

E o mais, a quem o mais serve e contenta.

Um só moço, a quem tinha muito amor,

Depois que tudo deu, se lhe apresenta:

Pera este Calecu somente fica,

Cidade já por trato nobre e rica.

 

“A um Cochim, e a outro Cananor, a qual Chalé, a qual a Ilha da Pimenta, a qual Coulão, a qual dá Cranganor, e o mais, a quem o mais serve e contenta. Um só moço, a quem tinha muito amor, depois que tudo deu, se lhe apresenta: pera este Calecu somente fica, cidade já por trato nobre e rica. (1)

(1) O rei indiano Perimal divide seu reino e dá aos seus amigos: a um deles deu Cochim, a outro Cananor, a outro Chalé, a outro a Ilha da Pimenta, a outro Coulão, a outro Granganor; os demais reinos dividiu a quem mais servia e se contentava. Após dar todo o seu reino, a um só moço, a quem ele tinha muito, deu de presente Calecut, cidade que era nobre e rica. Camões canta que o mouro Monçaide diz que o rei Perimal dividiu todo o seu reino.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O rei indiano Perimal divide seu reino e dá aos seus amigos: a um deles deu Cochim, a outro Cananor, a outro Chalé, a outro a Ilha da Pimenta, a outro Coulão, a outro Granganor; os demais reinos dividiu a quem mais servia e se contentava. Após dar todo o seu reino, a um só moço, a quem ele tinha muito, deu de presente Calecut, cidade que era nobre e rica.

CANTO VII – ESTROFE 36

“Monçaide diz que o rei de Calecut tem o título de imperador de Malabar”

 

“Esta lhe dá c’o título de excelente

De imperador, que sobre os outros mande;

Isto feito, se parte diligente

Pera onde em santa vida acabe e ande.

E daqui fica o nome do potente

Samori, mais que todos digno e grande,

Ao moço e descendentes, donde vem

Este, que agora o império manda e tem.

 

“Esta lhe dá c’o título de excelente de imperador, que sobre os outros mande; isto feito, se parte diligente pera onde em santa vida acabe e ande. E daqui fica o nome do potente Samori, mais que todos digno e grande, ao moço e descendentes, donde vem este, que agora o império manda e tem. (1)

(1) Ao dar Calecut, o rei Perimal também entrega ao moço o soberano título de imperador, para que assim governasse os outros reinos; feito isto, Perial parte rapidamente para viver sua santidade e os seus últimos dias em Meca. O moço e seus descentes recebem o grande nome de Samori, este que agora possui e manda no império. Camões canta que o mouro Monçaide diz o moço que recebeu Calecut também foi nomeado como imperador de toda a Malabar.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Ao dar Calecut, o rei Perimal também entrega ao moço o soberano título de imperador, para que assim governasse os outros reinos; feito isto, Perial parte rapidamente para viver sua santidade e os seus últimos dias em Meca. O moço e seus descentes recebem o grande nome de Samori, este que agora possui e manda no império.

CANTO VII – ESTROFE 37

“Monçaide diz que a população indiana segue as antigas leis e que é dividida em grupos chamados de castas”

 

“A lei da gente toda, rica e pobre,

De fábulas composta se imagina.

Andam nus, e somente um pano cobre

As partes, que a cobrir a natura ensina.

Dois modos há de gente, porque a nobre

Naires chamados são; e a menos dina

Poléas tem por nome, a quem obriga

A lei não misturar a casta antiga.

 

“A lei da gente toda, rica e pobre, de fábulas composta se imagina. Andam nus, e somente um pano cobre as partes, que a cobrir a natura ensina. Dois modos há de gente, porque a nobre Naires chamados são; e a menos dina Poléas tem por nome, a quem obriga a lei não misturar a casta antiga. (1)

(1) A religião gente de Calecut, tanto os ricos quanto os pobres, é imaginada por fábulas; os habitantes andam nus, com apenas um pano cobrindo as suas partes. Eles são divididos em duas castas de pessoas: os nobres são chamados de Naires, enquanto os menos dignos são nomeados por Poléas; segundo a lei antiga, não permite misturar as duas castas. Camões canta que o mouro Monçaide diz qie a população de Calecut segue as leis antigas e é dividida em duas castas, sendo uma delas a dos nobres e outras dos que estão abaixo.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

A religião gente de Calecut, tanto os ricos quanto os pobres, é imaginada por fábulas; os habitantes andam nus, com apenas um pano cobrindo as suas partes. Eles são divididos em duas castas de pessoas: os nobres são chamados de Naires, enquanto os menos dignos são nomeados por Poléas; segundo a lei antiga, não permite misturar as duas castas.

CANTO VII – ESTROFE 38

“Monçaide diz que pessoas de castas diferentes não podem se relacionar”

 

“Porque os que usaram sempre o mesmo ofício,

De outro não podem receber consorte;

Nem os filhos terão outro exercício

Senão o de seus passados, até a morte.

Pera os Naires é certo grande vício

Destes serem tocados, de tal sorte

Que, quando algum se toca porventura,

Com cerimônias mil se alimpa e apura.

 

“Porque os que usaram sempre o mesmo ofício, de outro não podem receber consorte; nem os filhos terão outro exercício senão o de seus passados, até a morte. Pera os Naires é certo grande vício destes serem tocados, de tal sorte que, quando algum se toca porventura, com cerimônias mil se alimpa e apura. (1)

(1) As pessoas da casta dos Póleas sempre vão fazer um tipo específico de ofício e não podem casar com pessoas que fazem outro ofício; os filhos, até sua morte, sempre trabalharão nas mesmas coisas que os antepassados. Para a casta dos Naires possui um grande nojo de serem tocados pelos Póleas, tanto que, se por ventura forem tocados, vão querer se limpar e se purificar com mil cerimônias. Camões canta que o mouro Monçaide diz a sociedade é dividida em duas castas e que elas não se misturam em suas atividades e nem nos relacionamentos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

As pessoas da casta dos Póleas sempre vão fazer um tipo específico de ofício e não podem casar com pessoas que fazem outro ofício; os filhos, até sua morte, sempre trabalharão nas mesmas coisas que os antepassados. Para a casta dos Naires possui um grande nojo de serem tocados pelos Póleas, tanto que, se por ventura forem tocados, vão querer se limpar e se purificar com mil cerimônias.

CANTO VII – ESTROFE 39

“Monçaide diz que as castas são dividias em entre os plebeus e os nobres, sendo que estes são responsáveis pelas atividades militares”

 

“Desta sorte o judaico povo antigo

Não tocava na gente de Samária.

Mais estranhezas inda das que digo

Nesta terra vereis usança vária.

Os Naires sós são dados ao perigo

Das armas, sós defendem da contrária

Banda o seu rei, trazendo sempre usada

Na esquerda a adarga, e na direita espada.

 

“Desta sorte o judaico povo antigo não tocava na gente de Samária. Mais estranhezas inda das que digo nesta terra vereis usança vária. Os Naires sós são dados ao perigo das armas, sós defendem da contrária banda o seu rei, trazendo sempre usada na esquerda a adarga, e na direita espada. (1)

(1) Da mesma forma o antigo povo judaico não tocava na gente da Palestina. Vereis ainda mais coisas estranha das que eu agora digo. As pessoas da casta dos Naires não têm nenhum outro ofício se não o das armas, somente eles defendendo o rei dos inimigos; trazem sempre um escudo adarga na mão esquerda e uma espada na mão direita. Camões canta que o mouro Monçaide comenta as peculiaridades da sociedade indiana, dizendo que a única função dos Naires é a atividade militar.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Da mesma forma o antigo povo judaico não tocava na gente da Palestina. Vereis ainda mais coisas estranha das que eu agora digo. As pessoas da casta dos Naires não têm nenhum outro ofício se não o das armas, somente eles defendendo o rei dos inimigos; trazem sempre um escudo adarga na mão esquerda e uma espada na mão direita.

CANTO VII – ESTROFE 40

“Monçaide diz que os religiosos são conhecidos como Brâmanes”

 

“Brâmanes são seus religiosos,

Nome antigo e de grande preeminência.

Observem os preceitos tão famosos

Dum que primeiro pôs nome à ciência.

Não matam cousa viva, e, temerosos,

Das carnes têm grandíssima abstinência;

Somente no venéreo ajuntamento

Têm mais licença e menos regimento. 

 

“Brâmanes são seus religiosos, nome antigo e de grande preeminência. Observem os preceitos tão famosos dum que primeiro pôs nome à ciência. Não matam cousa viva, e, temerosos, das carnes têm grandíssima abstinência; somente no venéreo ajuntamento têm mais licença e menos regimento. (1) 

(1) Ainda tem a casta dos Brâmanes, que é composta pelos que desempenham a função religiosa na sociedade e cujo nome é antigo e de grande preeminência; eles observam os famosos preceitos de Pitágoras, o primeiro que pôs nome à ciência; eles não mata coisas vivia e, temerosos e tem uma grandíssima abstinência de carnes; somente no venéreo assentamento eles têm mais licença e menos regimento. Camões canta que o mouro Monçaide comenta sobre a casta Brâmane, que representa os sábios e religiosos da sociedade indiana.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Ainda tem a casta dos Brâmanes, que é composta pelos que desempenham a função religiosa na sociedade e cujo nome é antigo e de grande preeminência; eles observam os famosos preceitos de Pitágoras, o primeiro que pôs nome à ciência; eles não mata coisas vivia e, temerosos e tem uma grandíssima abstinência de carnes; somente no venéreo assentamento eles têm mais licença e menos regimento.

CANTO VII – ESTROFE 41

“Monçaide comenta o peculiar costume dos indianos de dividirem as mulheres entre os homens”

 

“Gerais são as mulheres, mas somente

Pera os da geração de seus maridos:

Ditosa condição, ditosa gente,

Que não de ciúmes ofendidos!

Estes e outros costumes variamente

São pelos Malabares admitidos:

A terra é grossa em trato em tudo aquilo

Que as ondas podem dar da China ao Nilo.”

 

“Gerais são as mulheres, mas somente pera os da geração de seus maridos: ditosa condição, ditosa gente, que não de ciúmes ofendidos! Estes e outros costumes variamente são pelos Malabares admitidos: a terra é grossa em trato em tudo aquilo que as ondas podem dar da China ao Nilo.” (1)

(1) As mulheres são de todos os homens, desde que sejam da mesma geração, afortunada condição e gente que não se ofende com ciúmes! Estes e outros costumes variados são admitidos pelos malabares; a região é rica em comércio e em todos os bens que são trazidos pelo mar vindos da China e até o rio Nilo. Camões canta que o mouro Monçaide termina seus comentários sobre a sociedade indiana, falando sobre as mulheres e como o comércio em Malabar era forte.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

As mulheres são de todos os homens, desde que sejam da mesma geração, afortunada condição e gente que não se ofende com ciúmes! Estes e outros costumes variados são admitidos pelos malabares; a região é rica em comércio e em todos os bens que são trazidos pelo mar vindos da China e até o rio Nilo.

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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a vigésima quarta até a quadragésima primeira estrofe dp sétimo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta o encontro dos portugueses com o mouro Monçaide, este que descreve como é a sociedade indiana.

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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