Neste nosso quinquagésimo primeiro comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o sexto canto da obra, onde Camões canta a visita que Baco faz ao reino de Netuno no fundo do mar.

OS LUSÍADAS A VISITA DE BACO AO REINO DE NETUNO
A visita de Baco ao reino de Netuno

CANTO VI – ESTROFE 6

“Os portugueses alcançam os mares da Índia, mas Baco prepara um novo ataque contra eles”

 

As ondas navegavam do Oriente

Já nos mares da Índia, e enxergavam

Os tálamos do sol, que nasce ardente;

Já quase seus desejos se acabavam.

Mas o mau de Tioneu, que na alma sente

As venturas que então se aparelhavam

À gente lusitana, delas dina,

Arde, morre, blasfema e desatina.

 

“As ondas navegavam do Oriente já nos mares da Índia, e enxergavam os tálamos do sol, que nasce ardente; já quase seus desejos se acabavam. Mas o mau de Tioneu, que na alma sente as venturas que então se aparelhavam à gente lusitana, delas dina, arde, morre, blasfema e desatina. (1)

(1) A frota portuguesa já está navegando nos mares orientais da Índia, com eles enxergando os tálamos do sol que nasce ardente. Parecia que os desejos dos portugueses de alcançar às terras indianas estavam quase realizados, mas ainda estava vivo o mau de Baco, este que sentia lástima pelas realizações lusitanas que se concretizavam; dessas, ele arde e morre de raiva, blasfema e desatina. Camões canta que os portugueses vão se aproximando das terras da Índia no Oriente, mas que Baco pretende mais um golpe contra a frota para acabar com a empreitada. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A frota portuguesa já está navegando nos mares orientais da Índia, com eles enxergando os tálamos do sol que nasce ardente. Parecia que os desejos dos portugueses de alcançar às terras indianas estavam quase realizados, mas ainda estava vivo o mau de Baco, este que sentia lástima pelas realizações lusitanas que se concretizavam; dessas, ele arde e morre de raiva, blasfema e desatina.”

CANTO VI – ESTROFE 7

“Baco, vendo que os portugueses conseguirão concluir a empreita, vai até o mar pedir ajuda aos deuses marítimos”

 

Via estar todo o céu determinado

De fazer Lisboa nova Roma:

Não no pode estorvar, que destinado

Está doutro poder, que tudo doma.

Do Olimpo desce enfim desesperado,

Novo remédio em terra busca e toma:

Entra no úmido reino, e vai-se à corte

Daquele a quem o mar caiu em sorte.

 

“Via estar todo o céu determinado de fazer Lisboa nova Roma: não no pode estorvar, que destinado está doutro poder, que tudo doma. Do Olimpo desce enfim desesperado, novo remédio em terra busca e toma: entra no úmido reino, e vai-se à corte daquele a quem o mar caiu em sorte. (1)

(1) Baco via que céu, com todos os deuses, estava determinado de fazer Lisboa tão grande quanto Roma já foi no passado, sendo que ele nada podia fazer contra isso, pois já está determinado por poder muito maior. Ele, enfim, desce desesperado do Olimpo em direção à terra, indo buscar uma nova forma de liquidar com a empreitada dos portugueses; chega no mar, entrando na corte de Netuno. Camões canta que o deus Baco, temendo que os portugueses concluam a empreitada deles, tenta mais um ataque contra a frota, indo pedir ajuda à Netuno, deus dos mares.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Baco via que céu, com todos os deuses, estava determinado de fazer Lisboa tão grande quanto Roma já foi no passado, sendo que ele nada podia fazer contra isso, pois já está determinado por poder muito maior. Ele, enfim, desce desesperado do Olimpo em direção à terra, indo buscar uma nova forma de liquidar com a empreitada dos portugueses; chega no mar, entrando na corte de Netuno.”

CANTO VI – ESTROFE 8

“Baco vê como é o fundo do oceano, onde fica o reino de Netuno”

 

No mais intento fundo das profundas

Cavernas altas, onde o mar se esconde,

Lá donde as ondas saem furibundas,

Quando às iras dos ventos o mar responde,

Netuno mora, e moram as jacundas

Nereidas, e outros deuses do mar, onde

As águas campo deixam às cidades,

Que habitam estas úmidas deidades.

 

“No mais intento fundo das profundas cavernas altas, onde o mar se esconde, lá donde as ondas saem furibundas, quando às iras dos ventos o mar responde, Netuno mora, e moram as jacundás Nereidas, e outros deuses do mar, onde as águas campo deixam às cidades, que habitam estas úmidas deidades. (1)

(1) Na parte mais funda das profundas e grandes cavernas do mar, lá onde as ondas saem furiosas quando o mar responde às iras dos ventos, mora o deus Neturno junto com as alegres Nereidas e outros deuses do mar; lá onde as águas dão espaço às cidades que habitam estas divindades da água. Camões canta a descrição do reino de Netuno, deus dos mares.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Na parte mais funda das profundas e grandes cavernas do mar, lá onde as ondas saem furiosas quando o mar responde às iras dos ventos, mora o deus Neturno junto com as alegres Nereidas e outros deuses do mar; lá onde as águas dão espaço às cidades que habitam estas divindades da água.”

CANTO VI – ESTROFE 9

“Baco vê como é o fundo do oceano, onde fica o reino de Netuno”

 

Descobre o fundo nunca descoberto

As areias ali de prata fina;

Torres altas se veem no campo aberto

Da transparente massa cristalina.

Quando se chegam mais os olhos perto,

Tanto menos a vista determina

Se é cristal o que vê, se diamante,

Que assi se mostra claro e radiante.

 

“Descobre o fundo nunca descoberto as areias ali de prata fina; torres altas se veem no campo aberto da transparente massa cristalina. Quando se chegam mais os olhos perto, tanto menos a vista determina se é cristal o que vê, se diamante, que assi se mostra claro e radiante. (1)

(1) Ali se mostra o fundo que nunca foi descoberto, com areias de prata fina e altas torres num campo aberto de rochas cristalinas. Quanto mais se aproxima, menos é possível ver, não sendo possível determina se é cristal ou diamante o que se mostra tão claro e brilhante. Camões canta a descrição do reino de Netuno, deus dos mares.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Ali se mostra o fundo que nunca foi descoberto, com areias de prata fina e altas torres num campo aberto de rochas cristalinas. Quanto mais se aproxima, menos é possível ver, não sendo possível determina se é cristal ou diamante o que se mostra tão claro e brilhante.”

CANTO VI – ESTROFE 10

“Baco contempla o palácio de Netuno no fundo do oceano”

 

As portas d’ouro fino e marchetadas

Do rico aljofar que nas conchas nasce,

De escultura fermosa estão lavradas,

Na qual do irado Baco a vista pasce;

E vê primeiro em cores variadas

Do velho Caos a tão confusa face;

Veem-se os quatro elementos transladados,

Em diversos ofícios ocupados.

 

“As portas d’ouro fino e marchetadas do rico aljofar que nas conchas nasce, de escultura fermosa estão lavradas, na qual do irado Baco a vista pasce; e vê primeiro em cores variadas do velho Caos a tão confusa face; veem-se os quatro elementos transladados, em diversos ofícios ocupados. (1)

(1) A porta dessas torres são de ouro fino e estão marchetadas de com ricas pérolas de conhas em formosas esculturas; Baco, conforme passa sua vista, vê cores variadas da confusa face do velho Caos, assim como também vê os quatro elementos representados em desenhos ocupados em diversos ofícios. Camões canta a descrição do reino de Netuno, deus dos mares, e descreve uma escultura do Caos e dos quatro elementos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A porta dessas torres são de ouro fino e estão marchetadas de com ricas pérolas de conhas em formosas esculturas; Baco, conforme passa sua vista, vê cores variadas da confusa face do velho Caos, assim como também vê os quatro elementos representados em desenhos ocupados em diversos ofícios.”

CANTO VI – ESTROFE 11

“Baco contempla as esculturas do palácio de Netuno”

 

Ali sublime o fogo estava em cima,

Que nenhum em matéria se sustinha;

Daqui as cousas vivas sempre anima,

Depois que Prometeu furtado o tinha.

Logo após ele leve se sublima

O invisíbil ar, que mais asinha

Tomou lugar, e nem por quente, ou frio,

Algum deixa o mundo estar vazio.

 

“Ali sublime o fogo estava em cima, que nenhum em matéria se sustinha; daqui as cousas vivas sempre anima, depois que Prometeu furtado o tinha. Logo após ele leve se sublima o invisíbil ar, que mais asinha tomou lugar, e nem por quente, ou frio, algum deixa o mundo estar vazio. (1)

(1) Ali, em cima da face do velho Caos, estava sublime o fogo, que não se sustentava em nenhum material; é do fogo que, depois de Prometeu o furtar do céu, a anima as coisas vivas deste mundo. Logo ele está o leve, sublime e invisível ar, que rapidamente ocupa os lugares e não deixa nada vazio, seja ele quente ou frio. Camões canta a descrição do reino de Netuno, deus dos mares, e descreve uma escultura do Caos e dos quatro elementos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Ali, em cima da face do velho Caos, estava sublime o fogo, que não se sustentava em nenhum material; é do fogo que, depois de Prometeu o furtar do céu, a anima as coisas vivas deste mundo. Logo ele está o leve, sublime e invisível ar, que rapidamente ocupa os lugares e não deixa nada vazio, seja ele quente ou frio.”

CANTO VI – ESTROFE 12

“Baco contempla as esculturas do palácio de Netuno”

 

Estava a terra em montes revestida

De verdes ervas e árvores floridas,

Dando pasto diverso e dando vida

Às alimárias nela produzidas.

A clara forma ali estava esculpida

Das águas entre a terra desparzidas,

De pescados criando vários modos,

Com seu humor mantendo os corpos todos.

 

“Estava a terra em montes revestida de verdes ervas e árvores floridas, dando pasto diverso e dando vida às alimárias nela produzidas. A clara forma ali estava esculpida das águas entre a terra desparzidas, de pescados criando vários modos, com seu humor mantendo os corpos todos. (1)

(1) No palácio de Netuno, os montes de terra estavam revestidos de ervas verdes e árvores floridas, dando pasto e vida aos animais. A clara forma da água estava esculpida entre as terras espalhas, criando vários tipos de pescados e mantendo com seus líquidos os corpos todos. Camões canta a descrição do reino de Netuno, deus dos mares.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“No palácio de Netuno, os montes de terra estavam revestidos de ervas verdes e árvores floridas, dando pasto e vida aos animais. A clara forma da água estava esculpida entre as terras espalhas, criando vários tipos de pescados e mantendo com seus líquidos os corpos todos.”

CANTO VI – ESTROFE 13

“Baco contempla as esculturas do palácio de Netuno, estas que retratam a guerra dos titãs contra os deuses”

 

Noutra parte esculpida estava a guerra

Que tiveram os deuses c’os gigantes:

Está Tifeu debaixo da alta serra

De Etna, que as flamas lança crepitantes:

Esculpido se vê ferindo a terra

Netuno, quando as gentes ignorantes,

Dele o cavalo houveram, e a primeira

De Minerva pacífica dantes vinha.

 

“Noutra parte esculpida estava a guerra que tiveram os deuses c’os gigantes: está Tifeu debaixo da alta serra de Etna, que as flamas lança crepitantes: Esculpido se vê ferindo a terra Netuno, quando as gentes ignorantes, dele o cavalo houveram, e a primeira de Minerva pacífica dantes vinha. (1)

(1) Em outra parte do palácio estava esculpida a guerra que os deuses tiveram com os gigantes titãs: Tifeu, líder dos gigantes, estava debaixo da alta serra do monte Etna, que lança as crepitantes flamas; esculpido também se vê Netuno ferindo a terra e criando o primeiro cavalo e Minerva gerando a primeira oliveira. Camões canta a descrição do reino de Netuno, deus dos mares.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Em outra parte do palácio estava esculpida a guerra que os deuses tiveram com os gigantes titãs: Tifeu, líder dos gigantes, estava debaixo da alta serra do monte Etna, que lança as crepitantes flamas; esculpido também se vê Netuno ferindo a terra e criando o primeiro cavalo e Minerva gerando a primeira oliveira.”

CANTO VI – ESTROFE 14

“Baco se encontra com Netuno para fazer-lhe um pedido”

 

Pouca tardança faz Lieu irado

Na vista destas cousas; mas entrando

Nos paços de Netuno que, avisado

Da vinda sua, o estava já aguardando,

Às portas o recebe, acompanhado

Das ninfas, que se estão maravilhando

De ver que, cometendo tal caminho,

Entre no reino d’água o rei do vinho.

 

“Pouca tardança faz Lieu irado na vista destas cousas; mas entrando nos paços de Netuno que, avisado da vinda sua, o estava já aguardando, às portas o recebe, acompanhado das ninfas, que se estão maravilhando de ver que, cometendo tal caminho, entre no reino d’água o rei do vinho. (1)

(1) Baco, que estava irado por causa da situação dos lusíadas, por tempo ficou vendo as esculturas; foi entrando no palácio de Netuno que, sendo avisado da visita, já estava o aguardando. O deus dos mares o recebe nas portas junto das ninfas Nereidas muito admirado por ver que o rei do vinho fez tal caminho da terra para o reino d’águas. Camões canta que o Netuno recebe Baco em seu palácio no fundo dos mares.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Baco, que estava irado por causa da situação dos lusíadas, por tempo ficou vendo as esculturas; foi entrando no palácio de Netuno que, sendo avisado da visita, já estava o aguardando. O deus dos mares o recebe nas portas junto das ninfas Nereidas muito admirado por ver que o rei do vinho fez tal caminho da terra para o reino d’águas.”

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Esses foram os nossos comentários sobre a sexta até a décima quarta estrofe do sexto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a visita que Baco faz ao reino de Netuno no fundo do mar.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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