Neste nosso sexagésimo quinto comentário sobre Os Lusíadas, começaremos de ler o oitavo canto da obra, onde Camões canta a descrição das pinturas dos lusitanos que Paulo da Gama começa a fazer ao ministro Catual.

OS LUSÍADAS AS PINTURAS DOS ILUSTRES LUSITANOS
As pinturas dos ilustres lusitanos

CANTO VIII – ESTROFE 1

“O ministro Catual pergunta quem é homem retratado na bandeira que está na capitania portuguesa”

 

A primeira figura se detinha

O Catual, que vira estar pintada,

Que por divisa um ramo na mão tinha,

A barba branca, longa e penteada.

“Quem era? E por que causa lhe convinha

A divisa que tem na mão tomada?”

Paulo responde, cuja voz discreta

O Mauritano sábio lhe interpreta:

 

A primeira figura se detinha o Catual, que vira estar pintada, que por divisa um ramo na mão tinha, a barba branca, longa e penteada. “Quem era? E por que causa lhe convinha a divisa que tem na mão tomada?” Paulo responde, cuja voz discreta o Mauritano sábio lhe interpreta: (1)

(1) Catual, ministro de Calecut, tinha a sua atenção voltada para a pintura do homem, este que tinha uma longa, penteada e branca barba, e que estava segurando um ramo por divisa. Ele pergunta: “Quem foi este e por que motivo ele está representado com uma divisa em sua mão?” Paulo da Gama, com uma voz discreta que o sábio mouro Monçaide interpreta, responde à pergunta. Camões volta a narrar a empreitada dos portugueses no Oriente, cantando que o ministro Catual pergunta que é o homem presentado no quadro que está na capitania portuguesa.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Catual, ministro de Calecut, tinha a sua atenção voltada para a pintura do homem, este que tinha uma longa, penteada e branca barba, e que estava segurando um ramo por divisa. Ele pergunta: “Quem foi este e por que motivo ele está representado com uma divisa em sua mão?” Paulo da Gama, com uma voz discreta que o sábio mouro Monçaide interpreta, responde à pergunta.

CANTO VIII – ESTROFE 2

“Paulo da Gama diz que estes que estão retratados nas bandeiras são os ilustres lusitanos, sendo que este é Luso”

 

“Estas figuras todas que aparecem,

Bravos em vista, e feros nos aspeitos,

Mais bravos e mais feros se conhecem

Pela fama, nas obras e nos feitos.

Antigos são, mas ainda resplandecem

C’o nome entre os engenhos mais perfeitos.

Este que vês é Luso, donde a fama

O nosso reino Lusitânia chama.

 

“Estas figuras todas que aparecem, bravos em vista, e feros nos aspeitos, mais bravos e mais feros se conhecem pela fama, nas obras e nos feitos. Antigos são, mas ainda resplandecem c’o nome entre os engenhos mais perfeitos. Este que vês é Luso, donde a fama o nosso reino Lusitânia chama. (1)

(1) “Essas figuras que vês, de aspecto valente e feroz, são representações de homens que, mais valentes e ferozes do que parecem, se consagraram por suas obras e seus feitos. São antepassados muito antigos, mas que sua memória ainda resplandece entre os nomes dos mais talentosos. Este que vês é Luso, aquele cuja a fama da o nosso reino o nome de Lusitânia. Camões canta que Paulo da Gama, respondendo à pergunta do ministro Catual, diz que as figuras são representações de grandes homens do passado, e o velho que é tratado é Luso.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Essas figuras que vês, de aspecto valente e feroz, são representações de homens que, mais valentes e ferozes do que parecem, se consagraram por suas obras e seus feitos. São antepassados muito antigos, mas que sua memória ainda resplandece entre os nomes dos mais talentosos. Este que vês é Luso, aquele cuja a fama dá o nosso reino o nome de Lusitânia.

CANTO VIII – ESTROFE 3

“Paulo da Gama diz que Luso foi filho e amante de Baco, sendo ele quem dá o nome para as terras lusitanas”

 

“Foi filho e companheiro do Tebano

Que tão diversas partes conquistou.

Parece vindo ter ao ninho hispano,

Seguindo as armas que contino usou.

Do Douro e Guadiana o campo ufano,

Já dito Elísio, tanto o contentou,

Que ali quis dar aos já cansados ossos

Eterna sepultura, e nome aos nossos.

 

“Foi filho e companheiro do Tebano que tão diversas partes conquistou. Parece vindo ter ao ninho hispano, seguindo as armas que contino usou. Do Douro e Guadiana o campo ufano, já dito Elísio, tanto o contentou, que ali quis dar aos já cansados ossos eterna sepultura, e nome aos nossos. (1)

(1) “Luso foi filho e companheiro de Baco, que tantos territórios conquistou. Aparentemente ele veio à península Hispânica para se estabelecer enquanto lutava em suas guerras. Gostou tanto das férteis terras do Douro e Guadiana, estes que pareciam os Campos Elísios, que ali quis que fosse a sua sepultura, além de dar o seu nome. Camões canta que Paulo da Gama, respondendo à pergunta do ministro Catual, diz que Luso foi companheiro do deus Baco e que foi um grande conquistador, tendo ele se estabelecido e morri nas terras que hoje compõem o território português.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Luso foi filho e companheiro de Baco, que tantos territórios conquistou. Aparentemente ele veio à península Hispânica para se estabelecer enquanto lutava em suas guerras. Gostou tanto das férteis terras do Douro e Guadiana, estes que pareciam os Campos Elísios, que ali quis que fosse a sua sepultura, além de dar o seu nome.

CANTO VIII – ESTROFE 4

“Paulo da Gama diz que o ramo que Luso utiliza como divisa significa que ele é companheiro de Baco; depois fala de outra pintura”

 

“O ramo, que lhe vês pera divisa,

O verde tirso foi de Baco usado,

O qual à nossa idade amostra e avisa

Que foi seu companheiro e filho amado.

Vês outro que do Tejo a terra pisa,

Depois de ter tão longo mar arado,

Onde muros perpétuos edifica,

E templo a Palas, que em memória fica?

 

“O ramo, que lhe vês pera divisa, o verde tirso foi de Baco usado, o qual à nossa idade amostra e avisa que foi seu companheiro e filho amado. Vês outro que do Tejo a terra pisa, depois de ter tão longo mar arado, onde muros perpétuos edifica, e templo a Palas, que em memória fica? (1)

(1) “O ramo que vês na divisa de Luso foi o verde tirso utilizado por Baco, simbolizando para as pessoas de nosso tempo que ele foi seu companheiro e amado filho. Vês está outra pintura que representa o Ulisses, aquele que, após navegar por tantos mares, veio parar nas terras banhadas pelo rio Tejo e edificou os muros perpétuos muros de Lisboa e o templo em memória da deusa Minerva? Camões canta que Paulo da Gama, respondendo à pergunta do ministro Catual, diz que a divisa de Luso representa a sua relação com o deus Baco; Paulo da Gama também pergunta se o ministro vê um outro quadro que está retratando o lendário marinheiro Ulisses.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O ramo que vês na divisa de Luso foi o verde tirso utilizado por Baco, simbolizando para as pessoas de nosso tempo que ele foi seu companheiro e amado filho. Vês está outra pintura que representa o Ulisses, aquele que, após navegar por tantos mares, veio parar nas terras banhadas pelo rio Tejo e edificou os muros perpétuos muros de Lisboa e o templo em memória da deusa Minerva?

CANTO VIII – ESTROFE 5

“Paulo da Gama diz que a outra figura representa Ulisses, o fundador de Lisboa; Catual então pergunta que é o homem retratado em outra pintura”

 

“Ulisses é que faz a santa casa

À deusa que lhe dá língua facunda;

Que se lá na Ásia Troia ingere abrasa,

Cá na Europa Lisboa ingente funda.”

“Quem será estoutro cá, que o campo arrasa

De mortos, com presença furibunda?

Grandes batalhas tem desbaratadas,

Que as águias nas bandeiras têm pintadas.”

 

“Ulisses é que faz a santa casa à deusa que lhe dá língua facunda; que se lá na Ásia Troia ingere abrasa, cá na Europa Lisboa ingente funda.” “Quem será estoutro cá, que o campo arrasa de mortos, com presença furibunda? Grandes batalhas têm desbaratadas, que as águias nas bandeiras têm pintadas.” (1)

(1) “Ulisses é nome do herói que fundou o templo de Minerva, a deusa que lhe deu a sua eloquente língua; ele foi quem incendiou a cidade Troiana na Ásia e, aqui na Europa, fundou a grande cidade de Lisboa.” O ministro Catual pergunta: “Quem é este homem retratado neste outro quadro que, com uma furiosa presença, arrasa um campo com vários mortos? Vê se que tem derrotado muitos inimigos, sendo um deles tem a águia romana pintada. Camões canta que Paulo da Gama mostra o quadro de Ulisses, dizendo que ele é o fundador de Lisboa; o ministro pergunta quem é o guerreiro retratado em outro quadro.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Ulisses é nome do herói que fundou o templo de Minerva, a deusa que lhe deu a sua eloquente língua; ele foi quem incendiou a cidade Troiana na Ásia e, aqui na Europa, fundou a grande cidade de Lisboa.” O ministro Catual pergunta: “Quem é este homem retratado neste outro quadro que, com uma furiosa presença, arrasa um campo com vários mortos? Vê se que tem derrotado muitos inimigos, sendo um deles tem a águia romana pintada.

CANTO VIII – ESTROFE 6

“Paulo da Gama diz que o homem retratado é Viriato, aquele que, junto com os povos que ocupava as terras lusitanas, se rebelou contra Roma”

 

Assi o gentio diz; responde o Gama:

“Este que vês, pastor já foi de gado;

Viriato sabemos que se chama,

Destro na lança mais que no cajado.

Injuriada tem de Roma a fama,

Vencedor invencíbil, afamado:

Não tem com ele, não, nem ter puderam,

O primor que com Pirro já tiveram.

 

Assi o gentio diz; responde o Gama: “Este que vês, pastor já foi de gado; Viriato sabemos que se chama, destro na lança mais que no cajado. Injuriada tem de Roma a fama, vencedor invencíbil, afamado: não tem com ele, não, nem ter puderam, o primor que com Pirro já tiveram. (1)

(1) Paulo da Gama responde à pergunta do ministro gentio: “Este home que vês retratado na pintura sabemos que se chama Viriato e, apesar de já ter sido pastor de gado, ele fui mais competente com lança do que com cajado; foi um vencedor invencível e muito famoso, tendo ferido a fama de Roma, sendo que os romanos não tiveram com ele o mesmo primor que tiveram com o rei Pirro. Camões canta que Paulo da Gama, respondendo à pergunta do ministro Catual, diz que o quadro representa Viriato, um famoso guerreiro que se rebelou contra Roma.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Paulo da Gama responde à pergunta do ministro gentio: “Este home que vês retratado na pintura sabemos que se chama Viriato e, apesar de já ter sido pastor de gado, ele fui mais competente com lança do que com cajado; foi um vencedor invencível e muito famoso, tendo ferido a fama de Roma, sendo que os romanos não tiveram com ele o mesmo primor que tiveram com o rei Pirro.

CANTO VIII – ESTROFE 7

“Paulo da Gama comenta que Viriato foi assassinado pelos romanos”

 

“Com força não, com manha vergonhosa

A vida lhe tiraram, que os espanta;

Que o grande aperto, em gente inda que honrosa,

Às vezes leis magnânimas quebranta.

Outro está aqui que, contra pátria irosa,

Degradado conosco se alevanta:

Escolheu bem quem se alevantasse,

Pera que eternamente se ilustrasse.

 

“Com força não, com manha vergonhosa avida lhe tiraram, que os espanta; que o grande aperto, em gente inda que honrosa, às vezes leis magnânimas quebranta. Outro está aqui que, contra pátria irosa, degradado conosco se alevanta: escolheu bem quem se alevantasse, pera que eternamente se ilustrasse. (1)

(1) Os romanos não venceram Viriato com a força, mas sim, com uma vergonha astúcia, pois ele os assustava muito; quando o perigo é muito grande, até se quebram os princípios contra as pessoas honrosas. Veja também outra representação de um homem que se levantou contra a sua irosa pátria, este que fez bem em se rebelar, pois ficou eternamente conhecido. Camões canta que Paulo da Gama, respondendo à pergunta do ministro Catual, complementa seus comentários sobre Viritato, dizendo que ele foi assassinado pelos romanos; Paulo da Gama também aponta um quadro de outro homem que se rebelou contra os romanos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Os romanos não venceram Viriato com a força, mas sim, com uma vergonha astúcia, pois ele os assustava muito; quando o perigo é muito grande, até se quebram os princípios contra as pessoas honrosas. Veja também outra representação de um homem que se levantou contra a sua irosa pátria, este que fez bem em se rebelar, pois ficou eternamente conhecido.

CANTO VIII – ESTROFE 8

“Paulo da Gama mostra outra pintura, esta que consta Setório, outro homem que se revelou contra Roma”

 

“Vês? Conosco também vence as bandeiras

Dessas aves de Júpiter validas;

Que já naquele tempo as mais guerreiras

Gentes de nós souberam ser vencidas.

Olha tão sutis artes e maneiras

Para adquirir os povos tão fingidas;

A fatídica cerva que o avisa:

Ele é Sertório, e ela a sua divisa.

 

“Vês? Conosco também vence as bandeiras dessas aves de Júpiter validas; que já naquele tempo as mais guerreiras gentes de nós souberam ser vencidas. Olha tão sutis artes e maneiras para adquirir os povos tão fingidas; a fatídica cerva que o avisa: ele é Sertório, e ela a sua divisa. (1)

(1) Vês esse quadro? Nele está representado o homem que, acompanhado dos antigos lusitanos, venceu os romanos, que carregavam nas bandeiras as aves validas de Júpiter; naquela época, os povos mais guerreiros já sabiam que seriam vencidos por nós. Vejam como são sutis as artimanhas para conquistar os adversários; veja a fatídica corsa que o acompanhava: ele é Sertório, e a corsa a sua divisa. Camões canta que Paulo da Gama, respondendo à pergunta do ministro Catual, diz que o homem representa no quadro é Viriato, outro soldado que rebelou contra Roma e seu aliou aos povos lusitanos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Vês esse quadro? Nele está representado o homem que, acompanhado dos antigos lusitanos, venceu os romanos, que carregavam nas bandeiras as aves validas de Júpiter; naquela época, os povos mais guerreiros já sabiam que seriam vencidos por nós. Vejam como são sutis as artimanhas para conquistar os adversários; veja a fatídica corsa que o acompanhava: ele é Sertório, e a corsa a sua divisa.

CANTO VIII – ESTROFE 9

“Paulo da Gama mostra a pintura do Henrique, senhor do condado de Portugal”

 

“Olha estoutra bandeira, e vê pintado

O grão progenitor dos reis primeiros:

Nós Húngaro o fazemos, porém nado

Crêem ser em Lotaríngia os estrangeiros.

Depois de ter c’os Mouros superado

Galegos e Leoneses cavaleiros,

À casa santa passa a santo Henrique,

Por que o tronco dos reis se santifique.”

 

“Olha estoutra bandeira, e vê pintado o grão progenitor dos reis primeiros: nós Húngaro o fazemos, porém nado crêem ser em Lotaríngia os estrangeiros. Depois de ter c’os Mouros superado galegos e leoneses cavaleiros, à casa santa passa a santo Henrique, por que o tronco dos reis se santifique.” (1)

(1) “Olhe está outra bandeira e veja que está pintado o grão progenitor dos primeiros reis de Portugal; nós, portugueses, supomos que ele seja húngaro, embora alguns acreditem que ele seja da Lotaríngia. Ele é o santo Conde Henrique que, após ter vencido os mouros com ajuda de cavaleiros galegos e leoneses, passa à Casa Santa para que o tronco dos reis portugueses se certificasse. Camões canta que Paulo da Gama mostra outra representação ao ministro Catual, onde está desenhado o conde Henrique.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Olhe está outra bandeira e veja que está pintado o grão progenitor dos primeiros reis de Portugal; nós, portugueses, supomos que ele seja húngaro, embora alguns acreditem que ele seja da Lotaríngia. Ele é o santo Conde Henrique que, após ter vencido os mouros com ajuda de cavaleiros galegos e leoneses, passa à Casa Santa para que o tronco dos reis portugueses se certificasse.

CANTO VIII – ESTROFE 10

“O ministro Catual pergunta quem é o homem que está representado derrotando tanto inimigos mouros”

 

“Quem é, me dize, estoutro que me espanta,

(Pergunta o Malabar maravilhado)

Que tantos esquadrões, que gente tanta,

Com tão pouca, tem roto e destroçado?

Tantos mouros aspérrimos quebranta,

Tantas batalhas dá, nunca cansado,

Tantas coroas tem por tantas partes

A seus pés derribados, e estandartes!”

 

“Quem é, me dize, estoutro que me espanta, (pergunta o Malabar maravilhado) que tantos esquadrões, que gente tanta, com tão pouca, tem roto e destroçado? Tantos mouros aspérrimos quebranta, tantas batalhas dá, nunca cansado, tantas coroas tem por tantas partes a seus pés derribados, e estandartes!” (1)

(1) “Diga-me quem é este outro tão impressionante – pergunta o indiano de Malabar. Quem é este homem que, com tão poucos soldados, vence e destrói tantos esquadrões inimigos? Sem parecer cansado, derrota tantos mouros e derruba tantos coroas e estandartes aos seus pés” Camões canta que o ministro Catual, olhando outra imagem, pergunta quem é o homem representado que derrota tantos inimigos mouros.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Diga-me quem é este outro tão impressionante – pergunta o indiano de Malabar. Quem é este homem que, com tão poucos soldados, vence e destrói tantos esquadrões inimigos? Sem parecer cansado, derrota tantos mouros e derruba tantos coroas e estandartes aos seus pés”

CANTO VIII – ESTROFE 11

“Paulo da Gama diz que o homem representado é Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal”

 

“Este é o primeiro Afonso, disse o Gama,

Que todo Portugal aos Mouros toma;

Por quem no estígio lago jura a Fama

De mais não celebrar nenhum de Roma.

Este é aquele zeloso, a quem Deus ama,

Com cujo braço o Mouro imigo doma,

Pera quem de seu reino abaixa os muros,

Nada deixando já pero os futuros.

 

“Este é o primeiro Afonso, disse o Gama, que todo Portugal aos Mouros toma; por quem no estígio lago jura a Fama de mais não celebrar nenhum de Roma. Este é aquele zeloso, a quem Deus ama, com cujo braço o Mouro imigo doma, pera quem de seu reino abaixa os muros, nada deixando já pero os futuros. (1)

(1) “Este homem retratado é rei Afonso I – disse Paulo da Gama, aquele rei que conquistou o território do condado português vencendo os mouros e por quem a Fama, ao ver seus feitos, jurou nunca mais lembrar das realizações dos romanos. Este é aquele rei zeloso amado por Deus e que, com sua força militar, domou o inimigo mouro ao sobrepujar suas muralhas e não deixou nada para os seus descendentes. Camões canta que Paulo da Gama, responde à pergunta do ministro Catual, diz que o homem na figura é o rei Afonso I, o primeiro rei de Portugal e conquistador das terras portuguesas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Este homem retratado é rei Afonso I – disse Paulo da Gama, aquele rei que conquistou o território do condado português vencendo os mouros e por quem a Fama, ao ver seus feitos, jurou nunca mais lembrar das realizações dos romanos. Este é aquele rei zeloso amado por Deus e que, com sua força militar, domou o inimigo mouro ao sobrepujar suas muralhas e não deixou nada para os seus descendentes.

CANTO VIII – ESTROFE 12

“Paulo da Gama compara o rei Afonso Henriques com Júlio César e Alexandre Magno, dizendo que o monarca português foi muito superior a eles”

 

“Se César, se Alexandre rei, tiveram

Tão pequeno poder, tão pouca gente,

Contra tantos inimigos, quantos eram

Os que desbaratara este excelente,

Não creias que seus nomes se estenderam

Com glórias imortais tão largamente.

Mas deixa os feitos seus inexplicáveis,

Vê que os de seus vassalos são notáveis!

 

“Se César, se Alexandre rei, tiveram tão pequeno poder, tão pouca gente, contra tantos inimigos, quantos eram os que desbaratara este excelente, não creias que seus nomes se estenderam com glórias imortais tão largamente. Mas deixa os feitos seus inexplicáveis, vê que os de seus vassalos são notáveis! (1)

(1) Se o grande general Júlio Cesar e o grande rei Alexandre Magno tivessem estado na mesma situação que o rei Afonso Henrique, onde precisou enfrentar hordas de inimigos com um pequeno exército, não acredite que esses senhores do passado teriam seus nomes imortalizados como hoje o são. Mas deixemos de falar dos feitos inexplicáveis deste monarca português, para que assim possamos falar dos seus notáveis vassalos. Camões canta que Paulo da Gama, responde à pergunta do ministro Catual, compara o rei Afonso Henriques com Júlio Cesar e Alexandre o Grande, dizendo que o português, por ter enfrentado situações muito mais complicadas, é muito superior há estes generais do passado.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Se o grande general Júlio Cesar e o grande rei Alexandre Magno tivessem estado na mesma situação que o rei Afonso Henrique, onde precisou enfrentar hordas de inimigos com um pequeno exército, não acredite que esses senhores do passado teriam seus nomes imortalizados como hoje o são. Mas deixemos de falar dos feitos inexplicáveis deste monarca português, para que assim possamos falar dos seus notáveis vassalos.

CANTO VIII – ESTROFE 13

“Paulo da Gama mostra a pintura de Egas Moniz, vassalo de Afonso Henriques quando este era apenas príncipe”

 

“Este, que vês olhar com gesto irado

Pera o rompido aluno, mal sofrido

Dizendo-lhe que o exército espalhado

Recolha, e torne ao campo defendido;

Torna o moço, do velho acompanhado,

Que o vencedor o torna de vencido:

Egas Moniz se chama o forte velho,

Pera leais vassalos claro espelho.

 

“Este, que vês olhar com gesto irado pera o rompido aluno, mal sofrido dizendo-lhe que o exército espalhado recolha, e torne ao campo defendido; torna o moço, do velho acompanhado, que o vencedor o torna de vencido: Egas Moniz se chama o forte velho, pera leais vassalos claro espelho. (1)

(1) “Este outro homem que vês representado está olhando com um aspecto irado para o seu aluno que foi vencido e falando para que recolha o seu exército espalhado e torne ao campo defendido; o moço retorna ao acampamento com o velho, este que o torna de vencido para vencedor; o nome deste forte velho é Egas Moniz, vassalo do rei Afonso Henriques e um exemplo para os outros. Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, agora mostrando a pintura de Egas Moniz, vassalo do rei Afonso Henriques.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Este outro homem que vês representado está olhando com um aspecto irado para o seu aluno que foi vencido e falando para que recolha o seu exército espalhado e torne ao campo defendido; o moço retorna ao acampamento com o velho, este que o torna de vencido para vencedor; o nome deste forte velho é Egas Moniz, vassalo do rei Afonso Henriques e um exemplo para os outros.

CANTO VIII – ESTROFE 14

“Paulo da Gama mostra a pintura que representa o caso de Egas Moniz”

 

“Vê-lo cá vai c’os filhos a entregar-se.

A corda ao colo, nu de seda e pano,

Porque não quis o moço sujeitar-se,

Como ele prometera, ao Castelhano.

Fez com siso e promessas levantar-se

O cerco, que já estava soberano;

Os filhos e mulher obriga à pena;

Pera que o senhor salve, a si condena.

 

“Vê-lo cá vai c’os filhos a entregar-se. A corda ao colo, nu de seda e pano, porque não quis o moço sujeitar-se, como ele prometera, ao Castelhano. Fez com siso e promessas levantar-se o cerco, que já estava soberano; os filhos e mulher obriga à pena; pera que o senhor salve, a si condena. (1)

(1) “Veja que Egas Moniz vai se entregar com seus filhos em Castela, carregando a uma corda no pescoço e sem vestir nenhuma seda, pois o príncipe Afonso Henriques não quis se submeter ao rei de Castela como Egas tinha prometido. Fez tal promessa pois o português estava rendido em um cerco feito pelo castelhano; como não foi cumprida a sua promessa, ele segue para entregar-se junto com a mulher e os filhos, para que assim o príncipe se salvasse.  Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta o caso de Egas Moniz, vassalo de Afonso Henriques que se entregou ao rei de Castela após o seu suserano não fazer o que Egas Moniz tinha prometido.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Veja que Egas Moniz vai se entregar com seus filhos em Castela, carregando a uma corda no pescoço e sem vestir nenhuma seda, pois o príncipe Afonso Henriques não quis se submeter ao rei de Castela como Egas tinha prometido. Fez tal promessa pois o português estava rendido em um cerco feito pelo castelhano; como não foi cumprida a sua promessa, ele segue para entregar-se junto com a mulher e os filhos, para que assim o príncipe se salvasse. 

CANTO VIII – ESTROFE 15

“Paulo da Gama compara o caso de Egas Moniz com outras figuras históricas”

 

“Não fez o cônsul tanto, que cercado

Foi nas forças caudinas, de ignorante,

Quando a passar por baixo foi forçado

Do sambítico jugo triunfante.

Este, pelo seu povo injuriado,

A si se entrega só, firme e constante;

Estoutro a si e os filhos naturais,

E a consorte sem culpa, que dói mais.

 

“Não fez o cônsul tanto, que cercado foi nas forças caudinas, de ignorante, quando a passar por baixo foi forçado do sambítico jugo triunfante. Este, pelo seu povo injuriado, a si se entrega só, firme e constante; estoutro a si e os filhos naturais, e a consorte sem culpa, que dói mais. (1)

(1) Podemos comparar Egas com o cônsul romano Postúmio, que, ao ser cercado e derrotado pelas forças inimigas, se entregou à humilhação. Ele também acabou sendo injuriado pelo próprio povo, embora tenha entregado somente a si, enquanto Egas entregou a si, os próprios filhos e a sua inocente esposa. Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, compara o caso de Egas Moniz com a situação que cônsul romano Postúmio.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Podemos comparar Egas com o cônsul romano Postúmio, que, ao ser cercado e derrotado pelas forças inimigas, se entregou à humilhação. Ele também acabou sendo injuriado pelo próprio povo, embora tenha entregado somente a si, enquanto Egas entregou a si, os próprios filhos e a sua inocente esposa.

CANTO VIII – ESTROFE 16

“Paulo da Gama mostra a pintura de um homem enfrentando os mouros”

 

“Vês este que, saindo da cilada,

Dá sobre o rei, que cerca a vila forte?

Já o rei tem preso, e a vila descercada:

Ilustre feito, digno de Mavorte!

Vê-lo cá vai pintando nesta armada,

No mar também os Mouros dando a morte,

Tomando-lhes as galés, levando a glória

Da primeira marítima vitória.

 

“Vês este que, saindo da cilada, dá sobre o rei, que cerca a vila forte? Já o rei tem preso, e a vila descercada: ilustre feito, digno de Mavorte! Vê-lo cá vai pintando nesta armada, no mar também os Mouros dando a morte, tomando-lhes as galés, levando a glória da primeira marítima vitória. (1)

(1) “Está vendo esta outra figura, que representa um homem saindo um esconderijo e atacando o rei mouro que fazia um cerco sobre uma vila? Com isso ele já conseguiu prender o rei inimigo e romper o cerco sobre a vila, um grande feito, digno do próprio deus Marte! Aqui você pode ver que ele está pintado nesta armada destruindo no mar os mouros, tomando-lhes as galés e conseguindo a glória da primeira vitória marítima portuguesa. Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, agora mostrando uma representação de guerreiro português que se consagrou derrotando os mouros.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Está vendo esta outra figura, que representa um homem saindo um esconderijo e atacando o rei mouro que fazia um cerco sobre uma vila? Com isso ele já conseguiu prender o rei inimigo e romper o cerco sobre a vila, um grande feito, digno do próprio deus Marte! Aqui você pode ver que ele está pintado nesta armada destruindo no mar os mouros, tomando-lhes as galés e conseguindo a glória da primeira vitória marítima portuguesa.

CANTO VIII – ESTROFE 17

“Paulo da Gama diz que o homem representado é Fuas Roupinho”

 

“É dom Fuas Roupinho, que na terra

 E no mar resplandece juntamente,

C’o fogo que acendeu junto da serra

De Abila, nas galés da maura gente.

Olha como em tão justa e santa guerra

De acabar pelejando está contente:

Das mãos dos Mouros entra a felice alma

Triunfando nos céus, com justa palma.

 

“É dom Fuas Roupinho, que na terra e no mar resplandece juntamente, c’o fogo que acendeu junto da serra de Abila, nas galés da maura gente. Olha como em tão justa e santa guerra de acabar pelejando está contente: das mãos dos Mouros entra a felice alma triunfando nos céus, com justa palma. (1)

(1) “Este retratado é D. Fuas Roupinho, que resplandece na terra e, da mesma forma, no mar, onde ele venceu os mouros enquanto navegava no Estreito de Gibraltar. Veja como ele está retratado de forma alegre ao morrer lutando contra os mouros em uma tão justa e santa guerra! A sua alma acabou, pelas mãos dos mouros, entrando feliz e triunfante nos céus. Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta que este cavaleiro português retratado é D. Fuas Roupinho, e que lutou bravamente contra o inimigo mouro e morreu em batalha.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Este retratado é D. Fuas Roupinho, que resplandece na terra e, da mesma forma, no mar, onde ele venceu os mouros enquanto navegava no Estreito de Gibraltar. Veja como ele está retratado de forma alegre ao morrer lutando contra os mouros em uma tão justa e santa guerra! A sua alma acabou, pelas mãos dos mouros, entrando feliz e triunfante nos céus.

CANTO VIII – ESTROFE 18

“Paulo da Gama mostra a pintura do rei Afonso Henriques conquistando Lisboa com auxílio dos cruzados germânicos”

 

“Não vês um ajuntamento, de estrangeiro

Trajo, sair da grande armada nova,

Que ajuda a combater o rei primeiro

Lisboa, de si dando santa prova?

Olha Henrique, famoso cavaleiro,

A palma que lhe nasce junto à cova:

Por eles mostra Deus milagre visto;

Germanos são os mártires de Cristo.

 

“Não vês um ajuntamento, de estrangeiro trajo, sair da grande armada nova, que ajuda a combater o rei primeiro Lisboa, de si dando santa prova? Olha Henrique, famoso cavaleiro, a palma que lhe nasce junto à cova: Por eles mostra Deus milagre visto; germanos são os mártires de Cristo. (1)

(1) “Vês essa representação de um grupo de homens utilizando roupas estrangeiras que saem de uma grande e nova armada e, ao ajudar o rei Afonso Henriques a conquistar Lisboa, dão prova de sua fé? Olhe o famoso cavaleiro Henrique, aquele cuja a sepultura nasce uma palmeira. Por causa desses estrangeiros que Deus concedeu a milagrosa conquista de Lisboa; os germanos são os mártires de Cristo. Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, mostra uma representação dos cruzados cristãos que auxiliaram os portugueses na conquista da cidade de Lisboa.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Vês essa representação de um grupo de homens utilizando roupas estrangeiras que saem de uma grande e nova armada e, ao ajudar o rei Afonso Henriques a conquistar Lisboa, dão prova de sua fé? Olhe o famoso cavaleiro Henrique, aquele cuja a sepultura nasce uma palmeira. Por causa desses estrangeiros que Deus concedeu a milagrosa conquista de Lisboa; os germanos são os mártires de Cristo.

CANTO VIII – ESTROFE 19

“Paulo da Gama mostra a pintura do padre Teotônio”

 

“Um sacerdote vê brandindo a espada

Contra Arronches que toma, por vingança

Do Leiria, que de antes foi tomada

Por quem por Marfamede enresta a lança.

É Teotônio, prior. Mas vê cercada

Santarém, e verás a segurança

Da figura dos muros, que primeira

Subindo ergueu das quinas a bandeira.

 

“Um sacerdote vê brandindo a espada contra Arronches que toma, por vingança do Leiria, que de antes foi tomada por quem por Marfamede enresta a lança. É Teotônio, prior. Mas vê cercada Santarém, e verás a segurança da figura dos muros, que primeira subindo ergueu das quinas a bandeira. (1)

(1) “Veja naquela pintura um sacerdote brandindo uma espada contra um mouro do Arronches, sendo está a vingança da cidade de Leiria, que fora tomada pelas lanças dos muçulmanos. O nome dele é prior Teotônio; veja que ali está cercada a cidade de Santarém e verás a segurança da figura que ergue a bandeira portuguesa em seus muros. Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, onde mostra a figura de Teotônio e a conquista da cidade de Santarém.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Veja naquela pintura um sacerdote brandindo uma espada contra um mouro do Arronches, sendo está a vingança da cidade de Leiria, que fora tomada pelas lanças dos muçulmanos. O nome dele é prior Teotônio; veja que ali está cercada a cidade de Santarém e verás a segurança da figura que ergue a bandeira portuguesa em seus muros.

CANTO VIII – ESTROFE 20

“Paulo da Gama mostra a pintura do então príncipe Sancho e de Mem Moniz, filho de Egaz Moniz, lutando contra os mouros”

 

“Vê-lo cá donde Sancho desbarata

Os mouros de Vandália em fera guerra;

Os inimigos rompendo, o alferes mata,

E hispálico pendão derriba em terra!

Mem Moniz é, que em si o valor retrata

Que o sepulcro do pai c’os ossos cerra,

Digno destas bandeiras, pois sem fala

A contrária derriba, e a sua exalta.

 

“Vê-lo cá donde Sancho desbarata os mouros de Vandália em fera guerra; os inimigos rompendo, o alferes mata, e hispálico pendão derriba em terra! Mem Moniz é, que em si o valor retrata que o sepulcro do pai c’os ossos cerra, digno destas bandeiras, pois sem fala a contrária derriba, e a sua exalta. (1)

(1) “Veja aqui nesta pintura o então príncipe Sancho derrotando, em uma cruel guerra, os mouros que habitavam a região da Vandália; destrói os inimigos e, ao matar o alferes, derruba a bandeira inimiga no chão! Nesta outra está Mem Moniz, filho de Egas Moniz e que é retratado como o seu sepultado pai. Eles são dignos de estarem nestas bandeiras, pois se glorificaram derrubando as bandeiras inimigas.  Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, onde mostra as figuras de Sancho e Mem Moniz, além de glorifica-los como grandes heróis.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Veja aqui nesta pintura o então príncipe Sancho derrotando, em uma cruel guerra, os mouros que habitavam a região da Vandália; destrói os inimigos e, ao matar o alferes, derruba a bandeira inimiga no chão! Nesta outra está Mem Moniz, filho de Egas Moniz e que é retratado como o seu sepultado pai. Eles são dignos de estarem nestas bandeiras, pois se glorificaram derrubando as bandeiras inimigas. 

CANTO VIII – ESTROFE 21

“Paulo da Gama mostra a pintura do cavaleiro português Geraldo sem Pavor”

 

“Olha aquele, que desce pela lança,

Com as duas cabeças dos vigias,

Onde a cilada esconde com que alcança

A cidade por manhas e ousadias.

Ela por armas toma a semelhança

Do cavaleiro que as cabeças frias

Na mão levava: feito nunca feito!

Geraldo sem Pavor é forte peito!

 

“Olha aquele, que desce pela lança, com as duas cabeças dos vigias, onde a cilada esconde com que alcança a cidade por manhas e ousadias. Ela por armas toma a semelhança do cavaleiro que as cabeças frias na mão levava: feito nunca feito! Geraldo sem Pavor é forte peito! (1)

(1) “Olhe este quadro que mostra um cavaleiro finca duas cabeças numa lança. Agora olhe aqui a representação do assalto que, com suas manhas e ousadias, ele conseguiu conquista a cidade de Évora. É isso que está figura com um cavaleiro com cabeça na mão significa; um feito como este nunca antes foi realizado! A valentia é Geraldo sem Pavor. Camões canta que Paulo da Gama continua mostrando as representações dos lusitanos ao ministro Catual, onde comenta o grande feito do cavaleiro português Geraldo sem Pavor.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Olhe este quadro que mostra um cavaleiro finca duas cabeças numa lança. Agora olhe aqui a representação do assalto que, com suas manhas e ousadias, ele conseguiu conquista a cidade de Évora. É isso que está figura com um cavaleiro com cabeça na mão significa; um feito como este nunca antes foi realizado! A valentia é Geraldo sem Pavor.

CANTO VIII – ESTROFE 22

“Paulo da Gama mostra a pintura do cavaleiro castelhano que se aliou aos mouros e veio enfrentar os portugueses”

 

“Não vês um castelhano, que, agravado

De Afonso nono rei, pelo ódio antigo

Dos de Lara, c’os Mouros é deitado,

De Portugal fazendo-se inimigos?

Abrantes vila toma, acompanhado

Dos duros infiéis que traz consigo.

Mas vê que um Português com pouca gente

O desbarata, e o prende ousadamente. 

 

“Não vês um castelhano, que, agravado de Afonso nono rei, pelo ódio antigo dos de Lara, c’os Mouros é deitado, de Portugal fazendo-se inimigos? Abrantes vila toma, acompanhado dos duros infiéis que traz consigo. Mas vê que um Português com pouca gente o desbarata, e o prende ousadamente. (1)

(1) “Está vendo está representação de um cavaleiro castelhano que, por desavenças com o rei Afonso IX da Espanha que foram causadas por um antigo ódio dos Conde de Lara, acabou se aliando aos mouros e, por consequência, se tornou inimigo de Portugal? Lutando pelos cruéis mouros, ele tomou a vila de Abrantes. Mas logo a maré virou quando um cavaleiro português com poucos soldados o derrotou e o prendeu.  Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, conta o caso cavaleiro castelhano Pedro Fernandes de Castro que, por desavenças com o rei e os nobres da Espanha, veio a se aliar aos mouros e lutar contra Portugal.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Está vendo está representação de um cavaleiro castelhano que, por desavenças com o rei Afonso IX da Espanha que foram causadas por um antigo ódio dos Conde de Lara, acabou se aliando aos mouros e, por consequência, se tornou inimigo de Portugal? Lutando pelos cruéis mouros, ele tomou a vila de Abrantes. Mas logo a maré virou quando um cavaleiro português com poucos soldados o derrotou e o prendeu. 

CANTO VIII – ESTROFE 23

“Paulo da Gama comenta que o cavaleiro castelhano se chamava Martim Lopes; então mostra a pintura de um bispo que pegou em armas”

 

“Martim Lopes se chama o cavaleiro,

Que destes levar pode a palma e o louro.

Mas olha um eclesiástico guerreiro,

Que em lança aço torna o bago de ouro:

Vê-lo entre os duvidosos tão inteiro

Em não negar batalha ao bravo Mouro;

Olha o sinal no céu, que lhe aparece,

Com que nos poucos seus o esforço cresce.

 

“Martim Lopes se chama o cavaleiro, que destes levar pode a palma e o louro. Mas olha um eclesiástico guerreiro, que em lança aço torna o bago de ouro: vê-lo entre os duvidosos tão inteiro em não negar batalha ao bravo Mouro; olha o sinal no céu, que lhe aparece, com que nos poucos seus o esforço cresce. (1)

(1) Nome deste português cavaleiro que derrotou o castelhano traidor e os mouros é Martim Lopes. Mas olhe naquela outra pintura um cavaleiro eclesiástico, este que, para lutar contra os mouros, trocou o báculo de ouro por uma lança de aço; veja como ele, ao contrário dos temerosos, se mantém inteiro e não hesita em lutar contra o bravo mouro; veja como está representado o sinal que apareceu no céu para ele e que deu coragem aos seus companheiros. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta que o cavaleiro português que subjugou Pedro Fernandes de Castro se chama Martim Lopes; também comenta sobre o bispo português que pegou em armas para lutar contra os mouros. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Nome deste português cavaleiro que derrotou o castelhano traidor e os mouros é Martim Lopes. Mas olhe naquela outra pintura um cavaleiro eclesiástico, este que, para lutar contra os mouros, trocou o báculo de ouro por uma lança de aço; veja como ele, ao contrário dos temerosos, se mantém inteiro e não hesita em lutar contra o bravo mouro; veja como está representado o sinal que apareceu no céu para ele e que deu coragem aos seus companheiros.

CANTO VIII – ESTROFE 24

“Paulo da Gama mostra a pintura do bispo dom Mateus, que pegou em armas contra o inimigo”

 

“Vês?  Vão os reis da Córdova e Sevilha

Rotos, c’os outros dous, e não de espaço.

Rotos? Mas antes mortos. Maravilha

Feita de Deus, que não se humano braço!

Vês? Já a vila Alcácere se humilha,

Sem lhe valer defesa ou muro de aço,

A dom Mateus, o bispo de Lisboa,

Que a coroa de palma ali coroa.

 

“Vês? Vão os reis da Córdova e Sevilha rotos, c’os outros dous, e não de espaço. Rotos? Mas antes mortos. Maravilha feita de Deus, que não se humano braço! Vês? Já a vila Alcácere se humilha, sem lhe valer defesa ou muro de aço, a dom Mateus, o bispo de Lisboa, que a coroa de palma ali coroa. (1)

(1) “Vês aquela pintura que mostra os reis da Córdova e Sevilha, juntos com outros dois monarcas, andando derrotados pelo bispo português? Derrotados? Mais do que isso só se estivessem mortos. Está vitória é um milagre que só pode ter vindo de Deus! Vês a vila de Alcácere do Sal sem defesa se rendendo a dom Mateus, o bispo de Lisboa, que carrega a coroa da vitória. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta a pintura da vitória do bispo dom Mateus sobre os mouros. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Vês aquela pintura que mostra os reis da Córdova e Sevilha, juntos com outros dois monarcas, andando derrotados pelo bispo português? Derrotados? Mais do que isso só se estivessem mortos. Está vitória é um milagre que só pode ter vindo de Deus! Vês a vila de Alcácere do Sal sem defesa se rendendo a dom Mateus, o bispo de Lisboa, que carrega a coroa da vitória.

 

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Os Lusíadas (Edição Didática) - Volume I e II – Editora Concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a primeira até a vigésima quarta estrofe do oitavo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a descrição das pinturas dos lusitanos que Paulo da Gama começa a fazer ao ministro Catual.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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