Neste nosso comentário sobre os versos memoráveis de Camões, comentaremos a sexagésima quinta estrofe do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta o encontro da frota portuguesa com os mouros de Moçambique.
A obra Os Lusíadas
O épico de Camões canta as glórias do povo português desde de sua fundação até as conquistas deles em suas expedições pelo Oriente. Para fazer isso, Camões narra a empreitada comandada pelo capitão Vasco da Gama que chegou até à Índia; enquanto narra os percalços que os portugueses enfrentaram nesta viagem, Camões também conta os eventos que precederam essa viagem e os eventos que acontecerem depois.
A obra começa com a introdução do poeta, onde ele diz que cantará as glórias dos homens que desbravaram os mares do mundo, como também as glórias dos reis e heróis que expandiram o império de Portugal e a fé de Cristo. Após isso, ele faz uma dedicatória ao jovem rei D. Sebastião, onde tece elogios ao monarca português.
Começa narrando um conselho dos deuses no Olimpo, onde as divindades greco-romanas, após uma discussão entre Baco e Vênus, decidem apoiar os portugueses, favorecendo-os em sua empreitada. Neste momento da viagem, a frota do capitão Vasco da Gama já está navegando pelas águas da costa africana oriental, onde os portugueses conhecem e enfrentam os povos africanos de Moçambique e, posteriormente, de Mombaça.
Após interferência favorável de Vênus, os portugueses chegam até Melinde, onde são muito bem recebidos pelo monarca local. Curioso com a chegada dos visitantes europeus, o rei de Melinde pede para os portugueses se apresentarem e contarem a história de seu povo e como eles, tendo vindo de terras tão longínquas, chegaram até Melinde.
A partir deste momento, Camões, utilizando o capitão Vasco da Gama como narrador, conta a história de Portugal. Começa descrevendo os territórios da Europa, até finalmente chegar na região que ficam as terras lusitanas; menciona a formação do condado de Portugal pelo conde Henrique de Borgonha e como seu filho, Afonso Henriques, veio a se tornar rei destas terras após vencer um grandioso exército mouro.
A narração segue contando os reinados dos monarcas portugueses e como eles, ao longo do tempo, foram expandindo o reino de Portugal pela Península Hispânica (Ibérica). Depois disso, continuando narrando como foi a expansão do então Império de Portugal nos territórios da África, até que decidiram também explorar as distantes terras do Oriente.
Uma viagem marítima foi preparada, sendo escolhido o capitão Vasco da Gama como comandante da frota portuguesa. A partir daí, a narração conta como foi a viagem dos portugueses desde sua partida das praias de Lisboa até chegar nos domínios do rei de Melinde.
A frota portuguesa segue ao Sul navegando pela costa africana Oriental até chegar ao extremo do continente. Ali, na divisa do lado ocidental para o oriental, os portugueses passam pela Cabo da Boa Esperança, que é o território do terrível e implacável Gigante Adamastor. Após passarem por ele, os portugueses seguem navegando pela costa oriental, atravessando os territórios de Moçambique e Mombaça, onde lutam com os mouros que dominam estas terras. Tendo superado as dificuldades que encontraram com esses povos, a frota portuguesa chega até Melinde, com capitão Vasco da Gama concluindo sua narração.
Seguindo viagem, a frota portuguesa deixa Melinde e avança rumo às terras da Índia. O deus Baco, como queria destruir os portugueses, manipula outros deuses, fazendo-os lançar os furiosos ventos contra as embarcações. A frota do capitão Vasco da Gama só não foi destruída porque Vênus, intervindo mais uma vez em seu favor, salva-os, ao acalmar os furiosos ventos com o amor das belas ninfas.
Quando finalmente chegam nas tão sonhadas terras do Oriente, os portugueses desembarcam na península indiada de Malabar, onde fica o reino de Calecut. Um emissário encontra um muçulmano do norte da África por ali, este que descreve para eles como são os reinos e povos da região.
Ao saber da chegada dos visitantes, Samorim, rei de Calecut, envia um emissário para trazê-los até o seu palácio. Diante do monarca indiano, o capitão Vasco da Gama faz uma proposta de aliança com ele, dizendo pra eles estabelecerem um tratado comercial e de proteção com Portugal.
O rei Samorim pede para o capitão português aguardar enquanto ele pondera sobre o pedido. Querendo ter certeza de quem são os portugueses, manda seu conselheiro descobrir investigá-los, este que vai até as naus onde estão os demais membros da frota portuguesa. Ali, Paulo da Gama, irmão de Vasco da Gama, mostra pinturas que representam os grandes heróis da história lusitana. O monarca indiano também pede para que seus feiticeiros utilizem de suas magias pra descobrir mais sobre portugueses, sendo que eles vêem o futuro e dizem que os portugueses conquistarão todo o Oriente.
O deus Baco, numa última tentativa de destruir os portugueses, visita um sacerdote muçulmano e, estando disfarçado do profeta Maomé, manda que ele e os demais sacerdotes acabem com portugueses. Acreditando que era realmente o profeta em seus sonhos, o sacerdote convoca um conselho com os demais sacerdotes, onde eles decidem subornar os conselheiros do rei Samorim, para que eles manipulem o monarca contra os portugueses.
Quando o capitão Vasco da Gama vai até o rei Samorim para ouvir sua resposta, o monarca, que já está influenciado por seus conselheiros corruptos, acusa os portugueses de serem piratas e vagabundos. Em resposta, o comandante português reafirmar ser quem diz que é, pois não faria sentido um grupo de vagabundos ou piratas fazer tal empreitada.
Sendo convencido pelos argumentos de Vasco da Gama, e porque também está influenciado pela cobiça, já que uma aliança com Portugal seria muito lucrativa, o rei Samorim aceita a proposta. Para celebrar o arco, o monarca indiano dá aos portugueses um carregamento de mercadorias para eles levarem para levarem e venderem.
Neste momento, a grande empreitada dos portugueses está concluída, só faltando eles iniciarem a viagem de volta e retornarem para as terras de Portugal. Mas, como os conselheiros corruptos de rei Samorim ainda desejavam destruir a frota portuguesa, eles impediram o retorno do capitão Vasco da Gama de volta para as naus, segurando-o o máximo de tempo possível em terra.
Após discussões entre o conselheiro e o comandante português, este que já tinha percebido que estavam tentando sabotar sua viagem, fica acordado entre eles que as mercadorias seriam vendidas na cidade e o ouro ficaria com os conselheiros, sendo que tudo isso acontecia sem o consentimento do rei Samorim. Neste acordo, Vasco da Gama volta para as naus e dois marinheiros portugueses ficam em terra para concretizar as negociações.
Mas existia uma nova armadilha neste acordo, seno está a última tentativa dos conselheiros: os mercadores da cidade foram instruídos a não negociar com os dos marinheiros, para assim retardar a partida da frota o máximo possível, pois, nesta época, era comum que uma grande e poderosa frota muçulmana vindo de Meca chegasse em Calecut para negociar mercadorias. Quando essa frota chegasse, ela entraria em combate com os portugueses e os destruiriam.
O capitão Vasco da Gama acaba descobrindo tal armadilha e manda os dois marinheiros retornarem para as naus, mas, como eles estavam sendo vigiados, foram pegos tentando fugir e acabaram sendo presos. Em resposta a tal prisão, os portugueses capturam alguns mercadores de Calecut, fazendo-os de reféns. Quando o rei Samorim ficou sabendo de toda essa situação, ordenou que os marinheiros portugueses fossem libertados e voltassem para as naus com as mercadorias que receberam.
Assim, depois de tanta dificuldade, a frota portuguesa finalmente deixa às terras da Índia e começa sua viagem de volta para Portugal.
A deusa Vênus, que sempre protegeu e auxiliou os portugueses, decide recompensa-los por terem conseguido realizar está viagem tão difícil. Decide ela que eles poderão descasar em uma das suas ilhas, sendo que está ilha está cheia de belas ninfas apaixonadas. Para isso, ela vai até o Cupido, seu filho, para que ele faça as ninfas se apaixonarem pelos marinheiros; então Cupido atira as suas fechas do amor nas belas ninfas e as manda para a ilha que Vênus preparou, a Ilha dos Amores.
No caminho de volta para Portugal, os marinheiros encontram está ilha peculiar e atracam no local. Conforme exploram a ilha, eles vão encontrando as belas ninfas e acabam ficando juntos, sendo que o capitão Vasco da Gama, por sua grande importância, fica com a famosa ninfa Tétis.
Após uma longa tarde de amores, as ninfas levam os portugueses para um banquete, onde uma ninfa sereia, que tinha conhecimento do futuro, começa a cantar os futuros feitos que portugueses realizarão nas terras do Oriente. Ela vai mencionando os conflitos e feitos que foram travados nestas terras tão distantes e mencionando os nomes dos bravos portugueses que se consagraram lutando para expandir o Império de Portugal.
Terminado o banquete e o canto da ninfa seria, Tétis leva o capitão Vasco da Gama para conhecer a Máquina do Mundo, uma cópia de toda a criação que foi feita por Deus e que era um presente para ele. Ela começa a mostrar como funciona o mundo, mostrando os firmamentos que circunda a Terra e então os vastos territórios do mundo.
Os portugueses, já tendo se deleitado com os prazeres da Ilha dos Amores, continuam viagem de volta e finalmente retornam para Portugal, concluindo essa grandiosa empreitada.
Camões encerra sua grande obra se dirigindo novamente ao rei D. Sebastião, onde comenta o desprezo que poeta recebeu seus conterrâneos portugueses, lamentando que eles não valorizem a sua arte. Também dá alguns conselhos ao jovem monarca, dizendo para que ele escolha seus conselheiros com sabedoria, os selecionando por seus méritos. Finaliza seus conselhos pedindo para que o rei D. Sebastião busque realizar grandes feitos, assim como seus antepassados fizeram.
O contexto da estrofe
No primeiro canto da obra, quando Camões já havia comentado os acontecimentos que se passaram no conselho dos deuses no Olimpo, o poeta finalmente começa a narrar a viagem dos portugueses rumo às terras da Índia.
Quando a frota portuguesa foi visitada por mouros vindos das ilhas de Moçambique, ficou acordado que eles receberiam a visita do regente das ilhas no dia seguinte. Para isso, foi preparado um grande banquete para receber o soberano e sua companhia.
O regente, ao ver a frota e o seu poderio, fica muito impressionado e pergunta se eles veem da Turquia e questiona se eles são muçulmanos ou cristãos, onde, em resposta, o capitão Vasco da Gama diz que eles são marinheiros europeus que buscam as terras da Índia e seguem a fé de Cristo.
O significado da estrofe
“A lei tenho d’Aquele, a cujo império
Obedece o visíbil e o invisíbil,
Aquele que criou todo o Hemisfério,
Tudo o que sente e todo o insensíbil;
Que padeceu desonra e vitupério,
Sofrendo morte injusta e insofríbil,
E que do Céu a Terra, enfim desceu,
Por subir dos mortais da Terra ao Céu.
Nesta estrofe, Camões canta que o capitão Vasco da Gama, já tendo respondido ao regente de Moçambique que era europeu e que buscava as terras da Índia, agora responde que ele e seu povo são cristãos.
Vasco da Gama, ao responder que é cristão, diz que segue a lei (religião) daquele que a vontade manda em todo o mundo visível e invisível, que criou todo o universo e todas as coisas que sentimos e não sentimos. Ao falar de Jesus Cristo, diz que seu Deus é aquele morreu de uma forma injusta e insuportável, pois ele tinha descido do Céu para a Terra para salvar a humanidade dos seus pecados e, assim, subir os mortais da Terra para o Céu.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
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Esse foi o nosso comentário sobre os belos versos da sexagésima quinta estrofe do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões comenta o encontro da frota portuguesa com os mouros de Moçambique.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.