Neste nosso trigésimo terceiro comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o terceiro canto da obra, onde Camões canta o caso de Inês de Casto e o seu triste e cruel assassinato.
CANTO III – ESTROFE 118
“O capitão Vasco da Gama conta que, após a batalha de Salado, a história de Portugal é marcada pelo caso de Inês de Castro”
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória,
Quanta soube ganhar na dura guerra:
O caso triste e dino de memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha,
Que depois de ser morta foi rainha.
“Passada esta tão próspera vitória, tornado Afonso à lusitana terra, a se lograr da paz com tanta glória, quanta soube ganhar na dura guerra: o caso triste e dino de memória, que do sepulcro os homens desenterra, aconteceu da mísera e mesquinha, que depois de ser morta foi rainha. (1)”
(1) Após a grande vitória na batalha de Salado, com o rei Afonso IV retornando para as terras de Portugal depois de celebrar a sua glória, ocorreu o caso triste e memorável, capaz até de fazer os mortos voltarem à vida, da mesquinha e mísera Inês de Castro que, depois de morta, foi rainha. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, agora comentara o caso de Inês de Castro e o príncipe D. Pedro de Portugal.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Após a grande vitória na batalha de Salado, com o rei Afonso IV retornando para as terras de Portugal depois de celebrar a sua glória, ocorreu o caso triste e memorável, capaz até de fazer os mortos voltarem à vida, da mesquinha e mísera Inês de Castro que, depois de morta, foi rainha.”
CANTO III – ESTROFE 119
“O capitão Vasco da Gama culpa o amor pelo assassinato de Inês de Castro”
Tu só, tu, puro amor, com força crua
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
“Tu só, tu, puro amor, com força crua que os corações humanos tanto obriga, deste causa à molesta morte sua, como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua nem com lágrimas tristes se mitiga, é porque queres, áspero e tirano, tuas aras banhar em sangue humano. (1)”
(1) Tu, somente tu, puro amor, com a dura força que tens obriga os corações humanos conseguiu matar Inês ao acreditar que ela fosse sua inimiga. Ó feroz amor, se dizem que nem com tristes lágrimas é possível saciar a sua sede, significa tu, áspero e tirano, na verdade queres banhar os altares em sangue humano. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, começa uma apóstrofe sobre o Amor e o relacionando com o caso de Inês de Castro.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Tu, somente tu, puro amor, com a dura força que tens obriga os corações humanos conseguiu matar Inês ao acreditar que ela fosse sua inimiga. Ó feroz amor, se dizem que nem com tristes lágrimas é possível saciar a sua sede, significa tu, áspero e tirano, na verdade queres banhar os altares em sangue humano.”
CANTO III – ESTROFE 120
“O capitão Vasco da Gama comenta que Inês de Castro estava tranquila vivendo seu amor”
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego;
Que a fortuna não deixa durar muito;
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
“Estavas, linda Inês, posta em sossego, de teus anos colhendo doce fruito, naquele engano da alma, ledo e cego; que a fortuna não deixa durar muito; nos saudosos campos do Mondego, de teus formosos olhos nunca enxuito, aos montes ensinando e às ervinhas o nome que no peito escrito tinhas. (1)”
(1) Tu estavas, linda Inês, vivendo tranquilo os seus anos colhendo o doce e cego engano do amor até a Fortuna, que manda a sorte, deu-lhe as costas. E da tristeza, os teus formosos olhos inundaram os campos do Mondego enquanto ensinava as ervas e os montes o nome do amado que tu trazias escrito no peito. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a história de Inês de Castro.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Tu estavas, linda Inês, vivendo tranquilo os seus anos colhendo o doce e cego engano do amor até a Fortuna, que manda a sorte, deu-lhe as costas. E da tristeza, os teus formosos olhos inundaram os campos do Mondego enquanto ensinava as ervas e os montes o nome do amado que tu trazias escrito no peito.”
CANTO III – ESTROFE 121
“O capitão Vasco da Gama conta que Inês vivia feliz em seu amor”
Do teu príncipe ali te respondiam
As lembranças que n’alma lhe moravam;
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus formosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam:
E quando enfim cuidava, e quanto via,
Eram tudo memórias de alegre.
“Do teu príncipe ali te respondiam as lembranças que n’alma lhe moravam; que sempre ante seus olhos te traziam, quando dos teus formosos se apartavam; de noite, em doces sonhos que mentiam, de dia, em pensamentos que voavam: e quando enfim cuidava, e quanto via, eram tudo memórias de alegre. (1)”
(1) Ali, nos campos de Mondego, respondiam as lembranças do príncipe que moravam em sua alma e que sempre ante os seus olhos se apartavam; de noite, vinham as lembranças que mentiam, de dia, vinham os pensamentos que voavam. Enfim, tudo o que Inês imaginava, pensava e via eram memórias de alegria. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, continua comentando a história do caso de Inês de Castro.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ali, nos campos de Mondego, respondiam as lembranças do príncipe que moravam em sua alma e que sempre ante os seus olhos se apartavam; de noite, vinham as lembranças que mentiam, de dia, vinham os pensamentos que voavam. Enfim, tudo o que Inês imaginava, pensava e via eram memórias de alegria.”
CANTO III – ESTROFE 122
“O capitão Vasco da Gama conta que o príncipe Pedro de Portugal se recusava casar com outras damas, querendo apenas ficar com Inês de Castro”
De outras belas senhoras e princesas
Os desejados tálamos enjeitava;
Que tudo enfim, tu, puro amor, desprezas
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sisudo, que respeita
O murmurar do povo, e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
“De outras belas senhoras e princesas os desejados tálamos enjeitava; que tudo enfim, tu, puro amor, desprezas quando um gesto suave te sujeita. Vendo estas namoradas estranhezas, o velho pai sisudo, que respeita o murmurar do povo, e a fantasia do filho, que casar-se não queria (1)”
(1) Por causa do amor que tinha por ti, o príncipe Pedro rejeitava casar com as outras belas senhoras e princesas, porque tu, ó puro Amor, rejeita tudo quando um suave gesto te domina. O rei Afonso IV, que respeita a vontade do povo, ao ver esses comportamentos amorosos e ver que seu filho não queria se casar. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o príncipe D. Pedro, por amar Inês de Castro, não queria se casar com as pretendentes ideias e, por causa disso, o rei Afonso IV tomou uma decisão [continua na próxima estrofe].
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Por causa do amor que tinha por ti, o príncipe Pedro rejeitava casar com as outras belas senhoras e princesas, porque tu, ó puro Amor, rejeita tudo quando um suave gesto te domina. O rei Afonso IV, que respeita a vontade do povo, ao ver esses comportamentos amorosos e que seu filho não queria se casar,”
CANTO III – ESTROFE 123
“O capitão Vasco da Gama conta que o rei Afonso IV e sua corte não aceitam o relacionamento príncipe, determinando que Inês deva ser assassinada”
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Credo co’o sangue só da morte indina
Matar do filme amor e fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?
“Tirar Inês ao mundo determina, por lhe tirar o filho que tem preso, credo co’o sangue só da morte indina matar do filme amor e fogo aceso. Que furor consentiu que a espada fina, que pôde sustentar o grande peso do furor mauro, fosse alevantada contra uma fraca dama delicada? (1)”
(1) O rei Afonso IV de Portugal determina que Inês de Castro, por ter o amor do príncipe D. Pedro, seja assassinada para que assim o fogo do amor se apague. Que delírio é este que manda uma espada que foi utiliza para enfrentar a fúria dos mouros ser utilizada contra um fraca e delica dama? Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta que o rei Afonso IV determina que Inês de Castro seja assassinada e assim o amor que o confunde o príncipe D. Pedro acabe.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O rei Afonso IV de Portugal determina que Inês de Castro, por ter o amor do príncipe D. Pedro, seja assassinada para que assim o fogo do amor se apague. Que delírio é este que manda uma espada que foi utiliza para enfrentar a fúria dos mouros ser utilizada contra um fraca e delica dama?”
CANTO III – ESTROFE 124
“O capitão Vasco da Gama conta que Inês é raptada e trazia até Afonso IV para ser julgada pelo romance com o príncipe Pedro”
Traziam-na os horríficos algozes
Ante o rei, já movido a piedade;
Mas o povo com falsas e ferozes
Razões à morte crua o persuade.
Ela com triste e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu príncipe, e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
“Traziam-na os horríficos algozes ante o rei, já movido a piedade; mas o povo com falsas e ferozes razões à morte crua o persuade. Ela com triste e piedosas vozes, saídas só da mágoa e saudade do seu príncipe, e filhos, que deixava, que mais que a própria morte a magoava (1)”
(1) Ao ser trazia até o rei por seus terríveis assassinos, Inês conseguiu causar piedade do coração rei Afonso IV, mas o povo, com seus mentirosos e cruéis interesses, persuadem o monarca. Ela, com toda a compaixão que vinha da saudade do seu príncipe e dos seus filhos que deixava, dizia. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o rei Afonso IV cogitou poupar Inês de Castro, mas acabou cedendo à influência daqueles que queriam matá-la.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ao ser trazia até o rei por seus terríveis assassinos, Inês conseguiu causar piedade do coração rei Afonso IV, mas o povo, com seus mentirosos e cruéis interesses, persuadem o monarca. Ela, com toda a compaixão que vinha da saudade do seu príncipe e dos seus filhos que deixava, dizia.”
CANTO III – ESTROFE 125
“O capitão Vasco da Gama conta que Inês de Castro, sendo julgada, tenta se defender”
Para o céu cristalino alevantando
Com lágrimas os olhos piedosos,
(os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos)
E depois, nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:
“Para o céu cristalino alevantando com lágrimas os olhos piedosos, (os olhos, porque as mãos lhe estava atando um dos duros ministros rigorosos) e depois, nos meninos atentando, que tão queridos tinha e tão mimosos, cuja orfandade como mãe temia, para o avô cruel assim dizia (1)”
(1) Inês de Castro levanta a cabeça para cima com olhos buscando piedade (levanta apenas os olhos, porque suas mãos estão atadas por dos cruéis sequestradores) e, olhando atentamente para os seus filhos, que ela temia se tornassem órfãos, disse ao avô das crianças, o rei Afonso IV. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que Inês de Castro, estando captura junto com seus filhos diante do rei Afonso IV, faz um pedido ao monarca português [continua na próxima estrofe].
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Inês de Castro levanta a cabeça para cima com olhos buscando piedade (levanta apenas os olhos, porque suas mãos estão atadas por dos cruéis sequestradores) e, olhando atentamente para os seus filhos, que ela temia se tornassem órfãos, disse ao avô das crianças, o rei Afonso IV.”
CANTO III – ESTROFE 126
“O capitão Vasco da Gama diz que Inês de Castro implora por piedade, argumentando que até animais ferozes podem ser piedosos”
“Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel do nascimento,
E nas aves agrestes, que somente nas
rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento,
Como co’a mãe de Nino já mostraram,
E co’os irmãos que Roma edificaram;
“Se já nas brutas feras, cuja mente natura fez cruel do nascimento, e nas aves agrestes, que somente nas rapinas aéreas tem o intento, com pequenas crianças viu a gente terem tão piedoso sentimento, como co’a mãe de Nino já mostraram, e co’os irmãos que Roma edificaram; (1)”
(1) Diz Inês de Castro: “Se os animais que são cruéis e ferozes por natureza podem ser misericordiosos; como as aves agreste que vivem no ar que já pouparam pequenas crianças, vide como fez a mãe de Nino; ou como irmãos Rômulo e Remo, fundadores de Roma, que foram cuidados por uma loba”. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, diz que Inês de Castro, tentando apelar ao lado piedoso do rei Afonso IV, argumenta que até os ferozes animais conseguem tem piedade de figuras indefesas [continua na próxima estrofe].
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Diz Inês de Castro: Se os animais que são cruéis e ferozes por natureza podem ser misericordiosos; como as aves agreste que vivem no ar que já pouparam pequenas crianças, vide como fez a mãe de Nino; ou como irmãos Rômulo e Remo, fundadores de Roma, que foram cuidados por uma loba.”
CANTO III – ESTROFE 127
“O capitão Vasco da Gama conta que Inês implora pela vida, dizendo que seus filhos serão órfãos se ela morrer”
“Ó tu, que tens de humano gesto e peito,
(Se de humano é matar uma donzela
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la)
A estas criancinhas tem respeito,
Pois não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois não te move a culpa que não tinha.
“Ó tu, que tens de humano gesto e peito, (Se de humano é matar uma donzela fraca e sem força, só por ter sujeito o coração a quem soube vencê-la) a estas criancinhas tem respeito, pois não tens à morte escura dela; mova-te a piedade sua e minha, pois não te move a culpa que não tinha. (1)”
(1) Ó tu, rei Afonso IV, que possui rosto e coração humano – se é humano matar uma donzela fraca e sem força por ter conquistado o coração de quem se apaixonou -, tenha piedade destas crianças, não deixando-as órfãs. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que Inês de Castro implora para que ela e seus filhos sejam poupados da morte.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ó tu, rei Afonso IV, que possui rosto e coração humano – se é humano matar uma donzela fraca e sem força por ter conquistado o coração de quem se apaixonou -, tenha piedade destas crianças, não deixando-as órfãs.”
CANTO III – ESTROFE 128
“O capitão Vasco da Gama conta que Inês que, se o rei Afonso IV consegue enfrentar os fortes mouros, também consegue poupar-lhe a vida”
“E se, vencendo a maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida com clemência
A quem para perdê-la não fez erro;
Mas, se to assim merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria, ou, lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.
“E se, vencendo a maura resistência, a morte sabes dar com fogo e ferro, sabe também dar vida com clemência a quem para perdê-la não fez erro; mas, se to assim merece esta inocência, põe-me em perpétuo e mísero desterro, na Cítia fria, ou, lá na Líbia ardente, onde em lágrimas viva eternamente. (1)”
(1) “E se tu, por vencer a forças dos mouros mostra que sabe dar a morte com ferro e fogo, mostre que sabe dar a vida com clemência a quem não fez nada de errado para perde-la. Mas, se mesmo assim, não mereço ser considerada inocente, coloque-me em exílio perpétuo nas frias regiões da Cítia, ou lá na ardente e quente Líbia, onde em lágrimas eu viva eternamente.” Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta que Inês de Castro implora pela vida e pede que, caso não seja inocentada, que sua pena seja o exílio. Cítia é o nome antigo que davam as regiões no extremo norte da Europa.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E se tu, por vencer a forças dos mouros mostra que sabe dar a morte com ferro e fogo, mostre que sabe dar a vida com clemência a quem não fez nada de errado para perde-la. Mas, se mesmo assim, não mereço ser considerada inocente, coloque-me em exílio perpétuo nas frias regiões da Cítia, ou lá na ardente e quente Líbia, onde em lágrimas eu viva eternamente.”
CANTO III – ESTROFE 129
“O capitão Vasco da Gama comenta que Inês concluí o seu pedido de clemência, implorando para que seu castigo seja o exílio junto com seus filhos”
“Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre lesões e tigres; e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei;
Ali co’o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas, que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.”
“Põe-me onde se use toda a feridade, entre lesões e tigres; e verei se neles achar posso a piedade que entre peitos humanos não achei; ali co’o amor intrínseco e vontade naquele por quem mouro, criarei estas relíquias suas, que aqui viste, que refrigério sejam da mãe triste. (1)”
(1) Concluí Inês de Castro: “coloque-me onde só exista a ferocidade, como entre leões e tigres, pois ali verei se posso ajudar a piedade que não encontrei entre os corações dos humanos e ali criarei, com o amor e com vontade que tenho pelo príncipe Pedro, os meus filhos, as relíquias que aqui viste, para que estes sejam a consolação desta mãe triste.” Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta o fim do pedido de Inês de Castro, que implora para ser exilada e possa criar os filhos que teve com o príncipe Pedro.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Concluí Inês de Castro: coloque-me onde só exista a ferocidade, como entre leões e tigres, pois ali verei se posso ajudar a piedade que não encontrei entre os corações dos humanos e ali criarei, com o amor e com vontade que tenho pelo príncipe Pedro, os meus filhos, as relíquias que aqui viste, para que estes sejam a consolação desta mãe triste.”
CANTO III – ESTROFE 130
“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei Afonso IV, ao ouvir o pedido de Inês, desejou perdoa-la, mas sua corte o convenceu a condena-la”
Queria perdoar-lhe o rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo, e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam as espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali pregoam.
Contra uma dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais, e cavaleiros?
“Queria perdoar-lhe o rei benino, movido das palavras que o magoam; mas o pertinaz povo, e seu destino (Que desta sorte o quis) lhe não perdoam. Arrancam as espadas de aço fino os que por bom tal feito ali pregoam. Contra uma dama, ó peitos carniceiros, feros vos amostrais, e cavaleiros? (1)”
(1) O rei Afonso IV, comido pelas palavras de Inês de Castro, queria poupar-lhe a vida, mas o cruel povo não permite, com os algozes retirando as espadas da bainha para matá-la. Ó corações de carniceiros, são considerados cavaleiros aqueles que se mostram tão ferozes contra uma única dama? Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar história de Portugal, comenta que, apesar de seu pedido de misericórdia, Inês de Castro foi morta pelo rei Afonso IV.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O rei Afonso IV, comido pelas palavras de Inês de Castro, queria poupar-lhe a vida, mas o cruel povo não permite, com os algozes retirando as espadas da bainha para matá-la. Ó corações de carniceiros, são considerados cavaleiros aqueles que se mostram tão ferozes contra uma única dama?”
CANTO III – ESTROFE 131
“O capitão Vasco da Gama diz que Inês é assassinata, comparando-a com a morte de Policena”
Qual contra a linda moça Policena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co’o ferro o duro Pirro se aparelha,
Mas ela os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha)
Na mísera mãe postos, que endoidece,
Ao duro sacrifício se oferece:
“Qual contra a linda moça Policena, consolação extrema da mãe velha, porque a sombra de Aquiles a condena, co’o ferro o duro Pirro se aparelha, mas ela os olhos, com que o ar serena (bem como paciente e mansa ovelha) na mísera mãe postos, que endoidece, ao duro sacrifício se oferece: (1)”
(1) Do mesmo modo que Pirro, ao obedecer ao pedido de seu pai Aquiles, mata a linda moça Policena, que era a consolação de sua velha mãe que enlouqueceu. Ela é morta com um ar sereno, como uma mansa e paciente ovelha antes do abate. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, compara o assassinato de Inês de Castro com o de Policena [continua na próxima estrofe].
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Do mesmo modo que Pirro, ao obedecer ao pedido de seu pai Aquiles, mata a linda moça Policena, que era a consolação de sua velha mãe que enlouqueceu. Ela é morta com um ar sereno, como uma mansa e paciente ovelha antes do abate.”
CANTO III – ESTROFE 132
“O capitão Vasco da Gama descreve o assassinato de Inês de Castro”
Tais contra Inês os brutos matadores
No colo do alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez rainha,
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se escarniçam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.
“Tais contra Inês os brutos matadores no colo do alabastro, que sustinha as obras com que Amor matou de amores aquele que depois a fez rainha, as espadas banhando, e as brancas flores, que ela dos olhos seus regadas tinha, se escarniçam, férvidos e irosos, no futuro castigo não cuidosos. (1)”
(1) Assim como Pirro matou covardemente Policena, os brutos assassinos, que não sabiam o que o castigo que o futuro reservaria por tal ato, atravessam o pescoço de Inês com as espadas, banhando de sangue o pescoço e a face que sustentavam os olhos que matou de amores o príncipe Pedro; ele que, depois dela estar morta, a tornou rainha. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a história de Portugal, descreve a forma como Inês de Castro foi assassinada.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Assim como Pirro matou covardemente Policena, os brutos assassinos, que não sabiam o que o castigo que o futuro reservaria por tal ato, atravessam o pescoço de Inês com as espadas, banhando de sangue o pescoço e a face que sustentavam os olhos que matou de amores o príncipe Pedro; ele que, depois dela estar morta, a tornou rainha.”
CANTO III – ESTROFE 133
“O capitão Vasco da Gama diz que o assassinato de Inês de Castro foi algo tão terrível que até o próprio sol deveria ter se escondido”
Bem puderas, ó sol, da vista destes,
Teus raios apartas aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia!
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.
“Bem puderas, ó sol, da vista destes, teus raios apartas aquele dia, como da seva mesa de Tiestes, quando os filhos por mão de Atreu comia! Vós, ó côncavos vales, que pudestes a voz extrema ouvir da boca fria, o nome do seu Pedro, que lhe ouvistes, por muito grande espaço repetistes. (1)”
(1) Ó Sol, seria melhor que, no dia do assassinato de Inês, escondesse os seus raios, assim como fez quando Tiestes, servindo-se do banquete feito por Atreu, acabou comendo os próprios filhos! Vós, ó côncavos vales, que puderam ouvir o nome de Pedro sair da voz da boca fria da moribunda Inês, repitam por muito tempo o que ouviram. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, compara o cruel e covarde assassinato de Inês de Castro com terríveis eventos míticos e históricos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ó Sol, seria melhor que, no dia do assassinato de Inês, escondesse os seus raios, assim como fez quando Tiestes, servindo-se do banquete feito por Atreu, acabou comendo os próprios filhos! Vós, ó côncavos vales, que puderam ouvir o nome de Pedro sair da voz da boca fria da moribunda Inês, repitam por muito tempo o que ouviram.”
CANTO III – ESTROFE 134
“O capitão Vasco da Gama compara o assassinato de Inês de Castro à uma flor que, ao ser cortada, perde seu cheiro, cor e murcha”
Assim como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo as mãos lascivas maltratada.
Da menina, que a trouxe a capela,
O cheiro traz perdido, e a cor murchada:
Tal está morta a pálida donzela;
Secas do rosto as rosas, e perdida
A branca e viva cor, co’a doce vida.
“Assim como a bonina, que cortada antes do tempo foi, cândida e bela, sendo as mãos lascivas maltratada. Da menina, que a trouxe a capela, o cheiro traz perdido, e a cor murchada: tal está morta a pálida donzela; secas do rosto as rosas, e perdida a branca e viva cor, co’a doce vida. (1)”
(1) Assim como a pura e bela flor do campo que foi cortada antes do tempo que, sendo levada pelas mãos travessas de uma menina que as leva até a capela, acaba perdendo o seu cheiro e sua cor termina murcha, tal está morta e pálida Inês, com seu rosto rosa agora seco e sem a viva cor que tinha antes, a cor da doce vida. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, compara a Inês de Castro com uma flor de campo que, antes viva e bela, agora, depois de ser cortada, está seca e morta.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Assim como a pura e bela flor do campo que foi cortada antes do tempo que, sendo levada pelas mãos travessas de uma menina que as leva até a capela, acaba perdendo o seu cheiro e sua cor termina murcha, tal está morta e pálida Inês, com seu rosto rosa agora seco e sem a viva cor que tinha antes, a cor da doce vida.”
CANTO III – ESTROFE 135
“O capitão Vasco da Gama comenta que as mulheres de Coimbra choram com o assassinato de Inês de Castro”
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram;
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram:
O nome lhe puseram, que inda dura,
“Dos amores de Inês”, que ali passaram,
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome amores.
As filhas do Mondego a morte escura longo tempo chorando memoraram; e, por memória eterna, em fonte pura as lágrimas choradas transformaram: o nome lhe puseram, que inda dura, “Dos amores de Inês”, que ali passaram, vede que fresca fonte rega as flores, que lágrimas são a água, e o nome amores. (1)”
(1) As damas de Coimbra por muito tempo choraram ao lembrar triste morte de Inês e, tamanho foi o pranto, que as lágrimas se transforam numa pura fonte. Esta fonte chamam de “Dos amores de Inês” e os que passaram veem escrito: vejam que fresca fonte rega as flores, vejam as águas são lágrimas e os nomes são amores. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, menciona que, tamanho foi o sofrimento pela morte de Inês, que foi possível criar uma fonte com as lágrimas daqueles que choram de tristeza.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“As damas de Coimbra por muito tempo choraram ao lembrar triste morte de Inês e, tamanho foi o pranto, que as lágrimas se transforam numa pura fonte. Esta fonte chamam de “Dos amores de Inês” e os que passaram veem escrito: vejam que fresca fonte rega as flores, vejam as águas são lágrimas e os nomes são amores.”
Gostou do conteúdo? Comece lendo a nossa série de posts sobre Os Lusíadas clicando aqui.
Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a a centésima décima oitava até a centésima trigésima quinta estrofe do terceiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta o caso de Inês de Casto e o seu triste e cruel assassinato.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.