Neste nosso trigésimo quarto comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o terceiro canto da obra, onde Camões canta a situação do reino de Portugal durante o reinado do rei Pedro I e de seu filho e sucessor, o rei Fernando I.
CANTO III – ESTROFE 136
“O capitão Vasco da Gama conta que, após a morte do rei Afonso IV, Pedro I assume o reino e vinga-se dos assassinos de Inês de Castro”
Não correu muito tempo, que a vingança
Não visse Pedro das mortais feridas;
Que, em tomando do reino a governança,
A tomou dos fugidos homicidas.
Do outro Pedro cruíssimo os alcança;
Que ambos, imigos das humanas vidas,
O concerto fizeram, duro e injusto,
Que com Lépido e Antônio fez Augusto.
“Não correu muito tempo, que a vingança não visse Pedro das mortais feridas; que, em tomando do reino a governança, a tomou dos fugidos homicidas. Do outro Pedro cruíssimo os alcança; que ambos, imigos das humanas vidas, o concerto fizeram, duro e injusto, que com Lépido e Antônio fez Augusto. (1)”
(1) Não passo muito tempo desde o assassinato de Inês, o príncipe Pedro assumiu o governo de Portugal e vingou-se dos assassinos que tentaram fugir. O outro Pedro, rei de Castela, que muito cruel, alcança-os e, ambos os monarcas fazem um cruel acordo de vingança assim como fizeram os Octávio Cesar fez com Lépido e Marco Antônio. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o Pedro I, agora rei de Portugal, começa sua regência se vingando dos cruéis assassinos de Inês de Castro.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Não passo muito tempo desde o assassinato de Inês, o príncipe Pedro assumiu o governo de Portugal e vingou-se dos assassinos que tentaram fugir. O outro Pedro, rei de Castela, que muito cruel, alcança-os e, ambos os monarcas fazem um cruel acordo de vingança assim como fizeram os Octávio Cesar fez com Lépido e Marco Antônio.”
CANTO III – ESTROFE 137
“O capitão Vasco da Gama conta que o rei Pedro I foi um monarca muito duro, sendo conhecido pela forma cruel que tratava os criminosos”
Este, castigador foi rigoroso
De latrocínios, mortes e adultérios:
Fazer nos maus cruezas, fero e iroso,
Eram os seus mais certos refrigérios.
As cidades guardando, justiçoso,
De todos os soberbos vitupérios,
Mais ladrões castigando à morte deu,
Que o vagabundo Alcides ou Teseu.
“Este, castigador foi rigoroso de latrocínios, mortes e adultérios: fazer nos maus cruezas, fero e iroso, eram os seus mais certos refrigérios. As cidades guardando, justiçoso, de todos os soberbos vitupérios, mais ladrões castigando à morte deu, que o vagabundo Alcides ou Teseu. (1)”
(1) O rei Pedro I foi muito rigoroso ao castigar os latrocínios, mortes e adultérios; era passa tempo do monarca ser cruel e feroz contra os maus. Ao proteger as cidades portuguesas, aplicava à justiça com a morte, tendo castigado mais ladrões do que o vagabundo Hércules ou Teseu. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta o quão cruel o rei Pedro I era ao castigar os criminosos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O rei Pedro I foi muito rigoroso ao castigar os latrocínios, mortes e adultérios; era passa tempo do monarca ser cruel e feroz contra os maus. Ao proteger as cidades portuguesas, aplicava à justiça com a morte, tendo castigado mais ladrões do que o vagabundo Hércules ou Teseu.”
CANTO III – ESTROFE 138
“O capitão Vasco da Gama comenta que, com a morte de Pedro I, assume o reino Fernando I, que era muito brando e irresponsável”
Do justo e duro Pedro nasce o brando,
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o reino pôs em muito aperto;
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o reino, totalmente:
Que um fraco rei faz fraca a forte gente.
“Do justo e duro Pedro nasce o brando, (vede da natureza o desconcerto!) remisso e sem cuidado algum, Fernando, que todo o reino pôs em muito aperto; que, vindo o Castelhano devastando as terras sem defesa, esteve perto de destruir-se o reino, totalmente: que um fraco rei faz fraca a forte gente. (1)”
(1) Do justo e duro rei Pedro I nasce Fernando I que, sendo o contrário do pai, era brando e desleixado, tanto que o colou o reino em grandes dificuldades: o rei de Castela, ao atacar Portugal, conseguiu devastar as terras portuguesas, já que elas, não tendo defesa alguma de seu soberano, quase foram destruídas; quando o rei é fraco, o seu povo fica fraco. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que enquanto o rei Pedro era um rei muito duro e cruel, seu filho e sucessor, o rei Fernando, era um monarca fraco.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Do justo e duro rei Pedro I nasce Fernando I que, sendo o contrário do pai, era brando e desleixado, tanto que o colou o reino em grandes dificuldades: o rei de Castela, ao atacar Portugal, conseguiu devastar as terras portuguesas, já que elas, não tendo defesa alguma de seu soberano, quase foram destruídas; quando o rei é fraco, o seu povo fica fraco.”
CANTO III – ESTROFE 139
“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei Fernando I, por um amor inconsequente, se casou com Leonor, que já era casada”
Ou foi castigo claro do pecado
De tirar Lianor a seu marido,
E casar-se com ela, de enlevado
Num falso parecer mal entendido;
Ou foi que o coração sujeito e dado
Ao vício vil, de quem se viu rendido,
Mole se fez e fraco; e bem parece,
Que um baixo amor os fortes enfraquece.
“Ou foi castigo claro do pecado de tirar Lianor a seu marido, e casar-se com ela, de enlevado num falso parecer mal entendido; ou foi que o coração sujeito e dado ao vício vil, de quem se viu rendido, mole se fez e fraco; e bem parece, que um baixo amor os fortes enfraquece. (1)”
(1) O país ser devastado pelo reino de Castela, ou foi um evidente castigo pelo rei Fernando I ter tirado Leonor de seu marido e casado com ela, isto que foi um grande engano; ou talvez o coração do monarca português, que era entregue vício vil, acabou sendo fisgado pelo amor, já que era mole e fraco. E bem parece que o baixo amor enfraquece até os homens mais fortes. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o país foi atacado por Castela porque o rei Fernando I se casou com Leonor, que já era casada com o castelhano.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O país ser devastado pelo reino de Castela, ou foi um evidente castigo pelo rei Fernando I ter tirado Leonor de seu marido e casado com ela, isto que foi um grande engano; ou talvez o coração do monarca português, que era entregue vício vil, acabou sendo fisgado pelo amor, já que era mole e fraco. E bem parece que o baixo amor enfraquece até os homens mais fortes.”
CANTO III – ESTROFE 140
“O capitão Vasco da Gama comenta casos na história de tragédias causados por relacionamentos como o do rei Fernando I e o de Leonor”
Do pecado tiveram sempre a pena
Muitos, que Deus o quis e permitiu:
Os que foram roubar a bela Helena,
E com Ápio também Tarquino o viu.
Pois quem David santo se condena?
Ou quem o tribo ilustre destruiu
De Benjamim? Bem claro no-lo ensina
Por Sara Faraó, Siquém por Dina.
“Do pecado tiveram sempre a pena muitos, que Deus o quis e permitiu: os que foram roubar a bela Helena, e com Ápio também Tarquino o viu. Pois quem David santo se condena? Ou quem o tribo ilustre destruiu de Benjamim? Bem claro no-lo ensina por Sara Faraó, Siquém por Dina. (1)”
(1) Por causa do pecado de alguns, muito sempre sofreram a punição, esta que Deus quis e permitiu; os troianos foram castigados quando a bela Helena foi raptada; e Tarquínio também viu, assim como Ápio. Pois por causa de quem o santo David se condenou? Ou quem destruiu a ilustre tribo de Benjamim? E claramente nos ensina o Faraó por seu amor a Sara, assim como Siquém quando raptou Dina. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, compara a situação do reino do rei Fernando I há casos de luxuria que ocorreram no passado.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Por causa do pecado de alguns, muito sempre sofreram a punição, esta que Deus quis e permitiu; os troianos foram castigados quando a bela Helena foi raptada; e Tarquínio também viu, assim como Ápio. Pois por causa de quem o santo David se condenou? Ou quem destruiu a ilustre tribo de Benjamim? E claramente nos ensina o Faraó por seu amor a Sara, assim como Siquém quando raptou Dina.”
CANTO III – ESTROFE 141
“O capitão Vasco da Gama comenta como um amor desordenado pode desgraçar o mais forte dos homens”
E pois, se os peitos fortes enfraquece
Um inconcesso amor desatinado,
Vem no filho de Alcmena se parece,
Quando em Ônfale andava transformado.
De Marco Antônio a fama se escurece
Com ser tanto a Cleopatra afeiçoado:
Tu também, Peno próspero, o sentiste,
Depois que uma moça vil na Apúlia viste.
“E pois, se os peitos fortes enfraquece um inconcesso amor desatinado, vem no filho de Alcmena se parece, quando em Ônfale andava transformado. De Marco Antônio a fama se escurece com ser tanto a Cleopatra afeiçoado: tu também, Peno próspero, o sentiste, depois que uma moça vil na Apúlia viste. (1)”
(1) E, portanto, é possível ver como um louco amor pode enfraquecer o coração de um homem, vide exemplo o filho de Alcmena, Hércules, que até andava transformado em Ônfale. Também teve o general romano Marco Antônio que perdeu sua glória por causa do amor de Cleópatra; tu também, próspero Aníbal, sentiste o louco amor depois que pois os olhos numa vil moça na Apúlia. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta casos de grandes homens que se desgraçaram por causa do louco amor que tiveram.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E, portanto, é possível ver como um louco amor pode enfraquecer o coração de um homem, vide exemplo o filho de Alcmena, Hércules, que até andava transformado em Ônfale. Também teve o general romano Marco Antônio que perdeu sua glória por causa do amor de Cleópatra; tu também, próspero Aníbal, sentiste o louco amor depois que pois os olhos numa vil moça na Apúlia.”
CANTO III – ESTROFE 142
“O capitão Vasco da Gama comenta o quão difícil pode ser para alguém que está tomado pelo amor”
Mas quem pode livrar-se porventura
Dos laços que o Amor arma brandamente,
Entre rosas e a neve humana pura,
O ouro e o alabastro transparente?
Quem, de uma peregrina formosura,
De um vulto de Medusa propriamente,
Que o coração converte, que tem preso,
Em pedra não, mas em desejo aceso?
“Mas quem pode livrar-se porventura dos laços que o Amor arma brandamente, entre rosas e a neve humana pura, o ouro e o alabastro transparente? Quem, de uma peregrina formosura, de um vulto de Medusa propriamente, que o coração converte, que tem preso, em pedra não, mas em desejo aceso? (1)”
(1) Mas quem pode se livrar das amarras que o amor brandamente arma entre rosas e pura neve humana, o outro e o alabastro transparente? Quem se livrar uma formosa mulher? Quem pode se livrar do rosto de Medusa que transforma o coração, não em Pedro, em um ardente desejo? Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, justifica as ações loucas dos homens, já que ninguém pode escapar do amor.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas quem pode se livrar das amarras que o amor brandamente arma entre rosas e pura neve humana, o outro e o alabastro transparente? Quem se livrar uma formosa mulher? Quem pode se livrar do rosto de Medusa que transforma o coração, não em Pedro, em um ardente desejo?”
CANTO III – ESTROFE 143
“O capitão Vasco da Gama comenta o quão difícil é resistir ao amor”
Quem viu um olhar seguro, um gesto brando,
Uma suave e angélica excelência,
Quem em si ‘stá sempre as almas transformando,
Que tivesse contra ela resistência?
Desculpado por certo está Fernando,
Para quem tem de amor experiência:
Mas antes, tendo livre fantasia,
Por muito mais culpado o julgaria.
“Quem viu um olhar seguro, um gesto brando, uma suave e angélica excelência, quem em si ‘stá sempre as almas transformando, que tivesse contra ela resistência? Desculpado por certo está Fernando, para quem tem de amor experiência: mas antes, tendo livre fantasia, por muito mais culpado o julgaria. (1)”
(1) Quem resistiria ao ver um firme olhar, um rosto suave e angelical que é capaz de atrair as almas para si? O amor descontrolado do rei Fernando I é desculpável para quem teve experiência do amor, embora o monarca seja sempre culpado para aqueles que já se livraram de tal amor. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que, para alguns os atos feitos por causa do amor são perdoáveis, enquanto para outros tais atos são injustificáveis.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Quem resistiria ao ver um firme olhar, um rosto suave e angelical que é capaz de atrair as almas para si? O amor descontrolado do rei Fernando I é desculpável para quem teve experiência do amor, embora o monarca seja sempre culpado para aqueles que já se livraram de tal amor.”
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Esses foram os nossos comentários sobre a centésima trigésima sexta até a centésima quadragésima terceira estrofe do terceiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a situação do reino de Portugal durante o reinado do rei Pedro I e de seu filho e sucessor, o rei Fernando I.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.