Neste nosso vigésimo quarto comentário sobre Os Lusíadas, terminaremos de ler o segundo canto da obra, onde Camões canta o encontro do rei de Melinde com o capitão Vasco da Gama e o desejo do monarca de conhecer mais sobre Portugal.

OS LUSÍADAS VASCO DA GAMA E O REI DE MELINDE
Vasco da Gama e o rei de Melinde

CANTO II – ESTROFE 92

“Com a chegada do amanhecer, o rei de Melinde embarca com sua comitiva para ir até às naus dos portugueses”

 

Mas já o céu inquieto revolvendo,

As gentes incitava a seu trabalho,

E, já a mãe de Menon a luz trazendo,

Ao sono longo punha certo atalho;

Iam-se as sombras lentas desfazendo,

Sobre as flores da terra em frio orvalho,

Quando o rei melindano se embarcava

A ver a frota, que no mar estava.

 

“Mas já o céu inquieto revolvendo, as gentes incitava a seu trabalho, e, já a mãe de Menon a luz trazendo, ao sono longo punha certo atalho; iam-se as sombras lentas desfazendo, sobre as flores da terra em frio orvalho, quando o rei melindano se embarcava a ver a frota, que no mar estava. (1)

(1) Mas o inquieto céu já voltava a aparecer, lembrando as pessoas que precisam trabalhar; Aurora, mãe de Menon, trazia a luz do dia, pondo um fim ao sono deles. As sombras da noite iam-se desfazendo em frio orvalho sobre as flores da terra, quando o rei de Melinde embarcava para ver a frota lusitana que estava no mar. Camões canta que, com fim das festividades noturnas, o céu do dia começava a aparecer sobre Melinde, com o amanhecer trazendo a luz do dia e o rei de Melinde, cumprido o que disse ao embaixador português no dia anterior, seguia em seus barcos para conhecer a frota portuguesa e o capitão Vasco da Gama. Mãe de Menon é Aurora, deusa do amanhecer.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Encerra-se a noite sobre Melinde, com o céu do dia voltando a aparecer e lembrando as pessoas que elas devem voltar ao trabalho; Aurora, mãe de Menon, mais uma vez trazia a luz que encerrava o sono; e, enquanto as sombras da noite se desfaziam em frio orvalho sobre as flores, o rei Melinde embarcava rumo as naus portuguesas, a fim de finalmente conhecer o capitão Vasco da Gama.”

CANTO II – ESTROFE 93

“Camões descreve as vestimentas do rei de Melinde e sua comitiva”

 

Viam-se em derredor ferver as praias,

Da gente, que a ver só concorre leda;

Luzem da fina púrpura as cabaias,

Lustram os panos da tecida seda;

Em lugar de guerreiras azagaias

E do arco, que os cornos arremeda

Da Lua, trazem ramos de palmeira,

Dos que vencem, coroa verdadeira.

 

“Viam-se em derredor ferver as praias, da gente, que a ver só concorre leda; luzem da fina púrpura as cabaias, lustram os panos da tecida seda; em lugar de guerreiras azagaias e do arco, que os cornos arremeda da Lua, trazem ramos de palmeira, dos que vencem, coroa verdadeira.”

(1) Em fervor ficam as pessoas na praia, vendo e correndo alegremente a embarcação do rei de Melinde; a comitiva vestia brilhantes cabaias púrpuras, assim como brilhantes os panos de seda; em vez de azagaias de guerra e arcos que arremedam os cornos da Lua, traziam ramos de palmeiras, que são as verdadeiras coroas dos vencedores. Camões canta que a população de Melinde estava alvoroçada a ver a comitiva do rei de Melinde ir até as naus portuguesas. Cabaia é um tipo de vestimenta usava pelos mouros; As ramas da palmeira simbolizavam a vitória em combate.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A população de Melinde estava fervorosa com a ida do rei até as naus portuguesas; a comitiva trajava finas cabaias púrpuras, com lustrosos tecidos de seda e, no lugar de azagaias e arcos, carregavam ramos de palmeiras, estes que simbolizavam a verdadeira coroa da vitória.” 

CANTO II – ESTROFE 94

“Camões continua descrevendo as vestimentas do rei de Melinde e de sua comitiva”

 

Um batel grande e largo, que toldado

Vinha de sedas de diversas cores,

Traz o rei de Melinde, acompanhado

De nobres de seu reino e de senhores:

Vem de ricos vestidos adornados,

Segundo seus costumes e primores;

Na cabeça uma fota guarnecida

De ouro, e de seda e de algodão tecida.

 

“Um batel grande e largo, que toldado vinha de sedas de diversas cores, traz o rei de Melinde, acompanhado de nobres de seu reino e de senhores: vem de ricos vestidos adornados, segundo seus costumes e primores; na cabeça uma fota guarnecida de ouro, e de seda e de algodão tecida. (1)

(1) Vindo numa grande e larga canoa coberta com sedas de cores variadas, o rei de Melinde, junto com sua comitida, que era composta de nobres e senhores de seu reino, trajava, assim como estava em seus costumes, ricos vestidos adornados e uma touca de ouro tecida em algodão e seda. Camões canta que a descrição das vestimentas da comitiva do rei de Melinde que estava indo até as naus dos portugueses. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Vindo em uma grande e larga canoa coberta com seda, o rei vinha acompanhado de nobres e senhores de Melinde, trajando ricos vestidos adornados e uma touca de ouro tecida de e seda e algodão, sendo ambos os trajes conforme diziam os costumes árabes.” 

CANTO II – ESTROFE 95

“Camões continua descrevendo as vestimentas do rei de Melinde e de sua comitiva”

 

Cabaia de Damasco rico e dino,

Da tíria cor, entre eles estimada;

Um colar ao pescoço, de ouro fino,

Onde a matéria da obra é superada;

C’um resplandor reluze adamantino,

Na cinta, a rica adaga bem lavrada;

Nas alparcas dos pés, em fim de tudo,

Cobrem ouro e aljôfar ao veludo.

 

“Cabaia de Damasco rico e dino, da tíria cor, entre eles estimada; um colar ao pescoço, de ouro fino, onde a matéria da obra é superada, c’um resplandor reluze adamantino; na cinta, a rica adaga bem lavrada; nas alparcas dos pés, em fim de tudo, cobrem ouro e aljôfar ao veludo. (1)

(1) O monarca também vestia uma cabaia digna de um rei, confeccionada na cor vermelha que, entre os mouros, é muita estimada; carregava um colar de ouro fino, cuja a obra superava em muito o valor de seus materiais; na sua cinta trazia uma adaga com escrituras, que reluzia os diamantes com esplender; nas sandálias, enfim, são cobertas de ouro e pérolas. Camões, continuando a descrição dos trajes que o rei de Melinde utiliza para ir visitar os portugueses em suas naus, canta que o monarca, da cabeça aos pés, trajava as mais finas e preciosas peças. Cabaia é um tipo de vestimenta utilizada pelos mouros; Tíria é como chamavam a cor vermelha, já que Tiro era uma cidade onde a tinta era fabricada; Aljôfar é uma pérola pequena.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O monarca também vestia uma cabaia digna de um rei, confeccionada na cor vermelha que, entre os mouros, é muita estimada; carregava um colar de ouro fino, cuja a obra superava em muito o valor de seus materiais; na sua cinta trazia uma adaga com escrituras, que reluzia os diamantes com esplender; nas sandálias, enfim, são cobertas de ouro e pérolas”

CANTO II – ESTROFE 96

“Camões descreve as canoas que o rei de Melinde e sua comitiva utilizavam para visitar as naus dos portugueses”

 

Com um redondo amparo alto de seda,

Numa alta e dourada hástia enxerido,

Um ministro à solar quentura veda,

Que não ofenda ou queime o rei subido.

Música traz a proa, estranha e leda,

De áspero som, horríssono ao ouvido,

De trompas arcadas em redondo,

Que, sem concerto, fazem rudo estrondo.

 

“Com um redondo amparo alto de seda, numa alta e dourada hástia enxerido, um ministro à solar quentura veda, que não ofenda ou queime o rei subido. Música traz a proa, estranha e leda, de áspero som, horríssono ao ouvido, de trompas arcadas em redondo, que, sem concerto, fazem rudo estrondo. (1)

(1) Na grande canoa, um dos ministros do rei vem segurando um redondo e alto amparo de seda numa alta e dourada haste, a fim de evitar que o sol queime o monarca. Na proa da embarcação é tocada uma estranha e alegre música, esta que era tocada por trombetas que produziam um som áspero, estridente e sem harmonia. Camões canta a descrição da canoa que o rei de Melinde utiliza para ir visitar os portugueses em suas naus.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Na grande canoa, um dos ministros do rei vem segurando um redondo e alto amparo de seda numa alta e dourada haste, a fim de evitar que o sol queime o monarca. Na proa da embarcação é tocada uma estranha e alegre música, esta que era tocada por trombetas que produziam um som áspero, estridente e sem harmonia.

CANTO II – ESTROFE 97

“O capitão Vasco da Gama embarca em uma canoa junto com uma comitiva para receber o rei de Melinde”

 

Não menos guarnecido o lusitano,

Nos seus batéis, da frota se partia,

A receber no mar o melindano,

Com lustrosa e honrada companhia.

Vestido o Gama vem ao modo hispano,

Mas francesa era a roupa que vestia,

De cetim de adriática Veneza

Carmesi, cor que a gente tanto preza.

 

“Não menos guarnecido o lusitano, nos seus batéis, da frota se partia, a receber no mar o melindano, com lustrosa e honrada companhia. Vestido o Gama vem ao modo hispano, mas francesa era a roupa que vestia, de cetim de adriática Veneza Carmesi, cor que a gente tanto preza. (1)

(1) O capitão lusitano estando acompanhado de uma honrada companhia e estando ornamentado quanto o monarca, vai em suas canoas a partir das naus para receber o rei de Melinde no mar. Apesar de se vestir de modo hispânico, Vasco da Gama utiliza roupas francesas feitas de cetim da adriática Veneza, estas que são vermelhas, a cor que eles tanto prezam. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, estando também muito bem trajado, saí de sua nau para receber, ainda no mar, o rei de Melinde e sua comitiva.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O capitão lusitano, acompanhado de uma honrada comitiva, parte com suas canoas para receber o rei de Melinde e sua comitiva ainda no mar. Não menos paramentado que o rei, Vasco da Gama se veste de modo hispânico, mas utiliza roupas francesas feitas de cetim de Veneza na cor vermelha, esta que é uma cor que eles muito prezam.”

CANTO II – ESTROFE 98

“Camões descreve as vestes do capitão Vasco da Gama e de sua comitiva”

 

De botões douro as mangas vêm tomadas,

Onde o sol reluzindo a vista cega;

As calças soldadescas recamadas

Do metal, que Fortuna a tantos nega;

E com pontas do mesmo modo delicadas

Os golpes do gibão ajunta e achega;

Ao itálico modo a áurea espada;

Pruma na gorra, um pouco declinada.

 

“De botões douro as mangas vêm tomadas, onde o sol reluzindo a vista cega; as calças soldadescas recamadas do metal, que Fortuna a tantos nega; e com pontas do mesmo modo delicadas os golpes do gibão ajunta e achega; ao itálico modo a áurea espada; pruma na gorra, um pouco declinada. (1)

(1) O capitão Vasco da Gama veste mangas tomadas de botões de ouro, onde a luz do sol, reluzindo, cega a todos; usa as calças de soldados de ouro, a quem a boa Fortuna a tantos nega; e, com fitas que também são de ouro, prende e junta o seu gibão; traz uma áurea espada em estilo itálico e pluma de gorra um pouco inclinada na cabeça. Camões canta a descrição das finas vestimentas que o capitão Vasco da Gama utiliza para o receber o rei de Melinde em suas naus.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O capitão Vasco da Gama veste mangas tomadas de botões de ouro, onde a luz do sol, reluzindo, cega a todos; usa as calças de soldados de ouro, a quem a boa Fortuna a tantos nega; e, com fitas que também são de ouro, prende e junta o seu gibão; traz uma áurea espada em estilo itálico e pluma de gorra um pouco inclinada na cabeça.”

CANTO II – ESTROFE 99

“Camões descrevendo as vestes do capitão Vasco da Gama e de sua comitiva”

 

Nos de companhia se mostrava

Da tinta, que da múrice excelente,

A vária cor, que dos olhos alegrava,

E a maneira do trajo diferente.

Tal o fermoso esmalte se notava

Dos vestidos, olhados juntamente,

Qual aparece o arco rutilante

Da bela ninfa, filha de Taumante.

 

“Nos de companhia se mostrava da tinta, que da múrice excelente, a vária cor, que dos olhos alegrava, e a maneira do trajo diferente. Tal o fermoso esmalte se notava dos vestidos, olhados juntamente, qual aparece o arco rutilante da bela ninfa, filha de Taumante. (1)

(1) Os membros da comitiva portuguesa utilizavam vários tons de púrpura, sendo está a cor que impressionava os olhos e as diferenças dos seus trajes. Uma variedade de cores era mostrada no conjunto de suas vestes, assim como aparece num arco-íris. Camões canta a descrição dos trajes utilizados pela comitiva do capitão Vasco da Gama que está indo receber o rei de Melinde. Múrice é uma concha que se extrai o pigmento púrpuro. Íris, filha de Taumante, é quem da o nome arco-íris.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A comitiva que acompanha o capitão Vasco da Gama utilizava vários tons de púrpura, diferenciando seus trajes com a cor que alegrava os olhos. Seus trajes, ao serem vistos em conjunto, mostravam uma variedade de cores, assim como o arco de Íris, filha de Taumante.”

CANTO II – ESTROFE 100

“Com a chegada do rei de Melinde e de sua comitiva, os portugueses tocam suas trombetas e disparam suas bombardas”

 

Sonorosas trombetas incitavam

Os ânimos alegres, ressoando;

Dos mouros os batéis o mar coalhavam,

Os toldos pelas águas arrojando;

As bombardas horríssonas bramavam,

Com as nuvens de fumo ao sol tomando;

Amiúdam-se os brados acendidos,

Tapam com as mãos os mouros os ouvidos.

 

“Sonorosas trombetas incitavam os ânimos alegres, ressoando; dos mouros os batéis o mar coalhavam, os toldos pelas águas arrojando; as bombardas horríssonas bramavam, com as nuvens de fumo ao sol tomando; amiúdam-se os brados acendidos, tapam com as mãos os mouros os ouvidos. (1)

(1) A trombetas dos portugueses ressoavam, incitando os ânimos alegres; as canoas dos mouros sacudiam o mar, jogando águas nos toldos; as barulhentas bombardas atiravam, espalhando nuvens de fumo contra o sol, enquanto os mouros tapam seus ouvidos com as mãos. Camões canta que os portugueses recebiam o rei de Melinde e sua comitiva com alegria, dando tiros com suas barulhentas bombardas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A trombetas dos portugueses ressoavam, incitando os ânimos alegres; as canoas dos mouros sacudiam o mar, jogando águas nos toldos; as barulhentas bombardas atiravam, espalhando nuvens de fumo contra o sol, obrigando os mouros a taparem seus ouvidos com as mãos.”

CANTO II – ESTROFE 101

“O capitão Vasco da Gama se encontra com o rei de Melinde e ambos se cumprimentam”

 

Já no batel entrou do capitão

O rei, que nos seus braços levava;

Ele c’a cortesia, que a razão

(Por ser rei) requeria, lhe falava.

C’umas mostras de espanto e admiração,

O mouro o gesto e modo lhe notava,

Como quem em mui grande estima tinha

Gente que de tão longe à Índia vinha.

 

“Já no batel entrou do capitão o rei, que nos seus braços levava; ele c’a cortesia, que a razão (Por ser rei) requeria, lhe falava. C’umas mostras de espanto e admiração, o mouro o gesto e modo lhe notava, como quem em mui grande estima tinha gente que de tão longe à Índia vinha.”

(1) O rei entrou na canoa do capitão, abraçando o português e, com a cortesia que era esperada de um monarca, falava com ele; com muito espanto e admiração, o mouro observava seu gesto e porte, mostrando uma grande estima pelo povo português, que vem de tão longe, querer chegar as terras da Índia. Camões canta que a chegada do rei Melinde à canoa do capitão Vasco da Gama.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O rei entrou na canoa do capitão Vasco da Gama, abraçando o português e, com a cortesia que era esperada de um monarca, falava com ele; com muito espanto e admiração, o mouro observava seu gesto e porte, mostrando uma grande estima pelo povo português, que vem de tão longe, querer chegar as terras da Índia.”

CANTO II – ESTROFE 102

“O rei de Melinde promote ajudar a frota portuguesa com quaisquer coisas que eles precisarem”

 

E com grandes palavras lhe oferece

Tudo o que de seus reinos lhe cumprisse,

E que, se mantimentos lhe falece,

Como se próprio fosse, lhe pedisse.

Diz-lhe mais, que por fama bem conhece

A gente lusitana; sem que a visse,

Que já ouviu dizer, que noutra terra

Com gente de sua lei tivesse guerra.

 

“E com grandes palavras lhe oferece tudo o que de seus reinos lhe cumprisse, e que, se mantimentos lhe falece, como se próprio fosse, lhe pedisse. (1) Diz-lhe mais, que por fama bem conhece a gente lusitana; sem que a visse, que já ouviu dizer, que noutra terra com gente de sua lei tivesse guerra. (2)

(1) O rei de Melinde, falando com muita generosidade, oferece tudo o que seu reino pudesse oferecer e que, se os portugueses precisarem de mantimentos para seus navios, que peçam como se fossem seus. Camões canta que o rei de Melinde, conversando com o capitão Vasco da Gama, mostra muita generosidade, oferendo quaisquer recursos para auxiliar os portugueses em sua viagem.  

(2) E ainda diz que já ouviu falar do famoso nome do povo lusitano por causa das guerras que eles travam com outros povos de sua religião, embora, até o momento, ele nunca os tivesse visto. Camões canta que o rei de Melinde diz ao capitão Vasco da Gama que, embora nunca tivesse visto um português, já ouvi falar dele, uma vez que são famosos por causa de suas guerras contra os muçulmanos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Mostrando toda a sua generosidade, o rei de Melinde diz que os recursos do seu reino estão à disposição dos portugueses e, se precisarem de mantimentos, que peçam como se fosse deles. Além disso, menciona que, embora não os tenha conhecido até agora, o rei já ouviu falar do famoso povo lusitano, uma vez que eles já guerrearam contra outros membros da sua religião.” 

CANTO II – ESTROFE 103

“O rei de Melinde diz os grandes feitos dos portugueses são conhecidos por toda África”

 

E como por toda África se soa,

Lhe diz, os grandes feitos que fizeram,

Quando nela ganharam a coroa

Do reino, onde as Hespéridas viveram;

E com muitas palavras apregoa

O menos que os de Luso mereceram,

E o mais que pela fama o rei sabia.

Mas desta sorte o Gama respondia:

 

“E como por toda África se soa, lhe diz, os grandes feitos que fizeram, quando nela ganharam a coroa do reino, onde as Hespéridas viveram; (1) e com muitas palavras apregoa o menos que os de Luso mereceram, e o mais que pela fama o rei sabia. Mas desta sorte o Gama respondia. (2)

(1) E continua dizendo o rei que percorre por toda a África os grandes feitos dos portugueses, como quando ganharam venceram o reino da Mauritánia, país que vivem as Hespéridas. Camões canta que o rei de Melinde, falando com o capitão Vasco da Gama, diz que os portugueses são famosos nas terras africanas por causa dos seus grandes feitos, vide a quando eles conquistaram a Mauritânia. Hespéridas são, na mitologia, filhas de Héspero, rei que tinha como território a região da Mauritânia.

(2) E o rei louva menos o que eles merecem e mais do que ele sabia, até que o capitão Vasco da Gama responde. Camões canta que o rei de Melinde elogia as façanhas dos portugueses, embora essa sejam as de menor importância, sendo que o capitão Vasco da Gama lhe responde.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E diz o rei que os portugueses são conhecidos em toda à África por causa de seus grandes feitos, vide quando eles conquistaram a coroa do reino Mauritano, onde viveram as Hespéridas. E assim o rei elogia os feitos lusitanos, embora esses sejam os menos importantes. Mas lhe responde o capitão Vasco da Gama”

CANTO II – ESTROFE 104

“O capitão Vasco da Gama agradece o rei de Melinde por sua hospitalidade e generosidade”

 

“Ó tu, que só tiveste piedade,

Rei benigno, da gente lusitana,

Que com tanta miséria e adversidade

Dos mares experimenta a fúria insana;

Aquela alta e divina Eternidade,

Que o Céu resolve e rege a gente humana,

Pois que ti tais obras recebemos,

Te pague o que nós outros não podemos.

 

“Ó tu, que só tiveste piedade, rei benigno, da gente lusitana, que com tanta miséria e adversidade dos mares experimenta a fúria insana; aquela alta e divina Eternidade, que o Céu resolve e rege a gente humana, pois que ti tais obras recebemos, te pague o que nós outros não podemos.”

(1) Diz o capitão: Ó tu, bondoso rei, o único que teve piedade desta gente lusitana que até agora só tem experimentado miséria e adversidades navegando nestes mares furiosos; como nós recebemos de ti tão boas obras, rogamos à alta e divina Eternidade, esta que faz o céu girar e governa a gente humana, para que te pague o que nós não podemos. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, respondendo aos elogios do rei de Melinde, diz que o monarca foi único que ajudou os portugueses em sua sofrida jornada rumo ao Oriente e pede aos céus que recompensem o monarca mouro, uma vez que eles agora não conseguem.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Ó tu, bondoso rei, o único que teve piedade desta gente lusitana que até agora só tem sofrido misérias e adversidades navegando nestes mares furiosos; como nós recebemos de ti tão boas obras, rogamos à alta e divina Eternidade, esta que faz o céu girar e governa a gente humana, para que te pague o que nós agora não podemos.”

CANTO II – ESTROFE 105

“O capitão Vasco da Gama continua agradecendo o rei de Melinde por sua hospitalidade e generosidade”

 

 

“Tu, só de todos quanto queima Apolo,

Nos recebes em paz, do mar profundo;

Em ti dos ventos hórridos de Eolo

Refúgio achamos bom, fido e jocundo.

Enquanto apascentar o largo Polo

As estrelas, e o sol der lume ao mundo,

Onde quer que eu viver, com fama e glória

Viverão teus louvores em memória.”

 

“Tu, só de todos quanto queima Apolo, nos recebes em paz, do mar profundo; em ti dos ventos hórridos de Eolo refúgio achamos bom, fido e jocundo. (1) Enquanto apascentar o largo Polo as estrelas, e o sol der lume ao mundo, onde quer que eu viver, com fama e glória viverão teus louvores em memória. (2)

(1) De todos os mouros, povo queimado por Apolo, somente tu nos recebeste em paz, assim como é tranquilo o fundo do mar, e em ti achamos um abrigo bom, fiel e agradável que nos protege dos horríveis ventos de Eolo. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, falando com o rei de Melinde, agradece o monarca por recebe-los, sendo ele o único dentre os mouros que os recebeu em paz. Todos queimados por Apolo é uma referência ao mito que diz que Apolo, deus do Sol, teria queimado as terras africanas e, por isso, sua população é negra; Eolo é o deus dos ventos e das tempestades.

(2) Enquanto o céu mostrar as estrelas e o sol iluminar o mundo, eu, estando vivo, louvarei a ti em minha memória. Camões canta que o capitão Vasco da Gama diz que enquanto ele estiver vivo, sempre louvara o rei de Melinde por sua bondade e generosidade.    

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Tu, bom rei, foi único dentre todos os mouros queimados pelo fogo de Apolo que nos recebeu em paz, dando-nos um refúgio seguro e confiável contra os horríveis ventos e tempestades. Digo que, enquanto o grande céu mostrar suas estrelas e o sol iluminar à terra com seus raios, eu o louvarei por sua bondade e generosidade.”

CANTO II – ESTROFE 106

“As canoas do capitão Vasco da Gama e do rei de Melinde seguem até as naus portuguesas”

 

Isto dizendo, os barcos vão remando

Para a frota, que o mouro ver deseja;

Vão as naus uma e uma rodeando,

Porque de todas tudo note e veja.

Mas para o céu Vulcano fuzilando,

A frota c’o as bombardas o festeja,

E as trombetas canoras lhe tangiam;

C’os anafis os mouros respondiam.

 

“Isto dizendo, os barcos vão remando para a frota, que o mouro ver deseja; vão as naus uma e uma rodeando, porque de todas tudo note e veja. Mas para o céu Vulcano fuzilando, a frota c’o as bombardas o festeja, e as trombetas canoras lhe tangiam; c’os anafis os mouros respondiam. (1)

(1) Tento dito isto, o capitão Vasco da Gama rema as canoas do rei de Melinde em direção a frota, a fim de mostrar os barcos que ele tanto deseja ver; uma a uma eles vão rodeando, para que assim o monarca veja e note tudo. A frota festeja a chegada, fuzilando o seu com suas bombardas e tocando suas trombetas e os mouros, em resposta, sofram seus anafis. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, terminando de cumprimentar o rei de Melinde, rema com as canoas e suas comitivas rumo às naus portuguesas, mostrando as embarcações para o rei mouro. A tripulação celebra a chegada do rei com trombetas e tiros de bombarda. Anafil é um tipo de trombeta.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Concluídas as apresentações, as canoas seguem para as naus portuguesas que o rei de Melinde desejava tanto conhecer, sendo que eles contornam uma a uma para que o monarca visse tudo. A frota lusitana celebrada a sua chegada, disparando com suas bombardas e tocando suas trombetas enquanto os mouros, em resposta, sopram o seus anafis.” 

CANTO II – ESTROFE 107

“O rei de Melinde fica impressionado com a frota lusitana”

 

Mas depois de ser tudo já notado

Do generoso mouro, que pasmava,

Ouvindo o instrumento inusitado,

Que tamanho terror em si mostrava,

Mandava estar quieto e ancorado

Nágua o batel ligeiro que os levava,

Por falar de vagar c’o forte Gama

Nas cousas de que tem notícia e fama.

 

“Mas depois de ser tudo já notado do generoso mouro, que pasmava, ouvindo o instrumento inusitado, que tamanho terror em si mostrava, mandava estar quieto e ancorado nágua o batel ligeiro que os levava, por falar de vagar c’o forte Gama nas cousas de que tem notícia e fama. (1)

(1) Mas já tendo visto tudo e estar assustado com o uso das inusitadas bombardas, o generoso rei mouro manda as canoas pararem de remar para poder falar com o capitão Vasco da Gama sobre as noticias que escutou. Camões canta que o rei de Melinde, já tendo visto as nauas e estando assustado com os disparos das bombardas, pede para que as canoas que os levavam parassem de remar, para que assim ele possa conversar com o capitão Vasco da Gama.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Depois de já ter visto as grandes naus portuguesas e ficar muito assustado com os disparos das bombardas que, para ele, eram instrumentos desconhecidos, o rei mouro manda que as canoas que o transportava parassem de remar, para que assim ele possa falar com o grande capitão Vasco da Gama sobre as notícias que ele ouviu.”

CANTO II – ESTROFE 108

“O rei de Melinde deseja saber mais sobre Portugal e o seu povo”

 

Em práticas o mouro diferentes

Se deleita, pergunta agora

Pelas guerras famosas e excelentes

C’o o povo havidas, que a Mafoma adora;

Agora lhe pergunta pelas gentes

De toda a Hispéria última, onde mora;

Agora pelos povos seus vizinhos,

Agora pelos últimos caminhos.

 

“Em práticas o mouro diferentes se deleita, pergunta agora pelas guerras famosas e excelentes c’o o povo havidas, que a Mafoma adora; agora lhe pergunta pelas gentes de toda a Hispéria última, onde mora; agora pelos povos seus vizinhos; agora pelos úmidos caminhos.”

(1) O agora o rei mouro se satisfazia com outro assunto, pergunta sobre as famosas guerras dos portugueses com os adoradores de Maomé; agora pergunta querendo saber dos povos de toda a península Hispânica, onde o capitão mora; agora pergunta pelos povos que são vizinhos dos portugueses; agora pelos mares que eles percorreram. Camões canta que o rei de Melinde, depois de já ter visto a poderosa armada portuguesa, começa a fazer uma série de perguntas sobre a batalhas histórias portuguesas contra os mouros, os povos hispânicos e seus vizinhos e os mares que eles percorrem para chegar até aqui. Mafoma é um dos nomes que Maomé era conhecido  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Já satisfeito em ver a armada dos lusíadas, agora o rei de Melinde satisfazia sua curiosidade perguntando sobre as grandes batalhas que os portugueses travaram com os mouros, sobre os povos que habitam a península Hispânica e os seus arredores, assim como pergunta sobre os caminhos que eles percorrem com suas nauas para chegar até essas terras.”

CANTO II – ESTROFE 109

“O rei de Melinde diz para o capitão Vasco da Gama contar tudo sobre Portugal, sua história e o seu povo”

 

“Mas antes, valeroso capitão,

Nos conta”, (lhe dizia), “diligente,

Da terra tua o clima, e região

Do mundo onde morais distintamente;

E assi de vossa antiga geração,

E o princípio do reino tão potente,

C’os sucessos das guerras do começo,

Que, sem sabê-las, sei que são de preço.

 

“Mas antes, valeroso capitão, nos conta”, (lhe dizia), “diligente, da terra tua o clima, e região do mundo onde morais distintamente; e assi de vossa antiga geração, e o princípio do reino tão potente, c’os sucessos das guerras do começo, que, sem sabê-las, sei que são de preço. (1)

(1) Diz o rei de Melinde: valoroso capitão, contemos depressa sobre o clima da sua terra e a região do mundo que vocês moram, assim como de seus antepassados, a história de fundação do seu reino e suas primeiras guerras bem-sucedidas, porque, mesmo sem eu conhece-las, já sei que tem muito valor. Camões canta que o rei de Melinde pede para que o capitão Vasco da Gama conte sobre a região de Portugal, os povos antecedem os portugueses, a história de fundação do reino e as primeiras guerras que foram vencidas pelos seus fundadores.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Diz o rei de Melinde: valoroso capitão Vasco da Gama, fale para nós, da forma mais breve possível, sobre como é o clima da sua terra e em que lugar do mundo ela fica. Também conte sobre os povos que antecederam o seu e a história de fundação do seu reino, as primeiras guerras bem-sucedidas. Pergunto porque, embora não conheça, eu sei que tem muito valor”

CANTO II – ESTROFE 110

“O rei de Melinde também pede para o capitão Vasco da Gama contar sobre a sua viagem rumo ao Oriente”

 

“E assim também nos conta dos rodeios

Longos, em que te traz o mar irado,

Vendo os costumes bárbaros alheios

Que a nossa África ruda tem criado.

Conta: que agora vêm c’os áureos freios

Os cavalos que o carro marchetado

Do novo Sol, da fria aurora trazem,

O vento dorme, o mar e as ondas jazem.

 

“E assim também nos conta dos rodeios longos, em que te traz o mar irado, vendo os costumes bárbaros alheios que a nossa África ruda tem criado. (1) Conta: que agora vêm c’os áureos freios os cavalos que o carro marchetado do novo Sol, da fria aurora trazem, o vento dorme, o mar e as ondas jazem. (2)

(1) Continua o rei: E também nos conte sobre as notícias que longas viagens que trouxe do irado mar, já que viu os costumes bárbaros que as diversas terras africanas têm criado. Camões canta que o rei de Melinde pede para o capitão Vasco da Gama falar sobre as noticias que os portugueses escutaram enquanto passaram pelos povos que habitam às terras da África.  

(2) Agora conte o que Apolo, em sua carruagem dourado puxada por cavalos, vem trazendo junto com um novo dia vindo da fria Aurora. Camões canta que o rei de Melinde, falando com o capitão Vasco da Gama, pede para que comece a contar à história de Portugal. [Cantos III e IV da obra]

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Continua o rei de Melinde: E também nos conte sobre as notícias que longas viagens que trouxe do irado mar, já que viu os costumes bárbaros que as diversas terras africanas têm criado. Agora conte o que Apolo, em sua carruagem dourado puxada por cavalos, vem trazendo junto com um novo dia vindo da fria Aurora.”

CANTO II – ESTROFE 111

“O rei de Melinde diz que deseja muito saber sobre os assuntos que pergunta”

 

“E não menos c’o tempo se parece

O desejo de ouvir-te o que contares;

Que quem há, que por fama não conhece

As obras portuguesas singulares?

Não tanto desviado resplandece

De nós o claro sol, para julgares

Que os melindanos têm tão rudo peito,

Que não estimem muito um grande feito.

 

“E não menos c’o tempo se parece o desejo de ouvir-te o que contares; que quem há, que por fama não conhece as obras portuguesas singulares? Não tanto desviado resplandece de nós o claro sol, para julgares que os melindanos têm tão rudo peito, que não estimem muito um grande feito. (1)

(1) Continua o rei: O desejo que tenho de te ouvir é tão grande quanto o tempo; há alguém que não conheça os grandes feitos dos portugueses? O sol não está tão longe da nossa civilização para que ache que o povo de Melinde é tão rude ao ponto de não valorizar uma grande façanha. Camões canta que o rei de Melinde, ainda falando com o capitão Vasco da Gama, diz que deseja muito ouvir os grandes feitos que os portugueses já realizaram, já que o seu povo, como não é incivilizado, valoriza muita as grandes proezas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O desejo que tenho de te ouvir falar sobre as histórias de Portugal não é menor que o tamanho do tempo pois, afinal, existe alguém que não conheça as grandes obras realizadas pelo povo português? Digo que não está tão longe da civilização para julgar que o povo de Melinde é tão grosseiro ao ponto de não valorizar um grande feito.”

CANTO II – ESTROFE 112

“O rei de Melinde diz que, já que muitos tentaram grandes feitos no passado, não é de se estranhar que os portugueses tentem chegar até à Índia”

 

“Cometeram soberbos os Gigantes,

Com guerra vã, o Olimpo claro e puro;

Tentou Píritoo e Teseu, de ignorantes,

O reino de Plutão, horrendo e escuro.

Se houve feitos no mundo tão possantes,

Não menos é o trabalho ilustre e duro,

Quanto foi cometer Inferno e Céu,

Que outrem cometa a fúria de Nereu.

 

“Cometeram soberbos os gigantes, com guerra vã, o Olimpo claro e puro; tentou Píritoo e Teseu, de ignorantes, o reino de Plutão, horrendo e escuro. Se houve feitos no mundo tão possantes, não menos é o trabalho ilustre e duro, quanto foi cometer Inferno e Céu, que outrem cometa a fúria de Nereu. (1)

(1) Os Gigantes já tentaram enfrentar o Olimpo numa guerra; e Pírito e Teseu tentaram assaltar o horrendo e escuro reino de Plutão. Se no mundo já houve feitos tão impressionantes como invadir o Céu e o Inferno, não seria impossível que alguém tentassem enfrentar os furiosos mares de Nereu. Camões canta que o rei de Melinde, ainda falando com o capitão Vasco da Gama, diz que, já sendo realizados tantos feitos grandes anteriormente, não seria impossível que os portugueses tentassem o grande feito de chegar até às terras do Oriente. A guerra vã dos Gigantes contra o Olimpo é uma referencia mitológica aos Titãs que lutaram e foram destruído por Júpiter; Píritoo e Teseu foram heróis mitológicos que tentaram invadir o reino de Plutão, deus romano da Morte e do Submundo (Inferno); Nereu é o deus dos mares.   

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Se no mundo já tentaram grandes feitos, como os Titãs que tentaram invadir o Olimpo, ou como Píritoo e Teseu que tentaram assaltar o horrendo e escuro reino de Plutão, não seria impossível que os bravos portugueses tentassem enfrentar os furiosos mares de Nereu.”

CANTO II – ESTROFE 113

“O rei de Melinde que, já que alguns são conhecidos pelas coisas erradas que fizeram, nada mais juntos que os portugueses serem famosos por seus feitos”

 

“Queimou o sagrado templo de Diana,

Do sutil Tesifônio fabricado,

Heróstrato, por ser da gente humana

Conhecido no mundo e nomeado:

Se também com tais obras nos engana

O desejo de um nome avantajado,

Mais razão há que queira eterna glória

Quem faz obras tão dignas de memória.”

 

“Queimou o sagrado templo de Diana, do sutil Tesifônio fabricado, Heróstrato, por ser da gente humana conhecido no mundo e nomeado: se também com tais obras nos engana o desejo de um nome avantajado, mais razão há que queira eterna glória quem faz obras tão dignas de memória.”

(1) Heróstrato, querendo que seu nome fosse conhecido em todo mundo, queimou o sagrado templo de Diana feito por Tesifônio. Se pelo desejo de ser conhecido fazemos obras ruins, mais correto está quem queria a glória eterna realizando obras que sejam dignas de memória. Camões canta que o rei de Melinde, concluído sua fala, diz que, se Heróstrato, querendo ter seu nome conhecido, incendiou o templo de Diana, corretos estão os portugueses em buscarem o reconhecimento com uma obra que seja realmente digna. 

“Se houveram aquele que desejaram ter ser nomes imortalizados com terríveis feitos – vide Heróstrato, que incendiou o sagrado templo que Tesifônio construiu para Diana – correto estão aqueles que, como os portugueses, queiram a eterna glória realizando obras que sejam realmente dignas de memória.”

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Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.

Os Lusíadas (Edição Didática) - Volume I e II – Editora Concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a nonagésima segunda até a centésima décima terceira estrofe do segundo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta o encontro do rei de Melinde com o capitão Vasco da Gama e o desejo do monarca de conhecer mais sobre Portugal.

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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