Neste nosso décimo quinto comentário sobre Os Lusíadas, terminaremos de ler o primeiro canto da obra, onde Camões canta a chegada da frota à ilha de Mombaça..

CANTO I – ESTROFE 103
Estava a ilha à terra tão chegada,
Que um estreito pequeno a dividia;
Uma cidade nela situada,
Que na fronte do mar aparecia,
De nobres edifícios fabricada,
Como por fora ao longe descobria,
Regida por um rei de antiga idade:
Mombaça é o nome da ilha e da cidade.
“Estava a ilha à terra tão chegada, que um estreito pequeno a dividia (1); uma cidade nela situada, que na fronte do mar aparecia, de nobres edifícios fabricada, como por fora ao longe descobria, regida por um rei de antiga idade: Mombaça é o nome da ilha e da cidade. (1)”
(1) Camões descreve a ilha, dizendo que ela era colada à terra com um pequeno estreito separando-as.
(2) Uma cidade surgia de frente com elevados edifícios, sendo ela governada por um velho rei. Tanto a ilha quanto a cidade eram conhecidas como Mombaça.
“A ilha estava encostada ao continente, tendo apenas um estreito de separação; sobre ela surgia uma cidade voltada para o mar com altos edifícios. A ilha e a cidade são conhecidas como Mombaça, sendo que era governada por um rei de elevada idade.”
CANTO I – ESTROFE 104
E sendo a ela o capitão chegado,
Estranhamente ledo, por espera
De poder ver o povo batizado,
Como o falso piloto lhe dissera,
Eis vêm batéis da terra com recado
Do rei, que já sabia a gente que era:
Que Baco muito de antes o avisara,
Na forma doutro mouro, que tomara.
“E sendo a ela o capitão chegado, estranhamente ledo, por espera de poder ver o povo batizado, como o falso piloto lhe dissera (1), eis vêm batéis da terra com recado do rei, que já sabia a gente que era: que Baco muito de antes o avisara, na forma doutro mouro, que tomara (2).”
(1) Quando chega em Mombaça, o capitão Vasco da Gama fica estranhamente feliz, pois está empolgado para conhecer o povo cristão que o piloto mouro falsamente disse que moravam ali.
(2) eis que chegam botes da cidade trazendo um recado do monarca local, pois o rei de Mombaça já sabia que os portugueses estavam chegando porque foi avisado por Baco, este que apareceu para ele com a forma de um outro mouro.
“E chega o capitão Vasco da Gama com muita alegria para poder ver o povo cristão que o piloto mouro disse que habita a ilha. Vêm botes da terra com um recado do monarca local, este que já fora avisado por Baco da chegada dos portugueses.”
CANTO I – ESTROFE 105
O recado que trazem é de amigos,
Mas debaixo e veneno vem coberto;
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos!
Ó caminho de vida nunca certo:
Que aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança.
“O recado que trazem é de amigos, mas debaixo e veneno vem coberto; que os pensamentos eram de inimigos, segundo foi o engano descoberto (1). Ó grandes e gravíssimos perigos! Ó caminho de vida nunca certo: que aonde a gente põe sua esperança, tenha a vida tão pouca segurança (2).”
(1) O recado que ds mouros diz que eles são amigáveis, embora esteja oculto um veneno, pois a intenção que tinham eram de inimigos, como se veio a descobrir quando a armadilha foi posteriormente revelada.
(2) Camões lamenta tantos percalços que os bravos marinheiros portugueses tiveram que sofrer. Diz quão perigosos e difíceis são os seus caminhos, e como a vida é dura quando temos algo para por nossas esperanças.
“O recado que trazem de Mombaça para os portugueses parece amigável, mas, na verdade, se mostrou mais uma traição. Ó grandes e gravíssimos perigos! Ó caminho de vida nunca certo: que aonde a gente põe sua esperança, tenha a vida tão pouca segurança.”
CANTO I – ESTROFE 106
No mar tanta tormenta, e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Que pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e não se indigne o céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
“No mar tanta tormenta, e tanto dano, tantas vezes a morte apercebida! Na terra tanta guerra, tanto engano, tanta necessidade aborrecida! (1) Que pode acolher-se um fraco humano, onde terá segura a curta vida, que não se arme e não se indigne o céu sereno contra um bicho da terra tão pequeno? (2)?”
(1) Continuando a falar sobre os sofrimentos e dificuldades dos portugueses, Camões diz que, durante esta jornada, enquanto sofrem no mar – enfrentando tempestades e também morrendo, na terra eles tem que passar necessidades enquanto enfrentam conflitos e são enganados.
(2) Pergunta onde um humano que sofre pode ser acolhido sem que não sofra nenhum mal, assim como nenhum castigo vindo dos céus.
“No mar sofrem tanto mal e tantas dores, tendo que enfrentar tempestades e até a morte! Na terra, sofrem com guerras, armadilhas e passam grandes necessidades! Onde está o lugar que alguém fraco pode ser acolhido e possa viver sua curta vida? Onde está o lugar que um ser tão pequeno não sofra os castigos do céu?”
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Esses foram os nossos comentários sobre a centésima terceira até a centésima sexta estrofe do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a chegada da frota portuguesa à ilha de Mombaça e termina o primeiro canto de sua obra.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.