Neste nosso décimo primeiro comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos lendo o primeiro canto da obra, onde Camões canta os conselhos que Baco, estando disfarçado, passa ao regente de Moçambique para destruir os portugueses.

LUSÍADAS OS CONSELHOS DE BACO AO REGENTE DE MOÇAMBIQUE
Os conselhos de Baco ao regente de Moçambique

CANTO I – ESTROFE 78

“Baco manipula o regente de Moçambique, dizendo o quão perigosos são os lusíadas”

 

E entrando assim a falar-lhe, a tempo e horas

A sua falsidade acomodadas,

Lhe diz como eram gentes roubadoras

Estas, que ora de novo são chegadas;

Que das nações na costa moradoras

Correndo a fama veio que roubadas

Foram por estes homens que passavam,

Que com pactos de paz sempre ancoravam.

 

“E entrando assim a falar-lhe, a tempo e horas a sua falsidade acomodadas, lhe diz como eram gentes roubadoras estas, que ora de novo são chegadas (1); que das nações na costa moradoras correndo a fama veio que roubadas foram por estes homens que passavam, que com pactos de paz sempre ancoravam. (2)

(1) E estando disfarçado, Baco diz para o xeique que os portugueses que acabaram de chegar são ladrões. Camões canta que Baco, estando disfarçado, vai até o regente de Moçambique e acusa os lusíadas de serem todos ladrões.

(2) Que eles, fingindo serem amigos, adquiriram a fama de roubar as nações costeiras por onde passam. Camões canta que Baco, ao falar os lusíadas, os acusa de serem piratas que, se passando por amigos, pilham tudo por onde passam.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E entrando assim a falar ao xeique, usando sua falsidade, lhe diz que como os portugueses que acabaram de chegar eram todos ladrões; que corre a fama que estes homens, ancorando sua frota e dizendo que vem em paz, roubam as nações costeiras.”

CANTO I – ESTROFE 79

“Baco diz ao regente Moçambique que os lusíadas são cristãos sanguinários que vão roubar, matar e escravizar seu povo”

 

E sabe mais (lhe diz) como entendi

Tenho destes cristãos sanguinolentos,

Que quase todo o mar tem destruído

Com roubos, com incêndios violentos;

E trazem da de longe engano urdido

Contra nós; e que todos os seus intentos

São para não matarem e nos roubarem,

E mulheres e filhos cativarem

 

“E sabe mais (lhe diz) como entendi tenho destes cristãos sanguinolentos, que quase todo o mar tem destruído com roubos, com incêndios violentos (1); e trazem da de longe engano urdido contra nós; e que todos os seus intentos são para não matarem e nos roubarem, e mulheres e filhos cativarem. (2)

(1) E sabe mais – que tenho escutado sobre esses cristãos sanguinolentos, que quase todo o mar eles têm destruído com roubos e incêndio violentos. Camões canta que Baco, falando sobre os lusíadas ao regente de Moçambique, diz que eles são sanguinolentos que saqueiam quase todas as embarcações que encontram.

(2) E que trazem de longe uma traição planejada contra nós, sendo que sua intenção não é apenas roubar e nos matar, mas também escravizar nossas mulheres e crianças. Camões canta que Baco, continuando a falar dos lusíadas ao regente de Moçambique, agora os acusa de já ter planejado uma traição contra os povos das ilhas, sendo que o seu objetivo não é apenas roubar e matar, mas também escravizar.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E sabe mais o que tenho escutado sobre estes cristãos sanguinolentos, que quase todas embarcações que eles encontram no mar são logo saqueadas e queimadas; e que eles já planejam um golpe contra Moçambique, onde não vão apenas roubar e matar, como também escravizar nossas mulheres e filhos.”

CANTO I – ESTROFE 80

“Baco aconselha o regente de Moçambique a preparar uma emboscada contra os lusíadas”

 

E também sei que tem determinado

De vir por água a terra muito cedo

O capitão dos seus acompanhado,

Que da tenção danada nasce o medo.

Tu deves também ir c’os teus armado

Espera-lo em cilada, oculto e quedo;

Porque, saindo a gente descuidada,

Cairão facilmente na cilada.

 

“E também sei que tem determinado de vir por água a terra muito cedo o capitão dos seus acompanhado, que da tenção danada nasce o medo (1). Tu deves também ir c’os teus armado espera-lo em cilada, oculto e quedo; porque, saindo a gente descuidada, cairão facilmente na cilada. (2)

(1) E também sei que o capitão pretende vir acompanhado de seus homens à terra para buscar água, porque o medo nasce da intenção maligna. Camões canta que Baco, ainda falado dos lusíadas ao regente de Moçambique, diz que saber que o capitão Vasco da Gama pretende vir à terra firme buscar água para a sua frota, estando este com medo de ser atacado por ter intenções ruins.

(2) Você deve espera-los com seus homens armado e, oculto e quieto, pega-los em uma emboscada, porque estando eles descuidados, cairão facilmente na armadilha. Camões canta que Baco, tentando voltar o regente de Moçambique contra os lusíadas, diz que ele deve aproveitar essa oportunidade e pega-los em uma emboscada.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E também sei que o capitão dos lusíadas pretende vir à terra pegar água acompanhado de seus homens, estando ele com medo por causa de suas intenções ruins. Tu deves também ir com os seus homens armado e, oculto e quedo, espera-lo em uma cilada; porque, saindo eles descuidados, cairão facilmente em uma armadilha.”

CANTO I – ESTROFE 81

“Baco também aconselha o regente de Moçambique a mandar um piloto para sabotar a viagem dos lusíadas, não deixando eles chegarem ao Oriente”

 

“E se ainda não ficarem deste jeito

Destruídos, ou mortos totalmente,

Eu tenho imaginada no conceito

Outra manha e ardil, que te contente:

Manda-lhe dar piloto, que de jeito

Seja astuto no engano, e tão prudente,

Que os leve aonde sejam destruídos,

Desbaratados, mortos, ou perdidos”

 

“E se ainda não ficarem deste jeito destruídos, ou mortos totalmente, eu tenho imaginada no conceito outra manha e ardil, que te contente: (1) manda-lhe dar piloto, que de jeito seja astuto no engano, e tão prudente, que os leve aonde sejam destruídos, desbaratados, mortos, ou perdidos. (2)

(1) E se ainda não forem destruídos ou totalmente mortos, eu tenho na imaginação uma ardilosa manha que te contente. Camões canta que Baco, conversando com o regente de Moçambique, diz que, se a emboscada para matar o capitão Vasco da Gama não funcionar, ele ainda tem outro plano para acabar com os lusíadas.

(2) Mande um piloto que seja um bom mentiroso leva-los até um local que sejam destruídos, desbaratados, mortos ou perdidos. Camões canta que Baco, falando ao regente de Moçambique, sugere que, quando enviarem o piloto solicitado pelo capitão Vasco da Gama para guiar os lusíadas às terras da Índia, mandem um que os levem para a morte ou total perdição. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E se os lusíadas ainda não forem destruídos ou totalmente mortos, eu ainda tenho imaginado outro plano ardil que te satisfaça: Mandar um piloto que seja bom e mentir e os leve aonde sejam destruídos, desbaratados, mortos ou perdidos.”

CANTO I – ESTROFE 82

“Terminando de ouvir os conselhos de Baco, o regente de Moçambique começa os preparativos a armadilha que destruirá os lusíadas”

 

Tanto que estas palavras acabou,

O mouro, nos tais casos sábio e velho,

Os braços pelo colo lhe lançou,

Agradecendo muito o tal conselho;

E logo neste instante concertou

Para a guerra o belígero aparelho,

Para que o português se lhe tornasse

Em roxo sangue a água, que buscasse.

 

“Tanto que estas palavras acabou, o mouro, nos tais casos sábio e velho, os braços pelo colo lhe lançou, agradecendo muito o tal conselho (1); e logo neste instante concertou para a guerra o belígero aparelho, para que o português se lhe tornasse em roxo sangue a água, que buscasse. (2)

(1) Quando Baco concluiu os seus conselhos, o mouro, que nestas artimanhas já era sábio e velho, abraçou-o, agradecendo muito tais conselhos. Camões canta que, quando Baco terminou de falar, o regente de Moçambique, que já era muito experiente nestas artimanhas ardilosas, abraçou-o e agradeceu por dar conselhos para acabar com os lusíadas.

(2) E no mesmo instante começou os preparativos para sua armadilha, onde tornaria as águas que os lusíadas buscariam no dia seguinte em roxo sangue. Camões canta que o regente de Moçambique, após agradecer os conselhos de Baco, foi imediatamente atrás dos preparativos para a armadilha contra os lusíadas, já que eles iriam buscar água em terra firme para a frota no dia seguinte.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Quando Baco concluiu sua fala, o regente mouro, que em tais casas ardil já era sábio e velho, abraçou-o, agradecendo por seus conselhos; e no instante seguinte já estava realizando os preparativos para sua armadilha, onde tornaria em sangue roxo as águas que lusíadas viessem buscar.”

CANTO I – ESTROFE 83

“Caso a armadilha contra os lusíadas não seja suficiente, o regente de Moçambique também vaia traz de um piloto para sabotar a viagem deles ao Oriente.”

 

E busca mais, para o cuidado engano,

Mouro, que por piloto à nau lhe mande,

Sagaz, astuto, e sábio em todo o dano,

De quem fiar se possa um feito grande.

Diz-lhe que acompanhando o lusitano,

Por tais costas e mares por ele ande,

Que, se daqui escapar, que diante

Vá cair onde nunca se alevante.

 

“E busca mais, para o cuidado engano, mouro, que por piloto à nau lhe mande, sagaz, astuto, e sábio em todo o dano, de quem fiar se possa um feito grande. (1) Diz-lhe que acompanhando o lusitano, por tais costas e mares por ele ande, que, se daqui escapar, que diante vá cair onde nunca se alevante. (2)

(1) E além disso, busca para executar seu plano ardil um piloto mouro sagaz, astuto, e sábio, que possa confiar um grande feito. Camões canta que o regente de Moçambique, além de fazer os preparativos para a embocada contra os lusíadas, também busca um piloto mouro ardil para sabota-los no decorrer da viagem.

(2) Diz que o piloto acompanhara os lusíadas pelas costas e mares que passarem e, caso escapem da armadilha, ele os levara para um lugar que venham a naufragar. Camões canta que o regente de Moçambique, seguindo os conselhos de Baco, vai arrumar um piloto para, caso escapem da armadilha, os lusíadas naufragarem.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E também busca, para cuidar do seu outro plano, um piloto mouro sagaz, astuto e capaz de praticar uma má ação, que acompanhara os lusíadas pelas costas e mares que passarem e, escapando eles da emboscada, os levará para uma queda que nunca se alevantarão.”

 

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Esses foram os nossos comentários sobre a septuagésima oitava até a octogésima terceira estrofe do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta os conselhos que Baco, estando disfarçado, passa ao regente de Moçambique para destruir os portugueses.

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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