Neste nosso vigésimo segundo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o segundo canto da obra, onde Camões canta a partida dos portugueses de Mombaça e a chegada deles à Melinde.

OS LUSÍADAS A CHEGA DOS PORTUGUESES À MELINDE
A chegada dos portugueses à Melinde

CANTO II – ESTROFE 64

 

Isto Mercúrio disse, e o sono leva

Ao capitão, que com mui grande espanto,

Acorda, e vê ferida a escura treva

De uma súbita luz e raio santo,

E vendo claro quanto lhe revela

Não se deter na terra iníqua tanto,

Com novo espírito ao mestre seu mandava

Que as velas desse ao vento que assoprava.

 

“Isto Mercúrio disse, e o sono leva ao capitão, que com mui grande espanto, acorda, e vê ferida a escura treva de uma súbita luz e raio santo (1), e vendo claro quanto lhe revela não se deter na terra iníqua tanto, com novo espírito ao mestre seu mandava que as velas desse ao vento que assoprava (2).”

(1) Quando Mercúrio termina sua mensagem, onde disse que a frota portuguesa deveria partir de Mombaça e seguir navegando até chegar em Melinde, o capitão Vasco da Gama acorda de seus sonhos com um susto. Ao olhar para frente, vê uma súbita luz e um raio santo no meio do cômodo escuro.

(2) Ao ver esse clarão divino, percebe que o sonho foi um aviso e realmente não deveria continuar em Mombaça. Tomado por um grande ânimo, ele vai até o mestre da embarcação e manda que lê ventos as velas, para que assim a frota portuguesa voltasse a velejar.

 

“Tendo Mercúrio concluído sua mensagem, o capitão Vasco da Gama acorda de seu sonho e, vendo diante dele uma súbita luz e um raio santo no meio da escuridão, percebe, com uma nova inspiração, que não deve mais ficar nesta terra inimiga e manda o mestre do navio dar velas ao vento.”

CANTO II – ESTROFE 65

 

“Dai velas”, disse, “dai ao largo vento,

Que o Céu nos favorece e Deus o manda;

Que um mensageiro vi do claro Assento,

Que só em favor de nossos passos anda.”

Alevanta-se nisto o movimento

Dos marinheiros, de uma e de outra banda;

Levam gritando as âncoras acima,

Mostrando a ruda força, que se estima.

 

“Dai velas”, disse, “dai ao largo vento, que o Céu nos favorece e Deus o manda; que um mensageiro vi do claro Assento, que só em favor de nossos passos anda.” Alevanta-se nisto o movimento dos marinheiros, de uma e de outra banda; levam gritando as âncoras acima, mostrando a ruda força, que se estima.

(1) O capitão Vasco da Gama grita para seus marinheiros ordenando que deem velas ao vento para que a frota siga viagem. Diz que o Céu e Deus os favorecem, pois ele recebeu a visita de um mensageiro vindo da Morada Celeste (Claro Assento), mostrando assim que a viagem deles tem a benção de Deus.

(2) Ouvindo esse comando e essas palavras inspiradoras, os marinheiros portugueses começam a se mover de um lado para outro. Com muita força e gritando, eles erguem as âncoras das naus para que sigam viagem.

 

“Dai velas”, disse o inspirado capitão. “Dai velas ao largo vento, pois o Céu nos favorece sob as ordens Deus. Recebi a visita de um mensageiro dos céus, mostrando que Deus favorece nossa empreitada.” Nisto se movimentam os marinheiros portugueses de um lado e de outro, gritando e erguendo com muita força as âncoras.

CANTO II – ESTROFE 66

 

Neste tempo, que as âncoras levavam,

Na sombra escura os mouros escondidos

Mansamente as amarras lhe cortavam,

Por serem, dando à costa, destruídos;

Mas com vista de linces vigiavam

Os portugueses, sempre apercebidos.

Eles, como acordados os sentiram,

Voando, e não remando, lhe fugiram.

 

“Neste tempo, que as âncoras levavam, na sombra escura os mouros escondidos mansamente as amarras lhe cortavam, por serem, dando à costa, destruídos (1); mas com vista de linces vigiavam os portugueses, sempre apercebidos. Eles, como acordados os sentiram, voando, e não remando, lhe fugiram (2).”

(1) Enquanto os portugueses levantavam as âncoras e se preparavam para seguir viagem, os mouros de Mombaça tentavam um último ataque contra a frota lusitana. Vindo sorrateiramente pelas sombras, eles queriam cortas as cordas para destruir os navios.

(2) Mas acontece que os marinheiros portugueses, estando sempre atentos com seus olhos de linces, percebem a armadilha do inimigo. Vendo que mais esta emboscada foi descoberta, os mouros fogem com tanta pressa que mais pareciam estar voando do que remando.

 

“Enquanto os marinheiros portugueses erguiam as âncoras de suas naus, os mouros, que vinham escondidos nas sombras, tentavam cortas as amarradas das embarcações para afunda-las. Porém os portugueses, que sempre estavam em alerta, perceberam a sabotagem com seus olhos de linces, fazendo os mouros fugirem com tanta pressa que mais pareciam voar do que remar.”

CANTO II – ESTROFE 67

 

Mas já as agudas proas apartando

Iam as vias úmidas de argento;

Assopra-lhe galerno o vento, e brando,

Com suave e seguro movimento.

Nos perigos passados vão falando,

Que mal se perderão do pensamento

Os casos grandes, donde em tanto aperto

A vida em salvo escapa por acerto.

 

“Mas já as agudas proas apartando iam as vias úmidas de argento; assopra-lhe galerno o vento, e brando, com suave e seguro movimento (1). Nos perigos passados vão falando, que mal se perderão do pensamento os casos grandes, donde em tanto aperto a vida em salvo escapa por acerto (2).”

(1) As naus portuguesas iam atravessando os úmidos caminhos do mar prateado (argento) com um vento favorável que assoprava as velas com movimentos calmos e seguros.

(2) Enquanto navegavam, os portugueses comentam as dificuldades que eles tiveram que enfrentar desde a partida deles de Portugal

 

“As proas agudas dos navios portugueses iam cortando as águas do mar prateado enquanto o vento, que estava calmo e favorável, soprava as velhas com movimentos suaves e seguros. Os marinheiros falam sobre os perigos que já passaram, endo que estes, por terem deixado os portugueses em grandes apertos, dificilmente serão esquecidos”.

CANTO II – ESTROFE 68

 

Tinha uma volta dado o Sol ardente

E noutra começava, quando viram

Ao longe dous navios, bradamente

C’os ventos navegando, que respiram:

Porque haviam de ser da maura gente,

Para eles arribando, as velas viram:

Um, de temor do mal que arreceava,

Por se salvar a gente à costa dava.

 

“Tinha uma volta dado o Sol ardente e noutra começava, quando viram ao longe dous navios, bradamentec’os ventos navegando (1), que respiram: porque haviam de ser da maura gente, para eles arribando, as velas viram: um, de temor do mal que arreceava, por se salvar a gente à costa dava (2).”

(1) Um dia já tinha se passado, com o Sol ardente já tendo dado uma volta na Terra e começando outra, quando os portugueses avistaram dois navios distantes navegando tranquilamente.

(2) Como esses barcos provavelmente pertenciam aos mouros, os portugueses decidiram se aproximar, mas acabou que um deles fugiu com medo e foi em direção à costa para se salvar.

 

“Já tendo o Sol dado mais de uma volta quando, ao longe, os portugueses avistaram dois navios navegando. Por acreditar que fossem navios mouros, os portugueses foram na direção das embarcações, mas uma delas, temendo o encontrão, fugir rumo à costa para se salvar.”

CANTO II – ESTROFE 69

 

Não é outro que fica tão manhoso;

Mas nas mãos vai cair do lusitano,

Sem o rigor de Marte furioso,

E sem a fúria horrenda de Vulcano;

Da pouca gente o fraco peito humano,

Não teve resistência; e se a tivera,

Mais dano resistindo recebera.

 

“Não é outro que fica tão manhoso; mas nas mãos vai cair do lusitano, sem o rigor de Marte furioso, e sem a fúria horrenda de Vulcano (1); da pouca gente o fraco peito humano, não teve resistência; e se a tivera, mais dano resistindo recebera (2).”

(1) A outra embarcação não foi tão medrosa, tanto que ficou e caiu nas mãos dos portugueses, embora não precisou sentir a força guerreira portuguesa (rigor do furioso Marte¹) e nem a fúria das horrendas bombardas (fúria horrenda de Vulcano²).

(2) Os tripulantes desta solitária embarcação não resistem a prisão, já que, se tentassem, sofreriam muito nas mãos dos portugueses.

 

“A embarcação que ficou não foi tão medrosa, mas acabou caindo nas mãos dos portugueses, embora não tenha sofrido com o rigor do combate e a fúria das bombardas. Os poucos tripulantes não resistem, pois, se o fizessem, sofreriam um grande dano.”

 

¹Marte é o nome romano do deus da Guerra.

¹Vulcano é o nome romano do deus do fogo e dos artesãos e armeiros, sendo citado por Camões para representar o poder de fogo da artilharia das naus portuguesas.

CANTO II – ESTROFE 70

 

E como Gama muito desejasse,

Piloto para a Índia que buscava,

Cuidou que entre estes os mouros o tomasse;

Mas não lhe sucedeu como cuidava,

Que nenhum deles há que lhe ensinasse

A que parte dos céus a Índia estava;

Porém dizem-lhe todos, que tem perto

Melinde, onde achará piloto certo.

 

“E como Gama muito desejasse, piloto para a Índia que buscava, cuidou que entre estes os mouros o tomasse (1); mas não lhe sucedeu como cuidava, que nenhum deles há que lhe ensinasse a que parte dos céus a Índia estava; porém dizem-lhe todos, que tem perto Melinde, onde achará piloto certo (2).”

(1) Como Vasco da Gama deseja muito um piloto para guiar a frota portuguesa até o Oriente, tomou um dos tripulantes desta embarcação.

(2) Acontece que as coisas não saíram como o comandante português imaginava, já que nenhum deles conhecia o caminho para Oriente. Todos os mouros da embarcação disseram que os portugueses estavam próximos do reino de Melinde, um local onde certamente Vasco da Gama poderia achar tal piloto.

 

“O capitão Vasco da Gama, que desejava muito um piloto para leva-lo até as terras da Índia, tentou pegar um dos tripulantes capturados como guia-a, mas frustrou-se ao saber que nenhum conhecia tal caminho. A tripulação dos mouros diz que próximo estava Melinde, local onde o capitão poderia encontrar tal piloto.”

CANTO II – ESTROFE 71

 

Louvam do rei os mouros a bondade,

Condição liberal, sincero peito,

Magnificência grande e humanidade,

Com partes de grandíssimo respeito.

O capitão o assela por verdade,

Porque já lho dissera, deste jeito,

O Cileneu em sonhos; e partia

Para onde o sonho e o mouro lhe dizia.

 

“Louvam do rei os mouros a bondade, condição liberal, sincero peito, magnificência grande e humanidade, com partes de grandíssimo respeito (1). O capitão o assela por verdade, porque já lho dissera, deste jeito, o Cileneu em sonhos; e partia para onde o sonho e o mouro lhe dizia (2).”

(1) Ao comentarem sobre o Melinde, os tripulantes da embarcação louvam com muito respeito as qualidades do monarca da cidade, dizendo que ele é muito bondoso, generoso e benigno.  

(2) O capitão Vasco da Gama acaba confiando neste relato, já que se assemelha aos conselhos que Mercúrio (Cileneu) lhe deu em sonhos. Assim, o comandante português parte com sua frota para onde esses mouros e o seu sonho lhe diziam.

 

“Os mouros dizem que o rei de Melinde é um homem bondoso, generoso, sincero, benigno e de muitas outras qualidades. O capitão Vasco da Gama, acreditando nas afirmações, já que elas se assemelham com as falas dadas por Mercúrio em seu sonho, decide partir para Melinde.”

CANTO II – ESTROFE 72

 

Era no tempo alegre, quando entrava

No roubador de Europa a luz febeia,

Quando um e outro corno lhe aquentava,

E Flora derramava o de Amalteia:

A memória do dia renovava

O pressuroso sol, que o céu rodeia,

Em que Aquele, a quem tudo está sujeito,

O selo pôs a quanto tinha feito;

 

“Era no tempo alegre, quando entrava no roubador de Europa a luz febeia, quando um e outro corno lhe aquentava, e Flora derramava o de Amalteia (1): a memória do dia renovava o pressuroso sol, que o céu rodeia, em que Aquele, a quem tudo está sujeito, o selo pôs a quanto tinha feito (2);”

(1) Esse encontro com a embarcação e a partida para Melinde acontecia no alegre tempo da primavera, época que a luz do Sol (Febo) entra no signo de Touro (roubador da Europa¹), quando lhe aguentava um ou outro chifre, e quando Flora derramava o corno de Amalteia².

(2) Nesta época o Sol renovava nas memórias das pessoas a data de quando de Jesus Cristo, a aquele a quem tudo está sujeito, completou sua obra de redenção ao morrer e ressuscitar.

 

“Acontecia isso no alegre tempo da primavera, quando a luz de Febo entrava no signo de Touro – o roubador da Europa -, e quanto lhe aquentava um ou outro chifre, e quando Flora derramava o corno de Amalteia. Época que pressuroso sol renovava na memória o aniversário de quando Cristo, a quem tudo está sujeito, completou sua obra de redenção.”

 

¹Roubador da Europa é referência ao mito que diz que Júpiter raptou uma princesa e depois transformou-a na constelação de Touro;

²Touro é um dos signos do zodíaco, sendo o mês de abril. Flora é a deusa das flores e Amalteia, na mitologia, era uma princesa que possuía um chifre, donde se retiravam frutas, flores, riquezas e tudo o mais.

CANTO II – ESTROFE 73

 

Quando chega a frota àquela parte,

Onde o reino de Melinde já se via,

De toldos adornada, e leda de arte

Que bem mostra estimar o santo dia.

Treme a bandeira, voa o estandarte,

A cor purpúrea ao longe aparecia;

Soam os atombores e pandeiros,

E assi entravam ledos e guerreiros.

 

“Quando chega a frota àquela parte, onde o reino de Melinde já se via, de toldos adornada, e leda de arte que bem mostra estimar o santo dia (1). Treme a bandeira, voa o estandarte, a cor purpúrea ao longe aparecia; soam os atombores e pandeiros, eassi entravam ledos e guerreiros (2).”

(1) Quando chega naquela região, a frota portuguesa via Melinde adornada e alegre enquanto comemorava o santo dia da Páscoa.

(2) Na cidade, tremiam as bandeiras e voavam os estandartes, sendo possível ver as cores púrpuras de longe. Chegando ali, os portugueses vinham alegres e tocando os tambores e os pandeiros. 

 

“Quando chegava no reino de Melinde, a frota portuguesa via o lugar em tom festivo por causa da Páscoa. Tremiam as bandeiras, voam os estandartes, com a cor purpura sendo vista de longe. Soavam os tambores e pandeiros os alegres guerreiros portugueses.”

CANTO II – ESTROFE 74

 

Enche-se toda a praia melindana

Da gente que vem ver a leda armada,

Gente mais verdadeira, e mais humana,

Que toda a de outra terra atrás deixada.

Surge diante a frota lusitana.

Pega no fundo a âncora pesada;

Mandam fora um dos mouros que tomaram,

Por quem sua vinda ao rei manifestaram.

 

“Enche-se toda a praia melindana da gente que vem ver a leda armada, gente mais verdadeira, e mais humana, que toda a de outra terra atrás deixada (1). Surge diante a frota lusitana. Pega no fundo a âncora pesada; mandam fora um dos mouros que tomaram, por quem sua vinda ao rei manifestaram (2).”

(1) O povo de Melinde enche a praia para ver a alegre armada portuguesa, sendo que esta população africana é mais sincera e amigável do que os povos de Moçambique e Mombaça.

(2) Os portugueses lançam as pesadas âncoras das naus e mandam à terra um dos mouros que eles capturaram da embarcação, este que foi mandado ao monarca local para manifestar a chegada da frota portuguesa.

 

“A população de Melinde enche a praia para ver a alegre armada, sendo que esta população é mais sincera e amigável do que as outras por onde os portugueses passaram. A frota lusitana chega e já lança as pesadas âncoras, além de mandar um dos mouros que capturaram para manifestar a chegada ao rei.”

CANTO II – ESTROFE 75

 

O rei, que já sabia da nobreza

Que tanto os portugueses engrandece,

Tomarem seu porto tanto preza,

Quanto a gente fortíssima merece:

E com verdadeiro ânimo e pureza,

Que os peitos generosos enobrece,

Lhe manda rogar muito que saíssem,

Para que de seus reinos se servissem.

 

“O rei, que já sabia da nobreza que tanto os portugueses engrandece, tomarem seu porto tanto preza, quanto a gente fortíssima merece (1): e com verdadeiro ânimo e pureza, que os peitos generosos enobrece, lhe manda rogar muito que saíssem, para que de seus reinos se servissem (2).”

(1) Já sabendo sobre a nobreza do povo português, o rei de Melinde ficando honrado com a chegada deles ao porto de sua cidade.

(2) Com muita empolgação e sinceridade, fica enobrecido com a chegada deles e pede para que saíssem de suas naus e conhecessem (servissem) o seu reino.

 

“O rei de Melinde, que já sabia, por causa de Mercúrio, o quão nobres eram os portugueses, fica honrado por eles entrarem em seu porto. Com muita empolgação e sinceridade, pede para que desembarquem de suas naus e conheçam o seu reino.”

CANTO II – ESTROFE 76

 

São oferecimentos verdadeiros

E palavras sinceras, não dobradas,

As que o rei manda aos nobres cavaleiros,

Que tanto mar e terras têm passadas.

Manda-lhe mais lanígeros carneiros,

E galinhas domésticas cevadas,

Com as frutas, que então na terra havia;

E a vontade à dádiva excedia.

 

“São oferecimentos verdadeiros e palavras sinceras, não dobradas, as que o rei manda aos nobres cavaleiros, que tanto mar e terras têm passadas (1). Manda-lhe mais lanígeros carneiros, e galinhas domésticas cevadas, com as frutas, que então na terra havia; e a vontade à dádiva excedia (2).”

(1) As saudações que o rei de Melinde manda aos marinheiros portugueses são sinceras e suas palavras são verdadeiras, pois eles navegaram por muitas terras e mares até chegar ali.

(2) Os presenteia com carneiros, galinhas e frutas nativas de Melinde; com a bondade do monarca excedendo uma dádiva divina.

 

“As saudações do rei são verdadeiras, assim como são sinceras as suas palavras que ele manda aos nobres cavaleiros portugueses que passaram por tantos mares e terras. Manda também carneiros que produzem lã, galinhas domésticas gordas e frutas que haviam em Melinde, sendo que a boa vontade do rei excedia a dádiva.”

CANTO II – ESTROFE 77

 

Recebe o capitão alegremente

O mensageiro ledo e seu recado;

E logo manda ao rei outro presente,

Que de longe trazia aparelhado:

Escarlata purpúrea, cor ardente,

O ramoso coral, fino e prezado,

Que debaixo das águas mole cresce,

E como é fora delas se endurece. 

 

“Recebe o capitão alegremente o mensageiro ledo e seu recado; e logo manda ao rei outro presente, que de longe trazia aparelhado (1): escarlata purpúrea, cor ardente, o ramoso coral, fino e prezado, que debaixo das águas mole cresce, e como é fora delas se endurece (2).”

(1) Vasco da Gama recebe com alegria os presentes que mensageiro do monarca lhe trouxe nas naus e, em retribuição, lhe manda alguns bens que já trazia consigo:

(2) Tecido vermelho escarlate e belo coral que fica mole quando é colocado debaixo d’água, mas que logo endurece fura dela.

 

“O capitão Vasco da Gama, que recebeu alegremente o recado do alegre mensageiro de Melinde, retribui a hospitalidade enviando ao rei presentes que já trazia há muito tempo: um tecido vermelho escarlate de cor ardente e um ramoso coral, fino e prezado, que cresce mole debaixo d’água e endurece fora dela.”

CANTO II – ESTROFE 78

 

Manda mais um, na prática elegante,

Que c’o rei nobre as pazes concertasse,

E que de não sair naquele instante,

De suas naus em terra o desculpasse.

Partido assi o embaixador prestante,

Como na terra ao rei se apresentasse,

Como estilo de Palas lhe ensinava,

Estas palavras tais falando orava:

 

“Manda mais um, na prática elegante, que c’o rei nobre as pazes concertasse, e que de não sair naquele instante, de suas naus em terra o desculpasse (1). Partido assi o embaixador prestante, como na terra ao rei se apresentasse, como estilo de Palas lhe ensinava, estas palavras tais falando orava (2):”

(1) Vasco da Gama envia um mensageiro junto com os presentes, mensageiro este que seria um bom orador. Faz isso para que se desculpasse com o rei de Melinde, pois o comandante português não podia deixar sua embarcação naquele momento.

(2) Com os presentes, este embaixador parte das naus portuguesas para se apresentar ao rei. Usando as sábias palavras que dominava (estilo de Palas¹), assim disse [a mensagem começa na estrofe seguinte].

 

“O capitão Vasco da Gama envia um mensageiro, este um bom orador, para que o desculpasse por ele não sair de sua embarcação naquele momento. Parte assim o embaixador enviado para se apresentar ao rei com as palavras que aprendeu com Minerva, transmitindo a seguinte mensagem:

 

¹Palas Atena é um dos nomes de Minerva, deusa romana da sabedoria. Camões cita seu nome para se referir ao uso correto das correto e cordial das palavras que o emissário/embaixador português deveria utilizar ao se dirigir ao rei de Melinde.

 

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Esses foram os nossos comentários sobre a sexagésima quarta até a septuagésima oitava estrofe do segundo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a partida dos portugueses de Mombaça e a chegada deles à Melinde.

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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