Neste nosso terceiro comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos lendo o primeiro canto da obra, onde Camões dirige suas palavras ao rei Dom Sebastião e diz que dedica sua obra ao jovem monarca português.

Lusíadas Os mouros de Moçambique
A dedicatória de Camões ao rei Dom Sebastião

CANTO I – ESTROFE 6

 

E vós, ó bem nascida segurança

Da lusitana antiga liberdade,

E não menos certíssima esperança

De aumento da pequena Cristandade;

Vós, ó novo temor da maura lança,

Maravilha fatal da nossa idade,

Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,

Para ao mundo a Deus de parte grande;

 

E vós, ó bem nascida segurança da lusitana antiga liberdade, e não menos certíssima esperança de aumento da pequena Cristandade (1); Vós, ó novo temor da maura lança, Maravilha fatal da nossa idade, dada ao mundo por Deus, que todo o mande, para ao mundo a Deus da parte grade (2);

(1) Camões dirige suas palavras ao rei D. Sebastião, saudando o monarca como garantidor da liberdade do povo português e como esperança da expansão do Cristianismo;

(2) também saúda o monarca dizendo que ele inspirará temor no coração dos inimigos muçulmanos. Termina sua saudação dizendo que o D. Sebastião é uma dádiva enviada por Deus ao nosso mundo.

 

“E vós, rei D. Sebastião, garantidor da antiga liberdade de Portugal e esperança da expansão do aumento da pequena Cristandade; vós, ó novo temor do inimigo mouro e maravilhosa providência de nossa época dada por Deus ao mundo;”

CANTO I – ESTROFE 7

 

E vós, tenro e novo ramo florescente

De uma árvore de Cristo mais amada

Que nenhuma nascida no Ocidente,

Cesárea ou cristianíssima chamada;

(Vede-o no vosso escudo, que presente

Vos amostra a vitória já passada,

Na qual vos deu por armas, e deixou

As que Ele pra Si na Cruz tomou);

E vós, tenro e novo ramo florescente de uma árvore de Cristo mais amada que nenhuma nascida no Ocidente, cesárea ou cristianíssima chamada (1); (Vede-o no vosso escudo, que presente vos amostra a vitória já passada, na qual vos deu por armas, e deixou as que Ele pra Si na Cruz tomou)(2);

(1) Camões diz que o jovem rei D. Sebsatião é descente da família real mais bem quista por Deus em toda Europa;

(2) pede para que o monarca olhe para o brasão de armas de Portugal, observando o símbolo que representa a vitória que Dom Afonso Henriques contra os cinco reis mouros na batalha de Ourique, vitória está que foi anunciada pelo próprio Jesus Cristo ao aparecer crucificado nos céus para os portugueses antes da batalha.

 

 “E vós, que sois o novo ramo de uma família mais amada que nenhuma outra no Ocidente, cesárea ou cristianíssima; veja o vosso escudo, que carrega as vitórias do passado, e que o Cristo vos deu por armas e deixou pra si na cruz”

CANTO I – ESTROFE 8

 

Vós, poderoso rei, cujo o alto império

O sol, logo nascendo, vê primeiro;

Vê-o também no meio do Hemisfério,

E quando o desce o deixa derradeiro;

Vós, que esperamos jugo e vitupério

Do torpe ismaelita cavaleiro,

Do turco oriental, e do gentio,

Que inda bebe o licor do santo Rio;

 

“Vós, poderoso rei, cujo o alto império o sol, logo nascendo, vê primeiro ; Vê-o também no meio do Hemisfério, e quando o desce o deixa derradeiro (1); Vós, que esperamos jugo e vitupério do torpe ismaelita cavaleiro, do turco oriental, e do gentio, que inda bebe o licor do santo Rio; (2)

(1) Camões diz que o Império Português, do qual D. Sebastião é monarca, é tão grandioso que o Sol sempre o está iluminando, seja quando o astro está nascendo, no meio do céu ou quando descansa¹.

(2) o poeta também diz que espera ver grandes realizações por parte do monarca, querendo que ele enfrente e conquiste os inimigos ismaelitas, os turcos orientais, assim como os povos pagãos que habitam as terras banhadas pelo rio Ganges.  

 

 “Vós, poderoso rei, cujo o alto império tem domínios tão extensos que o próprio sol sempre o está iluminando, seja quando nasce, chega ao meio do Hemisfério, ou quando desce; Vós, esperamos jugo e vitupério contra o torpe cavaleiro ismaelita, contra o turco oriental, e do gentio, que ainda bebe o licor do santo Rio;

CANTO I – ESTROFE 9

 

Inclinai por um pouco a majestade,

Que neste tenro gesto vos contemplo,

Que já se mostra qual na inteira idade,

Quando subindo ireis ao eterno Templo;

Os olhos da real benignidade

Ponde no chão: vereis um novo exemplo

De amor dos pátrios feitos valorosos,

Em versos divulgado numerosos.

 

Inclinai por um pouco a majestade, que neste tenro gesto vos contemplo, que já se mostra qual na inteira idade, quando subindo ireis ao eterno Templo (1); Os olhos da real benignidade ponde no chão: vereis um novo exemplo de amor dos pátrios feitos valorosos, em versos divulgado numerosos (2).

(1) Terminando a sua saudação, Camões diz que, ao contemplar o rei D. Sebastião, vê que o monarca, apesar de jovem, já apresenta a majestade que terá no dia que alcança o Eterno Templo (Céus);

(2) agora Camões pede para que o monarca torne seus olhos para o poeta, pois ele verá um poema que, por amor aos feitos patrióticos, cantará as glórias de seus conterrâneos.

 

 “Inclinai, vossa majestade, para que nesse gesto eu o contemple e veja que, mesmo tão jovem, já possuí toda a majestade que terá no dia em subirá ao Eterno Templo; olhe com seus benignos olhos para chão e veja um novo exemplo de um poema que, por muito amor, cantará em versos numerosos os feitos valorosos de vossa pátria.”

CANTO I – ESTROFE 10

 

Vereis amor da pátria, não movido

De prêmio vil, mas alto e quase eterno:

Que não prêmio vil ser conhecido

Por pregão do ninho meu paterno.

Ouvi: vereis o nome engrandecido

Daqueles de quem sois senhor superno,

E julgareis qual é mais excelente,

Se ser do mundo rei, ou de tal gente.

 

Vereis amor da pátria, não movido de prêmio vil, mas alto e quase eterno: que não prêmio vil ser conhecido por pregão do ninho meu paterno (1). Ouvi: vereis o nome engrandecido daqueles de quem sois senhor superno, e julgareis qual é mais excelente, se ser do mundo rei, ou de tal gente (2).

(1) Camões diz que escreve e canta seus versos por amor à Portugal, e não para receber qualquer tipo de prêmio, já que poder cantar as glórias de sua amada pátria é o prêmio mais alto e elevado;

(2) O rei D. Sebastião, ao ouvir esses versos, conhecerá os nomes dos grandes homens de quem ele é soberano e, assim, verá que é mais grandioso ser rei dos portugueses do que ser rei do resto do mundo.

 

“Vereis em meus versos o amor que tenho à pátria, não sendo eles escritos para receber um prêmio vil qualquer, mas, sim, poder cantar os feitos de vossa pátria. Ouvi meus versos para que veja como engrandeço o nome daquele que é senhor e, assim, poderás julgar se é mais grandioso ser rei do mundo, ou dessa gente grandiosa.”

CANTO I – ESTROFE 11

 

Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,

Fantásticas, fingias, mentirosas,

Louvas os vossos como nas estranhas

Musas, de engrandecer-se desejosas:

As verdadeiras vossas são tamanhas,

Que excedem as sonhadas, fabulosas;

Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro,

E Orlando, inda que fora verdadeiro.

 

Ouvi, que não vereis com vãs façanhas, fantásticas, fingias, mentirosas, louvas os vossos como nas estranhas musas, de engrandecer-se desejosas (1): as verdadeiras vossas são tamanhas, que excedem as sonhadas, fabulosas; que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro, e Orlando, inda que fora verdadeiro (2).

(1)  Camões diz que, ao ouvir os seus versos sobre os portugueses, o rei D. Sebastião não verá façanhas mentirosas e nem exageradas como se vê, por exemplo, em obras de outros países.

(2) diz que as façanhas que ele narrará são verdadeiras e, por serem tão grandiosas, superaram qualquer feito que possa ser sonhado, como os fabulosos feitos de Rodamonte, de Rugeiro ou de Orlando¹; ainda que as proezas desses fosse verdadeiras, não superariam as dos portugueses.

 

 “Saiba, majestade, que não vereis louvados os heróis portugueses com façanhas vãs, fantásticas ou mentirosas – como se vê nas estranhas musas, desejosas de engrandecer-se; as façanhas dos vossos súditos portugueses são verdadeiras e tamanhas que excedem façanhas sonhadas e fabulosas, como as que são contadas sobre Rodamonte, o vão Rugeiro, e Orlando, inda mesmo que esses fossem verdadeiros.”

 

¹ Esses personagens são protagonistas de poemas da idade média puramente ficcionais, sem nenhuma relação com eventos históricos.

CANTO I – ESTROFE 12

 

Por estes vos darei um Nuno fero,

Que fez ao rei e ao reino tal serviço,

Um Egas e um Dom Fuas, que de Homero

A cítara para eles só cobiço.

Pois pelos Doze Pares dar-vos quero

Os Doze de Inglaterra e o seu Magriço;

Dou-vos também aquele ilustre Gama,

Que pra si de Eneias toma a fama.

 

“Por estes vos darei um Nuno fero, que fez ao rei e ao reino tal serviço, um Egas e um Dom Fuas, que de Homero a cítara para eles só cobiço (1). Pois pelos Doze Pares dar-vos quero os Doze de Inglaterra e o seu Magriço; Dou-vos também aquele ilustre Gama, que pra si de Eneias toma a fama (2).”

(1) Camões diz que ele não precisa inventar falsas façanhas e heróis, pois Portugal já possui homens como o feroz Dom Nuno Álvares Pereira, Egas Moniz e Dom Fuas¹. Esses portugueses são tão grandiosos que Camões diz que precisa da inspiração (cítara) do poeta Homero para louvá-los.

(2) dentre os ilustres portugueses, cita os Doze da Inglaterra e o seu Magriço², que são comparáveis aos Doze Pares da França³. Também cita o nome do capitão Vasco da Gama, comandante da grande empreitada que alcançou as terras da Índia e que, por este grande feito, supera os famosos feitos de Enéias que Virgílio narrou na Eneida.  

 

“Em vez de criar falsos heróis, eu vos darei o feroz Nuno, que fez um grande serviços o ser rei e ao reino português, assim como homens iguais a Egaz Moniz e Dom Fuas, sendo que precisaria da cítara de Homero para celebrá-los; no lugar dos famosos Doze Pares, vos darei os Doze da Inglaterra e o seu bravo Magriço, assim como darei o grande capitão Gama, que, por seus grandes feitos, sobrepujou a fama do grande Enéias.”

 

¹ Dom Nuno Álvares Pereira, Egas Moniz e Dom Fuas são celebres heróis portugueses. Ao longo da obra, quando for contar a história de Portugal, Camões mencionará os feitos desses homens.

²Doze da Inglaterra foram doze cavaleiros portugueses que foram duelar contra cavaleiros ingleses. Dentre esses doze portugueses, o mais notório foi cavaleiro Magriço.

³Doze Pares eram uma ordem de cavalaria da França composta por doze bravos homens que tinham o dever de proteger o Imperador Carlos Magno.

CANTO I – ESTROFE 13

 

Pois se a troco de Carlos, Rei da França,

Ou de César, quereis igual memória,

Vede primeiro Afonso, cuja lança

Escura faz qualquer estranha glória.

E aquele a que seu reino a segurança

Deixou c’a grande e próspera vitória;

Outro Joane, invicto cavaleiro,

O quarto e quinto Afonsos, e o terceiro.

 

Pois se a troco de Carlos, Rei da França, ou de César, quereis igual memória, vede primeiro Afonso, cuja lança escura faz qualquer estranha glória (1). E aquele a que seu reino a segurança deixou c’a grande e próspera vitória ; Outro Joane, invicto cavaleiro, o quarto e quinto Afonsos, e o terceiro (2).

(1) Camões diz que, se o rei D. Sebastião quiser conhecer grandes monarcas como Carlos Magno e Júlio Cesar, que ele comece olhando para o grande rei Afonso Henriques, que possui feitos mais impressionantes do que qualquer outro estrangeiro¹.

(2) que conheça também o rei Dom João I, que manteve a independência de Portugal ao vencer a Batalha de Aljubarrota, bem como os reis Dom João II, Afonso IV, Afonso V e Afonso III.

 

 “Se vossa majestade deseja ver vivos na memória monarcas como Carlos Magno da França e Júlio Cesar de Roma, que veja primeiro o rei Afonso Henriques, cujos feitos obscurecem qualquer estrangeiro; também João I, que preservou a segurança do reino ao subjugar os invasores de Castela; e também João II, cavaleiro invencível, e Afonso IV, Afonso V e Afonso III.”

 

¹ Afonso Henriques foi monarca fundador do reino de Portugal que, dentre muitos feitos, derrotou cinco reis mouros na Batalha de Ourique. Ao longo da obra, Camões contará a história desse monarca, bem como a história de todos os grandes reis que já governaram Portugal.

CANTO I – ESTROFE  14

 

Aqueles que nos reinos lá da Aurora,

Se fizeram por armas tão subidos,

Vossa bandeira sempre vencedora:

Um Pacheco fortíssimo e os temidos

Almeidas, por quem o sempre o Tejo chora;

Albuquerque terrível, Castro forte,

E outros em que poder não teve a morte.

 

Nem deixarão meus versos esquecidos aqueles que nos reinos lá da Aurora, se fizeram por armas tão subidos, vossa bandeira sempre vencedora (1): Um Pacheco fortíssimo e os temidos Almeidas, por quem o sempre o Tejo chora; Albuquerque terrível, Castro forte, e outros em que poder não teve a morte (2).

(1) Camões diz que, ao contar os grandes feitos dos portugueses, não esquecerá de mencionar o nome dos bravos homens que provaram seu valor ao lutar por Portugal nas terras do Oriente (reinos da Aurora¹);

(2) cita o nome de alguns desses grandes portugueses, como Duarte Pacheco, D. Francisco de Almeida, D. Lourenço de Almeida, Alfonso de Albuquerque e João de Castro. Camões garante que, ao contar suas glórias, não deixará que seus nomes sejam esquecidos.

 

“Não esquecerei de mencionar em meus versos os homens que, nos reinos da Aurora, provaram seu valor pelas armas, fazendo a vossa majestade sempre vencedora: O fortíssimo Pacheco, os Almeidas, por quem sempre choraremos, o terrível Albuquerque, o forte Castro, assim como outros portugueses que não serão esquecidos pelas mãos da morte.”

 

¹Na época, como o rei D. Sebastião era muito jovem, o Império de Portugal estava sob regência.

CANTO I – ESTROFE 15

 

E enquanto eu estes canto, e a vós não posso,

Sublime rei, que não me atrevo a tanto,

Tomai as rédeas vós do reino vosso:

Dareis matéria a nunca ouvido canto.

Comecem a sentir o peso grosso

(Que pelo mundo todo faça espanto)

De exércitos e feitos singulares,

De África as terras, e do Oriente os mares.

E enquanto eu estes canto, e a vós não posso, sublime rei, que não me atrevo a tanto (1), tomai as rédeas vós do reino vosso: dareis matéria a nunca ouvido canto (2). Comecem a sentir o peso grosso (Que pelo mundo todo faça espanto) de exércitos e feitos singulares, de África as terras, e do Oriente os mares (3).

(1) Camões diz que cantará o nome dos reis e heróis portugueses, mas que não pode cantar o nome de D. Sebastião, pois não se acha digno e capaz de tal feito;

(2) pede que o jovem monarca assuma o controle de Portugal¹ e que busque realizar grandes feitos, para que assim eles venham a ser cantados e, sem dúvida, gerem o maior poeta já feito;

(3) que o jovem monarca, ao realizar seus grandes feitos, faça as terras africanas e os mares do Oriente sentirem o peso do seu poderio militar. Que os seus feitos sejam tão grandiosos que espantem todo o mundo.

 

 “Enquanto canto os nomes desses homens, e não os de vossa majestade, uma vez que não me atrevo a tanto, peço que tomei as rédeas do reino e de vosso destino: desbrave o mundo, realize o que ainda não foi feito. Que as terras da África, assim como os mares do Oriente, mais uma vez, sintam o peso grosso de exércitos e de feitos singulares”

¹ Aurora é a deusa romana do amanhecer, aludindo por ser ela quem trás o Sol que nasce no Oriente.

CANTO I – ESTROFE 16

 

Em vós os olhos tem o mouro frio,

Em quem vê seu exício afigurado;

Só com vos ver, o bárbaro gentio

Mostra o pescoço ao jugo já inclinado;

Tétis todo o cerúleo senhorio

Tem para vós por dote aparelhado;

Que afeiçoada ao gesto belo e tenro,

Deseja de comprar-vos para genro.

 

Em vós os olhos tem o mouro frio, em quem vê seu exício afigurado; Só com vos ver, o bárbaro gentio mostra o pescoço ao jugo já inclinado (1); Tétis todo o cerúleo senhorio tem para vós por dote aparelhado; que afeiçoada ao gesto belo e tenro, deseja de comprar-vos para genro (2).

(1) Camões diz os inimigo mouros já tem os olhos fixos no jovem monarca, já que eles vêem que será o monarca português que trará sua destruição. Dom Sebastião é tão grandioso que esses povos bárbaros, só de ver o monarca, já caem sob o seu jugo; 

(2) o jovem monarca, assim como grandioso, também é muito belo, tanto que a deusa Tétis daria o seus mares como dote apenas para tê-lo como genro.

 

 “Em vós tem o frio mouro os olhos fixados, pois vê que é a sua figura que lhe trará a destruição; somente por vos ver, o bárbaro gentio dobra o pescoço ao jugo; tamanho é belo e tenro o vosso gesto que Tétis, por desejo de comprá-lo como genro, tem como dote os cerúleos mares.”

CANTO I – ESTROFE 17

 

Em vós se veem, da olímpica morada,

Dos dous avós as almas cá famosas;

Uma na paz angélica dourada,

Outra, pelas batalhas sanguinosas;

Em vós esperam ver-se renovada

Sua memória e obras valerosas;

E lá vos tem lugar, no fim da idade,

No templo da Suprema Eternidade.

 

Em vós se veem, da olímpica morada, dos dous avós as almas cá famosas; uma na paz angélica dourada, outra, pelas batalhas sanguinosas (1); em vós esperam ver-se renovada sua memória e obras valerosas; E lá vos tem lugar, no fim da idade, no templo da Suprema Eternidade (2).

(1) Camões diz que, ao olhar para o D. Sebastião, é possível ver refletido as almas de seus conhecidos avós, o rei D. João III e o rei Carlos V, ambos que já residem no paraíso. O primeiro que, foi um rei português, é conhecido por obter uma paz duradoura durante o seu reinando, enquanto o segundo, que foi um monarca espanhol, é conhecido por seus árduas e sangrentas batalhas;

(2) diz que esses dois grandes monarcas, ao olharem D. Sebastião a partir do paraíso, esperam que ele realize em vida feitos grandiosos como os deles e que, quando morrer, certamente terá um lugar no Paraíso (templo da Suprema Eternidade).

 

 “Em vós se vêem, vossa majestade, da morada olímpica, refletidas as almas de seus dois avós; seu avô paterno, que conquistou uma paz angelical, e seu avô materno, célebre por suas batalhas sanguinosas; ambos esperam que vós, como monarca, realize feitos igualmente grandiosos e, no fim da idade, vos tem lugar no tempo da Suprema Eternidade.” 

CANTO I – ESTROFE 18

 

Mas enquanto este tempo passa lento

De regerdes os povos, que o desejam,

Dai vós favor ao novo atrevimento,

Para que estes meus versos vossos sejam;

E vereis ir cortando o salso argento

Os vossos Argonautas, por que vejam

Que são vistos do vós no mar irado,

E costumai-vos já ser invocado.

 

Mas enquanto este tempo passa lento de regerdes os povos, que o desejam, dai vós favor ao novo atrevimento, para que estes meus versos vossos sejam (1); e vereis ir cortando o salso argento os vossos Argonautas, por que vejam que são vistos do vós no mar irado, e costumai-vos já ser invocado (2).

(1) Mas, como ainda não chega o momento do rei D. Sebastião assumir o governo de Portugal, Camões pede que o monarca lhe de atenção ao escutar os seus versos;

(2) ao ouvir esses versos, o monarca verá como os seus Argonautas¹ foram atravessando as salgadas ondas prateadas (salso argento). Estes marinheiros, como agora já estão no Paraíso, ficarão felizes ao serem lembrados pelo monarca e o louvarão no céu.

 

 “Mas, enquanto não chega o tempo de assumir o governo de seu povo, dai vós atenção ao meu pedido, para que estes meus versos sejam seus e, assim, vereis os vossos Argonautas cortando o mar salgado, e estes, ao verem que são vistos, vão falar de vós em louvor”

 

¹Os Argonautas foram grupo de heróis gregos que partiram da cidade de Argo em uma expedição marítima para obter o Velocino de Ouro. Na estrofe, Camões chama os portugueses assim por estes também terem participado de uma expedição marítima.

 

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Esses foram os nossos comentários sobre a sexta estrofe até a décima oitavo do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões dirige suas palavras ao rei Dom Sebastião e diz que dedica sua obra ao jovem monarca.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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