Neste nosso quinquagésimo quinto comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o sexto canto da obra, onde Camões canta a história dos Doze da Inglaterra que é narrada pelos marinheiros portugueses.

OS LUSÍADAS OS DOZE DA INGLATERRA
Os Doze da Inglaterra

CANTO VI – ESTROFE 43

“Veloso conta que, no tempo do reino do rei João I, ocorreu uma discórdia entre os ingleses, discórdia essa que só foi resolvida com invenção portuguesa”

 

“No tempo que do reino a rédea leve

João, filho de Pedro, moderava,

Depois de sossegado e livre o teve

Do vizinho poder que o molestava,

Lá na grande Inglaterra, que da neve

Boreal sempre abunda, semeava

A fera Erínis dura e má cizânia,

Que lustre fosse à nossa Lusitânia.

 

“No tempo que do reino a rédea leve João, filho de Pedro, moderava, depois de sossegado e livre o teve do vizinho poder que o molestava, lá na grande Inglaterra, que da neve Boreal sempre abunda, semeava a fera Erínis dura e má cizânia, que lustre fosse à nossa Lusitânia. (1)

(1) Vou contar uma história que aconteceu na época que o rei João I governava o reino com rédea leve, época que já tinha passado a guerra contra o vizinho espanhol. Nas terras da grande Inglaterra, que sempre é abundante as nevascas do vento do Norte, foi semeado a discórdia que acabou levando a glória dos portugueses. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, começa a contar a história dos Doze da Inglaterra.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Vou contar uma história que aconteceu na época que o rei João I governava o reino com rédea leve, época que já tinha passado a guerra contra o vizinho espanhol. Nas terras da grande Inglaterra, que sempre é abundante as nevascas do vento do Norte, foi semeado a discórdia que acabou levando a glória dos portugueses.”

CANTO VI – ESTROFE 44

“Veloso conta que os cortesãos ingleses insultaram a honra das damas inglesas”

 

“Entre damas gentis da corte inglesa

E nobres cortesãos, caso um dia

Se levantou discórdia em ira acesa;

Ou foi opinião, ou foi porfia.

Os cortesãos, a quem tão pouco pesa

Soltar palavras graves de ousadia,

Dizem que provarão que honras e famas

Em tais damas não há pera ser damas.

 

“Entre damas gentis da corte inglesa e nobres cortesãos, caso um dia se levantou discórdia em ira acesa; ou foi opinião, ou foi porfia. Os cortesãos, a quem tão pouco pesa soltar palavras graves de ousadia, dizem que provarão que honras e famas em tais damas não há pera ser damas. (1)

(1) Ocorreu o caso em que se gerou discórdia entre gentis damas e nobres cortesões da corte inglesa, discórdia esta que, ou foi por teimosia, ou foi por arrogância. Os cortesãos, que não refletiam muito sobre o que diziam, afirmaram que provaria que, entre as damas, nenhuma tinha honra e fama para ser considerada dama. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, começa a discórdia que ocorreu nas cortes inglesas que resultou no caso dos Doze da Inglaterra. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Ocorreu o caso em que se gerou discórdia entre gentis damas e nobres cortesões da corte inglesa, discórdia esta que, ou foi por teimosia, ou foi por arrogância. Os cortesãos, que não refletiam muito sobre o que diziam, afirmaram que provaria que, entre as damas, nenhuma tinha honra e fama para ser considerada dama.”

CANTO VI – ESTROFE 45

“Veloso conta que cortesãos desafiaram quem discordasse deles para um combate”

 

“E que, houver alguém com lança e espada

Que queira sustentar a parte sua,

Que eles em campo raso ou estacada

Lhe darão feia infâmia, ou morte crua.

A feminil fraqueza, pouco usada

Ou nunca a opróbrios tais, vendo-se nua

De forças naturais convenientes,

Socorro pede a amigos e parentes.

 

“E que, houver alguém com lança e espada que queira sustentar a parte sua, que eles em campo raso ou estacada lhe darão feia infâmia, ou morte crua. A feminil fraqueza, pouco usada ou nunca a opróbrios tais, vendo-se nua de forças naturais convenientes, socorro pede a amigos e parentes. (1)

(1) E os cortesãos ingleses diziam que, se alguém quiser tomar partido pelas damas, que pegue em espada e lança, para que assim lutasse contra eles e ficasse conhecido como perdedor ou como morto. Como a feminilidade das musas não tinha serventia em tais embates, ela foi pedir ajuda aos amigos e parentes. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que a honra das damas foi questiona pelos cortesões ingleses e, como elas não tinha força para limpar seu dome, foram pedir ajuda de outros. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“E os cortesãos ingleses diziam que, se alguém quiser tomar partido pelas damas, que pegue em espada e lança, para que assim lutasse contra eles e ficasse conhecido como perdedor ou como morto. Como a feminilidade das musas não tinha serventia em tais embates, ela foi pedir ajuda aos amigos e parentes.”

CANTO VI – ESTROFE 46

“Veloso conta que as damas, não encontrando ninguém que tivesse coragem para desafiar os cortesãos, recorrem ao duque de Lencastre”

 

“Mas, como fossem grandes e possantes

No reino os inimigos, não se atrevem

Nem parentes, nem férvidos amantes,

A sustentar as damas como devem.

Com lágrimas fermosas e bastantes

A fazer que em socorro os deuses levem

De todo o céu, por nostos de alabastro,

Se vão todas ao duque de Lencastro.

 

“Mas, como fossem grandes e possantes no reino os inimigos, não se atrevem nem parentes, nem férvidos amantes, a sustentar as damas como devem. Com lágrimas fermosas e bastantes a fazer que em socorro os deuses levem de todo o céu, por nostos de alabastro, se vão todas ao duque de Lencastro. (1)

(1) Mas, como os cortesãos ingleses eram nobres e muito poderosos, nenhum parente, tão pouco férvido amante, toma partido para defender a honra das damas em combate. Chorando de forma fervorosa que até os deuses sairiam em socorro, elas vão todas pedir ajuda ao duque de Lencastre. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que, como ninguém tinha coragem de enfrentar os cortesões ingleses, as damas vão até o duque de Lencastre pedindo ajuda.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Mas, como os cortesãos ingleses eram nobres e muito poderosos, nenhum parente, tão pouco férvido amante, toma partido para defender a honra das damas em combate. Chorando de forma fervorosa que até os deuses sairiam em socorro, elas vão todas pedir ajuda ao duque de Lencastre.”

CANTO VI – ESTROFE 47

“Veloso conta que era o duque de Lencastre, comentando que ele era conhecido e próximo dos portugueses”

 

“Era este inglês potente, e militara

C’os portugueses já contra Castela,

Onde as forças magnânimas provara

Dos companheiros, e benigna estrela.

Não menos nesta terra exp’rimentara

Namorados afeitos, quando nela

A filha viu, que tanto o peito doma

 Do forte rei que por mulher a toma.

 

“Era este inglês potente, e militara c’os portugueses já contra Castela, onde as forças magnânimas provara dos companheiros, e benigna estrela. Não menos nesta terra exp’rimentara namorados afeitos, quando nela a filha viu, que tanto o peito doma do forte rei que por mulher a toma. (1)”

(1) O duque de Lencastre era um nobre poderoso que lutou ao lado dos portugueses contra Castela, presenciando a força e vitória dos lusitanos. Nas terras de Portugal, o duque também presenciou os afetos deles pelas mulheres, tanto que sua filha conquistou o coração do forte rei João I, tornando-se sua esposa. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta quem é o duque de Lencastre.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O duque de Lencastre era um nobre poderoso que lutou ao lado dos portugueses contra Castela, presenciando a força e vitória dos lusitanos. Nas terras de Portugal, o duque também presenciou os afetos deles pelas mulheres, tanto que sua filha conquistou o coração do forte rei João I, tornando-se sua esposa.”

CANTO VI – ESTROFE 48

“Veloso conta que o duque, querendo evitar um desastre político na Inglaterra, diz que ele não pode enfrentar os cortesãos ingleses”

 

“Este, que socorrer-lhe não queria

Por não causar discórdias intestinas,

Lhe diz: ‘Quando o direito pretendia

Do reino lá das terras iberinas,

Nos Lusitanos vi tanta ousadia,

Tanto primor, e parte tão divinas,

Que eles só poderiam, se não erro,

Sustentar vossa parte a fogo e ferro.

 

“Este, que socorrer-lhe não queria por não causar discórdias intestinas, lhe diz: ‘Quando o direito pretendia do reino lá das terras iberinas, nos Lusitanos vi tanta ousadia, tanto primor, e parte tão divinas, que eles só poderiam, se não erro, sustentar vossa parte a fogo e ferro.’ (1)

(1) “O duque de Lencatro, que não quis tomar partido direto na situação para que assim não ocorre-se desavenças internas no reino, diz isso às damas: ‘Quando eu estava participando da guerra pelo trono de Portugal, vi tanta ousadia e valor por parte dos portugueses que eles, sem sombra de dúvida, tomarem parte em vossa causa com fogo e ferro.’” Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que o duque de Lencastro recomenda que as damas recorram aos portugueses em sua causa.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O duque de Lencatro, que não quis tomar partido direto na situação para que assim não ocorre-se desavenças internas no reino, diz isso às damas: ‘Quando eu estava participando da guerra pelo trono de Portugal, vi tanta ousadia e valor por parte dos portugueses que eles, sem sombra de dúvida, tomarem parte em vossa causa com fogo e ferro.”

CANTO VI – ESTROFE 49

“Veloso conta que o duque diz que pedirá ajuda aos nobres portugueses, estes que conseguirão enfrentar os cortesãos ingleses”

 

‘E se, agravadas damas, sois servidas,

Por vós lhe mandarei embaixadores,

Que por cartas discretas e polidas,

De vosso agravo os façam sabedores.

Também por vossa parte encarecidas

Com palavras d’afagos e d’amares,

Lhe sejam vossas lágrimas, que eu creio

Que ali tereis socorro e forte esteio.’

 

‘E se, agravadas damas, sois servidas, por vós lhe mandarei embaixadores, que por cartas discretas e polidas, de vosso agravo os façam sabedores. Também por vossa parte encarecidas com palavras d’afagos e d’amares, lhe sejam vossas lágrimas, que eu creio que ali tereis socorro e forte esteio.’ (1)

(1) Termina o duque de Lencastre: ‘E se for de vosso agrado, damas ofendidas, mandarei embaixadores aos portugueses informando, com cartas discretas e polidas das senhoras, as ofensas que vem sofrendo. Que essas cartas contenham palavras carinhosas e amorosas, pois assim acredito eu que eles venham a tomar partido desta causa. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que o duque de Lencastre recomenda que as damas recorram aos portugueses em sua causa.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Termina o duque de Lencastre: ‘E se for de vosso agrado, damas ofendidas, mandarei embaixadores aos portugueses informando, com cartas discretas e polidas das senhoras, as ofensas que vem sofrendo. Que essas cartas contenham palavras carinhosas e amorosas, pois assim acredito eu que eles venham a tomar partido desta causa.”

CANTO VI – ESTROFE 50

“Veloso conta que duque envia cartas à Portugal para doze cavaleiros representarem as doze damas inglesas que foram desonradas”

 

“Destarte as aconselha o duque experto,

E logo lhe nomeia doze fortes;

E por que cada dama um tenha certo,

Lhe manda que sobr’eles lancem sortes;

Que elas só doze são: e descoberto

Qual a qual tem caído das consortes,

Cada um escreve ao seu por vários modos,

E todas a seu rei, e o duque a todos.

 

“Destarte as aconselha o duque experto, e logo lhe nomeia doze fortes; e por que cada dama um tenha certo, lhe manda que sobr’eles lancem sortes; que elas só doze são: e descoberto qual a qual tem caído das consortes, cada um escreve ao seu por vários modos, e todas a seu rei, e o duque a todos. (1)

(1) Desta forma o experto duque as aconselha e logo nomeia doze fortes cavaleiros portugueses, para que cada uma delas tenha um defensor. Assim, que cada uma lance sua sorte sobre eles; que cada uma escreva ao seu defensor e todas ao rei de Portugal, pois o duque escreveria a todos. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que o Duque e as damas enviam cartas aos cavaleiros portugueses.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Desta forma o experto duque as aconselha e logo nomeia doze fortes cavaleiros portugueses, para que cada uma delas tenha um defensor. Assim, que cada um lance sua sorte sobre eles; que cada uma escreva ao seu defensor e todas ao rei de Portugal, pois o duque escreveria a todos.”

CANTO VI – ESTROFE 51

“Veloso conta que as cartas do duque causaram um alvoroço no reino português”

 

“Já chega a Portugal o mensageiro;

Toda a corte alvoroça a novidade:

Quisera o rei sublime ser primeiro,

Mas não lho sofre a régia majestade.

Qualquer dos cortesãos aventureiro

Deseja ser com férvida vontade;

E só fica por bem-aventurado

Quem já vem pelo duque nomeado.

 

“Já chega a Portugal o mensageiro; toda a corte alvoroça a novidade: quisera o rei sublime ser primeiro, mas não lho sofre a régia majestade. Qualquer dos cortesãos aventureiro deseja ser com férvida vontade; e só fica por bem-aventurado quem já vem pelo duque nomeado. (1)

(1) “O mensageiro já a Portugal, alvoroçando toda a corte com a novidade; o sublime rei D. João I queria ser o primeiro a defender a honra das damas, mas seu título de monarca não o permitia. Muito cortesãos portugueses desejavam ir defender a honra das damas inglesas, mas somente foram escolhidos aqueles nomeados pelo duque de Lencastro.” Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que os portugueses ficam muito empolgadas para defender a honra das damas inglesas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O mensageiro já a Portugal, alvoroçando toda a corte com a novidade; o sublime rei D. João I queria ser o primeiro a defender a honra das damas, mas seu título de monarca não o permitia. Muito cortesãos portugueses desejavam ir defender a honra das damas inglesas, mas somente foram escolhidos aqueles nomeados pelo duque de Lencastre.”

CANTO VI – ESTROFE 52

“Veloso conta que os doze cavaleiros se preparam para viajar até a Inglaterra”

 

“Lá na leal cidade, donde teve

Origem (como é fama) o nome eterno

De Portugal, armar madeiro leve

Manda o que tem o leme do governo.

Apercebem-se os doze em tempo breve

D’armas e roupas de uso mais moderno,

De elmos, cimeiras, letras e primores,

Cavalos e concertos de mil cores.

 

“Lá na leal cidade, donde teve origem (como é fama) o nome eterno de Portugal, armar madeiro leve manda o que tem o leme do governo. Apercebem-se os doze em tempo breve d’armas e roupas de uso mais moderno, de elmos, cimeiras, letras e primores, cavalos e concertos de mil cores. (1)

(1) Na cidade do Porto, esta que dá nome ao reino de Portugal, o rei D. João manda preparar uma rápida embarcação para levar os doze cavaleiros portugueses. Eles sem preparam com armas e as roupas mais modernas, com elmos, cimeiras, letras e primores, cavalos e adornos coloridos. Camões começa canta Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que os portugueses se preparam para ir até à Inglaterra.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Na cidade do Porto, esta que dá nome ao reino de Portugal, o rei D. João manda preparar uma rápida embarcação para levar os doze cavaleiros portugueses. Eles sem preparam com armas e as roupas mais modernas, com elmos, cimeiras, letras e primores, cavalos e adornos coloridos.”

CANTO VI – ESTROFE 53

“Veloso conta que Magriço, um dos doze cavaleiros, decide ir até a Inglaterra por terra”

 

“Já do seu rei tomado têm licença

Pera partir do Douro celebrado,

Aqueles que escolhidos por sentença

Foram do duque inglês exp’rimentado.

Não há na companhia diferença

De cavaleiro destro ou esforçado;

Mas um só, que Magriço se dizia,

Destarte fala à forte companhia:

 

“Já do seu rei tomado têm licença pera partir do Douro celebrado, aqueles que escolhidos por sentença foram do duque inglês exp’rimentado. Não há na companhia diferença de cavaleiro destro ou esforçado; mas um só, que Magriço se dizia, destarte fala à forte companhia: (1)

(1) “Os cavaleiros portugueses que foram escolhidos para defender a honra das damas inglesas pelo duque de Lencastre já saiam, com autorização do rei D. João I, da cidade do Porto. Na companhia dos doze cavaleiros, não há nenhuma diferença de qualidade, sendo todos eles muito capacitados; um deles, que se chamava Magriço, falou desta forma à forte companhia:” Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que os doze cavaleiros portugueses já estão prontos para ir para à Inglaterra.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Os cavaleiros portugueses que foram escolhidos para defender a honra das damas inglesas pelo duque de Lencastre já saiam, com autorização do rei D. João I, da cidade do Porto. Na companhia dos doze cavaleiros, não há nenhuma diferença de qualidade, sendo todos eles muito capacitados; um deles, que se chamava Magriço, falou desta forma à forte companhia”

CANTO VI – ESTROFE 54

“Veloso conta a fala de Magriço, que explica porque deseja viajar por terra”

 

‘Fortíssimos consórcios, eu desejo

Há muito já de andar terras estranhas,

Por ver mais águas que as do Douro e Tejo,

Várias gentes e leis, e várias manhas.

Agora, que aparelho certo vejo,

(Pois que do mundo as cousas são tamanhas)

Quero, se me deixais, ir só por terra,

Porque eu serei convosco em Inglaterra.

 

‘Fortíssimos consórcios, eu desejo há muito já de andar terras estranhas, por ver mais águas que as do Douro e Tejo, várias gentes e leis, e várias manhas. Agora, que aparelho certo vejo, (pois que do mundo as cousas são tamanhas) quero, se me deixais, ir só por terra, porque eu serei convosco em Inglaterra.’ (1)

(1) ‘Fortíssimos companheiros portugueses, eu, há muito já, desejo andar por novas terras e ver mais que as águas portuguesas do Douro e do Tejo, além de conhecer novos povos, leis e costumes. Agora que surgiu está oportunidade de ver as grandes coisas do mundo, quero fazer essa viagem por terra, me encontrando convosco na Inglaterra.’ Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que Magriço, um dos doze cavaleiros, diz preferir ir para à Inglaterra pela terra.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Fortíssimos companheiros portugueses, eu, há muito já, desejo andar por novas terras e ver mais que as águas portuguesas do Douro e do Tejo, além de conhecer novos povos, leis e costumes. Agora que surgiu está oportunidade de ver as grandes coisas do mundo, quero fazer essa viagem por terra, me encontrando convosco na Inglaterra.”

CANTO VI – ESTROFE 55

“Veloso conta a fala de Magriço, que explica porque deseja viajar por terra”

 

‘E, quando caso for que eu, impedido

Por quem das cousas é última linha,

Não for convosco ao prazo instituído,

Pouca falta voz faz a falta minha.

Todos por mi fareis o que é devido;

Mas se a verdade o esp’rito me adivinha,

Rios, montes, fortuna, ou sua inveja,

Não farão que eu convosco lá não seja’

 

‘E, quando caso for que eu, impedido por quem das cousas é última linha, não for convosco ao prazo instituído, pouca falta voz faz a falta minha. Todos por mi fareis o que é devido; mas se a verdade o esp’rito me adivinha, rios, montes, fortuna, ou sua inveja, não farão que eu convosco lá não seja’ (1)

(1) ‘E, mesmo que eu não esteja na data determina na Inglaterra por estar morto, pouca falta farei, porque eu tenho total confiança que vocês podem me substituir. Mas eu, que também confio no meu destino, sei que nenhum rio, monte, fortuna ou inveja fara que não esteja ao lado de vocês.’ Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que Magriço, um dos doze cavaleiros, diz preferir ir para à Inglaterra pela terra.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

‘E, mesmo que eu não esteja na data determina na Inglaterra por estar morto, pouca falta farei, porque eu tenho total confiança que vocês podem me substituir. Mas eu, que também confio no meu destino, sei que nenhum rio, monte, fortuna ou inveja fara que não esteja ao lado de vocês.’

CANTO VI – ESTROFE 56

“Veloso comenta o caminho que Magriço percorre em sua viagem”

 

“Assim diz; e abraçados os amigos,

E tomada licença, enfim parte.

Passa Leão, Castela, vendo antigos

Lugares que ganhara o pátrio Marte;

Navarra, c’os altíssimos perigos

Do Pirineu, que Espanha e Gália parte:

Vistas enfim de França as cousas grandes,

No grande empório foi parar de Frandes.

 

“Assim diz; e abraçados os amigos, e tomada licença, enfim parte. Passa Leão, Castela, vendo antigos lugares que ganhara o pátrio Marte; Navarra, c’os altíssimos perigos do Pirineu, que Espanha e Gália parte: vistas enfim de França as cousas grandes, no grande empório foi parar de Frandes. (1)

(1) Dizendo isso, Magriço abraça os amigos cavaleiros e parte para fazer a viagem por terra. Passa pelas terras de Leão e Castela, vendo os antigos lugares que o exército portuguese batalhou; passa por Navarra nos altíssimos e perigosos montes do Pirineu, que separam o território da Espanha e da França; na França viu as grandes obras e foi parar na grande cidade industrial de Frandes. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta o trajeto que o cavaleiro Magriço fez durante a sua viagem.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Dizendo isso, Magriço abraça os amigos cavaleiros e parte para fazer a viagem por terra. Passa pelas terras de Leão e Castela, vendo os antigos lugares que o exército portuguese batalhou; passa por Navarra nos altíssimos e perigosos montes do Pirineu, que separam o território da Espanha e da França; na França viu as grandes obras e foi parar na grande cidade industrial de Frandes.”

CANTO VI – ESTROFE 57

“Veloso comenta que, enquanto Magriço viajava por terra, os demais cavaleiros portugueses chegavam na Inglaterra”

 

“Ali chegado, ou fosse caso ou manha,

Sem passar se deteve muitos dias;

Mas dos onze a ilustríssima campanha

Cortam do mar do Norte as ondas frias.

Chegados da Inglaterra à costa estranha,

Pera Londres já fazem todos vias:

Do duque são com festa agasalhados,

E das damas servidos e amimados.

 

“Ali chegado, ou fosse caso ou manha, sem passar se deteve muitos dias; mas dos onze a ilustríssima campanha cortam do mar do Norte as ondas frias. Chegados da Inglaterra à costa estranha, pera Londres já fazem todos vias: do duque são com festa agasalhados, e das damas servidos e amimados. (1)

(1) Magriço, seja qual for o motivo de parar em Flandres, não ficou muitos dias por ali. A ilustríssima companhia dos outros onze cavaleiros portugueses seguiu cortou as frias ondas do Norte; ao chegarem à desconhecida costa da Inglaterra, seguem caminho para Londres, onde são recebidos com festa pelo Duque de Lencastre e carinhosamente colhidos pelas damas.  Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta a chegada dos cavaleiros portugueses à Inglaterra.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Magriço, seja qual for o motivo de parar em Flandres, não ficou muitos dias por ali. A ilustríssima companhia dos outros onze cavaleiros portugueses seguiu cortou as frias ondas do Norte; ao chegarem à desconhecida costa da Inglaterra, seguem caminho para Londres, onde são recebidos com festa pelo Duque de Lencastre e carinhosamente colhidos pelas damas.”

CANTO VI – ESTROFE 58

“Veloso conta que é chegado o dia do combate dos cavaleiros ingleses contra os portugueses”

 

“Chega-se o prazo e dia assinalado

De entrar em campo já c’os doze Ingleses,

Que pelo rei já tinham segurado:

Armam-se d’elmos, grevas e de arneses;

Já as damas têm por si fulgente e armado

O Mavorte feroz dos Portugueses:

Vestem-se elas de cores e de sedas,

De ouro e de joias mil, ricas e ledas.

 

“Chega-se o prazo e dia assinalado de entrar em campo já c’os doze Ingleses, que pelo rei já tinham segurado: armam-se d’elmos, grevas e de arneses; já as damas têm por si fulgente e armado o Mavorte feroz dos Portugueses: vestem-se elas de cores e de sedas, de ouro e de joias mil, ricas e ledas. (1)

(1) Chega o dia que foi determinado o confronto dos cavaleiros ingleses com os portugueses, confronto este que já tinha sido garantido pelo rei da Inglaterra. Eles armam-se com elmos, grevas e com de armaduras, enquanto as damas inglesas, que tinham os ferozes portugueses lutando por elas, se vestiam com sedas coloridas e utilizavam ouro e mil joias ricas e alegres. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta os cavaleiros portugueses e ingleses se preparam para o duelo.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Chega o dia que foi determinado o confronto dos cavaleiros ingleses com os portugueses, confronto este que já tinha sido garantido pelo rei da Inglaterra. Eles armam-se com elmos, grevas e com de armaduras, enquanto as damas inglesas, que tinham os ferozes portugueses lutando por elas, se vestiam com sedas coloridas e utilizavam ouro e mil joias ricas e alegres.”

CANTO VI – ESTROFE 59

“Veloso conta que Magriço não chega a tempo do combate, ficando sua dama vestida de forma triste”

 

“Mas aquela, a quem fora em sorte dado

Magriço, que não vinha, com tristeza

Se veste, por não ter quem nomeado

Seja seu cavaleiro nesta empresa,

Bem que os onze apregoam que acabado

Será o negócio assi na corte inglesa

Que as damas vencedoras se conheçam,

Posto que dous e três dos seus faleçam.

 

“Mas aquela, a quem fora em sorte dado Magriço, que não vinha, com tristeza se veste, por não ter quem nomeado seja seu cavaleiro nesta empresa, bem que os onze apregoam que acabado será o negócio assi na corte inglesa que as damas vencedoras se conheçam, posto que dous e três dos seus faleçam. (1)

(1) Mas a dama que teve a sorte de ser dado Magriço como seu cavaleiro se vestia com cores tristes, já ele não veio ao duelo, embora os onze portugueses garantissem que eles venceriam a disputa na corte inglesa, mesmo que dois ou três deles morressem. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que mesmo Magriço não comparecendo na data marcada, os onze cavaleiros ainda assim iriam lutar.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Mas a dama que teve a sorte de ser dado Magriço como seu cavaleiro se vestia com cores tristes, já ele não veio ao duelo, embora os onze portugueses garantissem que eles venceriam a disputa na corte inglesa, mesmo que dois ou três deles morressem.”

CANTO VI – ESTROFE 60

“Veloso comenta que a corte inglesa presencia o combate”

 

“Já num sublime e público teatro

Se assenta o rei inglês, com toda a corte;

Estavam três e três, e quatro e quatro,

Bem como cada qual coubera em sorte.

Não são vistos do sol, do Tejo ao Batro,

De força, esforço, e d’ânimo mais forte,

Outros doze sair, como os Ingleses

No campo contra os onze Portugueses.

 

“Já num sublime e público teatro se assenta o rei inglês, com toda a corte; estavam três e três, e quatro e quatro, bem como cada qual coubera em sorte. Não são vistos do sol, do Tejo ao Batro, de força, esforço, e d’ânimo mais forte, outros doze sair, como os Ingleses no campo contra os onze Portugueses. (1)

(1) O rei inglês e toda a sua corte estavam sentados em um sublime teatro público; os cavaleiros ficavam a três e três, e a quatro e quatro. Não foram vistos pelo Sol, desde o rio Tejo ao rio Batro, outros cavaleiros com mais força, esforço e ânimo como os doze ingleses que lutariam contra os onze portugueses. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que os doze cavaleiros ingleses, sendo assistidos pelo rei ingleses e sua corte, já estavam diante dos onze cavaleiros portugueses.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O rei inglês e toda a sua corte estavam sentados em um sublime teatro público; os cavaleiros ficavam a três e três, e a quatro e quatro. Não foram vistos pelo Sol, desde o rio Tejo ao rio Batro, outros cavaleiros com mais força, esforço e ânimo como os doze ingleses que lutariam contra os onze portugueses.”

CANTO VI – ESTROFE 61

“Veloso comenta que, quando o combate estava para começar, ao deixa os presentes alvoroçados”

 

“Mastigam os cavalos, escumando,

Os áureos freios com feroz semblante:

Estava o sol nas armas rutilando

Como em cristal ou rígido diamante;

Mas enxerga-se num e noutro bando

Partido desigual e dissonante,

Dos onze contra os doze, quando a gente

Começa a alvoroçar-se geralmente.

“Mastigam os cavalos, escumando, os áureos freios com feroz semblante: estava o sol nas armas rutilando como em cristal ou rígido diamante; mas enxerga-se num e noutro bando partido desigual e dissonante, dos onze contra os doze, quando a gente começa a alvoroçar-se geralmente. (1)

(1) As montarias dos cavaleiros mastigam reios dourados, espumando pela boca com um aspecto feroz; o sol resplandecia nas armas, como se fossem cristais ou rígido diamante; era dissonante a desigualdade dos grupos, já que eram onze portugueses lutando contra doze ingleses; eis a maior parte dos espectadores ficam alvoroçados. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que tudo já está pronto para a luta dos onze cavaleiros portugueses contra os doze ingleses, mas eis que a plateia fica alvoroçada. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“As montarias dos cavaleiros mastigam reios dourados, espumando pela boca com um aspecto feroz; o sol resplandecia nas armas, como se fossem cristais ou rígido diamante; era dissonante a desigualdade dos grupos, já que eram onze portugueses lutando contra doze ingleses; eis a maior parte dos espectadores ficam alvoroçados.”

CANTO VI – ESTROFE 62

“Veloso comenta que Magriço chega a tempo de participar do combate”

 

“Viram todos o rosto aonde havia

A causa principal do rebuliço:

Eis entra um cavaleiro, que trazia

Armas, cavalo, ao bélico serviço.

Ao rei e às damas fala; e logo se ia

Pera os onze, que este era o grão Magriço.

Abraça os companheiros como amigos,

A quem não falta certo nos perigos.

 

“Viram todos o rosto aonde havia a causa principal do rebuliço: eis entra um cavaleiro, que trazia armas, cavalo, ao bélico serviço. Ao rei e às damas fala; e logo se ia pera os onze, que este era o grão Magriço. Abraça os companheiros como amigos, a quem não falta certo nos perigos. (1)

(1) Todos os presentes viram o rosto em direção à causa de todo esse rebuliço: entrava um cavaleiro montado e armado, estando pronto para um combate. Ele fala com o rei inglês e as damas, e logo vai até os onze portugueses, mostrando que era o grão cavaleiro Magriço, que abraça os companheiros como amigo que nunca foge dos perigos. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que Magriço chega a tempo de participar da luta contra os cavaleiros ingleses.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Todos os presentes viram o rosto em direção à causa de todo esse rebuliço: entrava um cavaleiro montado e armado, estando pronto para um combate. Ele fala com o rei inglês e as damas, e logo vai até os onze portugueses, mostrando que era o grão cavaleiro Magriço, que abraça os companheiros como amigo que nunca foge dos perigos.”

CANTO VI – ESTROFE 63

“Veloso comenta que a dama de Magriço fica empolgada com sua chegada e, com isso, começa o combate”

 

“A dama, como ouviu que este era aquele

Que vinha a defender seu nome e fama,

Se alegra, e veste ali do animal de Hede,

Que a gente bruta mais que virtude ama.

Já dão sinal, e o som da tuba impele

Os belicosos ânimos que inflama;

Picam d’esporas, largam rédeas logo,

Abaixam lanças, fere a terra fogo.

 

“A dama, como ouviu que este era aquele que vinha a defender seu nome e fama, se alegra, e veste ali do animal de Hede, que a gente bruta mais que virtude ama. Já dão sinal, e o som da tuba impele os belicosos ânimos que inflama; picam d’esporas, largam rédeas logo, abaixam lanças, fere a terra fogo. (1)

(1) A dama que estava vestida com tristeza, ao ver que aquele cavaleiro que chegava era o seu defensor, logo se alegra, vestida ali uma pele de ouro, o metal que a os brutos amam mais do que a virtude. Com o soar de um tuba que inflama os belicosos ânimos dos cavaleiros, é dado o sinal para o inicio do combate; os cavaleiros apertar as esporas, largam as rédeas e abaixam as lanças, com o ferro ferindo o chão. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que a dama de Magriço se alegre ao ver seu defensor e, com isso, começa o combate.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“A dama que estava vestida com tristeza, ao ver que aquele cavaleiro que chegava era o seu defensor, logo se alegra, vestida ali uma pele de ouro, o metal que a os brutos amam mais do que a virtude. Com o soar de um tuba que inflama os belicosos ânimos dos cavaleiros, é dado o sinal para o início do combate; os cavaleiros apertar as esporas, largam as rédeas e abaixam as lanças, com o ferro ferindo o chão.”

CANTO VI – ESTROFE 64

“Veloso descreve o combate dos cavaleiros”

 

“Dos cavalos o estrépito parece

Que faz que o chão debaixo todo treme;

O coração no peito que estremece

De quem os olha se alvoroça e teme:

Qual do cavalo voa, que não desce;

Qual c’o cavalo em terra dando, geme;

Qual vermelhas as armas faz de brancas;

Qual c’os penachos de elmos açouta as ancas.

 

“Dos cavalos o estrépito parece que faz que o chão debaixo todo treme; o coração no peito que estremece de quem os olha se alvoroça e teme: qual do cavalo voa, que não desce; qual c’o cavalo em terra dando, geme; qual vermelhas as armas faz de brancas; qual c’os penachos de elmos açouta as ancas. (1)

(1) O galopar dos cavalos produz um estrondo que faz todo o chão abaixo tremer, assustando e deixando alvoroçados os corações daqueles que olham o combate. Um dos cavaleiros é derrubado, voando do cavalo; outro cai junto com o cavalo e grita de dor; outro faz as brancas armas ficarem vermelhas com o sangue; outro cai, açoitando com os penachos do elmo as ancas do cavalo. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, descreve o duelo dos doze cavaleiros portugueses contra os doze cavaleiros ingleses.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O galopar dos cavalos produz um estrondo que faz todo o chão abaixo tremer, assustando e deixando alvoroçados os corações daqueles que olham o combate. Um dos cavaleiros é derrubado, voando do cavalo; outro cai junto com o cavalo e grita de dor; outro faz as brancas armas ficarem vermelhas com o sangue; outro cai, açoitando com os penachos do elmo as ancas do cavalo.”

CANTO VI – ESTROFE 65

“Veloso descreve o combate dos cavaleiros”

 

“Algum dali tomou perpétuo sono,

E fez da vida ao fim breve intervalo;

Correndo algum cavalo vai sem dono,

E noutra parte o dono sem cavalo;

Cai a soberba inglesa do seu trono,

Que dous ou três já fora vão do valo;

Os que de espada vêm fazer batalha

Mais acham já que arnês, escudo e malha.

 

“Algum dali tomou perpétuo sono, e fez da vida ao fim breve intervalo; correndo algum cavalo vai sem dono, e noutra parte o dono sem cavalo; cai a soberba inglesa do seu trono, que dous ou três já fora vão do valo; os que de espada vêm fazer batalha mais acham já que arnês, escudo e malha. (1)

(1) Um deles caiu e morreu, tomando o sono eterno e fazendo deste intervalo o fim de sua vida; um cavalo vai correndo sem seu dono, enquanto em outra parte tem um dono sem cavalo; a soberba dos cavaleiros ingleses cai de seu trono, com dois ou três deles saindo do combate; os cavaleiros desmontados que vem duelar com as espadas lutam contra as defesas das armaduras e escudos. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, descreve o duelo dos doze cavaleiros portugueses contra os doze cavaleiros ingleses.  

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Um deles caiu e morreu, tomando o sono eterno e fazendo deste intervalo o fim de sua vida; um cavalo vai correndo sem seu dono, enquanto em outra parte tem um dono sem cavalo; a soberba dos cavaleiros ingleses cai de seu trono, com dois ou três deles saindo do combate; os cavaleiros desmontados que vem duelar com as espadas lutam contra as defesas das armaduras e escudos.”

CANTO VI – ESTROFE 66

“Veloso conta que os doze cavaleiros portugueses vencem os doze cavaleiros ingleses”

 

“Gastar palavras em contar extremos

De golpes feros, cruas estocada,

É desses gastadores, que sabemos,

Maus do tempo com fábulas sonhadas;

Basta por fim do caso que entendemos

Que, com finezas altas e afamadas,

C’os nossos fica a palma da vitória,

E as damas vencedoras e com glória.

 

“Gastar palavras em contar extremos de golpes feros, cruas estocada, é desses gastadores, que sabemos, maus do tempo com fábulas sonhadas; basta por fim do caso que entendemos que, com finezas altas e afamadas, c’os nossos fica a palma da vitória, e as damas vencedoras e com glória. (1)

(1) Gastar as minhas palavras para descrever todos os detalhes do combate, como os ferozes golpes e as cruéis estocadas, seria coisa de quem gosta de perder tempo, como fazem os contadores de fábulas de cavalaria. O que precisamos saber é que, com altas e afamadas finezas, os cavaleiros portugueses derrotam os cavaleiros ingleses, ficando as damas vencedoras. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que os doze portugueses vencem os doze ingleses.   

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Gastar as minhas palavras para descrever todos os detalhes do combate, como os ferozes golpes e as cruéis estocadas, seria coisa de quem gosta de perder tempo, como fazem os contadores de fábulas de cavalaria. O que precisamos saber é que, com altas e afamadas finezas, os cavaleiros portugueses derrotam os cavaleiros ingleses, ficando as damas vencedoras.”

CANTO VI – ESTROFE 67

“Veloso comenta que o duque e as damas celebram a vitória junto com os portugueses”

 

“Recolhe o duque os doze vencedores

Nos seus paços, com festas e alegria;

Cozinheiros ocupa e caçadores

Das damas a fermosa companhia,

Que querem dar aos seus libertadores

Banquetes mil, cada hora e cada dia,

Enquanto se detêm em Inglaterra,

Até tornar à doce e cara terra.

 

“Recolhe o duque os doze vencedores nos seus paços, com festas e alegria; cozinheiros ocupa e caçadores das damas a fermosa companhia, que querem dar aos seus libertadores banquetes mil, cada hora e cada dia, enquanto se detêm em Inglaterra, até tornar à doce e cara terra. (1)

(1) O duque de Lencastre recebe os doze portugueses vencedores em seus domínios com festas e muita alegria; as damas ocupam os cozinheiros e caçadores, pois querem dar mil banquetes a cada hora e a cada dia aos seus libertadores; assim ficam eles na Inglaterra até retornarem para à doce e cara terra de Portugal. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que todos comemoram a vitórias dos doze cavaleiros portugueses.   

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O duque de Lencastre recebe os doze portugueses vencedores em seus domínios com festas e muita alegria; as damas ocupam os cozinheiros e caçadores, pois querem dar mil banquetes a cada hora e a cada dia aos seus libertadores; assim ficam eles na Inglaterra até retornarem para à doce e cara terra de Portugal.”

CANTO VI – ESTROFE 68

“Veloso comenta que Magriço não retorna para Portugal, decidindo ficam em Flandres, na França”

 

“Mas dizem que, contudo, o grão Magriço,

Desejo de ver as cousas grandes,

Lá se deixou ficar, onde um serviço

Notável à condessa fez de Frandes;

E, como quem não era já noviço

Em todo trance onde tu, Marte, mandes,

Um Frânces mata em campo, que o destino

Lá teve de Torquato e de Corvino.

 

“Mas dizem que, contudo, o grão Magriço, desejo de ver as cousas grandes, lá se deixou ficar, onde um serviço notável à condessa fez de Frandes; e, como quem não era já noviço em todo trance onde tu, Marte, mandes, um Frânces mata em campo, que o destino lá teve de Torquato e de Corvino. (1)

(1) Mas dizem que o grão Magriço, como desejava ver as grandes coisas do mundo, ficou na França prestando serviços à notável condessa de Flandres; e, como ele não era um garoto inexperiente nas artes do combate, acabou matando um francês em combate, assim como Torquato e Corvino. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, comenta que o cavaleiro Magriço não desejou retornar para Portugal.   

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Mas dizem que o grão Magriço, como desejava ver as grandes coisas do mundo, ficou na França prestando serviços à notável condessa de Flandres; e, como ele não era um garoto inexperiente nas artes do combate, acabou matando um francês em combate, assim como Torquato e Corvino.”

CANTO VI – ESTROFE 69

“Veloso comenta que outro cavaleiro português decide ficar na Alemanha”

 

“Outro também dos doze em Alemanha,

Se lança, e teve um fero desafio

C’um Germano enganoso, que com manha

Não devida o quis pôr no extremo fio.”

Contando assim Veloso, já a companha

Lhe pede que não faça tal desvio

Do caso de Magriço e vencimento,

Nem deixe o de Alemanha em esquecimento.

 

“Outro também dos doze em Alemanha, se lança, e teve um fero desafio c’um Germano enganoso, que com manha não devida o quis pôr no extremo fio.” Contando assim Veloso, já a companha lhe pede que não faça tal desvio do caso de Magriço e vencimento, nem deixe o de Alemanha em esquecimento. (1)

(1) Assim como Magriço, um dos cavaleiros portugueses decide não voltar para Portugal, ficando ele na Alemanha; lá ele enfrentava um feroz e traiçoeiro alemão que tentou o matar. Veloso seguia contando a história, quando foi interrompido pelos companheiros marinheiros, que pediam para ele continuar contando os casos de Magriço e, só quando terminar, voltar a falar do da Alemanha. Camões canta que Veloso, contando as histórias do passado aos marinheiros, continua comentando sobre a vida do cavaleiro Magriço.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Assim como Magriço, um dos cavaleiros portugueses decide não voltar para Portugal, ficando ele na Alemanha; lá ele enfrentava um feroz e traiçoeiro alemão que tentou o matar. Veloso seguia contando a história, quando foi interrompido pelos companheiros marinheiros, que pediam para ele continuar contando os casos de Magriço e, só quando terminar, voltar a falar do da Alemanha.”

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Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.

Os Lusíadas (Edição Didática) - Volume I e II – Editora Concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a quadragésima terceira até a sexagésima nona estrofe do sexto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a história dos Doze da Inglaterra que é narrada pelos marinheiros portugueses.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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