Neste nosso trigésimo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o terceiro canto da obra, onde Camões canta os últimos anos do reinado do rei Afonso Henriques até o dia de sua morte.
CANTO III – ESTROFE 69
“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei Afonso Henriques ainda sofrera por ter prendida a própria mãe”
Mas o Alto Deus, que para o longe guarda
O castigo daquele que merece,
(Ou para que se emende às vezes tarda,
Ou por segredos que o homem não conhece).
Se até’ qui sempre o forte rei resguarda
Dos perigos a que ele se oferece,
Agora lhe não deixa ter defesa
Da maldição da mãe que estava presa.
“Mas o Alto Deus, que para o longe guarda o castigo daquele que merece, (ou para que se emende às vezes tarda, ou por segredos que o homem não conhece). Se até’ qui sempre o forte rei resguarda dos perigos a que ele se oferece, agora lhe não deixa ter defesa da maldição da mãe que estava presa. (1)”
(1) Mas o Alto Deus, que as vezes tarda ou por segredos que nós homens não conhecemos, já reservava o castigo para o forte rei Afonso Henrique que, até agora protegido dos perigos, agora não terá defesa contra a maldição de ter prendido a própria mãe. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta que agora a sorte do rei Afonso Henriques começa a lhe abandonar, com o monarca sofrendo muitos infortúnios por ter prendido a própria mãe.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas o Alto Deus, que as vezes tarda ou por segredos que nós homens não conhecemos, já reservava o castigo para o forte rei Afonso Henrique que, até agora protegido dos perigos, agora não terá defesa contra a maldição de ter prendido a própria mãe.”
CANTO III – ESTROFE 70
“O capitão Vasco da Gama comenta que, após conquistar Badajoz, o rei Afonso Henriques foi derrotado e preso pelo rei de Leão”
Que, estando na cidade que cercara,
Cercado nela foi dos leoneses,
Porque a conquista dela lhe tomara,
De Leão sendo, e não dos Portugueses.
A pertinácia aqui lhe custa cara,
Assim como acontece muitas vezes;
Que em ferros quebra as pernas, indo aceso
À batalha, onde foi vencido e preso.
“Que, estando na cidade que cercara, cercado nela foi dos leoneses, porque a conquista dela lhe tomara, de Leão sendo, e não dos Portugueses. A pertinácia aqui lhe custa cara, assim como acontece muitas vezes; que em ferros quebra as pernas, indo aceso à batalha, onde foi vencido e preso. (1)”
(1) O rei Afonso Henriques, após conquistar a cidade de Badajoz com seu cerco, sofreu um cerco do Fernando de Leão, já que a cidade pertencia ao reino de Leão, não do reino de Portugal. A obstinação, como muitas vezes acontece, custou caro ao monarca portugueses, com ele sofrendo um acidente que lhe quebrou as pernas e, por causa da lesão, foi derrotado e preso. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que, após o cerco de Badajoz, o rei Afonso Henrique foi atacado pelo rei de Leão, sendo derrotado e preso.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O rei Afonso Henriques, após conquistar a cidade de Badajoz com seu cerco, sofreu um cerco do Fernando de Leão, já que a cidade pertencia ao reino de Leão, não do reino de Portugal. A obstinação, como muitas vezes acontece, custou caro ao monarca portugueses, com ele sofrendo um acidente que lhe quebrou as pernas e, por causa da lesão, foi derrotado e preso.”
CANTO III – ESTROFE 71
“O capitão Vasco da Gama começa uma comparação entre o general romano Pompeu Magno e o rei Afonso Henriques”
Ó famoso Pompeu, não te pene
De teus feitos ilustres à ruína!
Nem ver que a justa Nêmesis ordene
Ter teu sogro de ti vitória dina,
Posto que o frio Fásis, ou Siene
Que para nenhum cabo a sombra inclina,
O Bootes gelado e a linha ardente,
Temessem o teu nome geralmente;
“Ó famoso Pompeu, não te pene de teus feitos ilustres à ruína! Nem ver que a justa Nêmesis ordene ter teu sogro de ti vitória dina, posto que o frio Fásis, ou Siene que para nenhum cabo a sombra inclina, o Bootes gelado e a linha ardente, temessem o teu nome geralmente; (1)”
(1) Ó famoso Pompeu Magno, não sinta o pesar de teus grandes feitos terminarem em derrota! Também não sinta o pesar de ver que Nêmesis faça com que Cesar, teu sogro, o derrote, já que o seu nome já foi temido no frio Fásis, a cidade de Seiene, que nenhum lado se inclina a sombra e as terras do gelado Bootes. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, começa uma comparação entre Pompeu Magno e o rei Afonso Henriques, já que o primeiro, que já foi considerado invencível, acabou derrotado.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ó famoso Pompeu Magno, não sinta o pesar de teus grandes feitos terminarem em derrota! Também não sinta o pesar de ver que Nêmesis faça com que Cesar, teu sogro, o derrote, já que o seu nome já foi temido no frio Fásis, a cidade de Seiene, que nenhum lado se inclina a sombra e as terras do gelado Bootes.”
CANTO III – ESTROFE 72
“O capitão Vasco da Gama continua a comparação, dizendo que o rei Afonso, assim como Pompeu, teve muitas vitórias, mas um dia foi derrotado”
Posto que a rica Arábia e que os feroces,
Heníocos e Colcos, cuja fama
O véu dourado estende, e os Capadoces
E Judéia, que um Deus adora e ama,
E que os moles Sofenos e os atroces
Cilícios, com a Armênia que derrama
As águas dos dous rios, cuja fonte
Está noutro mais alto e santo monte;
“Posto que a rica Arábia e que os feroces, Geníocos e Colcos, cuja fama o véu dourado estende, e os Capadoces e Judéia, que um Deus adora e ama, e que os moles Sofenos e os atroces Cilícios, com a Armênia que derrama as águas dos dous rios, cuja fonte está noutro mais alto e santo monte; (1)”
(1) Não sinta o pesar derrota, Pompeu, porque antes já conseguiu vencer a rica Arábia, os Geníocos e também os Colos, que são famosos por causa do Velocino de Ouro; também já vencestes Capadoces e a Júdeia, que Deus adora e ama; também vencesse os Sofeno, os atrozes Cilícios e a Armênia, que derrama as águas dos rios Tigre e Eufrates que tem nascente no alto e santo monte Arat. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, continua a comentar os grandes feitos que Pompeu Magno realizou antes de ser derrotado.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Não sinta o pesar derrota, Pompeu, porque antes já conseguiu vencer a rica Arábia, os Geníocos e também os Colos, que são famosos por causa do Velocino de Ouro; também já vencestes Capadoces e a Júdeia, que Deus adora e ama; também vencesse os Sofeno, os atrozes Cilícios e a Armênia, que derrama as águas dos rios Tigre e Eufrates que tem nascente no alto e santo monte Arat.”
CANTO III – ESTROFE 73
“O capitão Vasco da Gama termina a comparação entre ambos, dizendo que mesmo tendo tantas vitórias, foi o alto céu que quis a sua derrota”
E posto enfim que desde o mar de Atlante
Até o cítico Tauro, monte erguido,
Já vencedor te vissem, não te espante
Se o campo Emátio só te viu vencido;
Porque Afonso verás soberbo e ovante,
Tudo render e ser depois rendido:
Assim o quis o concelho alto celeste,
Que vença o sogro a ti, e o genro a este.
“E posto enfim que desde o mar de Atlante até o cítico Tauro, monte erguido, já vencedor te vissem, não te espante se o campo Emátio só te viu vencido; porque Afonso verás soberbo e ovante, tudo render e ser depois rendido: assim o quis o concelho alto celeste, que vença o sogro a ti, e o genro a este. (1)”
(1) E, enfim, Pompeu, não sinta o pesar da derrota pois já venceu desde o mar Atlante até monte cítica e que apenas o campo Emático, na Tessália, te viu ser derrotado. Verás o soberto Afonso Henrique, a quem tudo venceu, depois ser vencido, pois assim o Divino Céu: que Júlio Cesar, seu sogro, vença Pompeu Magno e que Fernando II, genro de Afonso, o vencesse. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, termina a comparação que vazia entre Pompeu Magno e Afonso Henriques, está que dizia que ambos foram generais muito vitoriosos, mas que, um dia, foram vencidos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E, enfim, Pompeu, não sinta o pesar da derrota pois já venceu desde o mar Atlante até monte cítica e que apenas o campo Emático, na Tessália, te viu ser derrotado. Verás o soberto Afonso Henrique, a quem tudo venceu, depois ser vencido, pois assim o Divino Céu: que Júlio Cesar, seu sogro, vença Pompeu Magno e que Fernando II, genro de Afonso, o vencesse.”
CANTO III – ESTROFE 74
“O capitão Vasco da Gama conta que o rei Afonso Henriques deixa a prisão do rei Fernando II de Leão, retornando para Portugal”
Tornado o rei sublime finalmente
Do divino juízo castigado,
Depois que em Santarém soberbamente
Em vão dos sarracenos foi cercado;
E depois que mártire Vicente
O santíssimo corpo venerado
Do Sacro promontório conhecido
À cidade ulisséia foi trazido;
“Tornado o rei sublime finalmente do divino juízo castigado, depois que em Santarém soberbamente em vão dos sarracenos foi cercado; e depois que mártire Vicente o santíssimo corpo venerado do Sacro promontório conhecido à cidade ulisséia foi trazido; (1)”
(1) O sublime rei Afonso Henriques, após sofrer um cerco dos mouros em Santarém, retorna do castigo do Juiz Divino junto com o corpo venerado e santíssimo corpo do mártir Vicente que foi trazido do Sacro promontório à cidade de Lisboa. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a cantar a história de Portugal, comenta que após ser o rei Afonso Henriques ser derrotado e preso por Fernando II de Leão, seu genro, o monarca português retorna para Lisboa junto com o corpo de São Vicente.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O sublime rei Afonso Henriques, após sofrer um cerco dos mouros em Santarém, retorna do castigo do Juiz Divino junto com o corpo venerado e santíssimo corpo do mártir Vicente que foi trazido do Sacro promontório à cidade de Lisboa.”
CANTO III – ESTROFE 75
“O capitão Vasco da Gama comenta que, estando cansado e mais velho, o rei Afonso Henriques coloca seu filho Sancho para liderar as batalhas dos portugueses”
Por que levasse avante seu desejo
Ao forte filho manda o lasso velho,
Que às terras passasse d’Alentejo,
Com gente, e c’o belígero aparelho.
Sancho, d’esforço e d’ânimo sobejo,
Avante passa, e faz correr vermelho
O rio que Sevilha vai regando,
C’o sangue mauro, bárbaro e nefando.
“Por que levasse avante seu desejo ao forte filho manda o lasso velho, que às terras passasse d’Alentejo, com gente, e c’o belígero aparelho. Sancho, d’esforço e d’ânimo sobejo, avante passa, e faz correr vermelho o rio que Sevilha vai regando, c’o sangue mauro, bárbaro e nefando. (1)”
(1) Já estando o rei Afonso Henriques cansado, mas ainda querendo realizar os seus desejos, manda que Sancho, seu filho, atacasse as terras de Alentejo. Como era muito capaz, o príncipe obedece às ordens do pai, pinta com sangue dos bárbaros mouros o Guadalquivir, o rio que rega as águas de Sevilha. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o rei Afonso Henriques, embora já esteja velho e cansado, ainda deseja expandir os domínios de Portugal e, para ir, manda seu filho Sancho comandar as suas batalhas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Já estando o rei Afonso Henriques cansado, mas ainda querendo realizar os seus desejos, manda que Sancho, seu filho, atacasse as terras de Alentejo. Como era muito capaz, o príncipe obedece às ordens do pai, pinta com sangue dos bárbaros mouros o Guadalquivir, o rio que rega as águas de Sevilha.”
CANTO III – ESTROFE 76
“O capitão Vasco da Gama comenta que o príncipe Sancho se mostra um bravo guerreiro, vencendo as batalhas contra os mouros”
E com esta vitória cobiçoso,
Já não descansa o moço, até que veja
Outro estrago, como este temeroso,
No bárbaro que tem cercado Beja.
Não tarda muito o príncipe ditoso
Sem ver o fim daquilo que deseja.
Assim estragado o Mouro, na vingança
De tantas perdas põe sua esperança.
“E com esta vitória cobiçoso, já não descansa o moço, até que veja outro estrago, como este temeroso, no bárbaro que tem cercado Beja. Não tarda muito o príncipe ditoso sem ver o fim daquilo que deseja. Assim estragado o Mouro, na vingança de tantas perdas põe sua esperança. (1)”
(1) O príncipe Sancho, nem mesmo descansa após essa vitória, cobiçando outra vez veja a derrota dos mouros bárbaro, como os cercavam Beja. Não demora muito para que ele encontre o que deseja, fazendo o califa que fora morto depositar suas esperanças na vingança. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a vitória que príncipe Sacho obteve em suas batalhas contra os mouros.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O príncipe Sancho, nem mesmo descansa após essa vitória, cobiçando outra vez veja a derrota dos mouros bárbaro, como os cercavam Beja. Não demora muito para que ele encontre o que deseja, fazendo o califa que fora morto depositar suas esperanças na vingança.”
CANTO III – ESTROFE 77
“O capitão Vasco da Gama comenta que os mouros marcham seus exércitos na península Hispânica, rumo ao reino de Portugal”
Já se ajuntam do monte, a quem Medusa
O corpo fez perder que teve o céu;
Já vem do promontório d’ Ampelusa,
E do Tinge, que assento foi de Anteu;
O morador de Abila não se escusa;
Que também com suas armas se moveu,
Ao som da mauritana e ronca tuba
Todo o reino que foi do nobre Juba.
“Já se ajuntam do monte, a quem Medusa o corpo fez perder que teve o céu; já vem do promontório d’ Ampelusa, e do Tinge, que assento foi de Anteu; o morador de Abila não se escusa; que também com suas armas se moveu, ao som da mauritana e ronca tuba todo o reino que foi do nobre Juba. (1)”
(1) Em pouco se ajuntam as tropas no monte Atlas, este que foi transformado em montanha pela Medusa; chegam tropas vindas de Ampelusa e de Tinge, que foi morada de Anteu; o morador de Abila não deixa de participar, pois, com o som das tubas dos mouros avança para a península Hispânica, que já fez parte do reino da Mauritânia. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que as tropas do mouro marcham para a guerra contra os cristãos na tentar recuperar as suas terras na península Hispânica.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Em pouco se ajuntam as tropas no monte Atlas, este que foi transformado em montanha pela Medusa; chegam tropas vindas de Ampelusa e de Tinge, que foi morada de Anteu; o morador de Abila não deixa de participar, pois, com o som das tubas dos mouros avança para a península Hispânica, que já fez parte do reino da Mauritânia.”
CANTO III – ESTROFE 78
“O capitão Vasco da Gama comenta que o exército mouro avança em Portugal, fazendo um cerco contra o príncipe Sancho na cidade de Santarém”
Entrava com toda esta companhia
O Mir-almuminim em Portugal;
Treze Reis mouros leva de valia,
Entre os quais tem o cetro imperial.
E assim fazendo quanto mal podia
O que em partes podia fazer mal,
Dom Sancho vai cercar Santarém;
Porém não lhe sucede muito bem.
“Entrava com toda esta companhia o Mir-almuminim em Portugal; treze Reis mouros leva de valia, entre os quais tem o cetro imperial. E assim fazendo quanto mal podia o que em partes podia fazer mal, Dom Sancho vai cercar Santarém; porém não lhe sucede muito bem (1).”
(1) Miramolim, imperador do Marrocos, avança com seu exército contra Portugal acompanhado de três valorosos reis mouros, entre os quais tem o cetro imperial. Avançava fazendo o quanto mais mal podia na região, além de um cerco em Santarém contra Dom Sancho, este que acaba muito ferido. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o exército dos mouros avança sobre as terras de Portugal, causando grande dano ao príncipe D. Sancho.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Miramolim, imperador do Marrocos, avança com seu exército contra Portugal acompanhado de três valorosos reis mouros, entre os quais tem o cetro imperial. Avançava fazendo o quanto mais mal podia na região, além de um cerco em Santarém contra Dom Sancho, este que acaba muito ferido.”
CANTO III – ESTROFE 79
“O capitão Vasco da Gama conta que, apesar de os esforços dos mouros, o príncipe Sancho resiste ao cerco em Santarém”
Dá-lhe combates ásperos, fazendo
Ardis de guerra mil, o Mouro iroso;
Não lhe aproveita já trabuco horrendo,
Mina secreta, aríete forçoso:
Porque o filho de Afonso, não perdendo
Nada do esforço e acordo generoso,
Tudo provê com ânimo e prudência;
Que em toda a parte há esforço e resistência.
“Dá-lhe combates ásperos, fazendo ardis de guerra mil, o Mouro iroso; não lhe aproveita já trabuco horrendo, mina secreta, aríete forçoso: porque o filho de Afonso, não perdendo nada do esforço e acordo generoso, tudo provê com ânimo e prudência; que em toda a parte há esforço e resistência. (1)”
(1) O irado Miramolim trava um combate áspero contra o príncipe d. Sanches, utilizando de milhares de táticas militares contra o português; utilizada o trabuco horrendo, a mina secreta e o forte aríete, mas nada surte efeito contra o filho de Afonso, que resiste com ânimo e prudência ao cerco, mostrando o esforço e resistência dos portugueses. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta o combate do príncipe d. Sancho no cerco feito por imperador Miramolim.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O irado Miramolim trava um combate áspero contra o príncipe d. Sanches, utilizando de milhares de táticas militares contra o português; utilizada o trabuco horrendo, a mina secreta e o forte aríete, mas nada surte efeito contra o filho de Afonso, que resiste com ânimo e prudência ao cerco, mostrando o esforço e resistência dos portugueses.”
CANTO III – ESTROFE 80
“O capitão Vasco da Gama conta que o rei Afonso Henriques, apesar de velho, vai para o combate para auxiliar seu filho no cerco de Santarém”
Mas o velho, a quem tinham já obrigado
Os trabalhosos anos ao sossego,
Estando na cidade cujo prado
Enverdecem as águas do Mondego,
Sabendo como o filho está cercado,
Em Santarém, do mauro povo cego,
Se parte diligente da cidade;
Que não perde a presteza co’a idade.
“Mas o velho, a quem tinham já obrigado os trabalhosos anos ao sossego, estando na cidade cujo prado enverdecem as águas do Mondego, sabendo como o filho está cercado, em Santarém, do mauro povo cego, se parte diligente da cidade; que não perde a presteza co’a idade. (1)”
(1) Mas o velho rei Afonso Henriques, apesar de já ter se afastado dos combates, estava na cidade de Coimbra, cujo prado enverdece as águas do Mondego, parte apressadamente para Santarém ao descobrir que o filho estava cercado pelos cegos mouros, mostrando que o monarca não perdeu a prontidão com a idade. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz o rei Afonso Henriques, mesmo estando muito velho, foi para Santarém auxiliar seu filho no cerco.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas o velho rei Afonso Henriques, apesar de já ter se afastado dos combates, estava na cidade de Coimbra, cujo prado enverdece as águas do Mondego, parte apressadamente para Santarém ao descobrir que o filho estava cercado pelos cegos mouros, mostrando que o monarca não perdeu a prontidão com a idade.”
CANTO III – ESTROFE 81
“O capitão Vasco da Gama conta que o rei Afonso Henriques e o príncipe Sancho vencem o cerco de Santarém”
E co’a gente à guerra usada,
Vai socorrer o filho; e assim ajuntados,
A portuguesa fúria costumada
Em breve os mouros tem desbaratados.
A campina, que toda está qualhada
De marlotas, capuzes variados,
De cavalos, jaezes, presa rica,
De seus senhores mortos cheia fica.
“E co’a gente à guerra usada, vai socorrer o filho; e assim ajuntados, a portuguesa fúria costumada em breve os mouros tem desbaratados. A campina, que toda está qualhada de marlotas, capuzes variados, de cavalos, jaezes, presa rica, de seus senhores mortos cheia fica. (1)”
(1) O rei Afonso Henriques, estando junto com a experiente e famosa tropa portuguesa, vai socorrer seu filho Sancho e, estando ambos juntos, destrói o exército dos mouros. Os campos de Santarém, que está cheia de marlotas, capuzes e arreios de cavalos, fica coberta com os corpos dos seus senhores. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta o rei Afonso Henriques se junta ao príncipe Sancho e quebra o cerco dos mouros em Santarém.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O rei Afonso Henriques, estando junto com a experiente e famosa tropa portuguesa, vai socorrer seu filho Sancho e, estando ambos juntos, destrói o exército dos mouros. Os campos de Santarém, que está cheia de marlotas, capuzes e arreios de cavalos, fica coberta com os corpos dos seus senhores.”
CANTO III – ESTROFE 82
“O capitão Vasco da Gama conta que o rei Afonso Henriques e o príncipe Sancho repelem o exército mouro das terras de Portugal”
Logo todo o restante se partiu
De Lusitânia, postos em fugida:
O Mir-almuminim só não fugiu
Porque antes de fugir lhe foge a vida.
A quem está vitória permitiu,
Dão louvores e graça sem medida:
Que em casos tão estranhos, claramente
Mais peleja o favor de Deus, que a gente.
“Logo todo o restante se partiu de Lusitânia, postos em fugida: o Mir-almuminim só não fugiu porque antes de fugir lhe foge a vida. A quem está vitória permitiu, dão louvores e graça sem medida: que em casos tão estranhos, claramente mais peleja o favor de Deus, que a gente. (1)”
(1) Logo todo o exército dos mouros deixou a Lusitânia em fuga, com exceção do imperador Miramolim, que perdeu a vida na batalha. Os portugueses louvam e agradecem imensamente a aqueles que conquistaram essa vitória, porque em casos tão extraordinários como esse, Deus claramente favorece mais os combatentes que o povo. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o exército mouro abandona o território lusitano derrotado, enquanto o povo português comemora à vitória.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Logo todo o exército dos mouros deixou a Lusitânia em fuga, com exceção do imperador Miramolim, que perdeu a vida na batalha. Os portugueses louvam e agradecem imensamente a aqueles que conquistaram essa vitória, porque em casos tão extraordinários como esse, Deus claramente favorece mais os combatentes que o povo.”
CANTO III – ESTROFE 83
“O capitão Vasco da Gama comenta que os dias do rei Afonso Henriques chegam ao fim, com o monarca falecendo de velhice”
De tamanhas vitórias triunfava
O velho Afonso, príncipe subido,
Quando quem tudo enfim vencendo andava
Da larga e muita idade foi vencido.
A pálida doença lhe tocava
Com fria mão o corpo enfraquecido;
E pagaram seus anos deste jeito
À triste Libitina seu direito.
“De tamanhas vitórias triunfava o velho Afonso, príncipe subido, quando quem tudo enfim vencendo andava da larga e muita idade foi vencido. A pálida doença lhe tocava com fria mão o corpo enfraquecido; e pagaram seus anos deste jeito à triste Libitina seu direito. (1)”
(1) O velho rei Afonso Henriques, enobrecido príncipe que teve tantas vitórias triunfantes, enfim veio a morrer por causa da longa idade. A pálida doença veio lhe tocar o seu corpo com a fria mão e, desta forma, seus anos pagaram os tributos à triste Libitina. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta que o rei Afonso Henriques, após anos de muitas batalhas vitoriosas, morreu de velhice. Libitina é a deusa romana da Morte.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O velho rei Afonso Henriques, enobrecido príncipe que teve tantas vitórias triunfantes, enfim veio a morrer por causa da longa idade. A pálida doença veio lhe tocar o seu corpo com a fria mão e, desta forma, seus anos pagaram os tributos à triste Libitina.”
CANTO III – ESTROFE 84
“O capitão Vasco da Gama comenta que Portugal chora com a morte do grande rei Afonso Henriques”
Os altos promontórios o choraram,
E dos rios as águas saudosas,
Com semeados campos alagaram
Com lágrimas correndo piedosas.
Mas tanto pelo mundo se alargaram
Com fama suas obras valerosas,
Que sempre no seu reino chamarão
“Afonso, Afonso” os ecos; mas em vão.
“Os altos promontórios o choraram, e dos rios as águas saudosas, com semeados campos alagaram com lágrimas correndo piedosas. Mas tanto pelo mundo se alargaram com fama suas obras valerosas, que sempre no seu reino chamarão “Afonso, Afonso” os ecos; mas em vão. (1)”
(1) Os montes choraram com a morte do rei Afonso Henriques, enquanto os rios, com suas águas saudosas, alagaram os campos semeados com lágrimas piedosas. Mas a obra monarca português ficaram conhecidas em todo o mundo que os ecos, em Portugal, sempre chamarão: “Afonso, Afonso”, mas em vão. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta como o reino ficou triste com a morte do rei Afonso Henriques.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Os montes choraram com a morte do rei Afonso Henriques, enquanto os rios, com suas águas saudosas, alagaram os campos semeados com lágrimas piedosas. Mas a obra monarca português ficaram conhecidas em todo o mundo que os ecos, em Portugal, sempre chamarão: “Afonso, Afonso”, mas em vão.”
CANTO III – ESTROFE 85
“O capitão Vasco da Gama conta que o príncipe Sancho assume o trono de Portugal”
Sancho, forte e mancebo, que ficara
Imitando seu pai na valentia,
E que em sua vida já s’ experimentara,
Quando o Bétis de sangue se tingia
E o bárbaro poder desbaratara
Do Ismaelita rei de Andaluzia;
E mais quando os que Beja em vão cercaram,
Os golpes de seu braço em si provaram,
“Sancho, forte e mancebo, que ficara imitando seu pai na valentia, e que em sua vida já s’ experimentara, quando o Bétis de sangue se tingia e o bárbaro poder desbaratara do Ismaelita rei de Andaluzia; e mais quando os que Beja em vão cercaram, os golpes de seu braço em si provaram (1)”
(1) O jovem e forte príncipe D. Sancho já se mostrou capaz ao replicar os feitos militares de seu pai, como quando tingia com o sangue dos bárbaros mouros o rio Guadalquivir e quando repeliu o cerco dos mouros em Beja. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta que o príncipe d. Sancho assumiria o trono do falecido rei Afonso Henriques [continua na próxima estrofe].
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O jovem e forte príncipe D. Sancho já se mostrou capaz ao replicar os feitos militares de seu pai, como quando tingia com o sangue dos bárbaros mouros o rio Guadalquivir e quando repeliu o cerco dos mouros em Beja.”
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a sexagésima nona até a octogésima quinta estrofe do terceiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta os últimos anos do reinado do rei Afonso Henriques até o dia de sua morte.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.