Neste nosso sexagésimo quarto comentário sobre Os Lusíadas, terminaremos de ler o sétimo canto da obra, onde Camões interrompe sua narração para, mais uma vez, pedir que as ninfas inspirem os seus versos.

Os Lusíadas TÁGIDES
Camões pede, mais uma vez, inspiração às Musas

CANTO VII – ESTROFE 78

“Camões interrompe sua narração para, mais uma vez, pedir a inspiração das ninfas do rio Tejo e do Mondego”

 

Um ramo na mão tinha… Mas , ó cego!

Eu, que cometo, insano e temerário,

Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,

Por caminho tão árduo, longo e vario?

Vosso favor invoco, que navego

Por alto mar, com vento tão contrário

Que, se não me ajudais, hei grande medo

Que o meu fraco batel alague cedo.

 

Um ramo na mão tinha… Mas , ó cego! Eu, que cometo, insano e temerário, sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego, por caminho tão árduo, longo e vario? Vosso favor invoco, que navego por alto mar, com vento tão contrário que, se não me ajudais, hei grande medo que o meu fraco batel alague cedo. (1)

(1) “O velho no quadro tinha um ramo na mão…” Mas, ó cego! Eu, que tento, estando louco e com medo, realizar a tão difícil, longa e honrada empreitada de narrar os grandes feitos dos portugueses sem vós, Ninfas do rio Tejo e do rio Mondego! Invoco o vosso favor, pois cantar tais feitos é como navegar no alto mar com o vento soprando contra o meu caminho; peço que me ajudem, pois, sem vosso auxílio, tgemo que o meu fraco barco logo naufrague. Camões interrompe a narração na capitania portuguesa em Calecut para, mais uma vez, pedir para que as musas inspirem os versos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O velho no quadro tinha um ramo na mão…” Mas, ó cego! Eu, que tento, estando louco e com medo, realizar a tão difícil, longa e honrada empreitada de narrar os grandes feitos dos portugueses sem vós, Ninfas do rio Tejo e do rio Mondego! Invoco o vosso favor, pois cantar tais feitos é como navegar no alto mar com o vento soprando contra o meu caminho; peço que me ajudem, pois, sem vosso auxílio, temo que o meu fraco barco logo naufrague.

CANTO VII – ESTROFE 79

“Camões diz que vem sofrendo muito nestes anos que escreve a sua obra”

 

Olhai, que há tanto tempo que, cantando

O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,

A Fortuna me traz peregrinando,

Novos trabalhos vendo e novos danos:

Agora o mar, agora experimentando

Os perigos Mavórcios inumanos,

Qual Cânace, que à morte se condena,

Numa mão sempre a espada e noutra a pena;

 

Olhai, que há tanto tempo que, cantando o vosso Tejo e os vossos Lusitanos, a Fortuna me traz peregrinando, novos trabalhos vendo e novos danos: Agora o mar, agora experimentando os perigos Mavórcios inumanos, qual Cânace, que à morte se condena, numa mão sempre a espada e noutra a pena; (1)

(1) Olhai, ninfas, como eu, que há tanto tempo venho me dedicando a estes versos que cantam sobre as terras que o rio Tejo irriga e o sobre as glórias dos vossos lusitanos, somente sofro com a Fortuna, com novos trabalhos e novas dificuldades: Sofro em minhas viagens pelo mar e pelos inumanos perigos do combate, assim como o Cânace, aquele que se condenou à morte, pois eu estou sempre segurando a espana numa mão e a pena na outras. Camões pede para que as ninfas inspirem os seus versos, pois, ao longo dos anos que ele vem se dedicando há estes versos, ele somente colheu infortúnios.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Olhai, ninfas, como eu, que há tanto tempo venho me dedicando a estes versos que cantam sobre as terras que o rio Tejo irriga e o sobre as glórias dos vossos lusitanos, somente sofro com a Fortuna, com novos trabalhos e novas dificuldades: Sofro em minhas viagens pelo mar e pelos inumanos perigos do combate, assim como o Cânace, aquele que se condenou à morte, pois eu estou sempre segurando a espana numa mão e a pena na outras.

CANTO VII – ESTROFE 80

“Camões diz que tem sofrido muito nestes últimos anos”

 

Agora, com pobreza aborrecida,

Por hospícios alheios degradado;

Agora, da esperança já adquirida,

De novo mais que nunca derribado;

Agora às costas escapando a vida,

Que dum fio pendia tão delgado,

Que não menos milagre foi salvar-se

Que pera o Rei Judaico acrescentar-se.

 

Agora, com pobreza aborrecida, por hospícios alheios degradado; agora, da esperança já adquirida, de novo mais que nunca derribado; agora às costas escapando a vida, que dum fio pendia tão delgado, que não menos milagre foi salvar-se que pera o Rei Judaico acrescentar-se. (1)

(1) Agora estou sofrendo com a infeliz pobreza, dependendo da hospitalidade de pessoas desconhecidas; agora, mais do que nunca, me encontra sem esperanças; agora naufraguei e nadei até a costa, onde estive com a vida por um fio, não sendo menos milagre eu estar salvo do que o milagre que prolongou a vido do rei judeu Ezequias. Camões, enquanto pede auxílio das musas, canta que passa por muitas dificuldades, estando pobre e quase tendo morrido.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Agora estou sofrendo com a infeliz pobreza, dependendo da hospitalidade de pessoas desconhecidas; agora, mais do que nunca, me encontra sem esperanças; agora naufraguei e nadei até a costa, onde estive com a vida por um fio, não sendo menos milagre eu estar salvo do que o milagre que prolongou a vido do rei judeu Ezequias.

CANTO VII – ESTROFE 81

“Camões comenta que, se já não bastasse os infortúnios que vem sofrendo, ele ainda é desprezado pelos nobres portugueses”

 

E ainda, ninfas minhas, não bastava

Que tamanhas misérias me cercassem,

Senão que aqueles que eu cantando andava

Tal prêmio de meus versos me tornassem:

A troco dos descansos que esperava,

Das capelas de louro que me honrassem,

Trabalhos nunca usados me inventaram,

Com que em tão duro estado me deitaram.

 

E ainda, ninfas minhas, não bastava que tamanhas misérias me cercassem, senão que aqueles que eu cantando andava tal prêmio de meus versos me tornassem: a troco dos descansos que esperava, das capelas de louro que me honrassem, trabalhos nunca usados me inventaram, com que em tão duro estado me deitaram. (1)

(1) E ainda, minhas ninfas, se já não bastasse as tamanhas misérias que me cercavam, ainda sofri na mão daqueles homens que eu celebrei enquanto cantava os meus versos: em troca do descanso que eu tanto esperava fui submetido à trabalhos nunca antes inventados, estes que deixaram em tão terrível estado. Camões, enquanto pede auxílio das musas, canta que vem sofrendo muito.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

E ainda, minhas ninfas, se já não bastasse as tamanhas misérias que me cercavam, ainda sofri na mão daqueles homens que eu celebrei enquanto cantava os meus versos: em troca do descanso que eu tanto esperava fui submetido à trabalhos nunca antes inventados, estes que deixaram em tão terrível estado.

CANTO VII – ESTROFE 82

“Camões lamenta o tratamento que recebe dos senhores portugueses”

 

Vede, ninfas, que engenhos de senhores

O vosso Tejo cria valerosos,

Que assi sabem prezar, com tais favores,

A quem os faz, cantando, gloriosos!

Que exemplos a futuros escritores,

Pera espertar engenhos curiosos,

Pera porem as cousas em memória

Que merecerem ter eterna glória!

 

Vede, ninfas, que engenhos de senhores o vosso Tejo cria valerosos, que assi sabem prezar, com tais favores, a quem os faz, cantando, gloriosos! Que exemplos a futuros escritores, pera espertar engenhos curiosos, pera porem as cousas em memória que merecerem ter eterna glória! (1)

(1) Vejam, ninfas, como são os senhores portugueses do vosso rio Tejo, veja como eles tratam o poeta que canta os seus feitos gloriosos! Vejam que péssimo exemplo são, sendo essas ações o que constará no registro dos futuros escritores portugueses. Camões, enquanto pede auxílio das musas, lamenta como ele é desprezado pelos senhores portugueses. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Vejam, ninfas, como são os senhores portugueses do vosso rio Tejo, veja como eles tratam o poeta que canta os seus feitos gloriosos! Vejam que péssimo exemplo são, sendo essas ações o que constará no registro dos futuros escritores portugueses.

CANTO VII – ESTROFE 83

“Camões diz que seus versos somente cantarão a glória daqueles que forem merecedores”

 

Pois logo em tantos males é forçado

Que só vosso favor me não faleça,

Principalmente aqui, que sou chegado

Onde feitos diversos engrandeça!

Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado

Que não no empregue em quem o não mereça,

Nem por lisonja louve algum subido,

Sob pena de não engrandecido.

 

Pois logo em tantos males é forçado que só vosso favor me não faleça, principalmente aqui, que sou chegado onde feitos diversos engrandeça! Dai-mo vós sós, que eu tenho já jurado que não no empregue em quem o não mereça, nem por lisonja louve algum subido, sob pena de não engrandecido. (1)

(1) Logo, como tenho passado por tantas dificuldades, espero que vós, ninfas, não deixem de me inspirar, principalmente nesta parte da minha epopeia, pois é aqui que eu mais engrandeço os fetos lusitanos! Dai-me inspiração, pois eu já jurei que não cantarei as glórias para aqueles que nãos a mereçam. Camões continua cantando o seu pedido às ninfas, onde ele diz que seus versos somente engrandecerão os homens que realmente sejam merecedores. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Logo, como tenho passado por tantas dificuldades, espero que vós, ninfas, não deixem de me inspirar, principalmente nesta parte da minha epopeia, pois é aqui que eu mais engrandeço os fetos lusitanos! Dai-me inspiração, pois eu já jurei que não cantarei as glórias para aqueles que nãos a mereçam.

CANTO VII – ESTROFE 84

“Camões diz que seus versos não cantarão os nomes dos interesseiros”

 

Nem creiais, ninfas, não, que fama desse

A quem ao bem comum e do seu Rei

Antepuser seu próprio interesse,

Imigo da divina e humana Lei!

Nenhum ambicioso que quisesse

Subir a grandes cargos cantarei,

Só por poder com torpes exercícios

Usar mais largamente de seus vícios;

 

Nem creiais, ninfas, não, que fama desse a quem ao bem comum e do seu Rei antepuser seu próprio interesse, imigo da divina e humana Lei! Nenhum ambicioso que quisesse subir a grandes cargos cantarei, só por poder com torpes exercícios usar mais largamente de seus vícios; (1)

(1) Nem creiam, ninfas, que meus versos darão fama a quem, como inimigo das leis dos homens e de Deus, colocar os próprios interesses antes dos do bem comum e do seu rei! Não cantarei as glórias de nenhum homem ambicioso que apenas queria alcançar os grandes cargos alimentar seus podres vícios. Camões continua cantando o seu pedido às ninfas, dizendo que não cantará a glória dos homens interesseiros.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Nem creiam, ninfas, que meus versos darão fama a quem, como inimigo das leis dos homens e de Deus, colocar os próprios interesses antes dos do bem comum e do seu rei! Não cantarei as glórias de nenhum homem ambicioso que apenas queria alcançar os grandes cargos alimentar seus podres vícios.

CANTO VII – ESTROFE 85

“Camões diz que seus versos não cantarão os nomes dos tiranos”

 

Nenhum que use de seu poder bastante

Para servir a seu desejo feio,

E que, por comprazer ao vulgo errante,

Se muda em mais figuras que Proteio!

Nem, Camenas, também cuideis que cante

Quem, com hábito honesto e grave, veio,

Por contentar o rei, no ofício novo,

A despir e roubar o pobre povo.

 

Nenhum que use de seu poder bastante para servir a seu desejo feio, e que, por comprazer ao vulgo errante, se muda em mais figuras que Proteio! Nem, Camenas, também cuideis que cante quem, com hábito honesto e grave, veio, por contentar o rei, no ofício novo, a despir e roubar o pobre povo. (1)

(1) Não cantarei as glórias de nenhum homem que use do seu poder para satisfazer seus feios desejos e que, querendo agradar aos outros, mude de forma como fazia Proteio! Nem cantarei, ninfas, aqueles que manipulam os novos reis para roubar e tiranizar o próprio povo. Camões continua cantando o seu pedido às ninfas, dizendo que não cantará a glória dos homens interesseiros.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Não cantarei as glórias de nenhum homem que use do seu poder para satisfazer seus feios desejos e que, querendo agradar aos outros, mude de forma como fazia Proteio! Nem cantarei, ninfas, aqueles que manipulam os novos reis para roubar e tiranizar o próprio povo.

CANTO VII – ESTROFE 86

“Camões diz que seus versos não cantarão os nomes daqueles que utilizam poder para benefício próprio”

 

Nem quem acha que é justo e que é direito

Guardar-se a lei do rei severamente,

E não acha que é justo e bom respeito

Que se pague o suor da servil gente;

Nem quem sempre, com pouco experto peito,

Razões aprende, cuida que é prudente,

Pera taxar, com a mão rapace e escassa,

Os trabalhos alheios, que não passa. 

 

Nem quem acha que é justo e que é direito guardar-se a lei do rei severamente, e não acha que é justo e bom respeito que se pague o suor da servil gente; nem quem sempre, com pouco experto peito, razões aprende, cuida que é prudente, pera taxar, com a mão rapace e escassa, os trabalhos alheios, que não passa. (1)

(1) Nem louvarei aqueles que acham é justo e certo seguir severamente as leis do rei e que não acha que é respeitoso e bom se pague os trabalhos das pessoas; nem louvarei aqueles que, um pouco mais experiente, avalia de forma mesquinha um trabalho alheio que nem conhece.   Camões continua cantando o seu pedido às ninfas, dizendo que não cantará a glória dos homens injustos e mesquinhos.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Nem louvarei aqueles que acham é justo e certo seguir severamente as leis do rei e que não acha que é respeitoso e bom se pague os trabalhos das pessoas; nem louvarei aqueles que, um pouco mais experiente, avalia de forma mesquinha um trabalho alheio que nem conhece.  

CANTO VII – ESTROFE 87

“Camões pede inspiração a Apolo e às Musas, dizendo que somente cantará a glória daqueles que se dedicaram a Deus e ao seu rei”

 

Aqueles sós direi que aventuraram

Por seu Deus, por seu rei, a amada vida,

Onde, perdendo-a, em fama a dilataram,

Tão bem de suas obras merecida.

Apolo e as Musas, que me acompanharam

Me dobrarão a fúria concedida,

Enquanto eu tomo alento, descansando,

Por tomar ao trabalho, mais folgado.

 

Aqueles sós direi que aventuraram por seu Deus, por seu rei, a amada vida, onde, perdendo-a, em fama a dilataram, tão bem de suas obras merecida. Apolo e as Musas, que me acompanharam me dobrarão a fúria concedida, enquanto eu tomo alento, descansando, por tomar ao trabalho, mais folgado. (1)

(1) Exaltarei em meus versos somente aqueles homens que, por Deus e pelo seu rei, arriscaram a sua amada vida e que a perderam realizando grandes feitos. Apolo e as Musas, que até agora me acompanharam, dobrem a inspiração que me concederam, para que, após o descanso, eu possa continuar este meu trabalho. Camões encerra sua fala dizendo que contará somente a glória dos homens que lutaram por Deus e por sua pátria e, por fim, pede que Apolo e as Musas continuem inspirando os seus versos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Exaltarei em meus versos somente aqueles homens que, por Deus e pelo seu rei, arriscaram a sua amada vida e que a perderam realizando grandes feitos. Apolo e as Musas, que até agora me acompanharam, dobrem a inspiração que me concederam, para que, após o descanso, eu possa continuar este meu trabalho.

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Esses foram os nossos comentários sobre a septuagésima oitava até a octogésima sétima estrofe do sétimo canto de Os Lusíadas, Camões interrompe sua narração para, mais uma vez, pedir que as ninfas inspirem os seus versos.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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