Neste nosso vigésimo terceiro comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o segundo canto da obra, onde Camões canta a visita do embaixador português ao rei de Melinde e conversa que os dois tiveram.

OS LUSÍADAS O EMBAIXADOR PORTUGUÊS E O REI DE MELINDE
O embaixador português e o rei de Melinde

 CANTO II – ESTROFE 79

“O embaixador enviado pelo capitão Vasco da Gama saúda o rei Melinde e pede para que ele ajude os portugueses em sua viagem”

 

“Sublime rei, a quem do Olimpo puro

Foi da suma Justiça concedido

Refrear o soberbo povo duro,

Não menos dele amado, que temido:

Como porto mui forte e mui seguro,

De todo o Oriente conhecido,

Te vimos a buscar, para que achemos

Em ti o remédio certo que queremos.

 

“Sublime rei, a quem do Olimpo puro foi da suma Justiça concedido refrear o soberbo povo duro, não menos dele amado, que temido: como porto mui forte e mui seguro, de todo o Oriente conhecido, te vimos a buscar, para que achemos em ti o remédio certo que queremos.”

(1) Sublime rei, a quem pelo puro Olimpo da Suma Justiça foi permitido governar o excelente povo, que dele é mais amado que temido: por ser Melinde conhecida como o porto mais forte e seguro de todo o Oriente, viemos a ti buscar o remédio certo que queremos. Camões canta que o mensageiro enviado pelo capitão Vasco da Gama, se dirigindo ao rei de Melinde, saúda-o por ser o monarca que governa um povo tão excelente e, como sua cidade é o porto mais seguro e protegido de todo o Oriente, também pede para que ele ajude os portugueses, fornecendo mantimentos e um piloto para os guiar até as terras da Índia.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Diz o mensageiro: Ó grandioso rei, a quem foi permitido pelo Puro Olimpo da Suma Justiça governar o excelente povo de Melinde, sendo que vós é mais amado por eles do que temido! Nós a ti pedimos, por ser seu porto conhecido como o mais forte e seguro de todo o Oriente, que ajude-nos com a ajuda que precisamos.”

CANTO II – ESTROFE 80

“Diz o embaixador que os portugueses não são piratas saqueadores, apenas navegantes que buscam chega às terras do Oriente”

 

“Nós não somos roubadores, que passando

Pelas fracas cidades descuidadas,

A ferro e fogo as gentes vão matando,

Por roubar-lhes as fazendas cobiçadas;

Mas da soberba Europa navegando,

Imos buscando as terras apartadas

Da Índia grande e rica, por mandando

De um rei que temos, alto e sublimado.

 

“Nós não somos roubadores, que passando pelas fracas cidades descuidadas, a ferro e fogo as gentes vão matando, por roubar-lhes as fazendas cobiçadas; mas da soberba Europa navegando, imos buscando as terras apartadas da Índia grande e rica, por mandando de um rei que temos, alto e sublimado.”

(1) Nós não somos piratas que, ao passarem pelas fracas cidades desprotegidas, matam sua população e saqueiam suas fazendas preciosas; somos navegantes da magnífica Europa que, a mandado de um grande e sublime rei, estão indo até as ricas e distantes terras da grande Índia. Camões canta que o mensageiro enviado pelo capitão Vasco da Gama, continuando a transmitir sua mensagem ao rei de Melinde, diz que portugueses não são piratas que pilham as cidades costeiras, mas sim navegadores que, vindos da Europa, buscam alcançar as terras da Índia.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Diz o mensageiro: Nós, majestade, não somos piratas que, ao se depararem com portos desprotegidos, vão matando as pessoas a ferro e fogo enquanto saqueiam seus preciosos bens; somos navegantes da magnífica Europa que buscam alcançar as ricas e distantes terras do grande Oriente sob as ordens do grande e sublime rei de Portugal.”

CANTO II – ESTROFE 81

“O embaixador lamenta que os portugueses foram atacados pelos mouros em Moçambique e em Mombaça”

 

“Que geração tão dura há aí de gente,

Que bárbaro costume e usança feia,

Que não vedem os portos tão somente,

Mas inda o hospício da deserta areia?

Que má tenção, que peito em nós se sente,

Que de tão pouca gente se arreceia?

Que com laços armados, tão fingidos,

Nos ordenassem ver-nos destruídos?

“Que geração tão dura há aí de gente, que bárbaro costume e usança feia, que não vedem os portos tão somente, mas inda o hospício da deserta areia? (1) Que má tenção, que peito em nós se sente, que de tão pouca gente se arreceia? Que com laços armados, tão fingidos, nos ordenassem ver-nos destruídos?”

(1) Que geração é está de gente tão dura como o povo de Moçambique e Mombaça que, com costume bárbaro, não apenas nos fecharam os portos, como também negarão nos hospedássemos nas areias das praias desertas? Camões canta que o mensageiro enviado pelo capitão Vasco da Gama, ao transmitir suas mensagens ao rei de Melinde, lamenta a terrível recepção que os mouros de Moçambique e Mombaça deram aos marinheiros portugueses, enquanto que, em Melinde, o povo e o seu rei são tão acolhedores.

(2) Que intenção maligna eles acham que carregamos em nossos corações para tratar a nós, tão poucos que somos, com tanto receio que até tentaram nos destruir com suas armas e armadilhas? Camões canta que o mensageiro, ainda lamentando, se questiona por qual motivo os mouros de Moçambique e Mombaça odiavam tanto os portugueses que até queriam mata-los, enquanto, por outro lado, o povo de Melinde os quer tão bem.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Lamenta-se o mensageiro: Que geração de gente são esses povos de Moçambique e Mombaça que, com tanta barbárie e crueldade, fecharam-nos seus portos, negando até a hospitalidade de suas desertas praias? Que intenção malignam eles acreditavam que tínhamos nós portugueses, tão poucos que somos, para quer destruir-nos com suas armadilhas?

CANTO II – ESTROFE 82

“O embaixador diz que o rei de Melinde, diferente dos mouros de Moçambique e Mombaça, é uma pessoa confiável”

 

“Mas tu, em quem mui certo confiamos

Achar-se mais verdade, ó rei benino,

E aquela certa ajuda em ti esperamos,

Que teve o perdido Ítaco em Alcino,

A teu porto seguro navegamos,

Conduzidos do intérprete divino;

Que, pois a ti nos manda, está mui claro,

Que és peito sincero, humano e raro. 

 

“Mas tu, em quem mui certo confiamos achar-se mais verdade, ó rei benino, e aquela certa ajuda em ti esperamos, que teve o perdido Ítaco em Alcino, a teu porto seguro navegamos, conduzidos do intérprete divino; que, pois a ti nos manda, está mui claro, que és peito sincero, humano e raro.”

(1) Mas tu, ó rei benigno, em que nós confiamos acha-se mais lealdade, sendo que em ti esperamos ajuda, assim como teve Ítaco em Alcino, pois ao teu porto seguro navegamos sob orientação do mensageiro dos deuses; uma vez que ele nos mandou, já está claro que você tem um coração sincero, humano e raro. Camões canta que o mensageiro enviado pelo capitão Vasco da Gama, transmitindo a mensagem ao rei de Melinde, diz que o monarca, ao contrário dos mouros de Moçambique e de Mombaça, é um rei bom e leal, tanto que eles esperam que ele ajude os portugueses, assim como Ulisses, rei de Ítaca, foi ajudado em Alcino. Ítaco é um dos nomes de Ulisses, rei grego de Ítaca, este que foi ajudado em Alcino quando naufragou em sua viagem retornando do cerco de Troia.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Mas tu, ó rei benigno, em que nós confiamos acha-se mais lealdade, sendo que em ti esperamos ajuda, assim como teve Ulisses em Alcino, pois ao teu porto seguro navegamos sob orientação de Mercúrio, o mensageiro dos deuses; uma vez que ele nos mandou, já está claro que você tem um coração sincero, humano e raro”

CANTO II – ESTROFE 83

“O embaixador explica porque o capitão Vasco da Gama não veio pessoalmente saudar o rei de Melinde”

 

“E não cuides, ó rei, que não saísse

O nosso capitão esclarecido

A ver-te, ou a servir-te, porque visse

Ou suspeitasse em ti peito fingido:

Mas saberás que o fez, porque cumprisse

O regimento, em tudo obedecido,

Do seu rei, que lhe manda não saia,

Deixando a frota, em nenhum porto ou praia.

 

“E não cuides, ó rei, que não saísse o nosso capitão esclarecido a ver-te, ou a servir-te, porque visse ou suspeitasse em ti peito fingido: mas saberás que o fez, porque cumprisse o regimento, em tudo obedecido, do seu rei, que lhe manda não saia, deixando a frota, em nenhum porto ou praia. (1)

(1) E não se ofenda, ó rei, ao ver que o nosso esclarecido capitão não sair da sua nau para ver-te e homenageá-lo, e também não pense que suspeita de vós; ele fica em seu navio para cumprir o regimento imposto pelo rei, que manda que ele não deixe sua frota para ir até algum porto ou praia. Camões canta que o mensageiro enviado pelo capitão Vasco da Gama, ainda transmitindo a mensagem ao rei de Melinde, pede para que monarca não fique ofendido pela ausência do capitão e que também não pense que ele suspeita dele, já que ele apenas está seguindo as normas deixas pelo rei de Portugal, estas que proíbem o capitão de deixar suas naus sem sua presença.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Pede o mensageiro: Por favor, ó rei, não se ofenda pela ausência do capitão Vasco da Gama diante de vós; ele não veio prestar-lhe homenagens por causa do protocolo, e não por te qualquer suspeita de ti. Conforme as normas impostas pelo rei de Portugal, o capitão fica proibido de se ausentar de suas naus para visitar qualquer porto ou praia.”

CANTO II – ESTROFE 84

“O embaixador concluído sua mensagem dizendo que os portugueses retribuirão a generosidade dada pelo rei de Melinde”

 

“E porque é de vassalos o exercício,

Que os membros têm regidos da cabeça,

Não quererás, pois tens de rei o ofício,

Que ninguém a seu rei desobedeça;

Mas as mercês e o grande benefício,

Que ora acha em ti, promete que conheça

Em tudo aquilo que ele e os seus puderem,

Enquanto os rios para o mar correrem.”

 

“E porque é de vassalos o exercício, que os membros têm regidos da cabeça, não quererás, pois tens de rei o ofício, que ninguém a seu rei desobedeça; (1) mas as mercês e o grande benefício, que ora acha em ti, promete que conheça em tudo aquilo que ele e os seus puderem, enquanto os rios para o mar correrem. (2)

(1) E, porque a função dos vassalos é semelhante a função membros do corpo tem com a cabeça, não quererás, já que também és rei, que a seu rei desobedeça. Camões canta que o mensageiro enviado pelo capitão Vasco da Gama, terminado de transmitir a mensagem ao rei de Melinde, diz que o capitão do navio, como é um vassalo do rei de Portugal, deve sempre o obedecer, assim como os membros do corpo obedecem a sua cabeça.

(2) Mas o capitão promete que ele e seus companheiros portugueses, enquanto os rios do mundo correrem para o mar, hão de agradecer todos as cortesias e favores que foram dados por ti. Camões canta que o mensageiro disse ao rei de Melinde que, apesar de não estar aqui, o capitão Vasco da Gama e os demais marinheiros vão retribuir a hospitalidade e ajuda dada pelo rei de Melinde.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Concluí o mensageiro: e, considerando que, assim como é função dos membros de um corpo obedecer a sua cabeça, é função dos vassalos obedecer ao seu reio; sendo que não quererás, como também és rei, que eles venham a descumprir as normas impostas pelo rei de Portugal. Mas garante o capitão Vasco da Gama, vossa majestade, que ele e seus marinheiros, enquanto no mundo as águas dos rios caírem no mar, hão de retribuir a generosa ajuda e hospitalidade dada por vós.”

CANTO II – ESTROFE 85

“O rei de Melinde e os demais mouros ficam impressionados com os marinheiros portugueses”

 

Assi dizia; e todos juntamente,

Uns com os outros em prática falando,

Louvaram muito o estâmago da gente,

Que tantos céus e mares vai passando.

E o rei ilustre, o peito obediente

Dos portugueses na alma imaginando,

Tinha por valor grande e mui subido

O do rei que é tão longe obedecido.

 

“Assi dizia; e todos juntamente, uns com os outros em prática falando, louvaram muito o estâmago da gente, que tantos céus e mares vai passando. E o rei ilustre, o peito obediente dos portugueses na alma imaginando, tinha por valor grande e mui subido o do rei que é tão longe obedecido.”

(1) Assim disse o embaixador, enquanto os que estavam ali conversam e louvavam muito a coragem dos portugueses por terem passado por tantos céus e mares, enquanto o ilustre rei, ao ver o coração obediente dos marinheiros lusitanos, fica admirado com o rei deles, já que, mesmo estando tão distante, ainda é obedecido por seus vassalos. Camões canta que, quando o mensageiro enviado pelo capitão Vasco da Gama termina de transmitir sua mensagem todos homens de Melinde ficam impressionados, louvando tanho esforço que eles dedicam à esta empreitada, enquanto o rei de Melinde impressionado ao ver que o rei de Portugal é obedecido por seus vassalos mesmo estando tão distante.

“Assim que o embaixador transmitiu sua mensagem, os que estavam ali conversam e louvavam o esforço dos portugueses por terem passado por tantos céus e mares, enquanto o ilustre rei de Melinde, ao ver quão obedientes são os marinheiros lusitanos, fica admirado com o rei de Portugal, já que, mesmo estando tão distante, ainda é obedecido por seus vassalos.”

CANTO II – ESTROFE 86

“O rei de Melinde responde alegremente o embaixador português, dizendo que eles não precisam teme-lo”

 

E com risonha vista e ledo aspeito,

Responde ao embaixador, que tanto estima:

“Toda a suspeita má tirai do peito,

Nenhum frio temor em vós se imprima;

Que vosso preço e obras são de jeito

Para vos ter o mundo em muita estima;

E quem voz fez molesto tratamento,

Não pode ter subido pensamento.

 

E com risonha vista e ledo aspeito, responde ao embaixador, que tanto estima: “Toda a suspeita má tirai do peito, nenhum frio temor em vós se imprima; que vosso preço e obras são de jeito para vos ter o mundo em muita estima; e quem voz fez molesto tratamento, não pode ter subido pensamento.”

(1) E com um sorriso no rosto e um aspecto alegre, o rei de Melinde responde ao embaixador portugueses, a quem tanto estima: “Acabe com toda a suspeita que tem em seu coração, não deixando que o frio medo o assuste, já que as vossas ações e feitos são muito estimados por nós; e os que os magoaram não tem pensamentos elevados. Camões canta que o rei de Melinde, após ouvir a mensagem do embaixador enviado pelo capitão Vasco da Gama, responde com alegria dizendo que os portugueses não precisam temer o povo de Melinde, pois eles têm muito apresso pelos seus feitos grandiosos, e que os mouros que os atacaram em anteriormente são pessoas de baixa envergadura.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E com um sorriso no rosto e um aspecto alegre, o rei de Melinde responde ao embaixador portugueses, a quem tanto estima: acabe com toda a suspeita que tem em seu coração e não deixe que o medo o assuste, já que aqui os vossas realizações são muito estimadas, sendo que que os atacaram não são pessoas elevadas.”

CANTO II – ESTROFE 87

“O rei de Melinde diz que está impressionado com a lealdade do capitão Vasco da Gama e de seus marinheiros tem com o rei de Portugal”

 

“De não sair em terra toda a gente,

Por observar a usada preminência,

Ainda que me pese estranhamente,

Em muito tenho a muita obediência;

Mas, se lho o regimento não consente,

Nem eu consentirei que a excelência

De peitos tão leais em si desfaça,

Só porque a meu desejo satisfaça.

 

“De não sair em terra toda a gente, por observar a usada preminência, ainda que me pese estranhamente, em muito tenho a muita obediência; mas, se lho o regimento não consente, nem eu consentirei que a excelência de peitos tão leais em si desfaça, só porque a meu desejo satisfaça. (1)

(1) Ainda que me incomode o capitão não sair de sua nau, já que escute essa saudação, tenho muita admiração pela obediência dos portugueses; então, já que o regimento deles não permite, não consentirei que o juramento de corações tão leias seja desfeito apenas pelo por um desejo meu. Camões canta que o rei de Melinde, falando sobre as normas que impedem o capitão Vasco da Gama de deixar suas naus, diz que, embora o incomode não ser visitado, ele admira tamanha obediência que os vassalos de Portugal têm com o seu rei, não querendo que eles quebrem seus protocolos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Diz o rei: “Ainda que me incomode a desfeito do capitão Vasco da Gama em não sair de suas naus para me ver, fico muito admirado pela obediência dos portugueses com o seu rei e, não querendo eu que ele desfaça um juramento tão leal, não será preciso que ele saia de sua nau para satisfazer os meus caprichos.”

CANTO II – ESTROFE 88

“O rei de Melinde concluí dizendo que, não podendo o capitão Vasco da Gama visita-lo, ele mesmo irá até frota para conhece-lo”

 

“Porém, como a luz crástina chegada

Ao mundo for, em minhas almadias

Eu irei visitar a forte armada,

Que ver tanto desejo, há tantos, dias;

E se vier do mar desbaratada,

Do furioso vento e de longas vias,

Aqui terá de limpos pensamentos,

Piloto, munição e mantimentos.”

 

“Porém, como a luz crástina chegada ao mundo for, em minhas almadias eu irei visitar a forte armada, que ver tanto desejo, há tantos, dias; e se vier do mar desbaratada, do furioso vento e de longas vias, aqui terá de limpos pensamentos, piloto, munição e mantimentos. (1)

(1) Porém, com a chegada da luz do dia de amanhã, eu irei visitar em minhas almadias a forte armada que há tantos dias desejo ver e, se estiver danificada pelo furioso vento e pelos longos caminhos que passou, aqui vocês encontrarão um piloto com pensamentos honestos, munição para seu arsenal e mantimentos para resto de sua viagem. Camões canta que o rei de Melinde, concluindo sua fala ao embaixador português enviado pelo capitão Vasco da Gama, diz que, como o capitão não pode visita-lo, ele mesmo iria até as naus portugueses para conhece-los, além de fornecer aos marinheiros lusitanos o piloto que tanto desejam, assim como provisões para o resto de sua viagem. Luz crástina é um termo que significa a luz do dia seguinte; almadia é um tipo de canoa feita de um tronco.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Concluí o rei: “Porém, como o capitão não pode me visitar, irei eu, com a chegada da luz crástina, visita-lo em minhas almadias e pôr os olhos na armada que há dias desejo ver. Além disso, caso suas naus estejam avarias pelos furiosos ventos e pelos longos caminhos que passaram, fornecerei o piloto para guia-los em sua viagem ao Oriente, assim como munições e mantimentos.”

CANTO II – ESTROFE 89

“O embaixador retorna até a frota contando os acontecimentos e enchendo o coração dos portugueses de alegria”

 

Isto disse; e nas águas se escondia

O filho de Latona; e o mensageiro,

C’o a embaixada alegre se partia

Para a frota, no seu batel ligeiro.

Enchem-se os peitos todos de alegria,

Por terem remédio verdadeiro

Para acharem a terra que buscavam;

E assi ledos a noite festejavam.

 

“Isto disse; e nas águas se escondia o filho de Latona; e o mensageiro, c’o a embaixada alegre se partia para a frota, no seu batel ligeiro. Enchem-se os peitos todos de alegria, por terem remédio verdadeiro para acharem a terra que buscavam; e assi ledos a noite festejavam.”

(1) Tendo o rei dito isso, Febo, filho de Latona, foi se esconder nas águas e o mensageiro português, em seu rápido bote, retornou alegremente com sua companhia para a frota. Agora que finalmente tinham o remédio verdadeiro para chegarem as terras que tanto buscam, todos portugueses ficaram com o coração cheios de alegria, passando a noite alegremente festejando. Camões canta que, concluído o encontro e a conversa com o rei de Melinde, anoitece e o embaixador português retorna para a frota, onde todos comemoram com alegria, já que finalmente conseguiram o piloto para leva-los até as terras do Oriente.  Febo, nome do romano do deus Sol, é filho de Latona.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Tendo o rei dito isso, Febo, filho de Latona, foi se esconder nas águas e o mensageiro português, em seu rápido bote, retornou alegremente com sua companhia para a frota. Agora que finalmente tinham o remédio verdadeiro para chegarem as terras que tanto buscam, todos portugueses ficaram com o coração cheios de alegria, passando a noite alegremente festejando.”

CANTO II – ESTROFE 90

“Os portugueses, agora que terão ajuda para chegar até à Índia, passam a noite comemorando”

 

Não faltam ali os raios de artifício,

Os trémulos cometas imitando;

Fazem os bombardeiros seu ofício,

O céu, a terra e as ondas atroando.

Mostra-se dos Ciclopas o exercício

Nas bombas de que de fogo estão queimando;

Outros com vozes, com que o céu feriam,

Instrumentos altíssonos tangiam.

 

“Não faltam ali os raios de artifício, os trémulos cometas imitando; fazem os bombardeiros seu ofício, o céu, a terra e as ondas atroando. Mostra-se dos Ciclopas o exercício nas bombas de que de fogo estão queimando; outros com vozes, com que o céu feriam, instrumentos altíssonos tangiam. (1)

(1) Na comemoração dos portugueses durante a noite não faltam raios de artifício que imitavam os trémulos cometas, os bombardeiros estremecendo o céu, a terra e as ondas. Nas bombas de fogo mostravam o exercício das Cíclopas enquanto os demais, com vozes que feriam o céu, tocam seus instrumentos barulhentos. Camões canta que os portugueses, comemorando a chegada à Melinde, festejam com muita intensidade durante à noite. Cíclopas, na mitologia, eram criaturas que, junto com Vulcano, forjavam os raios das tempestades.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Enquanto comemoram, os portugueses soltam raios de artifício que parecem cometas tremendo o céu. Os bombardeiros, cumprindo a sua função, estremecem o céu, a terra e as ondas com seus tiros. Queimam as bombas de fogo, mostrando o exercício das Cíclopas. E os demais tripulantes, gritando com suas vozes, fazem muito barulho enquanto tocam seus instrumentos.”

CANTO II – ESTROFE 91

“O povo de Melinde também comemora, soltando jogos de artifício”

 

Respondem-lhe da terra juntamente;

C’o raio volteando, com zumbido;

Anda em giros no ar a roda ardente,

Estoura o pó sulfúreo escondido.

A grita se alevanta ao céu, da gente;

O mar se via em fogos acendido,

E não menos a terra; e assi festeja

Um ao outro, à maneira de peleja.

 

“Respondem-lhe da terra juntamente; c’o raio volteando, com zumbido; anda em giros no ar a roda ardente, estoura o pó sulfúreo escondido. A grita se alevanta ao céu, da gente; o mar se via em fogos acendido, e não menos a terra; e assi festeja um ao outro, à maneira de peleja. (1)

(1) O povo de Melinde respondem da terra, soltando fogos que, zumbindo, andam girando no ar ardentemente e estoura um pó sulfúreo que estava escondido. A gritaria do povo era tão grande que chegava aos céus, enquanto via-se o mar e não menos a terra acendido. E assim festejam cada um. Camões canta que o povo de Melinde que estava em terra, ao verem os portugueses festejam em suas naus, também festejavam soltando fogos de artifício. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O povo de Melinde, em resposta às celebrações dos portugueses, festejam em terra, soltando fogos de artifício que giram e estouram ardentemente no ar. A gritaria alegre deles é tão alto que chega aos céus, com os fogos de ambos incendiando terra e mar;

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Esses foram os nossos comentários sobre a septuagésima nova até nonagésima primeira estrofe do segundo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a visita do embaixador português ao rei de Melinde e conversa que os dois tiveram.

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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