Neste nosso vigésimo segundo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o segundo canto da obra, onde Camões canta a partida dos portugueses de Mombaça e a chegada deles à Melinde.

OS LUSÍADAS A CHEGA DOS PORTUGUESES À MELINDE
A chegada dos portugueses à Melinde

CANTO II – ESTROFE 64

“O capitão Vasco da Gama acorda após a visita de Mercúrio em seus sonhos e percebe que deve abandonar o porto Mombaça”

 

Isto Mercúrio disse, e o sono leva

Ao capitão, que com mui grande espanto,

Acorda, e vê ferida a escura treva

De uma súbita luz e raio santo,

E vendo claro quanto lhe revela

Não se deter na terra iníqua tanto,

Com novo espírito ao mestre seu mandava

Que as velas desse ao vento que assoprava.

 

“Isto Mercúrio disse, e o sono leva ao capitão, que com mui grande espanto, acorda, e vê ferida a escura treva de uma súbita luz e raio santo, e vendo claro quanto lhe revela não se deter na terra iníqua tanto, com novo espírito ao mestre seu mandava que as velas desse ao vento que assoprava. (1)

(1) Tendo Mercúrio concluído sua mensagem, o capitão acorda com espanto e, vendo diante dele uma súbita luz e um raio santo no meio da escuridão, percebe, com uma nova inspiração, que não deve mais ficar nesta terra iníqua, manda o mestre do navio dar velas ao vento. Camões canta que, quando Mercúrio termina de entregar a mensagem enviada por Júpiter, o capitão Vasco da Gama acorda e, vendo um rastro de luz que o deus deixou, percebe que não deve mais ficar em Mombaça e manda a frota seguir viagem.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Tendo Mercúrio concluído sua mensagem, o capitão Vasco da Gama acorda de seu sonho e, vendo diante dele uma súbita luz e um raio santo no meio da escuridão, percebe, com uma nova inspiração, que não deve mais ficar nesta terra inimiga e manda o mestre do navio dar velas ao vento”

CANTO II – ESTROFE 65

“O capitão Vasco da Gama manda seus marinheiros preparem as naus para partir de Mombaça”

 

“Dai velas”, disse, “dai ao largo vento,

Que o Céu nos favorece e Deus o manda;

Que um mensageiro vi do claro Assento,

Que só em favor de nossos passos anda.”

Alevanta-se nisto o movimento

Dos marinheiros, de uma e de outra banda;

Levam gritando as âncoras acima,

Mostrando a ruda força, que se estima.

 

“Dai velas”, disse, “dai ao largo vento, que o Céu nos favorece e Deus o manda; que um mensageiro vi do claro Assento, que só em favor de nossos passos anda.” Alevanta-se nisto o movimento dos marinheiros, de uma e de outra banda; levam gritando as âncoras acima, mostrando a ruda força, que se estima.

(1) Diz o capitão: “Dai velas ao largo vento que o Céu nos favorece e Deus o manda, pois um mensageiro da celeste moura em favor dos nossos passos anda”. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, estando inspirado pela mensagem de Mercúrio, grita aos seus homens para prepararem as naus para seguir viagem, pois eles estão favorecidos pelos céus.

(2) Nisto se movimentam os marinheiros portugueses de um lado e de outro, erguendo com muita força a âncoras enquanto gritam. Camões canta que os marinheiros erguem as âncoras que estavam abaixadas, preparando as nauas para deixar Mombaça e seguir viagem até Melinde.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Dai velas”, disse o inspirado capitão, “Dai ao largo que o Céu nos favorece e Deus o manda, pois um mensageiro da celeste moura em favor dos nossos passos anda.” Nisto se movimentam os marinheiros portugueses de um lado e de outro, erguendo com muita força a âncoras enquanto gritam.

CANTO II – ESTROFE 66

“Os mouros de Mombaça tentam destruir as naus dos portugueses”

 

Neste tempo, que as âncoras levavam,

Na sombra escura os mouros escondidos

Mansamente as amarras lhe cortavam,

Por serem, dando à costa, destruídos;

Mas com vista de linces vigiavam

Os portugueses, sempre apercebidos.

Eles, como acordados os sentiram,

Voando, e não remando, lhe fugiram.

 

“Neste tempo, que as âncoras levavam, na sombra escura os mouros escondidos mansamente as amarras lhe cortavam, por serem, dando à costa, destruídos; (1) mas com vista de linces vigiavam os portugueses, sempre apercebidos. Eles, como acordados os sentiram, voando, e não remando, lhe fugiram. (2)

(1) Enquanto os marinheiros portugueses levantavam as âncoras, os mouros que estavam escondidos nas sombras cortavam as amarras para destruir os navios. Camões canta que, enquanto os portugueses levantavam as âncoras dos navios, os mouros de Mombaça, que tinha sutilmente se aproximado, se preparavam para cortas as amarras das embarcações e assim destruir os navios dos lusíadas.

(2) Mas os portugueses, que estavam sempre em alerta com seus olhos de linces, perceberam a sabotagem dos mouros, estes que, ao notarem que foram descobertos, fugiram com tanta pressa que mais pareciam estar voando do que remando. Camões canta que os portugueses, que sempre estavam alerta, perceberam os mouros tentando sabota-los

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Neste tempo, enquanto os marinheiros portugueses erguiam as âncoras de suas naus, os mouros que vinham escondidos nas sombras tentavam cortas as amarradas das embarcações para afunda-las; porém os portugueses, que sempre estavam em alerta, perceberam a sabotagem com seus olhos de linces, fazendo os mouros fugirem com tanta pressa que mais pareciam voar do que remar.”

CANTO II – ESTROFE 67

“Enquanto velejam rumo à Melinde, os marinheiros portugueses relembram as dificuldades que passaram até agora”

 

Mas já as agudas proas apartando

Iam as vias úmidas de argento;

Assopra-lhe galerno o vento, e brando,

Com suave e seguro movimento.

Nos perigos passados vão falando,

Que mal se perderão do pensamento

Os casos grandes, donde em tanto aperto

A vida em salvo escapa por acerto.

 

“Mas já as agudas proas apartando iam as vias úmidas de argento; assopra-lhe galerno o vento, e brando, com suave e seguro movimento. (1) Nos perigos passados vão falando, que mal se perderão do pensamento os casos grandes, donde em tanto aperto a vida em salvo escapa por acerto. (2)

(1) Mas já as agudas proas dos navios iam atravessando os caminhos úmidos do mar prateado; o vento favorável e calmo assopra as velas com movimentos suaves e seguros. Camões canta que os navios dos portugueses iam atravessando as águas do mar rumo à Melinde.

(2) Os marinheiros portugueses vão falando perigos passados, sendo que mal se esqueceram das grandes situações que suas vidas passaram por grandes apertos. Camões canta que os portugueses, enquanto velejam, lembram-se das grandes dificuldades que já enfrentaram desde de sua partida das praias de Portugal até agora.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“As proas agudas dos navios portugueses iam cortando as águas do mar prateado enquanto o vento, que estava calmo e favorável, soprava as velhas com movimentos suaves e seguros. Os marinheiros falam sobre os perigos que já passaram, estes que, por terem deixado os portugueses em grandes apertos, dificilmente serão esquecidos”.

CANTO II – ESTROFE 68

“No caminho rumo à Melinde, os portugueses encontram barcos dos mouros navegando na costa africana”

 

Tinha uma voltada dado o Sol ardente

E noutra começava, quando viram

Ao longe dous navios, bradamente

C’os ventos navegando, que respiram:

Porque haviam de ser da maura gente,

Para eles arribando, as velas viram:

Um, de temor do mal que arreceava,

Por se salvar a gente à costa dava.

 

“Tinha uma voltada dado o Sol ardente e noutra começava, quando viram ao longe dous navios, bradamente c’os ventos navegando, que respiram: porque haviam de ser da maura gente, para eles arribando, as velas viram: um, de temor do mal que arreceava, por se salvar a gente à costa dava. (1)

(1) O sol ardente já tinha dado uma volta e, quando começava uma outra, os portugueses viram ao longe dois navios navegando suavemente. Como provavelmente eram dos mouros, os portugueses iam em direção a eles, mas um dos navios, temendo-os, foi em direção à costa, buscando se salvar. Camões canta que, já tendo se passado mais de um dia desde a partida de Mombaça, os navios portugueses encontraram duas navegações que, muito provavelmente, pertenciam aos mouros; ao ir em direção a estas embarcações, uma delas fugir para costa, temendo a aproximação da frota portuguesa.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Já tendo o sol dado mais de uma volta quando, ao longe, os portugueses avistaram dois navios navegando. Por acreditar que fossem navios mouros, por portugueses foram na direção das embarcações, mas uma delas, temendo o encontrão, fugir rumo à costa para se salvar.”

CANTO II – ESTROFE 69

“Os portugueses consegue capturar um dos navios mouros no caminho rumo à Melinde”

 

Não é outro que fica tão manhoso;

Mas nas mãos vai cair do lusitano,

Sem o rigor de Marte furioso,

E sem a fúria horrenda de Vulcano;

Da pouca gente o fraco peito humano,

Não teve resistência; e se a tivera,

Mais dano resistindo recebera.

 

“Não é outro que fica tão manhoso; mas nas mãos vai cair do lusitano, sem o rigor de Marte furioso, e sem a fúria horrenda de Vulcano; (1) da pouca gente o fraco peito humano, não teve resistência; e se a tivera, mais dano resistindo recebera. (2)

(1) A outra embarcação que fica não é tão medrosa, mas mesmo assim vai cair nas mãos dos portugueses, embora não vão sofrer o rigor do furioso Marte e a fúria horrenda de Vulcano. Camões canta que a embarcação que não fugir vai ficar em poder dos portugueses, embora não sofra com as durezas de combate ou os tiros das bombardas. Marte é o nome romano do deus da Guerra; Vulcano é o nome romano do deus do fogo e dos artesãos e armeiros.

(2) Os tripulantes da solitária embarcação não resistiram a prisão, pois, se o tivessem, sofreriam muito mais. Camões canta que a tripulação da embarcação que foi capturada não apresentou nenhuma resistência.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A embarcação que ficou não foi tão medrosa, mas vai cair nas mãos dos lusitanos, embora não sofreram com o rigor do combate e a fúria das bombardas. Os poucos tripulantes não resistem, pois, se o fizessem, sofreriam um grande dano.”

CANTO II – ESTROFE 70

“O capitão Vasco da Gama questiona os mouros capturados se eles sabem o caminho para as Índias”

 

E como Gama muito desejasse,

Piloto para a Índia que buscava,

Cuidou que entre estes os mouros o tomasse;

Mas não lhe sucedeu como cuidava,

Que nenhum deles há que lhe ensinasse

A que parte dos céus a Índia estava;

Porém dizem-lhe todos, que tem perto

Melinde, onde achará piloto certo.

 

“E como Gama muito desejasse, piloto para a Índia que buscava, cuidou que entre estes os mouros o tomasse; mas não lhe sucedeu como cuidava, que nenhum deles há que lhe ensinasse a que parte dos céus a Índia estava; porém dizem-lhe todos, que tem perto Melinde, onde achará piloto certo. (1)

(1) E como o capitão Vasco da Gama queria muito um piloto para guia-lo até a Índia, tentou pegar um dos tripulantes mouros como guia, porém nenhum deles conhecia o caminho; porém um dos mouros diz que próximo se encontra Melinde, onde é possível achar tal piloto. Camões canta que, ao capturar a embarcação, o capitão Vasco da Gama desejava que um dos tripulantes mouros lhe servisse como piloto até as terras da Índia, porém nenhum deles conhecia o caminho, embora dissessem que próximo dos portugueses estava a cidade de Melinde, onde tal piloto poderia ser encontrado.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O capitão Vasco da Gama, que desejava muito um piloto para leva-lo até as terras da Índia, tentou pegar um dos tripulantes capturados como guia-a, mas frustrou-se ao saber que nenhum conhecia tal caminho; um deles, no entanto, disse que próximo estava a cidade de Melinde, local onde o capitão poderia encontrar tal piloto.”

CANTO II – ESTROFE 71

“Os mouros capturados louvam o rei de Melinde”

 

Louvam do rei os mouros a bondade,

Condição liberal, sincero peito,

Magnificência grande e humanidade,

Com partes de grandíssimo respeito.

O capitão o assela por verdade,

Porque já lho dissera, deste jeito,

O Cileneu em sonhos; e partia

Para onde o sonho e o mouro lhe dizia.

 

“Louvam do rei os mouros a bondade, condição liberal, sincero peito, magnificência grande e humanidade, com partes de grandíssimo respeito. (1) O capitão o assela por verdade, porque já lho dissera, deste jeito, o Cileneu em sonhos; e partia para onde o sonho e o mouro lhe dizia.”

(1) Os mouros louvam a bondade, generosidade, sinceridade, a benignidade e mais qualidades de grandíssimo respeito do rei de Melinde. Camões canta que os mouros capturados pelo capitão Vasco da Gama, ao falar sobre o rei de Melinde, dizem que ele é um homem muito bondoso, generoso, sinceridade e muitas outras coisas.

(2) O capitão Vasco da Gama, acreditando que é verdade, já que Mercúrio disse as mesmas coisas em seus sonhos, parte para Melinde. Camões canta que o capitão Vasco da Gama parte para Melinde, já que acredita nas afirmações dos mouros porque são as mesmas coisas que Mercúrio disse enquanto dormia.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Os mouros dizem que o rei de Melinde é um homem bondoso, generoso, sincero, benigno, assim como muitas outras coisas. O capitão Vasco da Gama, acreditando nas afirmações, já que elas se assemelham com as falas dadas por Mercúrio em seu sonho, decide partir para Melinde.”

CANTO II – ESTROFE 72

“Os portugueses chegam em Melinde na primavera, durante a Páscoa”

 

Era no tempo alegre, quando entrava

No roubador de Europa a luz febeia,

Quando um e outro corno lhe aquentava,

E Flora derramava o de Amalteia:

A memória do dia renovava

O pressuroso sol, que o céu rodeia,

Em que Aquele, a quem tudo está sujeito,

O selo pôs a quanto tinha feito;

 

“Era no tempo alegre, quando entrava no roubador de Europa a luz febeia, quando um e outro corno lhe aquentava, e Flora derramava o de Amalteia: (1) a memória do dia renovava o pressuroso sol, que o céu rodeia, em que Aquele, a quem tudo está sujeito, o selo pôs a quanto tinha feito; (2)

(1) Acontecia isso no alegre tempo da primavera, quando a luz de Febo entrava no signo de Touro – o roubador da Europa -, e quanto lhe aquentava um ou outro chifre, e quando Flora derramava o corno de Amalteia. Camões canta que nessa época já começava a primavera, mais precisamente no mês de abril. Roubador da Europa é referência ao mito que diz que Júpiter raptou uma princesa e depois transformou-a na constelação de Touro; Febo é o nome romano do deus do Sol; Touro é um dos signos do zodíaco, sendo o mês de abril; Flora é a deusa das flores; Amalteia, na mitologia, era uma princesa que possuía um chifre, donde se retiravam frutas, flores, riquezas e tudo o mais.

(2) O pressuroso sol renovava na memória o aniversário de quando Cristo, a quem tudo está sujeito, completou sua obra de redenção. Camões canta que os portugueses chegaram em Melinde na Páscoa, época quando é celebrado a morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Acontecia isso no alegre tempo da primavera, quando a luz de Febo entrava no signo de Touro – o roubador da Europa -, e quanto lhe aquentava um ou outro chifre, e quando Flora derramava o corno de Amalteia: o pressuroso sol renovava na memória o aniversário de quando Cristo, a quem tudo está sujeito, completou sua obra de redenção.”

CANTO II – ESTROFE 73

“Os portugueses, ao se aproximarem de Melinde, veem o reino preparado para recebe-los”

 

Quando chega a frota àquela parte,

Onde o reino de Melinde já se via,

De toldos adornada, e leda de arte

Que bem mostra estimar o santo dia.

Treme a bandeira, voa o estandarte,

A cor purpúrea ao longe aparecia;

Soam os atombores e pandeiros,

E assi entravam ledos e guerreiros.

 

“Quando chega a frota àquela parte, onde o reino de Melinde já se via, de toldos adornada, e leda de arte que bem mostra estimar o santo dia. (1) Treme a bandeira, voa o estandarte, a cor purpúrea ao longe aparecia; soam os atombores e pandeiros, e assi entravam ledos e guerreiros. (2)

(1) Quando chegavam no reino de Melinde, a frota portuguesa via o lugar em tom festivo por causa do santo dia. Camões canta que, quando os portugueses chegaram em Melinde, avistaram adornos e artes da comemoração da Páscoa.

(2) Tremiam as bandeiras, voam os estandartes, com a cor purpura sendo vista de longe; soavam os tambores e pandeiros os alegres guerreiros portugueses. Camões canta que, conforme chegam com seus navios, portugueses, vendo as bandeiras e estandartes em Melindes, entravam alegres na cidade tocando tambores e pandeiros.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Quando chegavam no reino de Melinde, a frota portuguesa via o lugar em tom festivo por causa da Páscoa. Tremiam as bandeiras, voam os estandartes, com a cor purpura sendo vista de longe; soavam os tambores e pandeiros os alegres guerreiros portugueses.” 

CANTO II – ESTROFE 74

“O povo de Melinde fica empolgado com a chegada dos portugueses”

 

Enche-se toda a praia melindana

Da gente que vem ver a leda armada,

Gente mais verdadeira, e mais humana,

Que toda a de outra terra atrás deixada.

Surge diante a frota lusitana.

Pega no fundo a âncora pesada;

Mandam fora um dos mouros que tomaram,

Por quem sua vinda ao rei manifestaram.

 

“Enche-se toda a praia melindana da gente que vem ver a leda armada, gente mais verdadeira, e mais humana, que toda a de outra terra atrás deixada. (1) Surge diante a frota lusitana. Pega no fundo a âncora pesada; mandam fora um dos mouros que tomaram, por quem sua vinda ao rei manifestaram. (2)

(1) A população de Melinde enche a praia para ver a alegre armada, sendo que esta população é mais sincera e amigável do que as outras por onde os portugueses passaram. Camões canta que a população de Melinde, que é muito mais amigável e sincera do que os povos de Moçambique e Mombaça, lota as praias para ver a chegada da frota dos portugueses.

(2) A frota lusitana chega e já lança as pesadas âncoras, além de mandar um dos mouros que capturaram em Mombaça e por que manifestaram a sua vinda ao rei. Camões canta que os portugueses, confiantes com a sinceridade e recepção da população de Mombaça, atraca seus navios na cidade. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A população de Melinde enche a praia para ver a alegre armada, sendo que esta população é mais sincera e amigável do que as outras por onde os portugueses passaram. A frota lusitana chega e já lança as pesadas âncoras, além de mandar um dos mouros que capturaram em Mombaça e por que manifestaram a sua vinda ao rei.”

CANTO II – ESTROFE 75

“O rei de Melinde recebe os portugueses com alegria, convidando-os para entrarem na cidade”

 

O rei, que já sabia da nobreza

Que tanto os portugueses engrandece,

Tomarem seu porto tanto preza,

Quanto a gente fortíssima merece:

E com verdadeiro ânimo e pureza,

Que os peitos generosos enobrece,

Lhe manda rogar muito que saíssem,

Para que de seus reinos se servissem.

 

“O rei, que já sabia da nobreza que tanto os portugueses engrandece, tomarem seu porto tanto preza, quanto a gente fortíssima merece: e com verdadeiro ânimo e pureza, que os peitos generosos enobrece, lhe manda rogar muito que saíssem, para que de seus reinos se servissem.”

(1) O rei, já sabendo da nobreza que tanto engrandece os portugueses, fica honra por eles entrem em seu porto: e, com muita empolgação e sinceridade, que enobrece seu coração, manda que eles todos desembarguem, aproveitando o seu reino. Camões canta que o rei de Melinde, já sabendo quão nobres e grandes eram os marinheiros portugueses por causa da visitava feita por Mercúrio, fica honrado por eles entrarem no porto de sua cidade, pedindo para que todos desembarquem de seus navios e conheçam o seu reino.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O rei de Melinde, que já sabia, por causa de Mercúrio, o quão nobres eram os portugueses, fica honrado por eles entrarem em seu porto e, com muita empolgação e sinceridade, pede para que eles desembarquem de suas naus e conheçam o seu reino.”

CANTO II – ESTROFE 76

“O rei de Melinde oferece presentes aos portrugueses”

 

São oferecimentos verdadeiros

E palavras sinceras, não dobradas,

As que o rei manda aos nobres cavaleiros,

Que tanto mar e terras têm passadas.

Manda-lhe mais lanígeros carneiros,

E galinhas domésticas cevadas,

Com as frutas, que então na terra havia;

E a vontade à dádiva excedia.

 

“São oferecimentos verdadeiros e palavras sinceras, não dobradas, as que o rei manda aos nobres cavaleiros, que tanto mar e terras têm passadas. Manda-lhe mais lanígeros carneiros, e galinhas domésticas cevadas, com as frutas, que então na terra havia; e a vontade à dádiva excedia.”

(1) As saudações do rei são verdadeiras, assim como são sinceras as suas palavras que ele manda aos nobres cavaleiros portugueses que passaram por tantos mares e terras. Manda também carneiros que produzem lã, e galinhas domésticas gordas, e frutas que haviam em Melinde, sendo que a boa vontade do rei excedia a dádiva. Camões canta que os gestos do rei Melinde para com os portugueses eram verdadeiros e sinceros, assim como os presentes que ele os oferece.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“As saudações do rei são verdadeiras, assim como são sinceras as suas palavras que ele manda aos nobres cavaleiros portugueses que passaram por tantos mares e terras. Manda também carneiros que produzem lã, e galinhas domésticas gordas, e frutas que haviam em Melinde, sendo que a boa vontade do rei excedia a dádiva.”

CANTO II – ESTROFE 77

“O capitão Vasco da Gama recebe de um mensageiro os presentes do rei de Melinde e retribui enviando alguns bens valiosos que trazia”

 

Recebe o capitão alegremente

O mensageiro ledo e seu recado;

E logo manda ao rei outro presente,

Que de longe trazia aparelhado:

Escarlata purpúrea, cor ardente,

O ramoso coral, fino e prezado,

Que debaixo das águas mole cresce,

E como é fora delas se endurece. 

 

“Recebe o capitão alegremente o mensageiro ledo e seu recado; e logo manda ao rei outro presente, que de longe trazia aparelhado: escarlata purpúrea, cor ardente, o ramoso coral, fino e prezado, que debaixo das águas mole cresce, e como é fora delas se endurece. (1)” 

(1) O capitão recebe alegremente o recado do mensageiro de Melinde e retribua mandando ao rei presentes que já trazia consigo: um tecido vermelho escarlate e um fino e prezado coral, este que cresce mole debaixo das águas e se endurece fora delas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, querendo agradecer a recepção dada pelo rei de Melinde, manda ao monarca dois presentes que ele trazia em sua embarcação.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O capitão Vasco da Gama, que recebeu alegremente o recado do alegre mensageiro de Melinde, retribui a hospitalidade enviando ao rei presentes que já trazia há muito tempo: um tecido vermelho escarlate de cor ardente e um ramoso coral, fino e prezado, que cresce mole debaixo d’água e endurece fora dela.”

CANTO II – ESTROFE 78

“O capitão Vasco da Gama envia um embaixador para falar com o rei de Melinde”

 

Manda mais um, na prática elegante,

Que c’o rei nobre as pazes concertasse,

E que de não sair naquele instante,

De suas naus em terra o desculpasse.

Partido assi o embaixador prestante,

Como na terra ao rei se apresentasse,

Como estilo de Palas lhe ensinava,

Estas palavras tais falando orava:

 

“Manda mais um, na prática elegante, que c’o rei nobre as pazes concertasse, e que de não sair naquele instante, de suas naus em terra o desculpasse. Partido assi o embaixador prestante, como na terra ao rei se apresentasse, como estilo de Palas lhe ensinava, estas palavras tais falando orava:”

(1) O capitão envia também um mensageiro, este um bom orador, para que o desculpasse por não sair de sua embarcação naquele momento. Parte assim o embaixador enviado para se apresentar ao rei com as palavras que aprendeu com Minerva, dizendo a seguinte mensagem. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, não querendo sair de seu navio naquele momento, envia um mensageiro para se encontrar com o rei de Melinde e transmitir a seguinte mensagem. [a mensagem começa na estrofe seguinte]. Palas é um dos nomes de Minerva, deusa romana da sabedoria

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O capitão Vasco da Gama envia também um mensageiro, este um bom orador, para que o desculpasse por não sair de sua embarcação naquele momento. Parte assim o embaixador enviado para se apresentar ao rei com as palavras que aprendeu com Minerva, transmitindo a seguinte mensagem.

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Esses foram os nossos comentários sobre a sexagésima quarta até a septuagésima oitava estrofe do segundo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a partida dos portugueses de Mombaça e a chegada deles à Melinde.

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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