Neste nosso trigésimo sétimo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o quarto canto da obra, onde Camões canta o confronto dos exércitos de Portugal e Castela na batalha de Aljubarrota.
CANTO IV – ESTROFE 22
“O capitão Vasco da Gama conta que parte do povo português é a favor de lutar pela defesa de Portugal, com muitos se armando e indo para a batalha”
Das gentes populares, uns aprovam
A guerra com que a pátria sustinha;
Uns as armas alimpam e nevam,
Que a ferrugem da paz gastadas tinha;
Capacetes estofam, peitos provam,
Arma-se cada um como convinha;
Outros fazem vestidos de mil cores,
Com letras e tenções de seus amores.
“Das gentes populares, uns aprovam a guerra com que a pátria sustinha; uns as armas alimpam e nevam, que a ferrugem da paz gastadas tinha; capacetes estofam, peitos provam, arma-se cada um como convinha; outros fazem vestidos de mil cores, com letras e tenções de seus amores. (1)”
(1) Na população portuguesa, alguns aprovam a guerra para defender as terras de Portugal, com uns preparando as armas que estavam enferrujando por causa dos tempos de paz, estofando os capacetes, experimentando peitorais de armaduras e se armando como consegue; outros fazendo os emblemas de suas armas, com cores e letras mostrando os seus amores. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que a população portuguesa apoia a defesa contra o ataque de Castela, com uns se preparando para o combate.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Na população portuguesa, alguns aprovam a guerra para defender as terras de Portugal, com uns preparando as armas que estavam enferrujando por causa dos tempos de paz, estofando os capacetes, experimentando peitorais de armaduras e se armando como consegue; outros fazendo os emblemas de suas armas, com cores e letras mostrando os seus amores.”
CANTO IV – ESTROFE 23
“O capitão Vasco da Gama conta que o rei João saí com exército português para o campo de batalha”
Com toda esta lustrosa companhia
Joane forte sai da fresca Abrantes,
Abrantes, que também da nome da fonte fria
Do Tejo logra as águas abundantes.
Os primeiros armígeros regia
Quem para reger era os mui possantes
Orientais exércitos sem conto,
Com que passava Xerxes o Helesponto:
“Com toda esta lustrosa companhia Joane forte sai da fresca Abrantes, Abrantes, que também da nome da fonte fria Do Tejo logra as águas abundantes. Os primeiros armígeros regia quem para reger era os mui possantes orientais exércitos sem conto, com que passava Xerxes o Helesponto. (1)”
(1) Acompanhada de toda está brilhante companhia, o forte rei João sai da fresca Abrantes, esta que também logra as águas do rio Tejo. D. Nuno Álvares comandava os exércitos portugueses, sendo que ele também seria capaz de comandar os inumeráveis exércitos do rei Xerxes que passaram pelo Helesponto. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o exército do rei João vai ao combate, sendo que a tropa estava sob o comando de D. Nuno Álvares.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Acompanhada de toda está brilhante companhia, o forte rei João sai da fresca Abrantes, esta que também logra as águas do rio Tejo. D. Nuno Álvares comandava os exércitos portugueses, sendo que ele também seria capaz de comandar os inumeráveis exércitos do rei Xerxes que passaram pelo Helesponto.”
CANTO IV – ESTROFE 24
“O capitão Vasco da Gama conta que o exército português é comandado pelo bravo Dom Nuno Álvares”
Dom Nun’ Álvares digo, verdadeiro
Açoute de soberbos Castelhanos,
Como já o forte Huno foi primeiro
Para Franceses, para Italianos.
Outro, também famoso cavaleiro,
Que a ala direita tem dos Lusitanos,
Apto para mandá-los e regê-los,
Mem Rodrigues se diz de Vasconcelos.
“Dom Nun’ Álvares digo, verdadeiro açoute de soberbos Castelhanos, como já o forte Huno foi primeiro para Franceses, para Italianos. Outro, também famoso cavaleiro, que a ala direita tem dos Lusitanos, apto para mandá-los e regê-los, Mem Rodrigues se diz de Vasconcelos. (1)”
(1) Os soldados eram comandados por Dom Nuno Álvares, que era o verdadeiro flagelo das forças castelhanas, assim como o huno Atila foi para os franceses e italianos. Outro nobre era Mem Rodrigues Vasconcelos, que se destacou comandando a ala direita do exército português. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que D. Nuno Álvares comandava o exército portugueses e que Mem Rodrigues Vasconcelos se destacou comandando a ala direita da tropa lusitana.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Os soldados eram comandados por Dom Nuno Álvares, que era o verdadeiro flagelo das forças castelhanas, assim como o huno Atila foi para os franceses e italianos. Outro nobre era Mem Rodrigues Vasconcelos, que se destacou comandando a ala direita do exército português.”
CANTO IV – ESTROFE 25
“O capitão Vasco da Gama conta que outros nobres, incluindo o rei João I, também comandavam outras partes do exército”
E da outra ala, que esta corresponde,
Antão Vasques de Almada é capitão,
Que depois foi de Abranches nobre conde;
Logo na retaguarda não se esconde
Das quinas e castelos o pendão,
Com Joane, rei forte em toda parte,
Que escurecendo o preço vai de Marte.
“E da outra ala, que esta corresponde, Antão Vasques de Almada é capitão, que depois foi de Abranches nobre conde; logo na retaguarda não se esconde das quinas e castelos o pendão, com Joane, rei forte em toda parte, que escurecendo o preço vai de Marte. (1)”
(1) E o flanco esquerdo do exército português era comandado por Antão Vasque de Almada, este que depois veio a se tornar conde de Abranches; e, logo na retaguarda, ostentando o estandarte real de Portugal, está o forte rei João I, mostrando a sua força militar. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que Antão Vasques de Almada comandava o lado esquerdo do exército português, enquanto o rei João I vinha na retaguarda com o estandarte real de Portugal.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E o flanco esquerdo do exército português era comandado por Antão Vasque de Almada, este que depois veio a se tornar conde de Abranches; e, logo na retaguarda, ostentando o estandarte real de Portugal, está o forte rei João I, mostrando a sua força militar.”
CANTO IV – ESTROFE 26
“O capitão Vasco da Gama conta que as mulheres portuguesas ficaram nas muralhas observando o que aconteceria”
Estavam pelos muros temerosas,
E de um alegre medo quase frias,
Rezando as mães, irmãs, damas e esposas,
Prometendo jejuns e romarias.
Já chegam as esquadras belicosas
Defronte das imigas companhias,
Que com grita grandíssima os recebem;
E todas grande dúvida concebem.
“Estavam pelos muros temerosas, e de um alegre medo quase frias, rezando as mães, irmãs, damas e esposas, prometendo jejuns e romarias. Já chegam as esquadras belicosas defronte das imigas companhias, que com grita grandíssima os recebem; e todas grande dúvida concebem. (1)”
(1) As mães, irmãs, damas e esposas dos soldados portugueses estavam nas muralhas rezando e prometendo jejuns e romarias para que eles sobrevivessem à batalha. O exército português chega diante do grande exército formado por Castela, este que os recebe com o soar trombetas, estando ambos os lados inseguros quanto ao resultado da batalha. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que as mulheres portuguesas rezam pelos soldados e pela vitória de Portugal, enquanto os dois exércitos ficam frente a frente.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“As mães, irmãs, damas e esposas dos soldados portugueses estavam nas muralhas rezando e prometendo jejuns e romarias para que eles sobrevivessem à batalha. O exército português chega diante do grande exército formado por Castela, este que os recebe com o soar trombetas, estando ambos os lados inseguros quanto ao resultado da batalha.”
CANTO IV – ESTROFE 27
“O capitão Vasco da Gama comenta que o exército português toca seus trombetas, flautas e tambores”
Respondem as trombetas mensageiras,
Pífaros sibilantes, e atambores;
Alférezes volteiam as bandeiras,
Que variadas são de muitas cores.
Era no seco tempo, que nas eiras
Ceres o fruto deixa aos lavradores;
Entra em Astréia o sol, no mês de Agosto;
Baco das uvas tira o doce mosto.
“Respondem as trombetas mensageiras, pífaros sibilantes, e atambores; alférezes volteiam as bandeiras, que variadas são de muitas cores. Era no seco tempo, que nas eiras Ceres o fruto deixa aos lavradores; entra em Astréia o sol, no mês de agosto; Baco das uvas tira o doce mosto. (1)”
(1) O exército português responde as trombetas castelhanas com suas trombetas, flautas e tambores, enquanto os porta-bandeiras da tropa sacodem as bandeiras de várias cores. O tempo era seco, com os lavradores deixando os frutos, que são bençãos de Ceres, secando; o sol entreva na constelação de virgo, mostrando que era agosto, época que Baco tira das uvas o doce mosto. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o exército português toca suas trombetas em resposta ao exército castelhano e que a batalha ocorria em agosto.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O exército português responde as trombetas castelhanas com suas trombetas, flautas e tambores, enquanto os porta-bandeiras da tropa sacodem as bandeiras de várias cores. O tempo era seco, com os lavradores deixando os frutos, que são bençãos de Ceres, secando; o sol entreva na constelação de virgo, mostrando que era agosto, época que Baco tira das uvas o doce mosto.”
CANTO IV – ESTROFE 28
“O capitão Vasco da Gama conta que o exército castelhano tocou sua trombeta, soando um terrível e assustador ruído”
Deu sinal a trombeta castelhana,
Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu-o monte Artabro, e Guadiana
Atrás tomou as ondas de medroso;
Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;
Correu ao mar o Tejo, duvidoso:
E as mães, o som terríbil escuitaram,
Aos peitos os filhinhos apertaram.
“Deu sinal a trombeta castelhana, horrendo, fero, ingente e temeroso; ouviu-o monte Artabro, e Guadiana atrás tomou as ondas de medroso; ouviu-o o Douro e a terra Transtagana; correu ao mar o Tejo, duvidoso: e as mães, o som terríbil escuitaram, aos peitos os filhinhos apertaram. (1)”
(1) O exército castelhano deu sinal de batalha com sua trombeta, que, de tão alto, horrendo e temeroso, pode ser ouvido do monte Artabro e até abalou as águas do rio Guadiana; também alcançou as águas do rio Douro e as terras do Alentejo. As mães portuguesas, escutando o terrível som, apertavam seus filhos contra o peito. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a trombeta de guerra que deu inicio ao conflito.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O exército castelhano deu sinal de batalha com sua trombeta, que, de tão alto, horrendo e temeroso, pode ser ouvido do monte Artabro e até abalou as águas do rio Guadiana; também alcançou as águas do rio Douro e as terras do Alentejo. As mães portuguesas, escutando o terrível som, apertavam seus filhos contra o peito.”
CANTO IV – ESTROFE 29
“O capitão Vasco da Gama comenta o medo da batalha pode ser mais perigoso que a própria batalha”
Quantos rostos ali se vêem sem cor,
Que ao coração acode o sangue amigo!
Que nos perigos grandes o temor
É maior muitas vezes que o perigo;
E se não é, parece-o; que o furor
De ofender ou vencer o duro imigo,
Faz não sentir que é perda grande e rara,
Dos membros corporais, da vida cara.
“Quantos rostos ali se vêem sem cor, que ao coração acode o sangue amigo! Que nos perigos grandes o temor é maior muitas vezes que o perigo; e se não é, parece-o; que o furor de ofender ou vencer o duro imigo, faz não sentir que é perda grande e rara, dos membros corporais, da vida cara. (1)”
(1) Ao soar as trombetas e começar a combate, quantos rostos no campo de batalha ficaram pálidos, já que o nervosismo faz o sangue correr ao coração! Nos momentos de perigo, o medo geralmente muito maior que o próprio perigo e, se não, parece-o; embora o entusiasmo do combate também seja grande, já que a vontade de vencer um adversário pode se sobressair sobre o medo, fazendo o guerreiro esquecer os perigos mortais da batalha. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta os sentimentos que passam pelos soldados antes da batalha.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ao soar as trombetas e começar a combate, quantos rostos no campo de batalha ficaram pálidos, já que o nervosismo faz o sangue correr ao coração! Nos momentos de perigo, o medo geralmente muito maior que o próprio perigo e, se não, parece-o; embora o entusiasmo do combate também seja grande, já que a vontade de vencer um adversário pode se sobressair sobre o medo, fazendo o guerreiro esquecer os perigos mortais da batalha.”
CANTO IV – ESTROFE 30
“O capitão Vasco da Gama comenta que começa a batalha de Aljubarrota, com os exércitos de Portugal e Castela se atacando”
Começa-se a travar a incerta guerra;
De ambas as partes se move a primeira ala;
Uns, leva a defensão da própria terra,
Outros, a esperança de ganhá-la.
Logo o grande Pereira, em quem se encerra
Todo o valor, primeiro se assinala:
Derriba e encontra, e a terra enfim semeia
Dos que a tanto desejam, sendo alheia.
“Começa-se a travar a incerta guerra; de ambas as partes se move a primeira ala; uns, leva a defensão da própria terra, outros, a esperança de ganhá-la. Logo o grande Pereira, em quem se encerra todo o valor, primeiro se assinala: derriba e encontra, e a terra enfim semeia dos que a tanto desejam, sendo alheia. (1)”
(1) Então se inicia a incerta guerra entre as Portugal e Castela, com as primeiras fileiras de ambos os exércitos avançando. Os portugueses lutavam para manter suas terras, enquanto os castelhanos lutam para conquista-las. Não demora muito para o D. Nuno Álvares Pereira mostre seu grande valor em combate, derrubando os inimigos castelhanos que encontra e os utilizando para semear o solo que tanto desejam conquistar. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, conta que começa a guerra entre Portugal e Castela, com D. Nuno Álvares se destacando em combate.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Então se inicia a incerta guerra entre as Portugal e Castela, com as primeiras fileiras de ambos os exércitos avançando. Os portugueses lutavam para manter suas terras, enquanto os castelhanos lutam para conquista-las. Não demora muito para o D. Nuno Álvares Pereira mostre seu grande valor em combate, derrubando os inimigos castelhanos que encontra e os utilizando para semear o solo que tanto desejam conquistar.”
CANTO IV – ESTROFE 31
“O capitão Vasco da Gama descreve a batalha, dando destaque aos feitos de Dom Nuno Álvares”
Já pelo espesso ar os estridentes
Farpões, setas e vários tiros voam;
Debaixo dos pés duros dos ardentes
Cavalos treme a terra, os vales soam;
Espedaçam-se as lanças, e as frequentes
Quedas co’as duras armas tudo atroam.
Recrescem os imigos sobre a pouca
Gente do fero Nuno, que os apouca.
“Já pelo espesso ar os estridentes farpões, setas e vários tiros voam; debaixo dos pés duros dos ardentes cavalos treme a terra, os vales soam; espedaçam-se as lanças, e as frequentes quedas co’as duras armas tudo atroam. Recrescem os imigos sobre a pouca gente do fero Nuno, que os apouca. (1)”
(1) As lanças, setas e tiros voam pelo denso da batalha; a terra tremia embaixo dos cascos dos cavalos que corriam, ressoando nos vales; quebram-se as lanças do peito dos cavaleiros e ressoa o estrondo de suas quedas. Cresce o número de adversários que enfrentam o feroz Nunes Álvares, que vai derrotando a todos. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, segue narrando a batalha de Aljubarrota.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“As lanças, setas e tiros voam pelo denso da batalha; a terra tremia embaixo dos cascos dos cavalos que corriam, ressoando nos vales; quebram-se as lanças do peito dos cavaleiros e ressoa o estrondo de suas quedas. Cresce o número de adversários que enfrentam o feroz Nunes Álvares, que vai derrotando a todos.”
CANTO IV – ESTROFE 32
“O capitão Vasco da Gama comenta que, durante a batalha, os irmãos de Dom Nuno e outros nobres portugueses se mostram traidores”
Eis ali seus irmãos contra ele vão,
(Caso feio e cruel!) mas não se espanta;
Que menos é querer matar o irmão,
Quem contra o rei e a pátria se alevanta.
Destes arrenegados muito são
No primeiro esquadrão, que se adianta
Contra irmãos e parentes (caso estranho!)
Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.
“Eis ali seus irmãos contra ele vão, (caso feio e cruel!) mas não se espanta; que menos é querer matar o irmão, quem contra o rei e a pátria se alevanta. Destes arrenegados muito são no primeiro esquadrão, que se adianta contra irmãos e parentes (caso estranho!) Quais nas guerras civis de Júlio e Magno. (1)”
(1) Contra D. Nunes também se voltam seus irmãos, caso feio e cruel destes que se aliaram à Castela; mas não se espanta, pois matar um irmão traidor é menos terrível do que se voltar conta o seu rei e a sua pátria. Muitos portugueses traidores surgem na retaguarda do exército, se voltando conta irmãos e parentes – caso feio! – assim como aconteceu durante a guerra civil romana de Júlio Cesar e Pompeu Magno. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que os irmãos de D. Nunes Álvares, assim como alguns outros portugueses, traíram Portugal e se aliaram à Castela.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Contra D. Nunes também se voltam seus irmãos, caso feio e cruel destes que se aliaram à Castela; mas não se espanta, pois matar um irmão traidor é menos terrível do que se voltar conta o seu rei e a sua pátria. Muitos portugueses traidores surgem na retaguarda do exército, se voltando conta irmãos e parentes – caso feio! – assim como aconteceu durante a guerra civil romana de Júlio Cesar e Pompeu Magno.”
CANTO IV – ESTROFE 33
“O capitão Vasco da Gama comenta o destino daqueles que se voltam contra a própria pátria”
Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos
Que contra vossas pátrias com profano
Coração voz fizestes inimigos,
Se la no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
Dizei-lhe, que também dos Portugueses
Alguns traidores houve algumas vezes.
“Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano, Catilina, e vós outros dos antigos que contra vossas pátrias com profano coração voz fizestes inimigos, se la no reino escuro de Sumano receberdes gravíssimos castigos, dizei-lhe, que também dos Portugueses alguns traidores houve algumas vezes. (1)”
(1) Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano e Catilina, e vós também, antigos que se voltaram contra a própria pátria, se no Inferno que agora estão, o escuro reino de Plutão, recebem castigos por suas traições, digam como é sofrer por isso aos portugueses traidores. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, menciona os nomes de figuras históricas importantes que se voltaram contra a sua pátria.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano e Catilina, e vós também, antigos que se voltaram contra a própria pátria, se no Inferno que agora estão, o escuro reino de Plutão, recebem castigos por suas traições, digam como é sofrer por isso aos portugueses traidores.”
CANTO IV – ESTROFE 34
“O capitão Vasco da Gama continua descrevendo a batalha, mencionando a situação de Dom Nuno Álvares”
Rompem-se aqui dos nossos os primeiros;
Tanto dos inimigos a eles vão!
Está ali Nuno, qual pelos outeiros
De Ceita está o fortíssimo leão,
Que cercado se vê dos cavaleiros
Que os campos vão correr de Teutão;
Perseguem-no co’as lanças, e ele iroso,
Torvado um pouco está, mas não medroso;
“Rompem-se aqui dos nossos os primeiros; tanto dos inimigos a eles vão! Está ali Nuno, qual pelos outeiros de Ceita está o fortíssimo leão, que cercado se vê dos cavaleiros que os campos vão correr de Teutão; perseguem-no co’as lanças, e ele iroso, torvado um pouco está, mas não medroso; (1)”
(1) Durante a batalha, a vanguarda dos portugueses é rompida pelos castelhanos, com os inimigos cercando o fortíssimo Dom Nuno que se caçado como um leão. Ele é perseguido por lanças e, apesar de não ter medo, fica tomado pela ira. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, descreve a desenrolar da batalha de Aljubarrota.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Durante a batalha, a vanguarda dos portugueses é rompida pelos castelhanos, com os inimigos cercando o fortíssimo Dom Nuno que se caçado como um leão. Ele é perseguido por lanças e, apesar de não ter medo, fica tomado pela ira.”
CANTO IV – ESTROFE 35
“O capitão Vasco da Gama continua descrevendo a batalha de Aljubarrota”
Com torva vista os vê; mas a natura
Ferina e a ira não lhe compadecem
Que as costa dê; mas antes na espessura
Das lanças se arremessa, que crescem:
Tal está o cavaleiro, que a verdura
Tinge c’o sangue alheio; ali perecem
Alguns dos seus, que o ânimo valente
Perde a virtude contra tanta gente.
“Com torva vista os vê; mas a natura ferina e a ira não lhe compadecem que as costa dê; mas antes na espessura das lanças se arremessa, que crescem: tal está o cavaleiro, que a verdura tinge c’o sangue alheio; ali perecem alguns dos seus, que o ânimo valente perde a virtude contra tanta gente. (1)”
(1) Assim como um leão que vê seus caçadores com um olhar terrível e, em vez de dar as costas, avança contra as lanças inimigas que são cada mais, o cavaleiro Dom Nuno ataca seus adversários, tingindo com a cor vermelha o verde chão; na batalha também perecem alguns portugueses pois, mesmo os lusitanos tendo muita coragem, os números de Castela são muito superiores. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, continua narrando o desenrolar da batalha de Aljubarrota.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Assim como um leão que vê seus caçadores com um olhar terrível e, em vez de dar as costas, avança contra as lanças inimigas que são cada mais, o cavaleiro Dom Nuno ataca seus adversários, tingindo com a cor vermelha o verde chão; na batalha também perecem alguns portugueses pois, mesmo os lusitanos tendo muita coragem, os números de Castela são muito superiores.”
CANTO IV – ESTROFE 36
“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei João I parte para socorrer Dom Nuno Álvares”
Sentiu Joane a afronta que passava
Nuno; que, como sábio capitão
Tudo corria e via a todos dava,
Com presença e palavras, coração –
Qual parida leoa, fera e brava,
Que os filhos, que no ninho estão,
Sentiu que, enquanto pasto lhe buscara
O pastor de Massília lhos furtara,
“Sentiu Joane a afronta que passava Nuno; que, como sábio capitão tudo corria e via a todos dava, com presença e palavras, coração – qual parida leoa, fera e brava, que os filhos, que no ninho estão, sentiu que, enquanto pasto lhe buscara o pastor de Massília lhos furtara, (1)”
(1) O rei João I, como sábio capitão que era, percorria o campo de batalha dando assistência ao seu exército; ele então, vendo a complicada situação que Dom Nuno se encontrava, parte para seu socorro, assim como uma leoa que avança raivosa contra o caçador que tenta atacar os filhos em seu ninho. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o rei João parte para socorrer o capitão Dom Nunes.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O rei João I, como sábio capitão que era, percorria o campo de batalha dando assistência ao seu exército; ele então, vendo a complicada situação que Dom Nuno se encontrava, parte para seu socorro, assim como uma leoa que avança raivosa contra o caçador que tenta atacar os filhos em seu ninho.”
CANTO IV – ESTROFE 37
“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei João I inspira suas tropas a continuar lutando contra os castelhanos”
Corre a raivosa e freme, e com bramidos
Os montes Sete-Irmãos atroa e abala:
Tal Joane, com outros escolhidos
Dos seus, correndo acode à primeira ala:
“Ó fortes companheiros, ó subidos
Cavaleiros, a quem nenhum se iguala,
Defendei vossas terras, que a esperança
Da liberdade está na vossa lança.
“Corre a raivosa e freme, e com bramidos os montes Sete-Irmãos atroa e abala: tal Joane, com outros escolhidos dos seus, correndo acode à primeira ala: “Ó fortes companheiros, ó subidos Cavaleiros, a quem nenhum se iguala, defendei vossas terras, que a esperança da liberdade está na vossa lança. (1)”
(1) Assim como uma leoa que, raivosa e feroz, corre pra proteger seus filhotes de um caçador, abalando os montes Sete-Irmãos com seu rugido, o rei João I, acompanhado de outros cavaleiro, corre até à primeira ala para socorrer Dom Nuno: “Ó fortes companheiros portugueses, ó subidos e inigualáveis cavaleiros portugueses, defendei as vossas terras, pois a esperança de um Portugal livre está na ponta de vossas lanças. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o rei João I vai até o D. Nuno Álvares para socorre-lo.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Assim como uma leoa que, raivosa e feroz, corre pra proteger seus filhotes de um caçador, abalando os montes Sete-Irmãos com seu rugido, o rei João I, acompanhado de outros cavaleiro, corre até à primeira ala para socorrer Dom Nuno: “Ó fortes companheiros portugueses, ó subidos e inigualáveis cavaleiros portugueses, defendei as vossas terras, pois a esperança de um Portugal livre está na ponta de vossas lanças.”
CANTO IV – ESTROFE 38
“O capitão Vasco da Gama comenta o discurso do rei João I”
“Vede-me aqui, rei vosso e companheiro,
Que entre lanças e setas e os arneses
Dos inimigos corro, e vou primeiro!
Pelejai, verdadeiros Portugueses!”
Isto disse o magnânimo guerreiro
E, sopesando a lança quatro vezes,
Com força tira; e deste único tiro
Muitos lançaram o último suspiro!
“Vede-me aqui, rei vosso e companheiro, que entre lanças e setas e os arneses dos inimigos corro, e vou primeiro! Pelejai, verdadeiros Portugueses!” Isto disse o magnânimo guerreiro e, sopesando a lança quatro vezes, com força tira; e deste único tiro muitos lançaram o último suspiro! (1)”
(1) Vejam-me aqui, o vosso rei e companheiro que, entre lanças, setas e os arneses dos inimigos, corro lutando na frente! Lutem, verdadeiros portugueses!” Isso disse o magnânimo rei guerreiro João I, enquanto, com sua lança, estocou quatro vezes os adversários com força, dando aos castelhanos atingidos o último suspiro. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, descreve a fala do rei João I, que motiva seus soldados e luta contra os castelhanos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vejam-me aqui, o vosso rei e companheiro que, entre lanças, setas e os arneses dos inimigos, corro lutando na frente! Lutem, verdadeiros portugueses!” Isso disse o magnânimo rei guerreiro João I, enquanto, com sua lança, estocou quatro vezes os adversários com força, dando aos castelhanos atingidos o último suspiro.”
CANTO IV – ESTROFE 39
“O capitão Vasco da Gama comenta que o discurso do rei João I inspira suas tropas, fazendo os portugueses lutam com mais garra”
Porque eius os seus, acesos novamente
Duma nobre vergonha e honroso fogo
Sobre o qual mais com ânimo valente
Perigos vencerá do márcio jogo,
Porfiam; tinge o ferro o sangue ardente;
Rompem malhas primeiro, e peitos logo:
Assim recebem junto e dão feridas,
Como a quem já não dói perder as vidas.
“Porque eius os seus, acesos novamente duma nobre vergonha e honroso fogo sobre o qual mais com ânimo valente perigos vencerá do márcio jogo, porfiam; tinge o ferro o sangue ardente; rompem malhas primeiro, e peitos logo: assim recebem junto e dão feridas, como a quem já não dói perder as vidas. (1)”
(1) Escutando as palavras de seu rei, o ânimo dos portugueses fica novamente aceso, com eles enfrentando com mais garra as forças castelhanas; pintam as armas com sangue ardente dos inimigos, rompendo as malhas e seus peitos; dão e recebem ferimentos, como quem não teme perder a vida. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que, após o discurso do rei João I, os soldados portugueses lutam com mais garra, matando muitos castelhanos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Escutando as palavras de seu rei, o ânimo dos portugueses fica novamente aceso, com eles enfrentando com mais garra as forças castelhanas; pintam as armas com sangue ardente dos inimigos, rompendo as malhas e seus peitos; dão e recebem ferimentos, como quem não teme perder a vida.”
CANTO IV – ESTROFE 40
“O capitão Vasco da Gama comenta que muito vão morrendo durante a batalha, tanto castelhanos quanto portugueses”
A muitos mandam ver o Estígio lago,
Em cujo o corpo a morte e o ferro entrava:
O mestre morre ali de Santiago,
Que fortissimamente pelejava;
Morre também, fazendo grande estrago
Outro mestre cruel de Calatrava:
Os Pereiras também arrenegados
Morrem, arrenegando o céu e os fados.
“A muitos mandam ver o Estígio lago, em cujo o corpo a morte e o ferro entrava: o mestre morre ali de Santiago, que fortissimamente pelejava; morre também, fazendo grande estrago outro mestre cruel de Calatrava: os Pereiras também arrenegados morrem, arrenegando o céu e os fados. (1)”
(1) O exército português mata muitos castelhanos, mandando-os para lago Estíge; dos portugueses, morre lutando Mem Rodrigues de Vasconcelos; os parentes e irmãos morrem, dentre eles o cruel Calatrava, sendo que estes, por traírem à pátria, também traíram o céu e o seu destino. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta os personagens que morrem na batalha de Aljubarrota.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O exército português mata muitos castelhanos, mandando-os para lago Estíge; dos portugueses, morre lutando Mem Rodrigues de Vasconcelos; os parentes e irmãos morrem, dentre eles o cruel Calatrava, sendo que estes, por traírem à pátria, também traíram o céu e o seu destino.”
CANTO IV – ESTROFE 41
“O capitão Vasco da Gama comenta que mais homens vão morrendo durante a batalha até que, enfim, cai a bandeira do exército de Castela”
Muitos também do vulgo vil sem nome
Vão, e também os nobres, ao Profundo,
Onde o trifauce cão perpétua fome
Tem das almas que passam deste mundo.
E por que mais aqui se amanse e dome
A soberba do inimigo furibundo,
A sublime bandeira castelhana
Foi derribada aos pés da lusitana.
“Muitos também do vulgo vil sem nome vão, e também os nobres, ao Profundo, onde o trifauce cão perpétua fome tem das almas que passam deste mundo. E por que mais aqui se amanse e dome a soberba do inimigo furibundo, a sublime bandeira castelhana foi derribada aos pés da lusitana. (1)”
(1) Muitos comuns e nobres morrem na batalha, indo todos para o profundo lugar onde Cérbero, o cão de três cabeças, mantém sua fome eterna pelas almas que parte deste mundo. Por fim, amansando a soberba do desesperado inimigo, a bandeira castelhana cai perante os pés da bandeira lusitana. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que muito morrem na batalha, tanto comuns quanto nobres, até que os castelhanos são derrotados pelos portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Muitos comuns e nobres morrem na batalha, indo todos para o profundo lugar onde Cérbero, o cão de três cabeças, mantém sua fome eterna pelas almas que parte deste mundo. Por fim, amansando a soberba do desesperado inimigo, a bandeira castelhana cai perante os pés da bandeira lusitana.”
CANTO IV – ESTROFE 42
“O capitão Vasco da Gama descreve o quão sangrenta foi a batalha”
Aqui a fera batalha se encruece
Com mortes, gritos, sangue e cutiladas;
A multidão da gente que perece,
Tem as flores da própria cor mudada.
Já as costas dão as vidas; já falece
O furor, e sobejam as lançadas;
Já de Castela o rei desbaratado
Se vê, e de seu propósito mudado.
“Aqui a fera batalha se encruece com mortes, gritos, sangue e cutiladas; a multidão da gente que perece, tem as flores da própria cor mudada. Já as costas dão as vidas; já falece o furor, e sobejam as lançadas; já de Castela o rei desbaratado se vê, e de seu propósito mudado. (1)”
(1) A batalha de Aljubarrota vai ficar mais cruel, com gritos, sangue, cortes e morte; a multidão de mortes é tamanha que até mudou a cor de seus rostos. Os castelhanos começam a fugir por suas vidas, fazendo sobrar portugueses no campo de batalha enquanto o rei de Castela se vê derrotado e a conquista de Portugal fracassada. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que a vitória dos portugueses na batalha de Aljubarrota.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“A batalha de Aljubarrota vai ficar mais cruel, com gritos, sangue, cortes e morte; a multidão de mortes é tamanha que até mudou a cor de seus rostos. Os castelhanos começam a fugir por suas vidas, fazendo sobrar portugueses no campo de batalha enquanto o rei de Castela se vê derrotado e a conquista de Portugal fracassada.”
CANTO IV – ESTROFE 43
“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei de Castela sobrevive e foge da batalha com os demais sobreviventes do seu exército”
O campo vai deixando ao vencedor,
Contente de lhe não deixar a vida;
Seguem-no os que ficam; e o temor
Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.
Encobrem no profundo peito a dor
Da morte, da fazenda despendida,
Da mágoa, da desonra e triste nojo
De ver outrem triunfar de seu despojo.
“O campo vai deixando ao vencedor, contente de lhe não deixar a vida; seguem-no os que ficam; e o temor lhe dá, não pés, mas asas à fugida. Encobrem no profundo peito a dor da morte, da fazenda despendida, da mágoa, da desonra e triste nojo de ver outrem triunfar de seu despojo. (1)”
(1) O rei de Castela vai deixando o campo ao vencedor, se contentando em não deixar sua vida para o rei português, e os soldados castelhanos que sobreviveram seguem o seu rei, pois o temor da morte faz não que corram, mas sim que voem dali. Vão embora carregando no coração a dor da morte, dos gastos com a guerra que perderam, da mágoa, da desonra e da tristeza de ver que os portugueses triunfam sobre a derrota dos castelhanos. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a retirada em fuga das tropas castelhanas que sobreviveram, estando o rei de Castela entre eles.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O rei de Castela vai deixando o campo ao vencedor, se contentando em não deixar sua vida para o rei português, e os soldados castelhanos que sobreviveram seguem o seu rei, pois o temor da morte faz não que corram, mas sim que voem dali. Vão embora carregando no coração a dor da morte, dos gastos com a guerra que perderam, da mágoa, da desonra e da tristeza de ver que os portugueses triunfam sobre a derrota dos castelhanos.”
CANTO IV – ESTROFE 44
“O capitão Vasco da Gama comenta a frustação dos castelhanos que fogem da batalha”
Alguns vão maldizendo e blasfemando
Do primeiro que guerra fez no mundo;
Outros a sede dura vão culpando
Do peito cobiçoso e sitibundo,
Que, por tomar o alheio, o miserando
Povo aventura às penas do Profundo;
Deixando tantas mães, tantas esposas
Sem filhos, sem maridos, desditosas.
“Alguns vão maldizendo e blasfemando do primeiro que guerra fez no mundo; outros a sede dura vão culpando do peito cobiçoso e sitibundo, que, por tomar o alheio, o miserando povo aventura às penas do Profundo; deixando tantas mães, tantas esposas sem filhos, sem maridos, desditosas. (1)”
(1) Alguns dos castelhanos que fogem vão reclamando e praguejando contra o primeiro homem que inventou a guerra; outros culpam a cobiça e sedento pelas coisas alheias que leva o povo a se aventurar no profundo inferno, deixando tantas mães sem filhos e tantas esposas sem maridos, ambas elas no infortúnio. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta as queixas dos castelhanos derrotados que fogem da batalha de Aljubarrota.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Alguns dos castelhanos que fogem vão reclamando e praguejando contra o primeiro homem que inventou a guerra; outros culpam a cobiça e sedento pelas coisas alheias que leva o povo a se aventurar no profundo inferno, deixando tantas mães sem filhos e tantas esposas sem maridos, ambas elas no infortúnio.”
CANTO IV – ESTROFE 45
“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei João I comemora a vitória sobre Castela e faz graças e honras pela vitória”
O vencedor Joane esteve os dias
Costumados no campo, em grande glória;
Com ofertas e depois romarias,
As graças deu a quem lhe deu a vitória.
Mas Nuno, que não quer por outras vias
Entre as gentes deixar de si memória,
Senão por armas sempre soberanas,
Para as terras se passa Transtaganas.
“O vencedor Joane esteve os dias costumados no campo, em grande glória; com ofertas e depois romarias, as graças deu a quem lhe deu a vitória. Mas Nuno, que não quer por outras vias entre as gentes deixar de si memória, senão por armas sempre soberanas, para as terras se passa Transtaganas. (1)”
(1) O rei João I, após vencer a batalha de Aljubarrota e passar três dias no campo de batalha celebrando, faz as honras e romarias a Guimarães, que lhe deu a vitória. Porém o bravo Dom Nuno, que não deixar de ser lembrado por seus grandes feitos em batalha, vai para as terras Transtaganas, a fim de perseguir as tropas castelhanas que fugiam. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que, após a batalha, o rei João I, honra uma promessa religiosa, enquanto D. Nuno Álvares persegue as tropas castelhanas que sobreviveram.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O rei João I, após vencer a batalha de Aljubarrota e passar três dias no campo de batalha celebrando, faz as honras e romarias a Guimarães, que lhe deu a vitória. Porém o bravo Dom Nuno, que não deixar de ser lembrado por seus grandes feitos em batalha, vai para as terras Transtaganas, a fim de perseguir as tropas castelhanas que fugiam.”
CANTO IV – ESTROFE 46
“O capitão Vasco da Gama comenta que Dom Nuno ainda persegue os castelhanos que sobreviveram à batalha”
Ajuda-o seu destino de maneira
Que fez igual o efeito ao pensamento;
Porque a terra dos Vândalos fronteira
Lhe concede o despojo e o vencimento.
Já de Sevilha a bética bandeira,
E de vários senhores, num momento
Se lhe derriba aos pés, sem ter defesa,
Obrigados da força portuguesa.
“Ajuda-o seu destino de maneira que fez igual o efeito ao pensamento; porque a terra dos Vândalos fronteira lhe concede o despojo e o vencimento. Já de Sevilha a bética bandeira, e de vários senhores, num momento se lhe derriba aos pés, sem ter defesa, obrigados da força portuguesa. (1)”
(1) O destino está ao lado de Dom Nuno, acontecendo exatamente o que ele tinha em pensamento: as terras da Andaluzia fazem fronteira com Portugal, lhe dando despojo e vencimento. Ele derruba as bandeiras de Sevilha e de vários senhores espanhóis, já que estes não têm defesa contra a força portuguesa. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o D. Nuno Álvares derrota as forças espanholas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O destino está ao lado de Dom Nuno, acontecendo exatamente o que ele tinha em pensamento: as terras da Andaluzia fazem fronteira com Portugal, lhe dando despojo e vencimento. Ele derruba as bandeiras de Sevilha e de vários senhores espanhóis, já que estes não têm defesa contra a força portuguesa.”
CANTO IV – ESTROFE 47
“O capitão Vasco da Gama comenta que os castelhanos continuaram a sobre derrotas dos portugueses até que se sagrou a paz com casamentos”
Destas e outras vitórias longamente
Eram os Castelhanos oprimidos,
Quando a paz, desejada já da gente,
Deram os vencedores aos vencidos,
Depois que quis o Padre onipotente
Dar os reis inimigos por maridos
Às duas ilustríssimas Inglesas,
Gentis, fermosas, ínclitas princesas.
“Destas e outras vitórias longamente eram os Castelhanos oprimidos, quando a paz, desejada já da gente, deram os vencedores aos vencidos, depois que quis o Padre onipotente dar os reis inimigos por maridos às duas ilustríssimas Inglesas, gentis, fermosas, ínclitas princesas. (1)”
(1) Os castelhanos foram oprimidos várias outras vezes até os portugueses deram a paz que todos tanto desejavam ao sagrar, como assim quis o Padre onipotente, o casamento dos reis inimigos com as duas ilustríssimas gentis, fermosas e ínclitas princesas inglesas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que a guerra de Portugal e Castela teve fim com a celebração do casamento do rei de Portugal e do rei de Castela com princesas inglesas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Os castelhanos foram oprimidos várias outras vezes até os portugueses deram a paz que todos tanto desejavam ao sagrar, como assim quis o Padre onipotente, o casamento dos reis inimigos com as duas ilustríssimas gentis, fermosas e ínclitas princesas inglesas.”
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a vigésima segunda até a quadragésima sétima estrofe do quarto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta o confronto dos exércitos de Portugal e Castela na batalha de Aljubarrota.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.