Neste nosso décimo oitavo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o segundo canto da obra, onde Camões canta a prece que o capitão Vasco da Gama faz aos céus pedindo que a sua jornada rumo ao Oriente seja abençoada.

CANTO II – ESTROFE 29
Vendo o Gama, atentado, a estranheza
Dos mouros, não cuidava, e juntamente,
O piloto fugir-lhe com presteza,
Entende o que ordenava a bruta gente;
E vendo, sem contraste e sem braveza
Dos ventos, ou das águas sem corrente,
Que a nau passar adiante não podia,
Havendo-o por milagre, assi dizia:
“Vendo o Gama, atentado, a estranheza Dos mouros, não cuidava, e juntamente, o piloto fugir-lhe com presteza, entende o que ordenava a bruta gente (1); e vendo, sem contraste e sem braveza dos ventos, ou das águas sem corrente, que a nau passar adiante não podia, havendo-o por milagre, assi dizia (2)”
(1) Ao ver o estranho e imprevisto comportamento dos mouros e do piloto, estes que fugiram das naus portuguesas por acreditarem que sua armadilha foi descoberta, o atento Vasco da Gama finalmente entende o que eles realmente pretendiam ao receber a frota portuguesa em Mombaça.
(2) Ao ver que a sua frota não caiu na armadilha porque não possuía vento e correnteza, ele percebe como essa intervenção foi milagrosa e diz [começa na próxima estrofe].
“O capitão Vasco da Gama, ao ver com surpresa como fugiam da nau os mouros de Mombaça e o piloto guia de Moçambique, finalmente percebe armadilha que estava sendo preparada para destruir a frota lusitana. Ao ver que sua frota não caiu na armadilha por não ter ventos nem correnteza, ele credita a situação a um milagre e diz:”
CANTO II – ESTROFE 30
Ó caso grande, estranho e não cuidado,
Ó milagre claríssimo e evidente,
Ó descoberto engano inopinado,
Ó pérfida, inimiga falsa gente!
Quem poderá do mal aparelhado
Livra-se sem perigo sabiamente,
Se lá de cima a Guarda Soberana
Não acudir à fraca força humana?
“Ó caso grande, estranho e não cuidado! Ó milagre claríssimo e evidente! Ó descoberto engano inopinado! Ó pérfida, inimiga falsa gente! (1) Quem poderá do mal aparelhado livra-se sem perigo sabiamente, se lá de cima a Guarda Soberana não acudir à fraca força humana? (2)”
(1) Vasco da Gama diz como está situação foi estranha e imprevista, sendo obviamente um milagre eles não caírem na armadilha. Insulta os mouros, chamando-os de pérfidos e mentirosos.
(2) Questiona se alguém que pode escapar de maldades premeditadas como está sem ter a direta proteção de Deus.
Diz Vasco da Gama: “Ó caso grande, estranho e imprevisto! Ó milagre claríssimo e evidente! Ó revelada armadilha inesperada! Ó gente pérfida, falsa e inimiga! Quem poderá livrar-se sem sofrer dano algum de um mal planejado sem o auxílio e proteção de Deus?”
CANTO II – ESTROFE 31
Bem nos mostra a Divina Providência
Destes portos a pouca segurança;
Bem claro temos visto na aparência,
Que era enganada a nossa confiança.
Mas por saber humano nem prudência
Enganos tão fingidos não alcança,
Ó tu, Guarda Divina, tem cuidado
De quem sem Ti não pode ser guardado!
“Bem nos mostra a Divina Providência destes portos a pouca segurança; bem claro temos visto na aparência, que era enganada a nossa confiança (1). Mas por saber humano nem prudência enganos tão fingidos não alcança, ó tu, Guarda Divina, tem cuidado de quem sem Ti não pode ser guardado! (2)”
(1) Diz que a Divina Providência revelou que os portos de Mombaça não eram seguros, sendo que os portugueses estavam sendo enganados pelos mouros.
(2) Como nem mesmo a inteligência (saber) e nem a prudência podem preveni-los de armadilhas tão elaboradas, Vasco da Gama diz que somente Deus (Guarda Divina) pode protege-los.
“A Divina Providência nos mostra o quão perigosos são estes portos, já que a nossa confiança foi traída pelos mouros. Mas, como nem o saber humano e tão pouco a prudência podem descobrir armadilhas tão vis, somente tu, ó Guarda Divina, pode cuidar daqueles que sem ti não podem ser cuidados!”
CANTO II – ESTROFE 32
E se te move tanto a piedade
Desta mísera gente peregrina,
Que só por Tua altíssima bondade,
Da gente a salvas pérfida e malina,
Nalgum porto seguro de verdade
Conduzir-nos já agora determina,
Ou nos amostra a terra que buscamos,
Pois só por Teu serviço navegamos.”
“E se te move tanto a piedade desta mísera gente peregrina, que só por Tua altíssima bondade, da gente a salvas pérfida e malina, nalgum porto seguro de verdade conduzir-nos já agora determina, ou nos amostra a terra que buscamos, pois só por Teu serviço navegamos (1).”
(1) E se a piedade dos míseros portugueses comove a Deus, sendo somente ele quem pode salvá-los, que determine que frota lusitana seja conduzia para um porto realmente seguro. Vasco da Gama pede isto pois ele e seus homens navegam para propagar a fé de Cristo.
“E, se a piedade desta mísera gente peregrina te move tanto, que só por Tua altíssima bondade salva-nos da gente moura pérfida e maligna, conduza-nos agora mesmo até algum porto verdadeiramente seguro, ou mostre-nos as terras orientais que tanto buscamos, porque só por teu serviço navegamos”

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre vigésima nona até a trigésima segunda estrofe do segundo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a prece que o capitão Vasco da Gama faz aos céus pedindo que a sua jornada rumo ao Oriente seja abençoada.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.