Neste nosso vigésimo sétimo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o terceiro canto da obra, onde Camões canta a história de formação de Portugal feita pelo capitão Vasco da Gama.
CANTO III – ESTROFE 20
“O capitão Vasco da Gama comenta a localização de Portugal no mapa da Europa”
Eis aqui, quase cume da cabeça
Da Europa toda, o reino lusitano;
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no oceano.
Este quis o céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto o não consente.
“Eis aqui, quase cume da cabeça da Europa toda, o reino lusitano; onde a terra se acaba e o mar começa, e onde Febo repousa no oceano. Este quis o céu justo que floresça nas armas contra o torpe Mauritano, deitando-o de si fora; e lá na ardente África estar quieto o não consente. (1)”
(1) E, quase no cume da cabeça da Europa, está o reino lusitano, onde a terra acaba e o mar começa e onde o Febo desce para descansar no oceano. Quis o justo Céu que este reino fosse bem sucedido em suas guerras contra os torpes muçulmanos, expulsando-os de volta para a Mauritânia e, mesmo nas terras ardentes da África, não os deixava tranquilos. Camões canta que o Capitão Vasco da Gama finalmente termina a sua descrição da Europa e agora começa a falar sobre o reino de Portugal. Diz que a terra fica na cabeça da Europa virada para o Mar, onde o sol se põe; também fala que o reino português foi muito feliz quando venceu as invasões dos mouros e, mesmo expulsando eles do seu território, ainda foi guerrear nas terras africanas. Febo é o nome romano do deus Sol, sendo o seu descanso uma referência ao sol que, nascendo no Oriente, vem a descansar no Oriente; Mauritano é como os muçulmanos eram chamados, já que vinham da Mauritânia, região que corresponde aos territórios da Tunísia, Argélia e do Marrocos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E, na parte Oriental do continente europeu, encontramos o glorioso reino de Portugal que, quando acaba a terra, começa o grande mar, onde o Sol desce para descansar no oceano. Quis o justo Céu que este reino fosse bem sucedido em suas guerras contra os torpes muçulmanos, expulsando-os de volta para a Mauritânia e, mesmo nas terras ardentes da África, não os deixava tranquilos.”
CANTO III – ESTROFE 21
“O capitão Vasco da Gama que Portugal é a sua pátria, sendo ela conhecida como Lusitânia”
Está é a ditosa pátria minha amada,
À qual se o céu me dá que eu sem perigo
Torne com esta empresa já acaba,
Acabe-se esta luz ali comigo:
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela estão os íncolas primeiro.
“Está é a ditosa pátria minha amada, à qual se o céu me dá que eu sem perigo torne com esta empresa já acaba, acabe-se esta luz ali comigo: esta foi Lusitânia, derivada de Luso ou Lisa, que de Baco antigo filhos foram, parece, ou companheiros, e nela estão os íncolas primeiro. (1)”
(1) Está a minha fortunada pátria amada e, se o céu permitir que eu conclua esta empreitada e volte para casa, já posso morrer feliz. Antigamente esta terra era chamada de Lusitânia, palavra que deriva de Luso ou Lisa que, aparentemente, eram filhos ou companheiros de Baco, sendo os primeiros habitantes. Camões canta que o capitão Vasco da Gama diz que reino português é sua pátria amada e que, concluindo a viagem ao Oriente e retornando salvo para Portugal, já pode morrer feliz. Também comenta que a região era conhecida como Lusitânia.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E o reino de Portugal é a minha pátria amada; digo que, se o Céu permitir que eu conclua essa empreitada rumo às terras do Oriente e retorne para casa, já posso morrer feliz por ter prestado tal serviço. Nos tempos passados, essas terras eram conhecidas como Lusitânia, palavra que deriva de Luso ou Lisa que, aparentemente, eram filhos ou companheiros de Baco, sendo os primeiros habitantes.”
CANTO III – ESTROFE 22
“O capitão Vasco da Gama comenta que nas terras de Portugal nasceu Viriato, que ficou muito famoso por enfrentar os romanos”
Desta o Pastor nasceu, que no seu nome
Se vê que de homem forte os feitos teve;
Cuja fama ninguém vira que dome,
Pois a grande de Roma não se atreve.
Esta, o velho que os filhos próprios come
Por decreto do Céu, ligeiro e leve,
Veio a fazer no mundo tanta parte,
Criando-a o reino ilustre. E foi destarte:
“Desta o Pastor nasceu, que no seu nome se vê que de homem forte os feitos teve; cuja fama ninguém vira que dome, pois a grande de Roma não se atreve. Esta, o velho que os filhos próprios come por decreto do Céu, ligeiro e leve, veio a fazer no mundo tanta parte, criando-a o reino ilustre. E foi destarte”
(1) Desta terra nasceu Viriato, o pastor que, como diz seu próprio nome, teve os feitos de um homem forte e cuja força ninguém superou, nem mesmo a grande Roma. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a sua descrição sobre Portugal, diz que aqui nasceu o grande Viriato, líder dos lusíadas que desafiou os romanos.
(2) Saturno, o velho deus que devorava os seus próprios filhos, por decreto do Céu fez esta parte imensa do mundo, criando este ilustre reino. Camões canta que o capitão Vasco da Gama diz que foi Saturno, deus do tempo, quem criou toda a terra.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Desta terra nasceu Viriato, o pastor que, como diz seu próprio nome, teve os feitos de um homem forte e cuja força ninguém superou, nem mesmo a grande Roma. Saturno, o velho deus que devorava os seus próprios filhos, por decreto do Céu fez esta parte imensa do mundo, criando este ilustre reino.”
CANTO III – ESTROFE 23
“O capitão Vasco da Gama comenta sobre o rei espanhol Afonso VII, que ficou muito famoso por suas guerras contra os mouros”
“Um rei, por nome Afonso, foi na Espanha,
Que fez aos sarracenos tanta guerra,
Que por armas sanguinas, força e manha,
A muito fez perder a vida e a terra;
Voando deste rei a fama estranha
Do herculano Calpe à cáspia Serra,
Muitos, para na guerra esclarecer-se,
Vinham a ele e à morte oferecer-se.
“Um rei, por nome Afonso, foi na Espanha, que fez aos sarracenos tanta guerra, que por armas sanguinas, força e manha, a muito fez perder a vida e a terra; Voando deste rei a fama estranha do herculano Calpe à cáspia Serra, muitos, para na guerra esclarecer-se, vinham a ele e à morte oferecer-se. (1)”
(1) Teve um rei na Espanha chamado Afonso que lutou inúmeras guerras contra os mouros e, graças à sua força e capacidade, derrotou muitos inimigos e conquistou muitos territórios. Tamanha foi a fama deste rei, esta que se estendia das Colunas de Hercules até o mar Cáspio, que muitos cristãos estrangeiros vinham até ele se oferecer para participar das suas guerras e morrer lutando contra os mouros. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta os feitos do rei Afonso VI, conhecido como o imperador de toda Hispânia.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Na Espanha ficou conhecido o rei Afonso VI, que lutou inúmeras guerras contra os mouros e, graças à sua força e capacidade, derrotou muitos inimigos e conquistou muitos territórios. Tamanha era a fama deste rei, esta que se estendia das Colunas de Hercules até o mar Cáspio, que muitos cristãos estrangeiros vinham até ele se oferecer para participar das suas guerras e morrer lutando contra os mouros.”
CANTO III – ESTROFE 24
“O capitão Vasco da Gama comenta como o rei Afonso VII inspirou os guerreiros cristãos a lutarem contra os invasores mouros”
“E com amor intrínseco acendidos
Da Fé, mais que das honras populares,
Eram de várias terras conduzidos,
Deixando a pátria amada e próprios lares.
Depois que em feitos altos e subidos
Se mostraram nas armas singulares,
Quis o famoso Afonso que obras tais
Levassem prêmio digno e dons iguais.
“E com amor intrínseco acendidos da Fé, mais que das honras populares, eram de várias terras conduzidos, deixando a pátria amada e próprios lares. Depois que em feitos altos e subidos se mostraram nas armas singulares, quis o famoso Afonso que obras tais levassem prêmio digno e dons iguais. (1)”
(1) E, com o amor da Fé acendidos mais do que das honras populares, esses estrangeiros cristãos vinham de várias terras para o exército do rei Afonso, deixando para trás a pátria amada e seus próprios lares. Depois que eles se provavam em batalhas com ações nobres e notáveis, o monarca os recompensava com prêmios e doações dignos de tais atos. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, ainda fala sobre o rei Afonso VI e os cristãos estrangeiros que ficam consagradas em suas guerras contra os mouros.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E, com o amor da Fé acendidos mais do que das honras populares, esses cristãos estrangeiros vinham de várias terras para o exército do rei Afonso, deixando para trás a pátria amada e seus próprios lares. Depois que eles se provavam em batalhas com ações nobres e notáveis, o monarca os recompensava com prêmios e doações dignos de tais atos.”
CANTO III – ESTROFE 25
“O capitão Vasco da Gama comenta sobre o conde Henrique de Borgonha, que foi genro de Afonso VII e conde de Portugal
“Destes Anrique, dizem que segundo
Filho de um rei de Hungria experimentado,
Portugal houve em sorte, que no mundo
Então não era ilustre nem prezado;
E, para mais sinal de amor profundo,
Quis o rei castelhano que casado
Com Teresa, sua filha, o conde fosse;
E com ela das terras tomou posse.
“Destes Henrique, dizem que segundo filho de um rei de Hungria experimentado, Portugal houve em sorte, que no mundo então não era ilustre nem prezado; e, para mais sinal de amor profundo, quis o rei castelhano que casado com Teresa, sua filha, o conde fosse; e com ela das terras tomou posse. (1)”
(1) Destes estrangeiros, o conde Henrique de Borgonha, que dizem ser filho de um rei da Hungria, mostrando-se um guerreiro capacitado, teve sorte em Portugal, este que na época não era um território importante; e, por sinal um sinal de grande amor, o rei Afonso quis que ele se casa-se com sua filha Teresa, herdando as terras portuguesas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que o rei Afonso VI deixou as terras que correspondiam ao território de Portugal para o seu genro, o conde Henrique.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Destes estrangeiros cristão que lutam pelo rei Afonso, o conde Henrique de Borgonha, que dizem ser filho de um rei da Hungria, mostrando-se um guerreiro capacitado lutando no território de Portugal, este que, na época, não era um domínio importante; e, por sinal um sinal de grande amor, o rei Afonso quis que ele se casa-se com sua filha Teresa, herdando as terras portuguesas.”
CANTO III – ESTROFE 26
“O capitão Vasco da Gama comenta que o conde Henrique venceu muitas batalhas contras os mouros que habitavam as terras vizinhas”
“Este, depois quis contra os descendentes
Da escrava Agar vitórias grandes teve,
Ganhando muitas terras adjacentes,
Fazendo o que seu forte peito deve,
Em prêmio destes feitos excelentes,
Deu-lhe o supremo Deus, em tempo breve,
Um filho, que ilustrasse o nome ufano
Do belicoso rei lusitano.
“Este, depois quis contra os descendentes a escrava Agar vitórias grandes teve, ganhando muitas terras adjacentes, fazendo o que seu forte peito deve, em prêmio destes feitos excelentes, deu-lhe o supremo Deus, em tempo breve, um filho, que ilustrasse o nome ufano do belicoso rei lusitano. (1)”
(1) E o conde Henrique obteve grandes vitórias contra os mouros, ganhando muitos territórios adjacentes ao domínio português, isso que era seu dever. A Divina Providência, recompensando-o por seus feitos excelentes, pouco tempo depois lhe deu filho que iria ilustrar o orgulhoso nome do belicoso monarca português. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o conde Henrique obteve grandes vitórias contras os mouros, expandindo o território português.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E o conde Henrique obteve grandes vitórias contra os mouros, ganhando muitos territórios adjacentes ao domínio português, isso que era seu dever. A Divina Providência, recompensando-o por seus feitos excelentes, pouco tempo depois lhe deu filho que iria ilustrar o orgulhoso nome do belicoso monarca português.”
CANTO III – ESTROFE 27
“O capitão Vasco da Gama comenta a que o conde Henrique participou da Primeira Cruzada, conseguindo ser vitorioso e retornar vivo para Portugal”
Já tinha vindo Henrique da conquista
Da cidade de Hierosólima sagrada,
E do Jordão a areia tinha vista,
Que viu de Deus a carne em si lavada:
Que não tendo Gotfredo a quem resista,
Depois de ter Judeia sojugada,
Muitos, que nestas guerras ajudaram,
Para seus senhorios se tornaram.
“Já tinha vindo Henrique da conquista da cidade de Hierosólima sagrada, e do Jordão a areia tinha vista, que viu de Deus a carne em si lavada: que não tendo Gotfredo a quem resista, depois de ter Judeia sojugada, muitos, que nestas guerras ajudaram, para seus senhorios se tornaram. (1)”
(1) Henrique já tinha retornado da conquista da cidade sagrada de Jerusalém, além de ter visto as areias do Jordão, rio que foi lavada a própria carne de Deus. Não tendo Godofredo, comandante da primeira cruzada, nenhum adversário após conquistar a Judéia, os cavaleiros que participaram da guerra retornaram para suas terras. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a participação do conde Henrique na bem-sucedida primeira cruzada. Hierosílima era como chamavam Jerusalém; Godofredo de Bulhão foi um nobre europeu que comandou a primeira cruzada.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Henrique já tinha retornado da conquista da cidade sagrada de Jerusalém, além de ter visto as areias do Jordão, rio que foi lavada a própria carne de Deus. Não tendo Godofredo, comandante da primeira cruzada, nenhum adversário após conquistar a Judéia, os cavaleiros que participaram da guerra retornaram para suas terras.”
CANTO III – ESTROFE 28
“O capitão Vasco da Gama comenta que, com a morte do conde Henrique, seu filho, Afonso Henrique, seria seu sucessor”
Quando, chegado ao fim de sua idade
O forte e famoso húngaro estremado,
Forçado da fatal necessidade,
O espirito deu a quem lho tinha dado,
Ficava o filho em tenra mocidade,
Em quem o pai deixava seu translado,
Que do mundo os mais fortes igualava:
Que de tal pai tal filho se esperava.
“Quando, chegado ao fim de sua idade o forte e famoso húngaro estremado, forçado da fatal necessidade, o espirito deu a quem lho tinha dado, ficava o filho em tenra mocidade, em quem o pai deixava seu translado, que do mundo os mais fortes igualava: que de tal pai tal filho se esperava. (1)”
(1) Quando o forte e famoso Henrique chegou ao fim de sua idade e veio a falecer, seu filho, Afonso Henrique, apesar de ainda ser muito jovem, que possuía o mesmo aspecto e caráter do pai, se igualando aos homens mais fortes do mundo, o que era esperado por ser filho de seu pai. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o conde Henrique, quando veio a falecer, deixou seu filho como herdeiro.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Quando o forte e famoso Henrique chegou ao fim de sua idade e veio a falecer, seu filho, Afonso Henrique, apesar de ainda ser muito jovem, possuía o mesmo aspecto e caráter do pai, se igualando aos homens mais fortes do mundo, o que era esperado por ser herdeiro de tal pessoa.”
CANTO III – ESTROFE 29
“O capitão Vasco da Gama comenta que Teresa, mãe do príncipe Afonso, usurpou a herança do próprio filho, tomando o domínio de Portugal para si.
Mas o velho rumo (não sei se errado,
Que em tanta antiguidade não há certeza)
Conta que a mãe, tomando todo o estado,
Do segundo himeneu não se despreza:
O filho órfão deixava deserdado,
Dizendo que nas terras a grandeza
Do senhorio todo só sua era,
Porque para casar seu pai lhas dera.
“Mas o velho rumo (não sei se errado, que em tanta antiguidade não há certeza) conta que a mãe, tomando todo o estado, do segundo himeneu não se despreza: o filho órfão deixava deserdado, dizendo que nas terras a grandeza do senhorio todo só sua era, porque para casar seu pai lhas dera. (1)”
(1) Mas o rumo contado, que não podemos ter certeza já que é tão velho, conta que a dona Teresa, mãe de Afonso Henrique, teria se apossado de todo o estado e, casando uma segunda vez, teria deserdado seu filho, afirmando que as terras de Portugal eram suas, já que as recebera de seu pai ao casar com Henrique. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta que Afonso Henrique foi deserdado por mãe, ficando d. Teresa soberana do território português. Himeneu é o deus que presidia os casamentos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas o rumo contado, que não podemos ter certeza já que é tão velho, conta que a dona Teresa, mãe de Afonso Henrique, teria se apossado de todo o estado e, casando uma segunda vez, teria deserdado seu filho, afirmando que as terras de Portugal eram suas, já que as recebera de seu pai ao casar com Henrique.”
CANTO III – ESTROFE 30
“O capitão Vasco da Gama comenta que o príncipe Afonso não aceitou a decisão de sua mãe e decidiu enfrenta-la”
Mas o príncipe Afonso (que destarte
Se chamava, do avô tomando o nome),
Vendo-se em suas terras não ter parte,
Que a mãe com seu marido as manda e come
Fervendo-lhe no peito o duro Marte
Imagina consigo como as tome.
Revolvidas as causas no conceito,
Ao propósito firme segue o efeito.
“Mas o príncipe Afonso (que destarte se chamava, do avô tomando o nome), vendo-se em suas terras não ter parte, que a mãe com seu marido as manda e come fervendo-lhe no peito o duro Marte imagina consigo como as tome. Revolvidas as causas no conceito, ao propósito firme segue o efeito. (1)”
(1) Mas o príncipe Afonso, que assumiu o nome de seu avô, ao perceber que não seria senhor de suas terras, já que sua mãe e seu marido as governavam e desfrutavam, começa a planejar uma ofensiva militar para recupera-las. Tendo pensado muito no que fazer, partiu para ação. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o príncipe Afonso Henrique, não aceitando ser deserdado, começou a planejar uma ofensiva para recuperar as terras de Portugal que foram tomadas por sua mãe.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas o príncipe Afonso, que assumiu o nome de seu avô, ao perceber que não seria senhor de suas terras, já que sua mãe e seu marido as governavam e desfrutavam, começa a planejar uma ofensiva militar para recupera-las. Tendo pensado muito no que fazer, partiu para ação.”
CANTO III – ESTROFE 31
“O capitão Vasco da Gama comenta que o príncipe Afonso Henrique começou uma batalha contra sua mãe pelas terras de Portugal”
“De Guimaraes o campo se tingia
C’o sangue próprio da intestina guerra,
Onde a mãe, que tão pouco o parecia,
A seu filho negava o amor e a terra.
C’o ele posta em campo já se via;
E não vê a soberba muito que erra
Contra Deus, contra o maternal amor;
Mas nela o sensual era maior.
“De Guimaraes o campo se tingia c’o sangue próprio da intestina guerra, onde a mãe, que tão pouco o parecia, a seu filho negava o amor e a terra. C’o ele posta em campo já se via; E não vê a soberba muito que erra contra Deus, contra o maternal amor; mas nela o sensual era maior. (1)”
(1) O campo de Guimaraes ficou tingido com as marcas da guerra de d. Teresa e seu filho, Afonso Henrique, a quem ela negava o amor e as terras do Condado de Portugal. A mãe já estava em campo contra seu filho e ela, sendo soberba, não via que ia contra Deus e o amor maternal, já que o amor dela por seu amante era muito maior. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, fala que a guerra de Afonso Henrique contra sua mãe pelas terras portuguesas. Guimaraes é uma cidade localizado no norte de Portugal que foi palco da Batalha de S. Mamede.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O campo de Guimaraes ficou tingido com as marcas da guerra de d. Teresa e seu filho, Afonso Henrique, a quem ela negava o amor e as terras do Condado de Portugal. A mãe já estava em campo contra seu filho e ela, sendo soberba, não via que ia contra Deus e o amor maternal, já que o amor dela por seu amante era muito maior.”
CANTO III – ESTROFE 32
“O capitão Vasco da Gama compara Teresa com Progne e Medéia, duas figuras mitológicas que mataram seus próprios filhos”
“Ó Progne crua! Ó mágica Medéia!
Se os vossos próprios filhos vos vingais
Da maldade dos pais, da culpa alheia,
Olhai, que ainda Teresa peca mais.
Incontingência má, cobiça feia,
São as causas deste erro principais:
Cila, por uma, mata o velho pai;
Esta, por ambas, contra o filho vai.
“Ó Progne crua! Ó mágica Medéia! Se os vossos próprios filhos vos vingais da maldade dos pais, da culpa alheia, olhai, que ainda Teresa peca mais. Incontingência má, cobiça feia, são as causas deste erro principais: Cila, por uma, mata o velho pai; esta, por ambas, contra o filho vai. (1)”
(1) Ó Cruel Progne! Ó mágica Madéia! Vocês, que se vingaram de seus maridos matando os seus próprios filhos, olhem para Teresa, esta que peca ainda mais. Desonestidade e ambição são as causas dos erros de Teresa. Cila, por exemplo, matou seu pai por causa da desonestidade; a mãe de Afonso, vai contra o próprio filho por esses dois erros. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, menciona Progne e Medéia, duas mulheres que, na mitologia, teriam matado os próprios filhos e as compara Teresa. Progne, na mitologia, foi a mulher do rei Teseu, sendo ela conhecida por se vingar do marido matando o filho Ítis e dando-o para o marido comer; Medéia, na mitologia, foi uma feiticeira que auxiliou o herói Jasão na busca pelo Velocino de Ouro, mas, ao ser abandonada por Jasão, se vingou estrangulando os filhos que tive com o herói.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ó Cruel Progne! Ó mágica Madéia! Vocês, que se vingaram de seus maridos matando os seus próprios filhos, olhem para Teresa, esta que peca ainda mais. Desonestidade e ambição são as causas dos erros de Teresa. Cila, por exemplo, matou seu pai por causa da desonestidade; a mãe de Afonso, vai contra o próprio filho por esses dois erros.”
CANTO III – ESTROFE 33
“O capitão Vasco da Gama comenta que o príncipe Afonso venceu sua mãe, tomando controle das terras de Portugal”
“Mas já o príncipe claro o vencimento
Do padrasto e da iniqua mãe levava;
Já lhe obedece a terra num momento,
Que o primeiro contra ele pelejava.
Porém, vencido de ira o entendimento,
A mãe em ferros ásperos atava;
Mas de Deus foi vingada em tempo breve:
Tanta veneração aos pais se deve!
“Mas já o príncipe claro o vencimento do padrasto e da iniqua mãe levava; já lhe obedece a terra num momento, que o primeiro contra ele pelejava. Porém, vencido de ira o entendimento, a mãe em ferros ásperos atava; mas de Deus foi vingada em tempo breve: tanta veneração aos pais se deve! (1)”
(1) Mas o príncipe Afonso vencia a guerra contra sua mãe Teresa e seu padrasto e as terras portuguesas, que antes estavam contra ele, agora ficam sob seu domínio. Estando tomado pela iria, o príncipe prendeu sua mãe com algemas, embora Deus fosse vinga-la posteriormente, já que os filhos sempre devem respeito aos pais. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que o príncipe Afonso Henrique venceu a guerra contra sua mãe, assumindo o controle das terras portuguesas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas o príncipe Afonso venceu a guerra contra sua mãe Teresa e seu padrasto e as terras portuguesas, que antes estavam contra ele, agora ficam sob seu domínio. Estando tomado pela iria, o príncipe prendeu sua mãe com algemas, embora Deus fosse vinga-la posteriormente, já que os filhos sempre devem respeito aos pais.”
CANTO III – ESTROFE 34
“O capitão Vasco da Gama comenta que rei Afonso VII de Castela, querendo assumir o controle da península Hispânica, tenta atacar Portugal”
“Eis se ajunta o soberano castelhano,
Para vingar a injúria de Teresa,
Contra o tão raro em gente Lusitano,
A quem nenhum trabalho agrava ou pesa.
Em batalha cruel, o peito humano,
Ajudado da angélica defesa,
Não só contra tal fúria se sustenta,
Mas o inimigo aspérrimo afugenta.
“Eis se ajunta o soberano castelhano, para vingar a injúria de Teresa, contra o tão raro em gente Lusitano, a quem nenhum trabalho agrava ou pesa. Em batalha cruel, o peito humano, ajudado da angélica defesa, não só contra tal fúria se sustenta, mas o inimigo aspérrimo afugenta.”
(1) Para vingar a injuria que Afonso Henrique fez ao acorrentar Teresa, o soberbo rei Afonso VII de Castela se voltou contra o príncipe lusitano, mas ele, mesmo com poucos soldados, tinha o um bravo coração e auxílio angelical, e assim não só resistiu à investida, como afugentou o inimigo. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta que o príncipe Afonso Henrique foi atacado pelo rei Afonso VII de Castela, mas que foi bem-sucedido em sua defesa, mantendo os domínios de Portugal.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Para vingar a injuria que Afonso Henrique fez ao acorrentar Teresa, o soberbo rei Afonso VII de Castela se voltou contra o príncipe lusitano, mas ele, mesmo com poucos soldados, tinha o um bravo coração e auxílio angelical, e assim não só resistiu à investida, como afugentou o inimigo.”
CANTO III – ESTROFE 35
“O capitão Vasco da Gama comenta que, tendo fracassado em seu ataque anterior, o rei Afonso VII organiza um grande exército, cercando Portugal.
“Não passa muito tempo, quando o forte
Príncipe em Guimarães está cercado
De infinito poder, que desta sorte
Foi refazer-se o imigo magoado.
Mas, com se oferecer à dura morte
O fiel Egas amo, foi livrado;
Que de outra arte pudera ser perdido,
Segundo estava mal apercebido.
“Não passa muito tempo, quando o forte príncipe em Guimarães está cercado de infinito poder, que desta sorte foi refazer-se o imigo magoado. Mas, com se oferecer à dura morte o fiel Egas amo, foi livrado; que de outra arte pudera ser perdido, segundo estava mal apercebido. (1)”
(1) Pouco tempo depois desta batalha o príncipe Afonso Henrique acabou cercado por grandes forças militares em Guimarães, já que o inimigo que foi derrotado reorganizou suas forças. Mas, ao oferecer Egas Moniz, seu fiel fidalgo, para livrar-se da morte, caso o contrário, o próprio príncipe seria esmagado pela grande força militar de Afonso VII. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que Afonso VII, após ser derrotado, reorganizou suas forças e levantou um cerco contra Afonso Henrique, este que acabou se rendendo ao monarca de Castela, oferendo o fidalgo Egas como refém.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Pouco tempo depois desta batalha o príncipe Afonso Henrique acabou cercado por grandes forças militares em Guimarães, já que o inimigo que foi derrotado reorganizou suas forças. Mas, ao oferecer Egas Moniz, seu fiel fidalgo, para livrar-se da morte, caso o contrário, o próprio príncipe seria esmagado pela grande força militar de Afonso VII.”
CANTO III – ESTROFE 36
“O capitão Vasco da Gama conta que Egas Moniz, vassalo do príncipe Henrique, promete que ao rei de Castela que o seu suserano se rendera”
“Mas o leal vassalo, conhecendo
Que seu senhor não tinha resistência,
Se vai ao Castelhano, prometendo
Que ele faria dar-lhe obediência.
Levanta o inimigo o cerco horrendo,
Fiado na promessa e consciência
De Egas Moniz; mas não consente o peito
Do moço ilustre a outrem ser sujeito.
“Mas o leal vassalo, conhecendo que seu senhor não tinha resistência, se vai ao Castelhano, prometendo que ele faria dar-lhe obediência. Levanta o inimigo o cerco horrendo, fiado na promessa e consciência de Egas Moniz; mas não consente o peito do moço ilustre a outrem ser sujeito. (1)”
(1) Mas Egas Moniz, sendo um leal vassalo do príncipe e vendo que seu senhor não conseguiria resistir, vai até Afonso VII prometendo que Afonso Henrique se renderia. Acreditando no que diz Egas Moniz, o monarca de Castela levanta o cerco horrendo; o príncipe, por outro lado, não desejava ser vassalo de outra pessoa. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que Egas Moniz foi até Afonso VII prometendo que o Afonso Henrique se submeteria ao monarca de Castela, embora o próprio príncipe não desejasse ser vassalo de ninguém.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas Egas Moniz, sendo um leal vassalo do príncipe e vendo que seu senhor não conseguiria resistir, vai até Afonso VII prometendo que Afonso Henrique se renderia. Acreditando no que diz Egas Moniz, o monarca de Castela levanta o cerco horrendo; o príncipe, por outro lado, não desejava ser vassalo de outra pessoa.”
CANTO III – ESTROFE 37
“O capitão Vasco da Gama comenta que o príncipe Afonso não cumpre a promessa de Egas Moniz ao rei Afonso VII de Castela”
“Chegado tinha o prazo prometido,
Em que o rei castelhano já aguardava
Que o príncipe, a seu mando sumetido,
Lhe desse a obediência que esperava.
Vendo Egas que ficava fementido,
O que dele Castela não cuidava,
Determina de dar a doce vida
A troco da palavra mal cumprida.
“Chegado tinha o prazo prometido, em que o rei castelhano já aguardava que o príncipe, a seu mando sumetido, lhe desse a obediência que esperava. Vendo Egas que ficava fementido, o que dele Castela não cuidava, determina de dar a doce vida a troco da palavra mal cumprida. (1)”
(1) Tinha já chegado a prazo prometido em que o príncipe Henrique se submeteria ao Afonso VII e passasse a ser seu vassalo, mas, Egas Moniz, ao ver que o príncipe não se renderia, determina que sua vida fosse tirada, já que sua promessa não foi cumprida. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que, como o príncipe Afonso Henrique não aceitou se submeter a Afonso VII, Egas Moniz disse para que lhe tirassem a vida, já que a promessa que ele fez não foi cumprida.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Tinha já chegado a prazo prometido em que o príncipe Henrique se submeteria ao Afonso VII e passasse a ser seu vassalo, mas, Egas Moniz, ao ver que o príncipe não se renderia, determina que sua vida fosse tirada, já que sua promessa não foi cumprida.”
CANTO III – ESTROFE 38
“O capitão Vasco da Gama comenta que Egas Moniz decide entregar sua vida ao rei de Castela, já que a sua promessa não foi cumprida”
E com seus filhos e mulher se parte
A alevantar com eles a fiança;
Descalços e despidos, de tal arte
Que mais move a piedade que a vingança:
“Se pretender, rei alto, de vingar-te
De minha temerária confiança,
(Dizia) eis aqui venho oferecido
A te pagar c’o a vida o prometido.
E com seus filhos e mulher se parte a alevantar com eles a fiança; descalços e despidos, de tal arte que mais move a piedade que a vingança: “Se pretender, rei alto, de vingar-te de minha temerária confiança, (Dizia) eis aqui venho oferecido a te pagar c’o a vida o prometido. (1)”
(1) E, estando despidos e descalços, de uma forma que despertavam mais piedade do que vingança, Egas Moniz parte com sua esposa e filhos de Portugal até Castela e, diante do Afonso VII, dizia: “Se pretende, grande rei, se pretendes se vingar de temerária confiança, aqui estou para pagar com a vida o que eu prometi.” Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que Egas Diz foi até o monarca de Castela entregar sua vida, já que a promessa que fez não foi cumprida.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E, estando despidos e descalços, de uma forma que despertavam mais piedade do que vingança, Egas Moniz parte com sua esposa e filhos de Portugal até Castela e, diante do Afonso VII, dizia: “Se pretende, grande rei, se pretendes se vingar de temerária confiança, aqui estou para pagar com a vida o que eu prometi.”
CANTO III – ESTROFE 39
“O capitão Vasco da Gama comenta que Egas Moniz vai junto com sua família para entregar suas vidas ao rei Afonso VII”
“Vês, aqui trago as vidas inocentes
Dos filhos sem pecado e da consorte,
Se os peitos generosos e excelentes,
Dos fracos satisfaz a fera morte.
Vês aqui as mãos e a língua delinquentes:
Nelas sós exp’rimenta toda sorte
De tormentos, de mortes, pelo estilo
De Sínis, e do touro Perilo.”
“Vês, aqui trago as vidas inocentes dos filhos sem pecado e da consorte, se os peitos generosos e excelentes, dos fracos satisfaz a fera morte. Vês aqui as mãos e a língua delinquentes: nelas sós exp’rimenta toda sorte de tormentos, de mortes, pelo estilo de Sínis, e do touro Perilo.”
(1) Continua falando Egas Moniz: “Veja que aqui trago as vidas inocentes dos meus filhos sem pecado e da minha esposa, se a cruel morte dos fracos satisfazer a sua vontade. Veja que trago as minhas mãos e a língua delinquente, sendo que nelas experimentara toda a sorte de mortes e tormentos, semelhante das mortes das vítimas de Sínis e de Perilo.” Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que Egas Moniz o apresenta e sua família, mas pede para que somente ele sofra as consequências de sua promessa. Sínis foi um criminoso grego conhecido por suas torturas; Perilo foi um inventor sádico que criou um touro de bronze oco onde eram colocadas pessoas vivias dentro para serem queimadas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Continua falando Egas Moniz: “Veja que aqui trago as vidas inocentes dos meus filhos sem pecado e da minha esposa, se a cruel morte dos fracos satisfazer a sua vontade. Veja que trago as minhas mãos e a língua delinquente, sendo que nelas experimentara toda a sorte de mortes e tormentos, semelhante das mortes das vítimas de Sínis e de Perilo”
CANTO III – ESTROFE 40
“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei de Castela ficou tão impressionado com a lealdade de Egas Moniz que decidiu não o matar”
Qual diante do algoz o condenado,
Que já na vida a morte tem bebido,
Põem no cepo a garganta, e já entregado
Espera pelo golpe tão temido:
Tal, diante do príncipe indignado,
Egas estava, a tudo oferecido;
Mas o rei, vendo a estranha lealdade,
Mais pôde enfim que a ira a piedade.
“Qual diante do algoz o condenado, que já na vida a morte tem bebido, põem no cepo a garganta, e já entregado espera pelo golpe tão temido: tal, diante do príncipe indignado, Egas estava, a tudo oferecido; mas o rei, vendo a estranha lealdade, mais pôde enfim que a ira a piedade. (1)”
(1) Assim como o condenado que, diante do algoz, já aceitou que vai para a morte e coloca a sua garganta no cepo para receber o golpe fatal, tal era o sentimento de Egas Moniz que estava diante do rei Afonso VII. Mas o monarca, ao ver tamanha lealdade, sente sua irá enfraquecer, tomando lugar a piedade. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que o rei Afonso VII de Castela, ao ver o quão leal era Egas Moniz, se apieda, não querendo mais mata-lo.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Assim como o condenado que, diante do algoz, já aceitou que vai para a morte e coloca a sua garganta no cepo para receber o golpe fatal, tal era o sentimento de Egas Moniz que estava diante do rei Afonso VII. Mas o monarca, ao ver tamanha lealdade, sente sua irá enfraquecer, tomando lugar a piedade.”
CANTO III – ESTROFE 41
“O capitão Vasco da Gama compara a lealdade de Egas Moniz com um nobre persa que se mutilou para ajudar Dario a conquista a Babilônia”
Ó grã fidelidade portuguesa,
De vassalos que a tanto se obrigava!
Que mais o Persa fez naquela empresa,
Onde o rosto e narizes se cortava?
Do que ao grande Dario tanto pesa
Que, mil vezes dizendo, suspirava,
Que mais o seu Zopiro são prezava,
Que vinte Babilônias que tomava.
“Ó grã fidelidade portuguesa, de vassalos que a tanto se obrigava! Que mais o Persa fez naquela empresa, onde o rosto e narizes se cortava? Do que ao grande Dario tanto pesa que, mil vezes dizendo, suspirava, que mais o seu Zopiro são prezava, que vinte Babilônias que tomava. (1)”
(1) Ó grande fidelidade portuguesa de vassalo que tanto se obrigava! Que maior feito de lealdade do que aquele onde o persa Zópiro cortou o próprio rosto e nariz? De qual façanha pesou mais para Dario que mil vezes dizia preferir ver Zópiro não mutilado do que tomar vinte Babilônias. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, ao comentar sobre a lealdade de Moniz, comparando o português com o nobre persa que mutilou o próprio corpo para enganar os inimigos e facilitar a conquista da Babilônia por Dario.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ó grande fidelidade portuguesa de vassalo que tanto se obrigava! Que maior feito de lealdade do que aquele onde o persa Zópiro cortou o próprio rosto e nariz? De qual façanha pesou mais para Dario que mil vezes dizia preferir ver Zópiro não mutilado do que tomar vinte Babilônias.”
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a vigésima até quadragésima primeira estrofe do terceiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a história de formação de Portugal feita pelo capitão Vasco da Gama.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.