Neste nosso vigésimo sexto comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o terceiro canto da obra, onde Camões canta a descrição do território europeu feita pelo capitão Vasco da Gama ao rei de Melinde.

CANTO III – ESTROFE 6
Entre a zona que o Cancro senhoreia,
Meta setentrional do sol luzente,
E aquela que por fria se arreceia
Tanto, como a do meio por ardente,
Jaz a soberba Europa, a quem rodeia,
Pela parte de Arcturo e do Oriente,
Com suas salsas ondas o oceano,
E, pela austral, o mar Mediterrâneo.
“Entre a zona que o Cancro senhoreia, meta setentrional do sol luzente, e aquela que por fria se arreceia tanto, como a do meio por ardente, jaz a soberba Europa (1), a quem rodeia, pela parte de Arcturo e do Oriente, com suas salsas ondas o oceano, e, pela austral, o mar Mediterrâneo (2).”
(1) Antes de começar a narrar a história de Portugal para o rei de Melinde, Vasco da Gama começa descrever o território onde ficam os domínios portugueses. Diz que entre o Trópico de Câncer, onde o Sol resplandece, e a Zona Glacial está localizada a magnifica Europa, o continente que está localizado Portugal.
(2) Diz que o continente europeu rodeado por salgadas ondas do oceano pelo Norte e pelas águas do mar Mediterrâneo pelo Sul
“Entre a zona que é dominada pelo signo de Câncer, que baliza o Sol resplandecente, e a Zona Glacial está a magnífica Europa, a quem o Oceano rodeia com suas ondas salgadas pelo Norte, enquanto o mar Mediterrâneo rodeia pelo Sul.”
CANTO III – ESTROFE 7
“Da parte donde o dia vem nascendo,
Com Ásia se avizinha; mas o rio
Que dos montes Rifeios vai correndo
Na alagoa Meótis, curvo e frio,
As divide: e o mar que, fero e horrendo,
Viu dos gregos o irado senhorio,
Onde agora de Troia triunfante
Não vê mais que a memória o navegante.
“Da parte donde o dia vem nascendo, com Ásia se avizinha; mas o rio que dos montes Rifeios vai correndo na alagoa Meótis, curvo e frio, as divide (1): e o mar que, fero e horrendo, viu dos gregos o irado senhorio, onde agora de Troia triunfante não vê mais que a memória o navegante. (2)”
(1) Diz o continente europeu é vizinho do continente asiático, sendo dali que o dia vem nascendo e que ambos são dividios pelo rio Ural, que nasce nos montes Refeios e cai na lagoa Meótis
(2) O horrendo e feroz mar Mediterrâneo também divide os dois continentes, sendo estes o mar que ficou sob domínios dos gregos quando conquistaram a esquecida (não vê mais que a memória) cidade de Tróia.
“Do Oriente, onde o dia vem nascendo, a Europa avizinha-se com a Ásia, mas elas são divididas pelo cursvo e frio rio Ural, aquele que sai dos montes Refeios e vai correndo na lagoa Meótis. Também é dividida pelo feroz e horrendo mar Mediterrâneo, que ficou sob domínio dos gregos quando triunfaram sobre Troia, esta que não está mais na memória”
CANTO III – ESTROFE 8
“Lá onde mais debaixo está do Polo,
Os montes hiperbóreos aparecem
E aqueles onde sempre sopra Eolo,
E c’o nome dos sopros se enobrecem.
Aqui tão pouca força tem Apolo
Os raios que no mundo resplandecem,
Que a neve está continho pelos montes,
Gelado do mar, geladas sempre as fontes.
“Lá onde mais debaixo está do Polo, os montes hiperbóreos aparecem e aqueles onde sempre sopra Eolo, e c’o nome dos sopros se enobrecem (1). Aqui tão pouca força tem Apolo os raios que no mundo resplandecem, que a neve está continho pelos montes, gelado do mar, geladas sempre as fontes (2).”
(1) Diz que a Europa fica baixo abaixo do Polo Norte, local que estão os montes Hiperbóreos e os outros montes que o deus Éolo sopra e enobrece o nome dos ventos.
(2) Os resplandecentes raios Sol (Apolo) que iluminam o mundo tem pouca força no norte da Europa, tanto que não conseguem derreter a neve nos montes, a água congelada do mar e as fontes de água.
“Lá, onde a Europa está mais abaixo do Polo Norte, aparecem os montes Hiperbóreos, assim como aqueles montes onde Eolo sempre sopra, enobrecendo o nome dos ventos. Nesta região os raios resplandecentes de Apolo têm pouca força, sendo que a neve não derrete nos montes, o mar está sempre gelado, assim como as fontes de água.”
¹Éolo é a divindade que representa os ventos.
CANTO III – ESTROFE 9
Aqui dos Citas grandes quantidade
Vivem, que antigamente grande guerra
Tiveram sobre a humana quantidade
Co’ os que tinham então a egípcia terra:
Mas quem tão fora estava da verdade,
(Já que o juízo humano tanto erra)
Para que do mais certo se informara,
Ao campo damasceno o perguntara.
“Aqui dos citas grandes quantidade vivem, que antigamente grande guerra tiveram sobre a humana quantidade co’ os que tinham então a egípcia terra (1): mas quem tão fora estava da verdade, (Já que o juízo humano tanto erra) para que do mais certo se informara, ao campo damasceno o perguntara (2).”
(1) Diz que estas regiões eram densamente povoadas pelos citas¹, o povo que guerreou contra os descendentes dos egípcios para determinar qual foi a primeira civilização humana.
(2) Sobre essa questão, quem deseja saber a verdade pode perguntar as terras damascenas¹.
“Nesta região norte da Europa viviam os numerosos povos citas, estes que, antigamente, tiveram uma guerra pela descendência humana com os povos descendentes dos egípcios. Mas, como o juízo humano erra muito, se realmente queres saber quais dos dois tinha razão, pergunte nas terras de Damasco.”
¹Citas foram antigos povos bárbaros que habitam o noroeste da Europa;
²Campo damasceno é a região que contempla a Síria, esta que, segundo a bíblia sagrada, ficava o paraíso terrestre.
CANTO III – ESTROFE 10
Agora nestas partes se nomeia
A Lápia fria, a inculta Noruega,
Escandinávia ilha, que se arreceia
Das vitórias que Itália não lhe nega.
Aqui, enquanto as águas não refreia
O congelado inverno, se navega
Um braço do sarmático Oceano,
Pelo Brúsio, Suécio e frio Dano.
“Agora nestas partes se nomeia a Lápia fria, a inculta Noruega, Escandinávia ilha, que se arreceia das vitórias que Itália não lhe nega (1). Aqui, enquanto as águas não refreia o congelado inverno, se navega um braço do sarmático Oceano, pelo Brúsio, Suécio e frio Dano (2).”
(1) Diz que nestas regiões geladas estão a fria Lapônia, a inculta Noruega e a ilha Escandinávia, sendo que vieram daqui os povos que se vangloriam de vencer os romanos (Itália¹).
(2) Aqui, quando o inverno não congelado as águas salgados do mar, os povos prussianos, suecos e dinamarqueses navegam pelo braço do oceano Báltico (sarmático).
“A região norte da Europa agora corresponde à fria Lapônia, a inculta Noruega e a ilha Escandinávia, sendo que os povos dessa região se vangloriam das vitórias sobre os romanos. Aqui, enquanto o congelante inverno não parou as águas, braço do mar báltico é navegado pelos povos prussianos, suecos e dinamarqueses.”
¹as vitórias sobre a Itália é uma referência as invasões bárbaras contra o território do Império Romano;
CANTO III – ESTROFE 11
Entre este mar e o Tánais estranha
Gente: rutenos, moscos e livônios,
Sármatas outro tempo; e na montanha
Hircínia os marcomanos são polônios;
Sujeitos ao império de Alemanha
São saxones, boêmios e panônios,
E outras várias nações, que o Reno frio
Lava, e o Danúbio, Amásis e Álbis rio.
“Entre este mar e o Tánais estranha gente: rutenos, moscos e livônios, sármatas outro tempo (1); e na montanha Hircínia os marcomanos são polônios; sujeitos ao império de Alemanha são saxones, boêmios e panônios, e outras várias nações, que o Reno frio lava, e o Danúbio, Amásis e Álbis rio (2).”
(1) Diz que nesta região do Norte, entre o mar Báltico e o rio Tánais, vivem os estranhos povos rutenos, moscos e livônios, sendo que antigamente eles eram todos conhecidos como sármatas.
(2) Conta que os povos marcomanos da montanha Hircínia são os polônios e que os povos saxones, boêmios e panônios são todos sujeitos ao Império da Alemanha, bem como as outras nações que passam pelos rios Reno, Danúnio, Amásis e Álbis.
“Entre o mar Báltico e o rio Tánais vivem os estranhos povos rutenos, moscos e livônios, sendo que todos estes, antigamente, eram chamados de sármatas; e os povos marcomanos da montanha Hircínia são polônios; os povos saxones, boêmios e panônios são sujeitos ao Império da Alemanha, assim como outras nações que passam pelos rios Reno, Danúnio, Amásis e Álbis.”
CANTO III – ESTROFE 12
“Entre o remoto Istro e o claro estreito,
Aonde Hele deixou c’o nome a vida,
Estão os traces de robusto peito,
Do fero Marte pátria tão querida,
Onde, c’o Hemo, o Ródape sujeito
Ao otomano está, que sometida
Bizâncio tem a seu serviço indino:
Boa injúria do grande Constantino!
“Entre o remoto Istro e o claro estreito, aonde Hele deixou c’o nome a vida, estão os traces de robusto peito, do fero Marte pátria tão querida (1), onde, c’o Hemo, o Ródape sujeito ao otomano está, que sometida Bizâncio tem a seu serviço indino: boa injúria do grande Constantino! (2)”
(1) Diz que mais para o Leste da Europa, entre o remoto Isto e o claro estreito de Heleponto – onde Hele deixou a vida e seu nome – estão os traces, povo robusto e aguerrido que tinha o favor do feroz Marte.
(2) Este também é o local onde Ródape e Hemo estão sujeitos ao imperador otomano que dominou Bizâncio, esta que é uma grande ofensa ao grande Constantino.
“Os traces de robusto peito, que tinham a pátria tão querida pelo feroz Marte, habitam a região que fica entre o remoto Isto e o claro estreito de Helesponto, onde Hele deixou a vida e o seu nome; e também onde Ródape está sujeito com Hemo ao imperador otomano que tem Bizâncio sob seu comando, esta que é uma grande ofensa ao grande Constantino.”
CANTO III – ESTROFE 13
Logo de Macedônia estão as gentes,
A quem lava do Áxio a água fria;
E vós também, ó terras excelentes
Nos costumes, engenhos e ousadia,
Que criastes os peitos eloquentos
E os juízos de alta fantasia.
Com quem tu, clara Grécia, o céu penetras,
E não menos por armas, que por letras.
“Logo de Macedônia estão as gentes, a quem lava do Áxio a água fria; e vós também, ó terras excelentes nos costumes, engenhos e ousadia (1), que criastes os peitos eloquentos e os juízos de alta fantasia. Com quem tu, clara Grécia, o céu penetras, e não menos por armas, que por letras (2).”
(1) Diz que na região Sudoeste da Europa estão os povos da Macedônia, que lava a água fria do rio Áxio e onde estão as terras dos povos gregos de tão bons costumes, engenhos e ousadia.
(2) Ainda sobre a Grécia, saúda os poetas e filósofos, já que este povo conseguiu se elevar aos céus não apenas pela força das armas, mas muito mais por suas palavras.
“Em seguida estão os povos da Macedônia, que lava a água fria do rio Áxio, e onde estão as terras do povo grego de tão bons costumes, engenhos e ousadia – como os poetas e filósofos – que tu, clara Grécia, eleva-se aos céus não só pelas armas, como também pelas letras.”
CANTO III – ESTROFE 14
“Logo nos Dálmatas vivem; e no seio,
Onde Antenor já muros levantou,
A soberba Veneza está no meio
Das águas, que tão baixas começou.
Da terra um braço vem ao mar, que cheio
De esforço, nações várias sujeitou,
Braço forte, de gente sublimada,
Não menos nos engenhos, que na espada.
“Logo nos Dálmatas vivem; e no seio, onde Antenor já muros levantou, a soberba Veneza está no meio das águas, que tão baixas começou (1). Da terra um braço vem ao mar, que cheio de esforço, nações várias sujeitou, braço forte, de gente sublimada, não menos nos engenhos, que na espada (2).”
(1) Diz que logo diante da região da Grécia está a Dalmácia, onde vivem os dálmatas. Seguindo adiante está a orgulhosa Veneza, que fica no meio das águas e é onde o troiano Antenor ergueu os muros de sua cidade.
(2) Aqui começa a região da Itália, com um braço de terra atravessando o mar. Foi nesta região que o esforçado e sublime povo romano se lançou ao mar e conquistou várias nações, sendo eles que são reconhecidos por seus talentos artísticos e feitos militares.
“Logo a diante está a Dalmácia, onde vivem os dálmatas, e no golfo da região está Veneza no meio das águas, lugar onde Antenor levantou seus muros. Nesta região conhecida como Itália o esforçado e sublime povo romano se lançou ao mar e conquistando várias nações, sendo reconhecidos pelos seus talentos artísticos e feitos militares.”
CANTO III – ESTROFE 15
Em torno o cerca o reino netunino,
C’os muros naturais por outra parte;
Pelo meio o divide o Apinino,
Que tão ilustre fez o pátrio Marte;
Mas depois que o porteiro tem divino,
Perdendo o esforço veio, e bélica arte;
Pobre está já da antiga potestade:
Tanto Deus se contenta de humildade!
“Em torno o cerca o reino netunino, c’os muros naturais por outra parte; pelo meio o divide o Apinino, que tão ilustre fez o pátrio Marte (1); mas depois que o porteiro tem divino, perdendo o esforço veio, e bélica arte; pobre está já da antiga potestade: tanto Deus se contenta de humildade! (2)”
(1) Diz que as terras da península da Itália são cercadas pelo mar (reino de Neturno), enquanto a parte Norte, que é conectada ao continente europeu, é cercada por montanhas (muros naturais). O meio desta península é dividido pelas cordilheiras dos Apeninos, sendo este o local de grandiosas batalhas (local onde fizeram ilustre o deus Marte).
(2) Vasco da Gama comenta que após a chegada do Papa (porteiro do céu), os romanos foram perdendo a sua audácia militar. Hoje Roma já não possui a mesma majestade, contendo Deus com a sua humildade.
“Os mares de Netuno cercam a região pelos lados e pelo Sul, enquanto o Norte é cercado por montes rochoso; o meio é dividido pelas cordilheiras dos Apeninos, estas que, por inúmeras batalhas, fizeram Marte ilustre. Mas, após a chegada do Papa, o porteiro do céu, a região perdeu a sua sede militar e poderio, mostrando como Deus se contenta com a humildade.”
CANTO III – ESTROFE 16
“Gália ali se verá que nomeada
C’os cesáreos triunfos foi no mundo,
Que do Séquana e Ródano é regada
E do Garuna frio e Reno fundo.
Logo os montes da ninfa sepultada
Pirene, se alevantam, que segundo
Antiguidades contam, quando arderam,
Rios de ouro e de prata então correram.
“Gália ali se verá que nomeada c’os cesáreos triunfos foi no mundo, que do Séquana e Ródano é regada e do Garuna frio e Reno fundo. Logo os montes da ninfa sepultada Pirene, se alevantam, que segundo antiguidades contam, quando arderam, rios de ouro e de prata então correram. (1)”
(1) Diz que mais no centro-leste da Europa está a região da Gália, que é regada pelos rios Séquana, Ródano, o frio Garuna e o fundo Reno. A região ficou eternizada pelos feitos do general romano Júlio Cesar.
(2) Abaixo da Gália está a península da Hispânia, sendo que ambas são separadas pela cordilheira dos Pirineus, esta que, segundo era contado antigamente, jorra ouro e prata quando arde.
“A região da Gália, que é regada pelos rios Séquana, Ródano, o frio Garuna e o fundo Reno, ficou conhecida no mundo pelos triunfos do general romano Júlio Cesar. Ela é separada da península da Hispânia pela cordilheira dos Pirineus, que, segundo as lendas, quando arde, jorra rios de ouro e prata.”
CANTO III – ESTROFE 17
“Eis aqui se descobre a nobre Espanha,
Como cabeça ali de Europa toda,
Em cujo senhorio e glória estranha
Muitas voltas em dado a fatal roda;
Mas nunca poderá, com força ou manha,
A Fortuna inquieta pôr-lhe noda,
Que lha não tiro o esforço e ousadia
Dos belicosos peitos que em si cria.
“Eis aqui se descobre a nobre Espanha, como cabeça ali de Europa toda, em cujo senhorio e glória estranha muitas voltas em dado a fatal roda (1); mas nunca poderá, com força ou manha, a Fortuna inquieta pôr-lhe noda, que lha não tiro o esforço e ousadia dos belicosos peitos que em si cria (2).”
(1) Diz que é nesta região que está a Península Hispânica, localizada como se fosse a cabeça da Europa e mostrando o poder e a glória que conquistou graças à Fortuna (fatal roda);
(2) Ela nunca poderá usar de força ou de astúcia para reclamar nesta sua sorte, sendo que suas conquistas também se devem aos seus esforços militares.
“E aqui se encontra a nobre Hispânia, como a cabeça de toda a Europa, o poder e glória tem dado muitas voltas na rodada da fortuna; mas nunca poderá, com força ou malandragem, a inquieta Fortuna por lhe defeito que lhe tire o esforço e ousadia daqueles criados aqui”
CANTO III – ESTROFE 18
“Com Tingitânia entesta, e ali parece
Que quer fechar o Mar Mediterrâneo,
Onde o sábio Estreito se enobrece,
C’o extremo trabalho do tebano.
Com nações diferentes se engrandece,
Cercadas com as ondas do oceano;
Todas de tal nobreza e tal valor,
Que qualquer delas cuida que é melhor.
“Com Tingitânia entesta, e ali parece que quer fechar o Mar Mediterrâneo, onde o sábio Estreito se enobrece, c’o extremo trabalho do tebano (1). Com nações diferentes se engrandece, cercadas com as ondas do oceano; todas de tal nobreza e tal valor, que qualquer delas cuida que é melhor (2).”
(1) Diz que a Península Hispânica fica em frente da região da Mauritânia (Tingitânia); entre elas está o estreito de Gibraltar, que fecha a entrada do mar Mediterrâneo por causa de um dos trabalhados de Hércules (trabalho do tebano)¹.
(2) A península é engrandecida pelas diferentes nações que ficam ali, sendo que elas são cercadas pelas ondas do oceano. Estas nações, por sua grande nobreza e valor, julgam-se uma melhor que as outras.
“A Hispânia fica em frente da Mauritânia que ali, no estreito de Gibraltar, parece querer fechar a entrada do mar Mediterrâneo, assim como o herói Hercules fez em um de seus trabalhos. A península se engrandece com as diferentes nações que são cercadas pelas ondas do oceano, todas estas que, possuindo tamanha nobreza e valor, julgam-se uma melhor que as outras.”
¹A mitologia conta que em um de seus doze trabalhos, Hércules usou de sua grande força para destruir uma montanha, criando assim a conexão entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo que é conhecido como estreito de Gibraltar.
CANTO III – ESTROFE 19
“Tem Tarragonês, que se fez claro
Sujeitando Partênope inquieta,
O Navarro, as Astúrias, que reparo
Já foram contra a gente maometa:
Tem o Galego cauto, e o grande e raro
Castelhano, a quem fez o seu planeta
Restituidor de Espanha e senhor dela,
Bétis, Leão, Granada com Castela.
“Tem Tarragonês, que se fez claro sujeitando Partênope inquieta, o Navarro, as Astúrias, que reparo já foram contra a gente maometa (1): tem o Galego cauto, e o grande e raro Castelhano, a quem fez o seu planeta restituidor de Espanha e senhor dela, Bétis, Leão, Granada com Castela.”
(1) Termina mencionando os reinos da Hispânia. Fala da Tarragona, capital da Catalunha que já conseguiu dominar a inquieta Nápoles; e também menciona de Navarra e da Astúrias, ambos os reinos que já lutaram contra os muçulmanos.
(2) Há o prudente reino de Galeco e o grande e raro reino de Castelo, este que, por sua sorte, conseguiu restituir o território da Espanha e agora é senhor de Bétis, Leão, Grana e Castela.
“A região da Espanha é composta pelos estados de Tarragona, capital da Catalunha, que já dominou a inquieta Nápoles; tem o Navarro; as Astúrias, que já lutaram contra os muçulmanos; tem o prudente Galego; e o grande e raro Castelhano, que por sua sorte conseguiu restituir o território da Espanha, sendo senhor dela, de Bétis, Leão, Granada e também Castela.”
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a sexta até a décima nona estrofe do terceiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a descrição do território europeu feita pelo capitão Vasco da Gama ao rei de Melinde.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.