Neste nosso quadragésimo primeiro comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o quarto canto da obra, onde Camões canta os preparativos da frota do capitão Vasco da Gama para partir rumo às terras do Oriente.

OS LUSÍADAS OS PREPARATIVOS PARA A VIAGEM AO ORIENTE
Os preparativos para a viagem às terras do Oriente

CANTO IV – ESTROFE 76

“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei Manoel I convoca os nobre portugueses e comenta sobre o seu sonho”

 

Chama o rei os senhores a conselho,

E propõe-lhe as figuras da visão;

As palavras lhe diz do santo velho,

Que a todos foram grande admiração.

Determinam o náutico aparelho,

Para que com sublime coração

Vá gente que mandar cortando os mares,

A buscar novos climas, novos ares.

 

“Chama o rei os senhores a conselho, e propõe-lhe as figuras da visão; as palavras lhe diz do santo velho, que a todos foram grande admiração. Determinam o náutico aparelho, para que com sublime coração vá gente que mandar cortando os mares, a buscar novos climas, novos ares. (1)

(1) O rei Manoel I convoca os nobres portugueses num conselho e conta as imagens do Oriente que teve em seu sonho, assim como diz as palavras proferidas pelo homem velho que personificava o rio Gangues, deixando todos os presentes admirados. Os conselheiros então determinam os preparativos par uma expedição marítima para que os portugueses desbravem os mares em busca de novas regiões e novos céus. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que o rei Manoel I, após o sonho que teve com as terras do Oriente, convoca os nobres portugueses, contando o que viu e ouviu em seus sonhos; eles, estando todos admirados, preparam uma expedição náutica para desbravar os mares e alcançar as terras indianas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O rei Manoel I convoca os nobres portugueses num conselho e conta as imagens do Oriente que teve em seu sonho, assim como diz as palavras proferidas pelo homem velho que personificava o rio Gangues, deixando todos os presentes admirados. Os conselheiros então determinam os preparativos par uma expedição marítima para que os portugueses desbravem os mares em busca de novas regiões e novos céus.”

CANTO IV – ESTROFE 77

“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei Manoel e convocou para comandar a expedição portuguesa rumo às terras do Oriente”

 

Eu, que bem mal cuidava que em efeito

Se pudesse o que o peito me pedia,

Que sempre grandes cousas desse jeito

Pressago o coração me prometia,

Não sei por que razão, por que respeito,

Ou por que bom sinal que em mim se via,

Me põe o ínclito rei nas mãos a chave

Deste cometimento grande e grave.

 

“Eu, que bem mal cuidava que em efeito se pudesse o que o peito me pedia, que sempre grandes cousas desse jeito pressago o coração me prometia, não sei por que razão, por que respeito, ou por que bom sinal que em mim se via, me põe o ínclito rei nas mãos a chave deste cometimento grande e grave. (1)

(1) Eu, Vasco da Gama, embora meu coração desejasse realizar grandes feitos, não acreditava que pudesse participar de empreitadas tão grandiosas até que o ilustre rei Manoel I, não sei por respeito ou por ver que tenho o aspecto de um bom marinheiro, me incumbiu da grande honra de liderar está grande e importante expedição. O capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que ele foi escolhido pelo rei Manoel I para comandar a expedição portuguesa rumo ao Oriente.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Eu, Vasco da Gama, embora meu coração desejasse realizar grandes feitos, não acreditava que pudesse participar de empreitadas tão grandiosas até que o ilustre rei Manoel I, não sei por respeito ou por ver que tenho o aspecto de um bom marinheiro, me incumbiu da grande honra de liderar está grande e importante expedição.”

CANTO IV – ESTROFE 78

“O capitão Vasco da Gama comenta o pedido do rei Manoel”

 

E com rogo e com palavras amorosas,

Que é um mundo nos reis, que a mais obriga,

Me disse: “as coisas árduas e lustrosas

Se alcançam com trabalho e com fadiga:

Faz as pessoas altas e famosas

A vida que se perde e que periga;

Que, quando ao medo infame não se rende,

Então, se menos dura, mais se estende.

 

“E com rogo e com palavras amorosas, que é um mundo nos reis, que a mais obriga, me disse: as coisas árduas e lustrosas se alcançam com trabalho e com fadiga: faz as pessoas altas e famosas a vida que se perde e que periga; que, quando ao medo infame não se rende, então, se menos dura, mais se estende.” (1)

(1) E o rei Manoel I, pedindo de forma amorosa, mas que, sendo ele um monarca, era mais um comando, me disse: “Os grandes feitos são realizados com esforço e cansaço e quem arrisca e perde a vida fazendo tais atos se torna ilustre e famoso; quem não se entrega ao medo e se arrisca, mesmo que viva pouco, vivera mais na memória do que aqueles que viveram com medo e pouco realizaram. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a fala do rei Manoel ao capitão sobre a expedição às terras da Índia no Oriente.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E o rei Manoel I, pedindo de forma amorosa, mas que, sendo ele um monarca, era mais um comando, me disse: “Os grandes feitos são realizados com esforço e cansaço e quem arrisca e perde a vida fazendo tais atos se torna ilustre e famoso; quem não se entrega ao medo e se arrisca, mesmo que viva pouco, vivera mais na memória do que aqueles que viveram com medo e pouco realizaram.”

CANTO IV – ESTROFE 79

“O capitão Vasco da Gama comenta que aceitou o pedido do rei Manoel I”

 

“Eu vos tenho entre todos escolhido

Para uma empresa, qual a vós se deve:

Trabalho ilustre, duro e esclarecido;

O que eu sei que por mim vos será leve.”

Não sofri mais, mas logo: “Ó rei subido,

Aventurar-me a ferro, a fogo, a neve,

É tão pouco por vós, que mais me pena

Ser esta vida cousa tão pequena.

 

“Eu vos tenho entre todos escolhido para uma empresa, qual a vós se deve: trabalho ilustre, duro e esclarecido; o que eu sei que por mim vos será leve.” Não sofri mais, mas logo: “Ó rei subido, aventurar-me a ferro, a fogo, a neve, é tão pouco por vós, que mais me pena ser esta vida cousa tão pequena. (1)

(1) “Vós, Vasco da Gama, dentre todos os marinheiros é o meu escolhido para realizar tal empreitada e que, embora seja um trabalho difícil e perigoso, eu sei que é o mais capaz.” Ao ouvir tais palavras, não me contive e disse: “Ó sublime rei, em teu nome, eu me arriscarei em qualquer jornada, não importando quais os riscos e perigos, pois mais me penalizaria viver uma vida não lhe servindo.” Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta o comando que foi dado ao capitão pelo rei Manoel I e a resposta dele ao monarca português.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Vós, Vasco da Gama, dentre todos os marinheiros é o meu escolhido para realizar tal empreitada e que, embora seja um trabalho difícil e perigoso, eu sei que é o mais capaz.” Ao ouvir tais palavras, não me contive e disse: “Ó sublime rei, em teu nome, eu me arriscarei em qualquer jornada, não importando quais os riscos e perigos, pois mais me penalizaria viver uma vida não lhe servindo.”

CANTO IV – ESTROFE 80

“O capitão Vasco da Gama disse ao rei Manoel I que, pelo monarca, ele enfrentaria os trabalhos de Hércules”

 

“Imaginais tamanhas aventuras,

Quais Euristeu a Alcides inventava;

O leão Cleoneu, Harpias duras,

O porco de Erimanto, a Hidra brava;

Descer às sombras vãs e escuras,

Onde os campos de Dite a Estige lava;

Porque a maior perigo, a mor afronta,

Por vós, ó rei, o esp’rito e carne é pronta.”

 

“Imaginais tamanhas aventuras, quais Euristeu a Alcides inventava; o leão Cleoneu, Harpias duras, o porco de Erimanto, a Hidra brava; descer às sombras vãs e escuras, onde os campos de Dite a Estige lava; porque a maior perigo, a mor afronta, por vós, ó rei, o esp’rito e carne é pronta. (1)

(1) Continua o capitão Vasco da Gama: “Imagine os perigos que o rei Euristeu inventava para destruir o grande Hércules: derrotar o leão Cleoneu, as duras Harpias, o porco de Erimanto e a brava Hidra, assim como descer até às sombras vãs e escuras do Inferno, reino de Plutão, e as lavas rio Estige. Por vós, ó rei, meu espírito e carne estão prontos para enfrentar o maior dos perigos e afrontas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a resposta que marinheiro deu ao rei Manoel I, dizendo que, em nome do monarca português, ele enfrentaria até os terríveis trabalhos de Hércules.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Continua o capitão Vasco da Gama: “Imagine os perigos que o rei Euristeu inventava para destruir o grande Hércules: derrotar o leão Cleoneu, as duras Harpias, o porco de Erimanto e a brava Hidra, assim como descer até às sombras vãs e escuras do Inferno, reino de Plutão, e as lavas rio Estige. Por vós, ó rei, meu espírito e carne estão prontos para enfrentar o maior dos perigos e afrontas.”

CANTO IV – ESTROFE 81

“O capitão Vasco da Gama comenta que seu irmão se juntou a expedição portuguesa rumo ao Oriente”

 

Com mercês suntuosas me agradece,

E com razões me louva esta vontade;

Que a virtude louva vive e cresce,

E o louvor altos casos persuade.

A acompanhar-me logo se oferece,

Obrigado d’amor e d’amizade,

Não menos cobiçoso de honra e fama,

O caro meu irmão, Paulo da Gama.

 

“Com mercês suntuosas me agradece, e com razões me louva esta vontade; que a virtude louva vive e cresce, e o louvor altos casos persuade. A acompanhar-me logo se oferece, obrigado d’amor e d’amizade, não menos cobiçoso de honra e fama, o caro meu irmão, Paulo da Gama. (1)

(1) O rei Manoel I me agradece com dádivas suntuosas, louvando a minha decisão de comandar a expedição portuguesa às terras orientais, sendo que a virtude, quando louvada, vive e cresce, e o louvor estimula as ações mais nobres. Meu irmão, Paulo da Gama, pelo amor e amizade que tem por mim, se oferece para acompanhar na empreitada, além do que, ao juntar-se a mim, ele sabe que também recebe honras e famas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta o rei Manoel I o agradeceu por aceitar a missão de comandar a expedição portuguesa rumo ao Oriente e também comenta que seu, irmão, Paulo da Gama, se voluntariou para acompanha-lo na viagem.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O rei Manoel I me agradece com dádivas suntuosas, louvando a minha decisão de comandar a expedição portuguesa às terras orientais, sendo que a virtude, quando louvada, vive e cresce, e o louvor estimula as ações mais nobres. Meu irmão, Paulo da Gama, pelo amor e amizade que tem por mim, se oferece para acompanhar na empreitada, além do que, ao juntar-se a mim, ele sabe que também recebe honras e famas.”

CANTO IV – ESTROFE 82

“O capitão Vasco da Gama comenta que muitos se juntam a frota portuguesa rumo às terras do Oriente”

 

Mais se me ajunta Nicolau Coelho,

De trabalhos mui grande sofredor;

Ambos são de valia e de conselho,

D’experiência em armas e furor.

Já de manceba gente me aparelho,

Em que cresce o desejo do valor;

Todos de grande esforço; e assim parece

Quem a tamanhas coisas se oferece.

 

“Mais se me ajunta Nicolau Coelho, de trabalhos mui grande sofredor; ambos são de valia e de conselho, d’experiência em armas e furor. Já de manceba gente me aparelho, em que cresce o desejo do valor; todos de grande esforço; e assim parece quem a tamanhas coisas se oferece. (1)

(1) Também se juntou a empreitada Nicolau Coelho, que é um marinheiro muito vigoroso, sendo ele e meu irmão homens muito valiosos na expedição por causa de sua intrepidez e experiencia militar. Vou reunindo uma frota de jovens homens muito esforçados e valiosos, já se ofereceram para participar de evento tão importante. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta os preparativos para a viagem às terras do Oriente.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Também se juntou a empreitada Nicolau Coelho, que é um marinheiro muito vigoroso, sendo ele e meu irmão homens muito valiosos na expedição por causa de sua intrepidez e experiencia militar. Vou reunindo uma frota de jovens homens muito esforçados e valiosos, já se ofereceram para participar de evento tão importante.”

CANTO IV – ESTROFE 83

“O capitão Vasco da Gama comenta que o rei Manoel I remunera os marinheiros portugueses”

 

Foram de Emanuel remunerados,

Por que com mais amor se apercebessem,

E com palavras altas animados

Para quantos trabalhos sucedessem.

Assim foram os Mínias ajuntados,

Para que o véu dourado combatessem,

 Na fatídica nau, que ousou primeira

Tentar o mar Euxino, aventureira.

 

“Foram de Emanuel remunerados, por que com mais amor se apercebessem, e com palavras altas animados para quantos trabalhos sucedessem. Assim foram os Mínias ajuntados, para que o véu dourado combatessem, na fatídica nau, que ousou primeira tentar o mar Euxino, aventureira. (1)

(1) Todos os marinheiros que iriam participar da expedição foram remunerados pelo rei Manoel I, para que assim se preparassem com mais amor para a viagem, além de ouvirem as palavras que os animassem durante sua jornada. Os portugueses estavam como os guerreiros Argonautas que, fatídica embarcação, saíram em busca do Velocíno de Ouro, se aventurando no mar Negro. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que os preparativos da frota portuguesa que realizara a expedição rumo às terras orientais da Índia.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Todos os marinheiros que iriam participar da expedição foram remunerados pelo rei Manoel I, para que assim se preparassem com mais amor para a viagem, além de ouvirem as palavras que os animassem durante sua jornada. Os portugueses estavam como os guerreiros Argonautas que, fatídica embarcação, saíram em busca do Velocíno de Ouro, se aventurando no mar Negro.”

CANTO IV – ESTROFE 84

“O capitão Vasco da Gama comenta a frota portuguesa já estava pronta para partir”

 

E já no porto da Ínclita Ulisséia,

C’um alvoroço nobre, e c’um desejo,

(Onde o licor mistura e branca areia

Co’o salgado Netuno o doce Tejo)

As naus prestes estão: e não refreia

Temor nenhum o juvenil despejo,

Porque a gente marítima e a de Marte

Estão para seguir-me a toda parte.

 

“E já no porto da Ínclita Ulisséia, c’um alvoroço nobre, e c’um desejo, (onde o licor mistura e branca areia co’o salgado Netuno o doce Tejo) as naus prestes estão: e não refreia temor nenhum o juvenil despejo, porque a gente marítima e a de Marte estão para seguir-me a toda parte. (1)

(1) E estavam as naus e os tripulantes, estes alegres e empolgados com a expedição, no porto de Lisboa, cidade fundada por Ulisses que o doce rio Tejo se encontra com as águas salgadas do reino de Netuno. Os jovens marinheiros não mostravam nenhum medo da perigosa viagem, pois, sendo os portugueses um povo marinheiro e guerreiro, estão prontos para seguir-me em toda a parte. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a partida da expedição portuguesa rumo às terras do Oriente.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E estavam as naus e os tripulantes, estes alegres e empolgados com a expedição, no porto de Lisboa, cidade fundada por Ulisses que o doce rio Tejo se encontra com as águas salgadas do reino de Netuno. Os jovens marinheiros não mostravam nenhum medo da perigosa viagem, pois, sendo os portugueses um povo marinheiro e guerreiro, estão prontos para seguir-me em toda a parte.”

CANTO IV – ESTROFE 85

“O capitão Vasco da Gama comenta as vestes dos marinheiros e as bandeiras e estandartes das embarcações”

 

Pelas praias vestidos os soldados

De várias cores vêm e várias artes,

E não menos de esforço aparelhados

Para buscar do mundo novas partes.

Nas fortes naus os ventos sossegados

Ondeiam os aéreos estandartes;

Eles prometem, vendo os mares largos,

De ser no Olimpo estrelas, como a de Argos.

 

“Pelas praias vestidos os soldados de várias cores vêm e várias artes, e não menos de esforço aparelhados para buscar do mundo novas partes. Nas fortes naus os ventos sossegados ondeiam os aéreos estandartes; eles prometem, vendo os mares largos, de ser no Olimpo estrelas, como a de Argos. (1)

(1) Os soldados portugueses, vestidos com vários tipos de roupas e com cores variadas, andam pelas praias de Lisboa, estando todos eles prontos para a expedição que buscara as novas partes do mundo. Os ventos sacodem as bandeiras das nauas portuguesas, sendo elas que garantirão o sucesso da empreitada, assim como a embarcação de Argos foi para os Argonautas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta os preparativos para a partida dos portugueses rumo às terras orientais.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Os soldados portugueses, vestidos com vários tipos de roupas e com cores variadas, andam pelas praias de Lisboa, estando todos eles prontos para a expedição que buscara as novas partes do mundo. Os ventos sacodem as bandeiras das nauas portuguesas, sendo elas que garantirão o sucesso da empreitada, assim como a embarcação de Argos foi para os Argonautas.”

CANTO IV – ESTROFE 86

“O capitão Vasco da Gama comenta que a tripulação participa de preces e orações antes da partida”

 

Depois de aparelhados desta sorte

De quanto tal viagem pede e manda,

Aparelhamos a alma para a morte,

Que sempre aos nautas ante os olhos anda.

Para o sumo Poder, que etérea corte

Sustenta só co’a vista veneranda,

Imploramos favor que nos guiasse,

E que nossos começos aspirasse.

 

“Depois de aparelhados desta sorte de quanto tal viagem pede e manda, aparelhamos a alma para a morte, que sempre aos nautas ante os olhos anda. Para o sumo Poder, que etérea corte sustenta só co’a vista veneranda, imploramos favor que nos guiasse, e que nossos começos aspirasse. (1)

(1) Feitos todos os preparativos para a viagem, nós preparamos nossas almas para a morte, ela que sempre anda diante dos olhos dos marinheiros. Voltando nossos para o céu, imploramos o favor de Deus, que só com sua vista sustenta a Corte Celeste, para que nos abençoasse e auxiliasse nossa viagem. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta que, feito os preparativos, ele e sua tripulação realizam preces antes de partir, pedindo bençãos e proteções a Deus.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Feitos todos os preparativos para a viagem, nós preparamos nossas almas para a morte, ela que sempre anda diante dos olhos dos marinheiros. Voltando nossos para o céu, imploramos o favor de Deus, que só com sua vista sustenta a Corte Celeste, para que nos abençoasse e auxiliasse nossa viagem.”

CANTO IV – ESTROFE 87

“O capitão Vasco da Gama comenta o temor de morrer em sua viagem e não retornar para sua amada terra natal”

 

Partimo-nos assim do santo templo

Que nas praias do mar esta assentado,

Que o nome tem da terra, para exemplo,

Donde Deus foi em carne ao mundo dado.

Certifico-te, ó rei, que se contemplo

Como fui dessas praias apartado,

Cheio dentro de dúvida e receio,

Que apenas nos meus olhos ponho freio.

 

“Partimo-nos assim do santo templo que nas praias do mar esta assentado, que o nome tem da terra, para exemplo, donde Deus foi em carne ao mundo dado. Certifico-te, ó rei, que se contemplo como fui dessas praias apartado, cheio dentro de dúvida e receio, que apenas nos meus olhos ponho freio. (1)

(1) Nós, após celebrarmos as preces e cerimonias, partimos do santo templo que estava nas praias, ele que carrega o nome de Belém, o mesmo da terra que Deus nasceu. Certifico-te, ó rei de Melinde, que, ao me passar a ideia de não voltar a ver as praias da minha amada terra, preciso me controlar para não chorar. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta os preparativos para a partida da expedição dos portugueses, além de dizer ao rei de Melinde que ele tem receio de não retornar para sua terra.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Nós, após celebrarmos as preces e cerimonias, partimos do santo templo que estava nas praias, ele que carrega o nome de Belém, o mesmo da terra que Deus nasceu. Certifico-te, ó rei de Melinde, que, ao me passar a ideia de não voltar a ver as praias da minha amada terra, preciso me controlar para não chorar.”

CANTO IV – ESTROFE 88

“O capitão Vasco da Gama comenta que as famílias sofrem com a partida dos marinheiros”

 

A gente da cidade, aquele dia,

(Uns por amigos, outros por parentes,

Outros por ver somente), concorreria

Saudosos na vista e descontentes.

E nós co’a virtuosa companhia

De mil religiosos diligentes,

Em procissão solente a Deus orando

Para os batéis viemos caminhando.

 

“A gente da cidade, aquele dia, (uns por amigos, outros por parentes, outros por ver somente), concorreria saudosos na vista e descontentes. E nós co’a virtuosa companhia de mil religiosos diligentes, em procissão solente a Deus orando para os batéis viemos caminhando. (1)

(1) No dia da partida, amigos, parentes e as pessoas de Lisboa que estavam nas praias de Belém vieram se despedir dos marinheiros, estando eles com a saudade e tristeza na face por causa da partida. E nós, os marinheiros, em companhia de mil sacerdotes em procissão solene orando a Deus, íamos caminhando em direção as embarcações. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a despedida dos portugueses que partiam de Portugal rumo às terras orientais.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“No dia da partida, amigos, parentes e as pessoas de Lisboa que estavam nas praias de Belém vieram se despedir dos marinheiros, estando eles com a saudade e tristeza na face por causa da partida. E nós, os marinheiros, em companhia de mil sacerdotes em procissão solene orando a Deus, íamos caminhando em direção as embarcações.”

CANTO IV – ESTROFE 89

“O capitão Vasco da Gama comenta o sofrimento das mães, esposas e irmãs dos marinheiros portugueses”

 

E em tão longo caminho e duvidoso,

Por perdidos as gentes nos julgavam;

As mulheres c’um choro piedoso,

Os homens com suspiros, que arrancavam:

Mães, esposas, irmãs (que o temeroso

Amor mais desconfia) acrescentavam

A desesperação e frio medo

De já não tornar a ver tão cedo.

 

“E em tão longo caminho e duvidoso, por perdidos as gentes nos julgavam; as mulheres c’um choro piedoso, os homens com suspiros, que arrancavam: mães, esposas, irmãs (que o temeroso amor mais desconfia) acrescentavam a desesperação e frio medo de já não tornar a ver tão cedo. (1)

(1) A população que acompanhava a minha partida e a dos demais marinheiros, por saber que seguiríamos um longo e perigoso caminho até às terras orientais, temia que nós nos perdêssemos. As mulheres choravam piedosamente e os homens suspiravam de tristeza; por causa do temeroso amor, as mães, esposas e irmãs eram as que mais choravam, já que tamanho era o desespero de nós não retornarmos. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a partida da tripulação portuguesa das praias de Lisboa.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A população que acompanhava a minha partida e a dos demais marinheiros, por saber que seguiríamos um longo e perigoso caminho até às terras orientais, temia que nós nos perdêssemos. As mulheres choravam piedosamente e os homens suspiravam de tristeza; por causa do temeroso amor, as mães, esposas e irmãs eram as que mais choravam, já que tamanho era o desespero de nós não retornarmos.”

CANTO IV – ESTROFE 90

“O capitão Vasco da Gama comenta o lamento da mãe de um dos marinheiros”

 

Qual vai dizendo: “Ó filho, a quem eu tinha

Só para refrigério e doce amparo

Desta já cansada velhice minha,

Que em choro acabará penoso e amaro;

Por que me deixas, mísera e mesquinha?

Por que de mim te vais, ó filho caro,

A fazer o funéreo enterramento

Onde sejas de peixe mantimento?

 

“Qual vai dizendo: “Ó filho, a quem eu tinha só para refrigério e doce amparo desta já cansada velhice minha, que em choro acabará penoso e amaro; por que me deixas, mísera e mesquinha? por que de mim te vais, ó filho caro, a fazer o funéreo enterramento onde sejas de peixe mantimento? (1)

(1) Assim dizia uma das mães: “Ó amado filho, tu és o único refresco e doce amparo desta cansada e sofrida vida minha que, muito em breve, terminara em choro penoso e amargo; por que me deixas mísera e mesquinha? Por que me deixas, ó caro filho, para partir nesta viagem que terminara com o seu sepultamento em algum mar e servido de mantimentos par aos peixes?” Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta o sofrimento das mulheres com as partidas dos portugueses, descrevendo a súplica de uma mãe que chora com a partida de seu amado filho.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Assim dizia uma das mães: Ó amado filho, tu és o único refresco e doce amparo desta cansada e sofrida vida minha que, muito em breve, terminara em choro penoso e amargo; por que me deixas mísera e mesquinha? Por que me deixas, ó caro filho, para partir nesta viagem que terminara com o seu sepultamento em algum mar e servido de mantimentos par aos peixes?”

CANTO IV – ESTROFE 91

“O capitão Vasco da Gama comenta o sofrimento de uma das esposas dos marinheiros”

 

Qual em cabelo: “Ó doce e amado esposo,

Sem quem não quis amor que viver possa,

Por que is aventurar ao mar iroso

Essa vida, que é minha, e não vossa?

Como por um caminho duvidoso

Vos esquece a afeição tão doce nossa?

Nosso amor, nosso vão contentamento

Quereis com as velas leve o vento?

 

“Qual em cabelo: “Ó doce e amado esposo, sem quem não quis amor que viver possa, por que is aventurar ao mar iroso essa vida, que é minha, e não vossa? Como por um caminho duvidoso vos esquece a afeição tão doce nossa? Nosso amor, nosso vão contentamento quereis com as velas leve o vento? (1)

(1) Também disse uma esposa: “Ó doce e amado esposo, que por causa do amor eu não viver sem, por que se aventura no mar irado e arrisca a sua vida que, não só sua, também é minha? Como pode, por causa de uma aventura duvidosa, esquecer a nossa doce afeição? Quereis que o vento, ao soprar as velas dessas naus, leve o nosso amor e alegria?” Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta o sofrimento das mulheres com as partidas dos portugueses, descrevendo a súplica de uma esposa que chora com a partida de seu amado esposo.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Também disse uma esposa: Ó doce e amado esposo, que por causa do amor eu não viver sem, por que se aventura no mar irado e arrisca a sua vida que, não só sua, também é minha? Como pode, por causa de uma aventura duvidosa, esquecer a nossa doce afeição? Quereis que o vento, ao soprar as velas dessas naus, leve o nosso amor e alegria?”

CANTO IV – ESTROFE 92

“O capitão Vasco da Gama comenta o sofrimento dos familiares dos portugueses”

 

Nestas e noutras palavras que diziam

De amor de piedosa humanidade,

Os velhos e os meninos os seguiam,

Em quem menos esforço põe a idade.

Os montes de mais perto respondiam,

Quase movidos de alta piedade;

A branca areia as lágrimas banhavam

Que em multidão com elas se igualavam.

 

“Nestas e noutras palavras que diziam de amor de piedosa humanidade, os velhos e os meninos os seguiam, em quem menos esforço põe a idade. Os montes de mais perto respondiam, quase movidos de alta piedade; A branca areia as lágrimas banhavam que em multidão com elas se igualavam. (1)

(1) As mães e esposas diziam essas e outras palavras de amor e piedade, enquanto os velhos e meninos também choravam, já que tinham ânimo mais fraco por causa da idade. Os montes de Portugal respondiam aos gritos e prantos, quase como se fossem movidos por piedade; as lágrimas de todos estes eram tantas quantas as areias que tinham na branca praia. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, continuando a contar a história de Portugal, comenta a despedida dos marinheiros portugueses que seguiam rumo às terras do Oriente.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“As mães e esposas diziam essas e outras palavras de amor e piedade, enquanto os velhos e meninos também choravam, já que tinham ânimo mais fraco por causa da idade. Os montes de Portugal respondiam aos gritos e prantos, quase como se fossem movidos por piedade; as lágrimas de todos estes eram tantas quantas as areias que tinham na branca praia.”

CANTO IV – ESTROFE 93

“O capitão Vasco da Gama comenta que a frota partiu sem se despedir de suas famílias”

 

Nós outros, sem a vista alevantarmos,

Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,

Por nos não magoarmos ou mudarmos

Do propósito firme começado,

Determinei de assim nos embarcarmos

Sem o despedimento costumado;

Que, posto que é de amor usança boa,

A quem se aparta ou fica, mas magoa.

 

“Nós outros, sem a vista alevantarmos, nem a mãe, nem a esposa, neste estado, por nos não magoarmos ou mudarmos do propósito firme começado, determinei de assim nos embarcarmos sem o despedimento costumado; que, posto que é de amor usança boa, a quem se aparta ou fica, mas magoa. (1)

(1) Nós todos, não querendo que a saudade nos magoasse e fizesse que mudássemos todos de propósito, determinei que embarcássemos sem nos despedir de nossas mães e esposas, saindo todos os marujos sem levantar a vista. Por causa do bom amor, a despedida machuca tanto quem vai do que quem fica. Camões canta que o capitão Vasco da Gama continuando a contar a história de Portugal, comenta que ele não deixou a frota se despedir de suas famílias, assim evitando que alguém desistisse da empreitada na última hora.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Nós todos, não querendo que a saudade nos magoasse e fizesse que mudássemos todos de propósito, determinei que embarcássemos sem nos despedir de nossas mães e esposas, saindo todos os marujos sem levantar a vista. Por causa do bom amor, a despedida machuca tanto quem vai do que quem fica.”

 

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Os Lusíadas (Edição Didática) - Volume I e II – Editora Concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a septuagésima sexta estrofe até a nonagésima terceira estrofe do quarto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta os preparativos da frota do capitão Vasco da Gama para partir rumo às terras do Oriente.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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