Neste nosso vigésimo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o segundo canto da obra, onde Camões canta a resposta que Júpiter deu ao pedido de Vênus para proteger os portugueses.

OS LUSÍADAS O PEDIDO DE VÊNUS JÚPITER
A resposta de Júpiter à Vênus

CANTO II – ESTROFE 42

 

E destas brandas mostras comovido,

Que moveram de um tigre o peito duro,

C’o vulto alegre, qual do Céu subido,

Torna secreto e claro o ar escuro,

Às lágrimas lhe alimpa, e acendido

Na face a beija, e abraça o colo puro;

De modo que dali, se só achara,

Outro novo Cupido se gerara.

 

“E destas brandas mostras comovido, que moveram de um tigre o peito duro (1), c’o vulto alegre, qual do Céu subido, torna secreto e claro o ar escuro, às lágrimas lhe alimpa, e acendido na face a beija, e abraça o colo puro; de modo que dali, se só achara, outro novo Cupido se gerara (2).”

(1) Júpiter fica comovido com as palavras de Vênus, já que estas demonstrações de carinho feitas pela deusa poderiam até mover o duro coração de um tigre.

(2) Com um aspecto alegre, assim como é o semblante do céu que torna um dia escuro em claro, Júpiter limpa as lágrimas de Vênus, beija seu rosto e a abraça. Tão excita fica que, se estivesse a sós com ela, logo gerariam um novo filho.

 

“E, ficando comovido pelas carinhosas palavras de Vênus, estas que são capazes de amolecer o duro coração de um Tigre, Júpiter mostra um semblante alegre, tornando claro e limpo o escuro tempo que estava se formando em seu céu. Limpa as lágrimas da deusa, beija-a no rosto e abraça seu busto de modo que, se estivessem os dois sozinho, um segundo Cupido seria gerado.”

CANTO II – ESTROFE 43

 

E c’o o seu apertando o rosto amado,

Que os soluços e lágrimas aumenta,

Como menino da ama castigado,

Que quem no afaga o choro lhe acrescenta,

Por lhe pôr em sossego o peito irado,

Muitos casos futuros lhe apresenta.

Dos Fados as entranhas revolvendo,

Desta maneira enfim lhe está dizendo:

 

“E c’o o seu apertando o rosto amado, que os soluços e lágrimas aumenta, como menino da ama castigado, que quem no afaga o choro lhe acrescenta (1), por lhe pôr em sossego o peito irado, muitos casos futuros lhe apresenta. Dos Fados as entranhas revolvendo, desta maneira enfim lhe está dizendo (2)

(1) Apertando o belo rosto de Vênus ao seu, carinho este que aumentou os seus soluços e as lágrimas – como menino que é castigado pela sua ama e, ao ser afagado, chorando ainda mais.

(2) Júpiter então, para acalma-la, lhe mostra os eventos que acontecerão no futuro. Revelando os segredos do Destino (Fados), ele assim lhe diz:

 

“E, apertando o amado rosto da deusa com o seu, carinho este que faz ela soluçar e lagrimejar ainda mais, assim como uma a criança castigada que, ao ser afagada, chora ainda mais. Júpiter, querendo acalmar Vênus, revela os segredos do Destino, mostrando os eventos futuros que estão por vindo:”

CANTO II – ESTROFE 44

 

“Fermosa filha minha, não temais

Perigo algum nos vossos lusitanos,

Nem que ninguém comigo possa mais,

Que esses chorosos olhos soberanos;

Que eu vos prometo, filha, que vejais

Esquecerem-se gregos e romanos,

Pelos ilustre feitos que esta gente

Há-de fazer nas partes do Oriente.

 

“Fermosa filha minha, não temais perigo algum nos vossos lusitanos, nem que ninguém comigo possa mais, que esses chorosos olhos soberanos (1); que eu vos prometo, filha, que vejais esquecerem-se gregos e romanos, pelos ilustre feitos que esta gentehá-de fazer nas partes do Oriente (2).”

(1) Júpiter diz para Vênus que ela não precisa se preocupar com qualquer perigo que os portugueses venham a sofrer e também com nenhuma influência sobre ele, pois nada tem mais poder sobre Júpiter do que as lágrimas de Vênus.

(2) Promete que os portugueses realizarão feitos grandiosos no Oriente, feitos estes que sobrepujarão as façanhas realizadas pelos gregos e romanos¹ e as deixarão esquecidas.

 

“Minha fermosa filha, não precisa ficar com medo, pois nada acontecera com os portugueses, assim como também não tema que ninguém tenha alguma influência de mim contra ti, pois nada tem mais poder sobre mim do que os vossos olhos chorando. Prometo a você que a gente portuguesa realizara feitos tão grandiosos nas terras do Oriente que serão esquecidas até mesmo as glórias cantadas sobre os gregos e romanos.”

 

¹Gregos e romanos é uma referência as glórias gregas cantadas por Homero e as glórias romanas cantadas por Virgílio, sendo que Camões diz estas não são nada quando comparadas com as glórias portuguesas.

CANTO II – ESTROFE 45

 

“Que se o facundo Ulisses escapou

De ser na Ogígia ilha eterno escravo,

E se Antenor os seios penetrou

Ilíricos e a fonte de Timavo;

E se o piadoso Eneias navegou

De Cila e de Caríbdis o mar bravo,

Os vossos, mores cousas atentando,

Novos mundos ao mundo irão mostrando.

 

“Que se o facundo Ulisses escapou de ser na Ogígia ilha eterno escravo, e se Antenor os seios penetrouIlíricos e a fonte de Timavo; e se o piadoso Eneias navegou de Cila e de Caríbdis o mar bravo (1), os vossos, mores cousas atentando, novos mundos ao mundo irão mostrando (2).”

(1) Ao revelar o futuro, Júpiter compara os feitos marítimos do passado com os que os marinheiros portugueses realizarão no futuro. Cita quando Odisseu (Ulisses) escapou da ilha de Ogígia, onde seria ficaria como escravo pelo resto da vida¹; cita como navegador Antenor alcançou as terras da Itália (Ilírio e Timavo)²; e cita como Eneias navegou no mar de Cila e Caríbdis³.

(2) Diz que, se os gregos e troianos sobrepujaram tais dificuldades, os portugueses tentarão feitos ainda mais difíceis e conseguirão revelar ao mundo terras desconhecidas.

 

“Se o engenhoso Ulisses foi capaz de escapar da escravidão na ilha de Ogígia, se Antenor conseguiu penetrar as águas Ilíirícos e a fonte de Timavo, e se o piedoso Eneias navegou o bravo mar de Cila e Caríbdis, os vossos portugueses, buscando maiores feitos, irão mostrar ao mundo novos descobertas.” 

 

¹Odisseu (Ulisses) é o famoso herói grego que participou do cerco de Tróia e é protagonista do épico Odisseia. Ogígia é uma ilha do mar Jônio onde ele naufragou.

²Antenor é um navegador troiano. Ilírio e Timavo são locais que ficam na Itália;

³Eneias é o protagonista do épico Eneida. Cila e Caríbdis são duas criaturas mitológicas que Eneias, assim como Odisseu, teve que superar em sua viagem (correspondem ao perigoso estreito de Messina).

CANTO II – ESTROFE 46

 

“Fortalezas, cidades, altos muros,

Por eles vereis, filha, edificados;

Os turcos belacíssimos e duros,

Deles sempre vereis desbaratados.

Os reis da Índia, livres e seguros,

Vereis ao rei potente sojugados;

E por eles, de tudo enfim senhores,

Serão dadas na terra leis melhores.

 

“Fortalezas, cidades, altos muros, por eles vereis, filha, edificados; os turcos belacíssimos e duros, deles sempre vereis desbaratados (1). Os reis da Índia, livres e seguros, vereis ao rei potente sojugados; e por eles, de tudo enfim senhores, serão dadas na terra leis melhores (2).”

(1) Diz que os portugueses construirão fortalezas, cidades e muros altos no Oriente, assim como conseguirão derrotar os duros guerreiros turcos.

(2) Os reis da Índia, que até então estavam livres e seguros, serão subjugados pelo poderoso rei de Portugal. Ao serem senhores destas terras, os portugueses implementarão ali a religião de Cristo (leis melhores).

 

“Vereis, filha, que eles construirão fortalezas, cidades e altos muros, bem como derrotarão os bravos e fortes turcos. Os seguros e livres reis da Índia serão subjugados pelo poderoso rei de Portugal e, quando todas aquelas terras estiverem dominadas, a religião de Cristo prevalecerá por todo o Oriente.”

CANTO II – ESTROFE 47

 

“Vereis este, que agora pressuroso

Por tantos medos o Indo vai buscando,

Tremer dele Netuno, de medroso,

Sem vento suas águas encrespando.

Ó caso nunca visto e milagroso,

Que trema e ferva o mar, em calma estando!

Ó gente forte de altos pensamentos,

Que também dela hão medo os elementos!

 

“Vereis este, que agora pressuroso por tantos medos o Indo vai buscando, tremer dele Netuno, de medroso, sem vento suas águas encrespando (1). Ó caso nunca visto e milagroso, que trema e ferva o mar, em calma estando! Ó gente forte de altos pensamentos, que também dela hão medo os elementos! (2)

(1) Diz que Vênus poderá ver que o capitão Vasco da Gama, conforme navega apressado enfrentando tantas dificuldades para alcançar as terras do Oriente (Indo), fará o próprio deus Netuno tremer medo ao agitar as suas águas sem nenhum vento.

(2) Júpiter comenta o quão milagroso é esse vento presenciado pelos portugueses, onde o calmo mar trema e comece a ferver. Saúda os portugueses, pois não são apenas um povo de altos pensamentos, como também um povo capaz de abalar os elementos.

 

“Verá que o capitão Vasco da Gama, quando buscar com pressa as terras banhadas pelo rio Indo, fará tremer de medo o deus Netuno, que agitará as águas por onde o capitão passa. Ó caso milagroso nunca antes visto que faz ferver e tremer o calmo mar. Ó gente forte de nobres pensamentos que faz até os elementos tremerem de medo.”

CANTO II – ESTROFE 48

 

“Vereis a terra, que a água lhe tolhia,

Que inda há-de ser um porto mui decente,

Em que vão descansar da longa via

As naus que navegarem do Ocidente.

Toda esta costa enfim, que agora urdia

O mortífero engano, obediente

Lhe pagará tributos, conhecendo

Não poder resistir ao Luso horrendo.

 

“Vereis a terra, que a água lhe tolhia, que inda há-de ser um porto mui decente, em que vão descansar da longa via as naus que navegarem do Ocidente (1). Toda esta costa enfim, que agora urdia o mortífero engano, obediente lhe pagará tributos, conhecendo não poder resistir ao Luso horrendo (2).”

(1) Diz que Moçambique, a terra africana onde os muçulmanos não deram suprimentos aos portugueses e os atacam, será dominada e se tornará um porto seguro. Será ali onde as naus lusitanas que navegarão rumo ao Oriente poderão descansar.

(2) Não só Moçambique, como toda a costa africana, esta que antes conspirou contra os esforços portugueses, há de ser lhes obedientes e pagadora de tributos, pois nada pode resistir a poder dos descentes de Luso.

 

“Vereis que a terra de Moçambique, que tolhia água aos portugueses, será um porto muito descente, servindo de descanso para as naus que navegarão para o Oriente. Enfim, toda a costa africana, que agora urdia uma mortífera armadilha contra os portugueses, será obediente à Portugal, lhe pagando tributos ao ver que não podem resistir ao poder dos horrendos descendentes de Luso.”

 

¹Luso, na mitologia, foi o fundador da Lusitânia, província romana que fica localizada as terras e Portugal e dá nome aos lusíadas.

CANTO II – ESTROFE 49

 

“E vereis o mar roxo, tão famoso,

Tornar-se lhe amarelo, de enfiado;

Vereis de Ormuz o reino tão poderoso

Duas vezes tomado e sojugado.

Ali vereis o mouro furioso

De suas mesmas setas trespassado:

Que quem vai contra os vossos, claro veja

Que, se resiste, contra si peleja.

 

“E vereis o mar roxo, tão famoso, tornar-se lhe amarelo, de enfiado; vereis de Ormuz o reino tão poderoso duas vezes tomado e sojugado (1). Ali vereis o mouro furioso de suas mesmas setas trespassado: que quem vai contra os vossos, claro veja que, se resiste, contra si peleja (2).”

(1) Diz que Vênus verá que os povos que vivem na região do Mar Vermelho temerão os portugueses, assim como também verá o reino Ormuz¹ ser tomado e subjugado duas vezes por eles.

(2) E também verá o furioso mouro ser atravessado por suas próprias flechas, pois quem atenta contra os portugueses acaba atentando contra si mesmo.

 

“E vereis os povos do Mar Vermelho ficarem amarelos de medo, assim como vereis o poderoso reino de Ormuz ser tomado e subjugado duas vezes pelo povo lusitano. Ali vereis o furioso mouro ser atravessado pelas suas próprias setas, já que atenta contra si mesmo quem atenta contra os portugueses.”

 

¹Ormuz foi uma antiga cidade na região da Pérsia, sendo hoje território do Irã.

CANTO II – ESTROFE  50

 

“Vereis a inexpugnável Dio forte,

Que dous cercos terá, dos vossos sendo.

Ali se mostrará seu preço e sorte,

Feitos de armas grandíssimos fazendo.

Envejoso vereis o grão Mavorte

Do peito lusitano fero e horrendo:

Do mouro ali verão que a voz extrema

Do falso Maamede ao Céu blasfema.

 

“Vereis a inexpugnável Dio forte, que dous cercos terá, dos vossos sendo. Ali se mostrará seu preço e sorte, feitos de armas grandíssimos fazendo (1). Envejoso vereis o grão Mavorte do peito lusitano fero e horrendo: do mouro ali verão que a voz extrema do falso Maamede ao Céu blasfema (2).”

(1) Diz que Vênus verá a inexpugnável fortaleza Dio ficar sob posse dos portugueses, resistindo à dois cercos. Será ali que eles mostrarão sua valentia ao realizar grandiosos feitos bélicos.

(2) Os feitos dos portugueses serão tão impressionantes que deixarão até o próprio Marte (Mavorte) com inveja, já que ali os mouros derrotados chegarão até a blasfemar contra o profeta Maomé antes de perecerem.

 

“Vereis que os portugueses terão posse da inexpugnável fortaleza Dio, sendo que ali o lugar que eles provarão seu valor em batalha. Esses feitos serão tão grandiosos que até deixarão Marte com inveja do temor do lusitano, já que ali os mouros derrotados blasfemarão ao Céu o falso Maomé.”

 

¹Dio é uma fortaleza localizada na costa oeste da Índia.

CANTO II – ESTROFE 51

 

“Goa vereis aos mouros ser tomada,

A qual virá depois a ser senhora

De todo o Oriente, e sublimada

C’os triunfos da gente vencedora.

Ali soberba, altiva, e exalçada,

Ao gentio, que os ídolos adora,

Duro freio porá, e a toda a terra

Que cuidar de fazer aos vossos guerra.

 

“Goa vereis aos mouros ser tomada, a qual virá depois a ser senhora de todo o Oriente, e sublimada c’os triunfos da gente vencedora (1). Ali soberba, altiva, e exalçada, ao gentio, que os ídolos adora, duro freio porá, e a toda a terra que cuidar de fazer aos vossos guerra (2).”

(1) Vênus verá que os portugueses tomarem a cidade de Goa das mãos dos mouros, sendo que ela se tornará a capital de todo o Oriente e ficará mais engrandecida com os triunfos dos vencedores.

(2) Ali os elevados e exaltados portugueses colocarão um fim aos pagãos e seus falsos ídolos, assim como colocarão um fim a qualquer povo que ousar enfrentá-los.

 

“Vereis a cidade de Goa ser tomada dos mouros e, sob o comando lusitano, ela se tornará a capital de todo o Oriente, ficando-a engrandecida com o triunfo dos vencedores. Os pagãos adoradores de falsos ídolos terão seu fim pelas mãos dos portugueses, assim como quaisquer adversários que os enfrentar em combate.”

 

¹Goa é uma cidade localizada na Índia.

CANTO II – ESTROFE  52

 

“Vereis a fortaleza sustentar-se

De Cananor, com pouca força e gente;

E vereis Calecu desbaratar-se,

Cidade populosa e tão potente.

E vereis em Cochim assinalar-se

Tanto um peito soberbo e insolente,

Que cítara jamais cantou vitória,

Que assi mereça eterno nome e glória.

 

“Vereis a fortaleza sustentar-se de Cananor, com pouca força e gente; e vereis Calecu desbaratar-se, cidade populosa e tão potente (1) e vereis em Cochim assinalar-se tanto um peito soberbo e insolente, que cítara jamais cantou vitória, que assi mereça eterno nome e glória (2).”

(1) Diz que Vênus verá os portugueses manterem, mesmo com poucos homens e poder, a fortaleza de Cananor, assim como também verá a grande e poderosa cidade de Calecut¹ sucumbir.

(2) também diz que verá que os portugueses realizarem feitos impressionantes ao lutarem na cidade de Cochim, feitos estes que, até então, nenhuma cítara² pode cantar vitórias tão gloriosas.

 

“Vereis a fortaleza de Cananor resistir às investidas inimigas, mesmo tendo pouca gente e poder bélico, assim como vereis a poderosa cidade de Calecut sucumbir perante a força dos portugueses. Em Cochim também serão registrados atos tão grandiosos que jamais uma cítara cantou uma vitória que merecesse tanto o nome e glória”

 

¹Calecut é uma cidade localizada na Índia, sendo que ela é o primeiro reino que os portugueses encontraram quando alcançaram as terras do Oriente.

²Cítara é um instrumento musical de cordas, semelhante a uma harpa ou uma lira.

CANTO II – ESTROFE 53

 

“Nunca com Marte instructo e furioso,

Se viu ferver Lecaute, quando Augusto

Nas civis Áctias guerras, animoso,

O capitão venceu romano injusto,

Que dos povos da aurora, e do famoso

Nilo, do Bactracítico e robusto

A vitória trazia, e presa rica,

Preso da egípcia linda e não pudica.

 

“Nunca com Marte instructo e furioso, se viu ferver Lecaute, quando Augusto nas civis Áctias guerras, animoso, o capitão venceu romano injusto, que dos povos da aurora, e do famoso Nilo, do Bactracítico e robusto a vitória trazia, e presa rica, preso da egípcia linda e não pudica (1).”

(1) Júpiter diz que os feitos portugueses serão inigualáveis. Diz que os mares nunca se agitaram tanto quando os portugueses lutaram em seus navios, nem mesmo quando o Imperador Augusto, estando auxiliado pelo deus Marte, nas Guerras Áctias venceu Marco Antônio – o injusto capitão que, apesar de trazer os ricos espólios, traiu a pátria por seu amor à rainha egípcia Cleópatra. 

“Nunca se viu o mar ficar agitado como ficou pelos portugueses, nem quando o Imperador Augusto, auxiliado pelo furioso Marte, venceu nas Guerras Áctias o capitão romano Marco Antônio – que trazia vitória e rica presa dos povos da Aurora, e do famoso Nilo e do cítico e robusto Bactra, mas que era preso pelo amor da linda e não pudica Cleópatra.

CANTO II – ESTROFE 54

 

“Como vereis o mar fervendo aceso

C’os incêndios dos vossos pelejando,

Levando o idólatra, e o mouro preso,

De nações diferentes triunfando.

E sujeita a rica áurea Quersoneso,

Até o longínquo China navegando,

E as ilhas mais remotas do Oriente,

Ser-lhe-á todo o oceano obediente.

 

“Como vereis o mar fervendo acesoc’os incêndios dos vossos pelejando, levando o idólatra, e o mouro preso, de nações diferentes triunfando (1). E sujeita a rica áurea Quersoneso, até o longínquo China navegando, e as ilhas mais remotas do Oriente, ser-lhe-á todo o oceano obediente (2).”

(1) Diz que o mar, nem mesmo Batalha de Áccio (mencionada na estrofe anterior), ficou tão agitado quanto ficará quando os portugueses incendiarem os barcos inimigos. Com essas batalhas que eles triunfarão contra as nações dos pagãos e dos muçulmanos.

(2) E, quando conquistarem a rica península indiana de Quersoneso, eles então navegarão até a longínqua China, dominando assim os mares orientais. 

 

“Vereis o mar fervendo com os incêndios dos vossos portugueses batalhando, estes que levaram preso o idólatra mouro enquanto triunfam sobre diferentes nações. E, conquistada a rica Quersoneso, eles navegaram até a longínqua China, sendo a eles obediente todo o Oceano Índico até as mais remotas ilhas do Oriente.”

CANTO II – ESTROFE 55

 

“De modo, filha minha, que de jeito

Amostrarão esforço mais que humano,

Que nunca se verá tão forte peito,

De gangético mar ao gaditano,

Nem das boreais ondas ao estreito,

Que mostrou o agravado lusitano,

Posto que em todo o mundo, de afrontados,

Ressuscitassem todos os passados.”

 

“De modo, filha minha, que de jeito amostrarão esforço mais que humano, que nunca se verá tão forte peito, de gangético mar ao gaditano, nem das boreais ondas do estreito, que mostrou o agravado lusitano, posto que em todo o mundo, de afrontados, ressuscitassem todos os passados.”

(1) Júpiter termina sua resposta à Vênus dizendo que os portugueses mostrarão um esforço enorme e que jamais se repetirá – nem do Rio Ganges ao Mar Gaditano, nem dos Mares do Norte (boreais) ao Estreito de Magalhães – mesmo que ressuscitassem todos heróis do passado.

 

“Deste modo, minha filha, os portugueses provarão suas capacidades em esforços mais que humanos que, de tão grandiosos, nunca mais serão vistos no mundo, nem do rio Ganges ao rio Cádiz, nem das boreais ondas ao estreito do sul, nem que ressuscitassem todos os grandes heróis do passado.”

 

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Esses foram os nossos comentários sobre a quadragésima segunda até a quinquagésima quinta estrofe do segundo canto de Os Lusíadas, Camões canta a resposta que Júpiter deu ao pedido de Vênus para proteger os portugueses.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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