Neste nosso vigésimo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o segundo canto da obra, onde Camões canta a resposta que Júpiter deu ao pedido de Vênus para proteger os portugueses.
CANTO II – ESTROFE 42
“Júpiter fica comido com as lágrimas de Vênus”
E destas brandas mostras comovido,
Que moveram de um tigre o peito duro,
C’o vulto alegre, qual do Céu subido,
Torna secreto e claro o ar escuro,
Às lágrimas lhe alimpa, e acendido
Na face a beija, e abraça o colo puro;
De modo que dali, se só achara,
Outro novo Cupido se gerara.
“E destas brandas mostras comovido, que moveram de um tigre o peito duro, c’o vulto alegre, qual do Céu subido, torna secreto e claro o ar escuro, às lágrimas lhe alimpa, e acendido na face a beija, e abraça o colo puro; de modo que dali, se só achara, outro novo Cupido se gerara.”
(1) E, comovido por essas carinhosas demonstrações que moveriam o duro coração de um tigre, Júpiter, com um aspecto alegre que torna claro e limpo o ar escuro do céu que habita, limpa as lágrimas de Vênus e, com a face acendida, a beija e abraça-a, de modo que, como estão sós, logo será gerado um novo Cupido. Camões canta que Júpiter, ao ouvir as carinhosas palavras de Vênus, fica comovido, chegando a limpar suas lágrimas, abraça-la e beija-la.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E, ficando comovido pelas carinhosas palavras de Vênus, estas que são capazes de amolecer o duro coração de um Tigre, Júpiter mostra um semblante alegre, tornando claro e limpo o escuro tempo que estava se forma em seu céu; limpa as lágrimas da deusa, beija-a, abraça seu busto, de modo que, estando os dois sozinho, um segundo Cupido será gerado.”
CANTO II – ESTROFE 43
“Júpiter abraça Vênus para acalma-la e, para tranquiliza-la, começa a contar os segredos do futuro”
E c’o o seu apertando o rosto amado,
Que os soluços e lágrimas aumenta,
Como menino da ama castigado,
Que quem no afaga o choro lhe acrescenta,
Por lhe pôr em sossego o peito irado,
Muitos casos futuros lhe apresenta.
Dos Fados as entranhas revolvendo,
Desta maneira enfim lhe está dizendo:
“E c’o o seu apertando o rosto amado, que os soluços e lágrimas aumenta, como menino da ama castigado, que quem no afaga o choro lhe acrescenta, por lhe pôr em sossego o peito irado, muitos casos futuros lhe apresenta. Dos Fados as entranhas revolvendo, desta maneira enfim lhe está dizendo (1)”
(1) E apertando o seu amado rosto com seu, carinho este que aumenta os soluços e as lágrimas – como quando um menino é castigado pela ama e, sendo afagado, chora mais ainda -, Júpiter para lhe acalmar, apresenta para ela muitas coisas que acontecerão no futuro; revolvendo os segredos dos Fados, desta maneira ele diz. Camões canta que Júpiter, ao encostar seu rosto com o rosto de Vênus, faz a deusa chorar ainda mais de emoção; querendo acalma-la, diz que contará os eventos que acontecerão no futuro; Fados é o destino.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E apertando o amado rosto da deusa com o seu, carinho este que faz ela soluçar e lagrimejar ainda mais, assim como uma a criança castigada que, ao ser afagada, chora ainda mais; Júpiter, querendo acalmar Vênus, ao revolver os segredos do Destino, lhe apresenta os futuros eventos que estão por vindo:”
CANTO II – ESTROFE 44
“Júpiter diz que Vênus não precisa se preocupar, porque os portugueses realizarão grandes feitos no Oriente”
“Fermosa filha minha, não temais
Perigo algum nos vossos lusitanos,
Nem que ninguém comigo possa mais,
Que esses chorosos olhos soberanos;
Que eu vos prometo, filha, que vejais
Esquecerem-se gregos e romanos,
Pelos ilustre feitos que esta gente
Há-de fazer nas partes do Oriente.
“Fermosa filha minha, não temais perigo algum nos vossos lusitanos, nem que ninguém comigo possa mais, que esses chorosos olhos soberanos; (1) que eu vos prometo, filha, que vejais esquecerem-se gregos e romanos, pelos ilustre feitos que esta gente há-de fazer nas partes do Oriente. (2)”
(1) Diz Júpiter: “Minha fermosa filha, não tenha tema pela segurança dos lusitanos; nem que ninguém possa mais sobre mim do que os seus olhos que choram. Camões canta que Júpiter, respondendo as falas de Vênus, diz que ela não precisa se preocupar com a segurança dos portugueses e nem se preocupar com a influência de alguém sobre ele, já que nada tem mais poder sobre Júpiter que as lágrimas de Vênus.
(2) “Filha, eu te prometo que os portugueses realizarão feitos tão grandes no Oriente que até serão esquecidas as grandes realizações feitas pelos gregos e romanos.” Camões canta que Júpiter garante à Vênus que os portugueses não só serão bem-sucedidos em sua viagem atual, como também conquistarão muitas coisas nas terras do Orientes; conquistas estas que apagarão da história os feitos passados realizados pelos povos gregos e romanos. Gregos e romanos é uma referência as glórias gregas cantadas por Homero e as glórias romanas cantadas por Virgílio, sendo que estas não serão nada comparadas com as glórias portuguesas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Minha fermosa filha, não precisa ficar com medo, pois nada acontecera com os portugueses; e também não tema que ninguém tenha alguma influência de mim contra ti, pois nada tem mais poder sobre mim do que os vossos olhos chorando. Prometo a você que a gente portuguesa realizara feitos tão grandiosos nas terras do Oriente que serão esquecidas até mesmo as glórias cantadas dos gregos e romanos.”
CANTO II – ESTROFE 45
“Júpiter diz que os portugueses realizarão grandes feitos marítimos”
“Que se o facundo Ulisses escapou
De ser na Ogígia ilha eterno escravo,
E se Antenor os seios penetrou
Ilíricos e a fonte de Timavo;
E se o piadoso Eneias navegou
De Cila e de Caríbdis o mar bravo,
Os vossos, mores cousas atentando,
Novos mundos ao mundo irão mostrando.
“Que se o facundo Ulisses escapou de ser na Ogígia ilha eterno escravo, e se Antenor os seios penetrou Ilíricos e a fonte de Timavo; e se o piadoso Eneias navegou de Cila e de Caríbdis o mar bravo, os vossos, mores cousas atentando, novos mundos ao mundo irão mostrando. (1)”
“Que se o engenhoso Ulisses conseguiu escapar de sua escravidão na ilha Ogígia, e se Antenor conseguiu penetrar a costa dos ilírios e a fonte de Timavo, e se o piedoso Eneias navegou o bravo mar de Cila e de Caríbdis, os vossos portugueses, tentando maiores feitos, mostrarão ao mundo terras ainda desconhecidas.” Camões canta que Júpiter cita os grandes feitos dos marinheiros gregos e dos marinheiros romanos, estes que serão superador pelos marinheiros portugueses; Ulisses é o famoso herói grego que participou do cerco de Tróia e é protagonista do épico Odisseia; Ogígia é uma ilha do mar Jônio onde Ulisses naufragou; Antenor é um navegador troiano; Ilírio e Timavo são locais que ficam na Itália; Eneias é o protagonista do épico Eneida; Cila e Caríbdis são duas criaturas mitológicas que Eneias, assim como Ulisses, teve que superar em sua viagem (correspondem ao perigoso estreito de Messina).
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Se o engenhoso Ulisses foi capaz de escapar da escravidão na ilha de Ogígia, se Antenor conseguiu penetrar as águas Ilíirícos e a fonte de Timavo, e se piedoso Eneias navegou o bravo mar de Cila e Caríbdis, os vossos portugueses, buscando maiores feitos, irão mostrar ao mundo novos descobertas”
CANTO II – ESTROFE 46
“Júpiter diz que os portugueses construirão grandes obras e subjugarão seus inimigos mouros”
“Fortalezas, cidades, altos muros,
Por eles vereis, filha, edificados;
Os turcos belacíssimos e duros,
Deles sempre vereis desbaratados.
Os reis da Índia, livres e seguros,
Vereis ao rei potente sojugados;
E por eles, de tudo enfim senhores,
Serão dadas na terra leis melhores.
“Fortalezas, cidades, altos muros, por eles vereis, filha, edificados; os turcos belacíssimos e duros, deles sempre vereis desbaratados. (1) Os reis da Índia, livres e seguros, vereis ao rei potente sojugados; e por eles, de tudo enfim senhores, serão dadas na terra leis melhores. (2)”
(1) Você verá, filha, que eles construirão fortalezas, cidades e altos muros; os fortes e duros turcos serão derrotados por eles. Camões canta que Júpiter, ainda falando à Vênus, diz que os portugueses construirão grandes e importantes edifícios no Oriente, assim como derrotaram os poderosos turcos.
(2) Os livres e seguros reis da Índia serão subjugados pelo poderoso rei de Portugal; e, enfim, sendo os portugueses senhores dessas terras, serão implantadas as leis da cristandade. Camões canta Júpiter diz que os reis da Índia serão dominados pelo rei de Portugal e, quando todas as aquelas terras forem conquistadas, a religião de Cristo substituirá a religião pagã do Oriente.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vereis, filha, que eles construirão fortalezas, cidades e altos muros, bem como derrotarão os bravos e fortes turcos. Os seguros e livres reis da Índia serão subjugados pelo poderoso rei de Portugal e, quando todas aquelas terras estiverem dominadas, a religião de Cristo prevalecerá por todo o Oriente.”
CANTO II – ESTROFE 47
“Júpiter diz que o capitão Vasco da Gama, durante suas empreitadas marítimas, até conseguira assustar Netuno, deus dos mares”
“Vereis este, que agora pressuroso
Por tantos medos o Indo vai buscando,
Tremer dele Netuno, de medroso,
Sem vento suas águas encrespando.
Ó caso nunca visto e milagroso,
Que trema e ferva o mar, em calma estando!
Ó gente forte de altos pensamentos,
Que também dela hão medo os elementos!
“Vereis este, que agora pressuroso por tantos medos o Indo vai buscando, tremer dele Netuno, de medroso, sem vento suas águas encrespando. Ó caso nunca visto e milagroso, que trema e ferva o mar, em calma estando! Ó gente forte de altos pensamentos, que também dela hão medo os elementos! (1)”
(1) Verá este navegador que, com pressa, busca o Indo por entre tantos medos, fará Netuno tremer de medo que agitará as águas sem ventos. Ó caso milagroso nunca visto é que o calmo mar trema e comece a ferver. Ó gente portuguesa de altos pensamentos que, de tão forte, faz tremer de medo os elementos. Camões canta que Júpiter, contando as profecias para Vênus, diz que, dos grandes feitos que os portugueses realizarão no Oriente, destaca-se quando o capitão Vasco da Gama fará Netuno, o deus dos mares, tremer de tanto medo que agitara as águas por onde passam os lusíadas. Indo é o rio mais importante da Ásia; Netuno é o nome romano do deus dos mares.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Verá que o capitão Vasco da Gama, quando, com pressa, buscar as terras que cercam o rio Indo, fará tremer de medo o deus Netuno, que agitará as águas por onde o capitão passa. Ó caso milagroso nunca antes visto que faz ferver e tremer o calmo mar. Ó gente forte de nobres pensamentos que faz até os elementos tremerem de medo.”
CANTO II – ESTROFE 48
“Júpiter diz que a hostil costa africana será dominada pelos portugueses, servido como porto para as futuras viagens marítimas”
“Vereis a terra, que a água lhe tolhia,
Que inda há-de ser um porto mui decente,
Em que vão descansar da longa via
As naus que navegarem do Ocidente.
Toda esta costa enfim, que agora urdia
O mortífero engano, obediente
Lhe pagará tributos, conhecendo
Não poder resistir ao Luso horrendo.
“Vereis a terra, que a água lhe tolhia, que inda há-de ser um porto mui decente, em que vão descansar da longa via as naus que navegarem do Ocidente. (1) Toda esta costa enfim, que agora urdia o mortífero engano, obediente lhe pagará tributos, conhecendo não poder resistir ao Luso horrendo. (2)”
(1) Vereis a terra de Moçambique, que tolhia água aos portugueses, ser um porto muito decente, sendo ponto de descanso das naus que futuramente vão navegar ao Oriente. Camões canta que Júpiter, contando os segredos do Destino para Vênus, diz que Moçambique, que impediu os portugueses de coletarem água e se reabastecerem, nas futuras viagens dos portugueses ao Oriente, será um porto muito importante e amigável.
(2) Toda esta costa africana que conspirava contra os portugueses os obedecerá, pagando tributos, já que não poderá resistir ao poder dos descendentes de Luso. Camões canta que Júpiter diz que não só Moçambique, como toda a costa africana que tentou destruir os marinheiros portugueses será dominada por Portugal. Luso, na mitologia, foi o fundador da Lusitânia, província romana que fica localizada as terras e Portugal e dá nome aos lusíadas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vereis que a terra de Moçambique, que tolhia água aos portugueses, será um porto muito descente, servindo de descanso para as naus que navegarão para o Oriente. Enfim, toda a costa africana, que agora urdia uma mortífera armadilha contra os portugueses, será obediente à Portugal, lhe pagando tributos ao ver que não podem resistir ao poder dos horrendos descendentes de Luso.”
CANTO II – ESTROFE 49
“Júpiter diz que o mar Vermelho ficara amarelo, tamanho o medo que os inimigos sentirão dos portugueses”
“E vereis o mar roxo, tão famoso,
Tornar-se lhe amarelo, de enfiado;
Vereis de Ormuz o reino tão poderoso
Duas vezes tomado e sojugado.
Ali vereis o mouro furioso
De suas mesmas setas trespassado:
Que quem vai contra os vossos, claro veja
Que, se resiste, contra si peleja.
“E vereis o mar roxo, tão famoso, tornar-se lhe amarelo, de enfiado; vereis de Ormuz o reino tão poderoso duas vezes tomado e sojugado. (1) Ali vereis o mouro furioso de suas mesmas setas trespassado: que quem vai contra os vossos, claro veja que, se resiste, contra si peleja. (2)”
(1) E veris o famoso mar vermelho tornar-se amarelo de medo; vereis o poderoso reino de Ormuz ser tomado e subjugado duas vezes. Camões canta que Júpiter, contando os secretos do futuro para Vênus, diz que os povos que árabes e africanos que habitam o mar vermelho ficarão amarelos de medo e que o poderoso reino de Ormuz será dominado pelos portugueses. Ormuz foi uma antiga cidade na região da Pérsia, sendo hoje território do Irã.
(2) Vereis o furioso mouro será atravessado pelas próprias flechas, pois, quem atenta contra os portugueses atenta contra si próprio. Camões canta que os mouros que tentarem enfrentar os portugueses será destruído.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E vereis os povos do mar vermelho ficarem amarelos de medo, assim como vereis o poderoso reino de Ormuz ser tomado e subjugado duas vezes pelo povo lusitano. Ali vereis o furioso mouro se atravessado pelas suas próprias setas, já que atenta contra si mesmo quem atenta contra os portugueses.”
CANTO II – ESTROFE 50
“Júpiter diz que os feitos militares dos portugueses deixarão até o deus Marte com inveja”
“Vereis a inexpugnável Dio forte,
Que dous cercos terá, dos vossos sendo.
Ali se mostrará seu preço e sorte,
Feitos de armas grandíssimos fazendo.
Envejoso vereis o grão Mavorte
Do peito lusitano fero e horrendo:
Do mouro ali verão que a voz extrema
Do falso Maamede ao Céu blasfema.
“Vereis a inexpugnável Dio forte, que dous cercos terá, dos vossos sendo. Ali se mostrará seu preço e sorte, feitos de armas grandíssimos fazendo. (1) Envejoso vereis o grão Mavorte do peito lusitano fero e horrendo: do mouro ali verão que a voz extrema do falso Maamede ao Céu blasfema. (2)”
(1) Vereis que a inexpugnável fortaleza Dio, que resistiu à dois cercos, pertencer aos portugueses, sendo que ali eles mostrarão sua valentia ao realizar grandiosos feitos bélicos. Camões canta que Júpiter, contando os segredos do futuro à Vênus, diz que a poderosa fortaleza de Dio fica em posse dos portugueses e que ali eles mostrarão o seu valor em batalha. Diu é uma fortaleza localizada na costa oeste da Índia.
(2) Vereis que o grande Marte ficará com inveja do medo que os portugueses produzirão em seus inimigos, já que ali os mouros moribundos blasfemarão contra o falto profeta Maomé. Camões canta que Júpiter diz que até Marte, deus da guerra, sentirá inveja das capacidades bélicas dos portugueses. Mavorte é um latino de Marte.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vereis que os portuenses terão posse da inexpugnável fortaleza Dio, sendo que ali o lugar nos eles provarão seu valor em batalha, realizando grandiosíssimos feitos e até deixando o grão Marte com inveja do temor dos lusitanos, já que ali os mouros derrotados blasfemarão ao Céu o falso Maomé.”
CANTO II – ESTROFE 51
“Júpiter diz que os portugueses conquistarão as cidades dos mouros no Oriente”
“Goa vereis aos mouros ser tomada,
A qual virá depois a ser senhora
De todo o Oriente, e sublimada
C’os triunfos da gente vencedora.
Ali soberba, altiva, e exalçada,
Ao gentio, que os ídolos adora,
Duro freio porá, e a toda a terra
Que cuidar de fazer aos vossos guerra.
“Goa vereis aos mouros ser tomada, a qual virá depois a ser senhora de todo o Oriente, e sublimada c’os triunfos da gente vencedora. (1) Ali soberba, altiva, e exalçada, ao gentio, que os ídolos adora, duro freio porá, e a toda a terra que cuidar de fazer aos vossos guerra. (2)”
(1) Vereis a cidade de Goa ser tomada dos mouros e assim se tornar capital de todo o Oriente e, engrandecia com os triunfos dos portugueses vencedores. Camões canta que Júpiter, contando os segredos do futuro à Vênus, diz que os portugueses tomarão a cidade de Goa das mãos dos mouros e, a partir daí, a cidade será a capital de todo o Oriente. Goa é uma cidade localizada na Índia.
(2) Ali os elevados e exaltados portugueses colocarão um fim aos pagãos e seus falsos ídolos, bem como a qualquer povo que ousar enfrentá-los em guerra. Camões canta que Júpiter diz que, dominando as terras do Oriente, os bravos portugueses acabarão com o paganismo que existe na região e derrotarão qualquer adversário que ousar enfrenta-los em combate.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vereis a cidade de Goa ser tomada dos mouros pelos portugueses e, sob seu comando, ele a tornarão a capital de todo o Oriente, tornando ela engrandecida pelos triunfos do povo lusitano. Os pagãos adoradores de falsos ídolos terão seu fim pela mão dos portugueses, assim como quaisquer adversários que os enfrentar em combate.”
CANTO II – ESTROFE 52
“Júpiter diz os guerreiros portugueses conquistarão uma glória jamais antes vista”
“Vereis a fortaleza sustentar-se
De Cananor, com pouca força e gente;
E vereis Calecu desbaratar-se,
Cidade populosa e tão potente.
E vereis em Cochim assinalar-se
Tanto um peito soberbo e insolente,
Que cítara jamais cantou vitória,
Que assi mereça eterno nome e glória.
“Vereis a fortaleza sustentar-se de Cananor, com pouca força e gente; e vereis Calecu desbaratar-se, cidade populosa e tão potente (1) e vereis em Cochim assinalar-se tanto um peito soberbo e insolente, que cítara jamais cantou vitória, que assi mereça eterno nome e glória. (2)”
(1) Vereis a fortaleza de Cananor sustentar-se contra às investidas inimigas, mesma ela estando com pouca força e gente, e vereis Calecut, cidade poderosa e populosa, ser destruída pelos portugueses. Camões diz que Júpiter, contando os segredos do futuro à Vênus, diz que a fortaleza Cananor, localiza em Goa, resistira aos inimigos, mesmo estando com pouco portugueses e pouca força bélico e que os portugueses também destruirão a grande cidade de Calecut. Calecut é uma cidade localizada na Índia.
(2) E vereis na cidade de Cochim registrar um feito tão grande que jamais uma cítara cantou uma vitória que merecesse tanto o nome eterno e a glória. Camões canta que Júpiter diz que na cidade de Cochim acontecerão os grandes feitos de Duarte Pacheco Pereira, sendo eles tão gloriosos que jamais uma cítara tocou uma vitória tão merecedora. Cítara é um instrumento musical de cordas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vereis a fortaleza de Cananor resistir às investidas inimigas, mesmo tendo pouco gente e poder bélico; vereis a poderosa cidade de Calecut sucumbir perante a força dos portugueses; e também vereis que na cidade de Cochim ser registrado atos tão grandiosos que jamais uma cítara cantou uma vitória que merecesse tanto o nome e glória”
CANTO II – ESTROFE 53
“Júpiter diz que as batalhas marítimas do passado não serão comparáveis aos grandes combates da frota portuguesa”
“Nunca com Marte instructo e furioso,
Se viu ferver Lecaute, quando Augusto
Nas civis Áctias guerras, animoso,
O capitão venceu romano injusto,
Que dos povos da aurora, e do famoso
Nilo, do Bactra cítico e robusto
A vitória trazia, e presa rica,
Preso da egípcia linda e não pudica.
“Nunca com Marte instructo e furioso, se viu ferver Lecaute, quando Augusto nas civis Áctias guerras, animoso, o capitão venceu romano injusto, que dos povos da aurora, e do famoso Nilo, do Bactra cítico e robusto a vitória trazia, e presa rica, preso da egípcia linda e não pudica. (1)”
(1) Nem quando o imperador Augusto, auxiliado pelo Marte furioso, venceu nas guerras Áctias o capitão romano Marcon Antônio – que trazia vitória e rica presa dos povos da Aurora, e do famoso Nilo e do cítico e robusto Bactra, mas que era preso pelo amor da linda e não pudica Cleópatra – nunca se viu ferverem as águas do mar na Batalha de Áccio. Camões canta que Júpiter, contando os segredos futuro à Vênus, diz que nem quando o imperador Augusto Otaviano venceu o general Marco Antônio na batalha de Lecaute se viu agitar-se tanto com o movimento dos navios em combate. Augusto Otaviano Cesar foi o primeiro imperador romano; Marco Antônio foi o governador das colônias romanas no fim da República que traiu a pátria por causa de sua amante Cleópatra, rainha do Egito.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Nem quando o imperador Augusto, auxiliado pelo Marte furioso, venceu nas guerras Áctias o capitão romano Marcon Antônio – que trazia vitória e rica presa dos povos da Aurora, e do famoso Nilo e do cítico e robusto Bactra, mas que era preso pelo amor da linda e não pudica Cleópatra – nunca se viu ferverem as águas do mar na Batalha de Áccio.”
CANTO II – ESTROFE 54
“Júpiter diz que os portugueses dominarão todas os mares do Oriente”
“Como vereis o mar fervendo aceso
C’os incêndios dos vossos pelejando,
Levando o idólatra, e o mouro preso,
De nações diferentes triunfando.
E sujeita a rica áurea Quersoneso,
Até o longínquo China navegando,
E as ilhas mais remotas do Oriente,
Ser-lhe-á todo o oceano obediente.
“Como vereis o mar fervendo aceso c’os incêndios dos vossos pelejando, levando o idólatra, e o mouro preso, de nações diferentes triunfando. (1) E sujeita a rica áurea Quersoneso, até o longínquo China navegando, e as ilhas mais remotas do Oriente, ser-lhe-á todo o oceano obediente. (2)”
(1) Nunca se viu ferverem as águas do mar na Batalha de Áccio como vereis o mar fervendo com os incêndios dos vossos portugueses batalhando, estes que levam preso o idólatra mouro enquanto triunfam sobre diferentes nações. Camões, continuando o período da estrofe anteiro, canta que Júpiter, ao contar os segredos do futuro à Vênus, diz que nem na batalha de Augusto Cesar contra Marco Antônio o mar agitou-se tanto com os combates navais quanto nos combates das naus portuguesas contra os mouros.
(2) E conquistada a rica Quersoneso, eles navegaram até a longínqua China, sendo a eles obediente todo o Oceano Índico até as mais remotas ilhas do Oriente. Camões canta que Júpiter diz que, após conquistarem a rica península de Quersoneso, os portugueses seguiram navegando até depois da China, chegando às distantes ilhas do Japão.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Como vereis o mar fervendo com os incêndios dos vossos portugueses batalhando, estes que levam preso o idólatra mouro enquanto triunfam sobre diferentes nações. E conquistada a rica Quersoneso, eles navegaram até a longínqua China, sendo a eles obediente todo o Oceano Índico até as mais remotas ilhas do Oriente.”
CANTO II – ESTROFE 55
“Júpiter diz que os feitos marítimos dos portugueses serão incomparáveis”
“De modo, filha minha, que de jeito
Amostrarão esforço mais que humano,
Que nunca se verá tão forte peito,
De gangético mar ao gaditano,
Nem das boreais ondas ao estreito,
Que mostrou o agravado lusitano,
Posto que em todo o mundo, de afrontados,
Ressuscitassem todos os passados.”
“De modo, filha minha, que de jeito amostrarão esforço mais que humano, que nunca se verá tão forte peito, de gangético mar ao gaditano, nem das boreais ondas do estreito, que mostrou o agravado lusitano, posto que em todo o mundo, de afrontados, ressuscitassem todos os passados.”
(1) Deste modo, minha filha, os portugueses mostrarão um esforço sobre-humano, que nunca se mostrara um animo tão grande como o deles, nem, do mar Gangético ao mar Gaditano, nem das ondas do Norte ao Estreito de Magalhães, mesmo que ressuscitassem todos os heróis do passado. Camões canta que Júpiter, concluindo sua fala à Vênus, diz os portugueses mostrarão um grande esforço em suas empreitadas rumo o Oriente, esforço este nunca se repetira novamente. Ganges é um dos maiores rios da Índia; Gádis é o rio da cidade de Cádis, localizada na Índia. Boreais são as ondas do Norte; Estreito de Magalhães é uma perigosa passagem no sul do continente americano que conecta o Oceano Atlântico com o Pacífico.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Deste modo, minha filha, os portugueses provarão suas capacidades em esforços mais que humanos que, de tão grandiosos, nunca mais serão vistos no mundo, nem do rio Ganges ao rio Cádiz, nem das boreais ondas ao estreito do sul, nem que ressuscitassem todos os grandes heróis do passado.”
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a quadragésima segunda até a quinquagésima quinta estrofe do segundo canto de Os Lusíadas, Camões canta a resposta que Júpiter deu ao pedido de Vênus para proteger os portugueses.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.