Neste nosso quinquagésimo sexto comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o sexto canto da obra, onde Camões canta a terrível tempestade que atinge a frota portuguesa.
CANTO VI – ESTROFE 70
“Os marinheiros portugueses percebem a aproximação de uma tempestade”
Mas nesse passo assim pronto estando,
Eis o mestre, que olhando os ares anda,
O apito toca: acordam despertando
Os marinheiros duma e doutra banda.
E, porque o vento vinha refrescando,
Os traquetes das gáveas tomar manda.
“Alerta, disse, estai, que o vento cresce
Daquela nuvem negra que aparece.
“Mas nesse passo assim pronto estando, eis o mestre, que olhando os ares anda, o apito toca: acordam despertando os marinheiros duma e doutra banda. E, porque o vento vinha refrescando, os traquetes das gáveas tomar manda. “Alerta, disse, estai, que o vento cresce daquela nuvem negra que aparece. (1)”
(1) Mas nesse momento, com os marinheiros atentos ouvindo as histórias de Veloso, o oficial mestre toca o apito após olhar o clima que se aproximava, acordando os marinheiros que estavam dormindo; e, como via a ventania chegando, manda recolher as velas dizendo: “Alerta! Que vem vento forte daquela nuvem negra.” Camões canta que os marinheiros, ao verem uma tempestade se aproximando, começava a preparar a frota.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas nesse momento, com os marinheiros atentos ouvindo as histórias de Veloso, o oficial mestre toca o apito após olhar o clima que se aproximava, acordando os marinheiros que estavam dormindo; e, como via a ventania chegando, manda recolher as velas dizendo: Alerta! Que vem vento forte daquela nuvem negra.”
CANTO VI – ESTROFE 71
“A terrível tempestade rapidamente atinge as naus portuguesas, quebrando uma das velas das embarcações”
Não eram os traquetes bem tomados,
Quando dá a grande e súbitas procela.
“Amaina, disse o mestre a grandes brados,
Amaina, disse, amaina a grande vela.”
Não esperem os ventos inclinados
Que amainassem; mas juntos dando nela,
Em pedaços a fazem c’um ruído,
Que o mundo pareceu ser destruído.
Não eram os traquetes bem tomados, quando dá a grande e súbitas procela. “Amaina, disse o mestre a grandes brados, amaina, disse, amaina a grande vela.” Não esperem os ventos inclinados que amainassem; mas juntos dando nela, em pedaços a fazem c’um ruído, que o mundo pareceu ser destruído. (1)
(1) As velas ainda não estavam encurtadas quando chegou a grande e súbita tempestade. “Amaina, gritava o oficial metre, amaina a grande vela.” Porém os fortes ventos não esperaram que os marinheiros amainassem a vela, rompendo-a em pedaços e fazendo ruído tão alto que pareceu que mundo estava sendo destruído. Camões canta que os furiosos ventos atingem a frota portuguesa, destruindo uma das velas da embarcação.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“As velas ainda não estavam encurtadas quando chegou a grande e súbita tempestade. Amaina, gritava o oficial metre, amaina a grande vela. Porém os fortes ventos não esperaram que os marinheiros amainassem a vela, rompendo-a em pedaços e fazendo ruído tão alto que pareceu que mundo estava sendo destruído.”
CANTO VI – ESTROFE 72
“Os marinheiros ficam desesperados com o rompimento da vela, tentando aliviar o peso da embarcação jogando as bombardas no mar”
O céu fere com gritos nisto a gente,
Com súbito temor e desacordo;
Que, no romper da vela, a nau pendente
Toma grão soma d’água pelo bordo.
“Alija, disse o mestre rijamente,
Alija tudo ao mar; não falte acordo;
Vão outros dar à bomba, não cessando!
À bomba! Que nos ímos alegando.”
O céu fere com gritos nisto a gente, com súbito temor e desacordo; que, no romper da vela, a nau pendente toma grão soma d’água pelo bordo. “Alija, disse o mestre rijamente, alija tudo ao mar; não falte acordo; vão outros dar à bomba, não cessando! À bomba! Que nos ímos alegando.” (1)
(1) Neste momento de súbito medo e confusão, o céu fere os ouvidos dos marinheiros; com o rompimento da vela, a nau é tomada por grande quantidade d’água pelo bordo. “Alija, disse de forma rígida o oficial mestre, alija tudo ao mar; não façam tumulto; que outros joguem as bombardas ao mar ou vamos afundar”. Camões canta que, quando a vela foi partida pela força dos ventos da tempestade, os marinheiros começaram a jogar os materiais no mar, tentando aliviar o peso da embarcação.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Neste momento de súbito medo e confusão, o céu fere os ouvidos dos marinheiros; com o rompimento da vela, a nau é tomada por grande quantidade d’água pelo bordo. “Alija, disse de forma rígida o oficial mestre, alija tudo ao mar; não façam tumulto; que outros joguem as bombardas ao mar ou vamos afundar”.
CANTO VI – ESTROFE 73
“Os marinheiros portugueses tentam manter o controle das embarcações durante a tempestade”
Correm logo os soldados animosos
A dar à bomba, e tanto que chegaram,
Os balanços que os mares temerosos
Deram à nau, num bordo os derribaram.
Três marinheiros duros e forçosos
A menear o leme não bastaram;
Talhas lhe punham duma e doutra parte,
Sem aproveitar dos homens a força e arte.
“Correm logo os soldados animosos a dar à bomba, e tanto que chegaram, os balanços que os mares temerosos deram à nau, num bordo os derribaram. Três marinheiros duros e forçosos a menear o leme não bastaram; talhas lhe punham duma e doutra parte, sem aproveitar dos homens a força e arte. (1)”
(1) Os marinheiros portugueses, querendo reduzir o peso da nau, correm para jogar as bombardas ao mar, mas os fortes movimentos da tempestade balançam a embarcação, derrubando-os no bordo. Três fortes marinheiros tentavam em vão manobrar o leme, tanto que colocaram talhas numa e noutra parte. Camões canta que a tempestade castiga as naus portuguesas e descreve os esforços dos marinheiros para controlar a embarcação após pela perder sua vela.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Os marinheiros portugueses, querendo reduzir o peso da nau, correm para jogar as bombardas ao mar, mas os fortes movimentos da tempestade balançam a embarcação, derrubando-os no bordo. Três fortes marinheiros tentavam em vão manobrar o leme, tanto que colocaram talhas numa e noutra parte.”
CANTO VI – ESTROFE 74
“Os fortes ventos sopram com muita força, tentando afundar a frota portuguesa com a tempestade”
Os ventos eram tais, que não puderam
Mostrar mais força d’ímpeto cruel
Se pera derrubar então vieram
A fortíssima torre de Babel.
Nos altíssimos mares, que cresceram,
A pequena grandura dum batel
Mostra a possante nau, que move espanto,
Vendo que se sustém nas ondas tanto.
“Os ventos eram tais, que não puderam mostrar mais força d’ímpeto cruel se pera derrubar então vieram a fortíssima torre de Babel. Nos altíssimos mares, que cresceram, a pequena grandura dum batel mostra a possante nau, que move espanto, vendo que se sustém nas ondas tanto. (1)”
(1) Os ventos da tempestade eram tão fortes que, se fossem colocar mais esforço, conseguiriam derrubar a fortíssima torre de Babel. Nos altos mares que ficam cada vez maiores, a nau portuguesa mostrava a sua resiliência, tanto que espantaria quem viesse como ela se sustentava no meio de tantas ondas. Camões canta que os ventos da tempestade são muito fortes, mas as embarcações se mantem resilientes.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Os ventos da tempestade eram tão fortes que, se fossem colocar mais esforço, conseguiriam derrubar a fortíssima torre de Babel. Nos altos mares que ficam cada vez maiores, a nau portuguesa mostrava a sua resiliência, tanto que espantaria quem viesse como ela se sustentava no meio de tantas ondas.”
CANTO VI – ESTROFE 75
“Os marinheiros ficam desesperados durante a tempestade, rezando por suas vidas”
A nau grande em que vai Paulo de Gama,
Quebrando leva o mastro pelo meio,
Quase toda alagada; a gente chama
Aquele que a salvar o mundo veio.
Não menos gritos vão ao ar derrama
Toda a nau de Coelho, com receio,
Conquanto teve o mestre tanto tento,
Que o primeiro amainou que desse o vento.
“A nau grande em que vai Paulo de Gama, quebrando leva o mastro pelo meio, quase toda alagada; a gente chama aquele que a salvar o mundo veio. Não menos gritos vão ao ar derrama toda a nau de Coelho, com receio, conquanto teve o mestre tanto tento, que o primeiro amainou que desse o vento. (1)”
(1) Com o mastro quebrado ao meio, a grande nau que navega Paulo da Gama está quase toda alagada, com a tripulação chamando o nome de Jesus. Não menos gritos em vão davam aos céus os marinheiros da nau de Nicolau Coelho, pois temiam que naufragassem, mesmo tento o oficial mestre amainado o mastro antes que os ventos o partissem. Camões canta que os marinheiros se desesperam durante a tempestade, com todos eles temendo pela vida.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Com o mastro quebrado ao meio, a grande nau que navega Paulo da Gama está quase toda alagada, com a tripulação chamando o nome de Jesus. Não menos gritos em vão davam aos céus os marinheiros da nau de Nicolau Coelho, pois temiam que naufragassem, mesmo tento o oficial mestre amainado o mastro antes que os ventos o partissem.”
CANTO VI – ESTROFE 76
“A tormenta vai ficando mais forte, com grandes ondas e ventos cada vez mais fortes”
Agora sobre as nuvens o subiam
As ondas de Netuno furibundo:
Agora a ver parece que desciam
As íntimas entranhas do profundo.
Noto, Austro, Bóreas, Áquilo queriam
Arruinar a máquina do mundo:
A noite negra e feia se alumia
C’os raios em que o polo todo ardia.
“Agora sobre as nuvens o subiam as ondas de Netuno furibundo: agora a ver parece que desciam as íntimas entranhas do profundo. Noto, Austro, Bóreas, Áquilo queriam arruinar a máquina do mundo: a noite negra e feia se alumia c’os raios em que o polo todo ardia. (1)”
(1) Agora as ondas do enfurecido Netuno subiam até alcançarem as nuvens e então caiam sobre os navios, parecendo que desciam até as profundezas do mar. Os ventos Noto, Austro, Bóreas, Áquilo pareciam que queriam destruir todo o mundo, deixando a noite negra e feia, com apenas a luz dos raios iluminando o céu. Camões canta que, além dos fortes ventos, a tempestade também trazia gigantescas ondas contra as naus portuguesas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Agora as ondas do enfurecido Netuno subiam até alcançarem as nuvens e então caiam sobre os navios, parecendo que desciam até as profundezas do mar. Os ventos Noto, Austro, Bóreas, Áquilo pareciam que queriam destruir todo o mundo, deixando a noite negra e feia, com apenas a luz dos raios iluminando o céu.”
CANTO VI – ESTROFE 77
“A aves alciôneas cantam a aproximação da tempestade, enquanto os golfinhos se refugiam nas profundezas do mar”
As alciôneas aves triste canto
Junto da costa brava levantaram,
Lembrando-se do seu passado pranto,
Que as furiosas águas lhe causaram.
Os delfins namorados, entretanto,
Lá nas covas marítimas entraram,
Fugindo à tempestade e ventos duros,
Que nem no fundo os deixa estar seguros.
“As alciôneas aves triste canto junto da costa brava levantaram, lembrando-se do seu passado pranto, que as furiosas águas lhe causaram. Os delfins namorados, entretanto, lá nas covas marítimas entraram, fugindo à tempestade e ventos duros, que nem no fundo os deixa estar seguros. (1)”
(1) Por causa da tempestade, as aves alciôneas levantaram o triste canto junto da brava costa, lembrando-se do seu passado pranto causado pelas furiosas águas. Os carinhosos golfinhos, por outro lado, entram nas cavernas marítimas para fugir da tempestade e de seus duros ventos, que nem mesmo estando no fundo o mar os deixam seguros. Camões canta que os animais reagem por causa da tempestade.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Por causa da tempestade, as aves alciôneas levantaram o triste canto junto da brava costa, lembrando-se do seu passado pranto causado pelas furiosas águas. Os carinhosos golfinhos, por outro lado, entram nas cavernas marítimas para fugir da tempestade e de seus duros ventos, que nem mesmo estando no fundo o mar os deixam seguros.”
CANTO VI – ESTROFE 78
“A tempestade era muito forte, nunca se vendo tantos relâmpagos e raios”
Nunca tão vivos raios fabricou,
Contra a fera soberba dos gigantes,
O grão ferreiro sórdido, que obrou
Do enteado as armas radiantes:
Nem tanto o grão Tonante arremessou
Relâmpagos ao mundo fulminantes
No grão dilúvio, donde sós vieram
Os dous, que em gente as pedras converteram.
“Nunca tão vivos raios fabricou, contra a fera soberba dos gigantes, o grão ferreiro sórdido, que obrou do enteado as armas radiantes: nem tanto o grão Tonante arremessou relâmpagos ao mundo fulminantes no grão dilúvio, donde sós vieram os dous, que em gente as pedras converteram. (1)”
(1) Vulcano, o grão sórdido ferreiro, nunca fabricou tão vivos raios como aqueles que caiam na tempestade, nem mesmo os que foram utilizados contra a fúria soberba dos titãs ou quando forjou as armas de Eneias, seu enteado. E Júpiter também nunca arremessou tantos relâmpagos como agora, nem mesmo no grande dilúvio, onde só sobreviveram Parnaso e Pirra, que converteram as pedras em pessoas. Camões canta que nunca fora vista uma tempestade tão poderosa como a que caia sobre a frota portuguesa.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vulcano, o grão sórdido ferreiro, nunca fabricou tão vivos raios como aqueles que caiam na tempestade, nem mesmo os que foram utilizados contra a fúria soberba dos titãs ou quando forjou as armas de Eneias, seu enteado. E Júpiter também nunca arremessou tantos relâmpagos como agora, nem mesmo no grande dilúvio, onde só sobreviveram Parnaso e Pirra, que converteram as pedras em pessoas.”
CANTO VI – ESTROFE 79
“A tempestade era tão forte que derrubava os montes e arrancava as árvores e suas raízes do chão”
Quantos montes então que derribaram
As ondas que batiam denodadas!
Quantas árvores velhas arrancaram
Do vento bravo as fúrias indinadas!
As forçosas raízes não cuidaram
Que nunca pera o céu fossem viradas;
Nem as fundas areias, que pudessem
Tantos os mares, que em cima as resolvessem.
“Quantos montes então que derribaram as ondas que batiam denodadas! Quantas árvores velhas arrancaram do vento bravo as fúrias indinadas! As forçosas raízes não cuidaram que nunca pera o céu fossem viradas; nem as fundas areias, que pudessem tantos os mares, que em cima as resolvessem. (1)”
(1) Quantos montes forem derrubados quando foram atingidos com violência pelas ondas! Quantas árvores velhas foram arrancadas pela fúria dos bravos ventos! As fortes raízes não acreditaram que fossem arrancadas, nem as profundas areias dos fossem reviradas por esta força. Camões canta o impacto da tempestade sobre o mundo.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Quantos montes forem derrubados quando foram atingidos com violência pelas ondas! Quantas árvores velhas foram arrancadas pela fúria dos bravos ventos! As fortes raízes não acreditaram que fossem arrancadas, nem as profundas areias dos fossem reviradas por esta força.”
CANTO VI – ESTROFE 80
“Vendo que está próximo de seu fim, o capitão Vasco da Gama começa uma prece dirigida aos céus”
Vendo Vasco da Gama que tão perto
Do fim do seu desejo se perdia,
Vendo ora o mar até o inferno aberto,
Ora com nova fúria ao céu subia,
Confuso do temor, da vida incerto,
Onde nenhum remédio lhe valia,
Chama aquele remédio santo e forte,
Que impossíbil pode, desta sorte:
Vendo Vasco da Gama que tão perto do fim do seu desejo se perdia, vendo ora o mar até o inferno aberto, ora com nova fúria ao céu subia, confuso do temor, da vida incerto, onde nenhum remédio lhe valia, chama aquele remédio santo e forte, que impossíbil pode, desta sorte: (1)”
(1) Vasco da Gama vê que está prestes a se perder, mesmo estando ele tão perto de concluir sua empreitada; via que o mar se abria para o inferno e depois subia furioso até o céu. O capitão português, confuso com medo e a incerto se sobreviveria, se volta para o único remédio que lhe valia, o santo e forte remédio que, nesta situação, pode fazer o impossível. Camões canta que capitão Vasco da Gama, vendo que a frota portuguesa está prestes a sucumbir na tempestade, começa a rezar.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Vasco da Gama vê que está prestes a se perder, mesmo estando ele tão perto de concluir sua empreitada; via que o mar se abria para o inferno e depois subia furioso até o céu. O capitão português, confuso com medo e a incerto se sobreviveria, se volta para o único remédio que lhe valia, o santo e forte remédio que, nesta situação, pode fazer o impossível.”
CANTO VI – ESTROFE 81
“O capitão Vasco da Gama faz uma prece pedindo socorro”
“Divina guarda, angélica, celeste,
Que os céus, o mar, a terra senhoreais!
Tu, que o todo Israel refúgio deste
Por metade das águas Eritrérias:
Tu, que livraste Paulo e defendeste
Das Sirtes arenosas e ondas feias,
E guardaste c’os filho o segundo
Povoador do alagado e vácuo mundo:
“Divina guarda, angélica, celeste, que os céus, o mar, a terra senhoreais! Tu, que o todo Israel refúgio deste por metade das águas Eritrérias: tu, que livraste Paulo e defendeste das Sirtes arenosas e ondas feias, e guardaste c’os filho o segundo povoador do alagado e vácuo mundo: (1)”
(1) Ó Guarda angélica e celestes que governa a terra, o mar e os céus! Tu, que deu refúgio ao povo de Israel ao abrir as águas do Mar Vermelho; tu, livraste o apóstolo Paulo e o defendeste das arenosas Sirtes e das feias ondas; tu, que salvaste Noé, o segundo povoador do alagado e vácuo mundo, com seus filhos. Camões canta a prece que o capitão Vasco da Gama faz aos céus diante da terrível tempestade, onde ele clama por socorro.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ó Guarda angélica e celestes que governa a terra, o mar e os céus! Tu, que deu refúgio ao povo de Israel ao abrir as águas do Mar Vermelho; tu, livraste o apóstolo Paulo e o defendeste das arenosas Sirtes e das feias ondas; tu, que salvaste Noé, o segundo povoador do alagado e vácuo mundo, com seus filhos.”
CANTO VI – ESTROFE 82
“O capitão Vasco da Gama questiona o motivo dele e de sua frota serem abandonados pela proteção divina”
“Se tenho novos medos perigosos,
Doutra Cila ou Caríbdis já passados,
Outras Sirtes e baixos arenosos,
Outros Acroceráunios infamados;
No fim de tantos casos trabalhosos
Por que somos de ti desamparados,
Se este nosso trabalho não te ofende,
Mas antes teu serviço só pretende?
“Se tenho novos medos perigosos, doutra Cila ou Caríbdis já passados, outras Sirtes e baixos arenosos, outros Acroceráunios infamados; no fim de tantos casos trabalhosos por que somos de ti desamparados, se este nosso trabalho não te ofende, mas antes teu serviço só pretende? (1)”
(1) Se já passei por provações que, até então, era desconhecidas e são mais perigosas do que Cila ou Caríbdis, Sirtes e os baixos arenosos ou infames Promontórios da Grécia, por que somos a ti desamparados no fim desta empreitada tão trabalhosa, uma vez que nossos esforços não te ofendem, mas sim estão a teu serviço? Camões canta a prece que o capitão Vasco da Gama faz aos céus diante da terrível tempestade, questionando o motivo da frota ter sido abandonada pela proteção divina.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Se já passei por provações que, até então, era desconhecidas e são mais perigosas do que Cila ou Caríbdis, Sirtes e os baixos arenosos ou infames Promontórios da Grécia, por que somos a ti desamparados no fim desta empreitada tão trabalhosa, uma vez que nossos esforços não te ofendem, mas sim estão a teu serviço?”
CANTO VI – ESTROFE 83
“O capitão Vasco da Gama diz que honrados e gloriosos aqueles que podem morrer pela fé”
“Oh, ditosos aqueles que puderam
Entre as agudas lanças africanas
Morrer, enquanto fortes sustiveram
A santa fé nas terras mauritanas!
De quem feitos ilustres se souberam,
De quem ficam memórias soberanas,
De quem se ganha a vida com perde-la,
Doce fazendo a morte as honras dela!”
“Oh, ditosos aqueles que puderam entre as agudas lanças africanas morrer, enquanto fortes sustiveram a santa fé nas terras mauritanas! De quem feitos ilustres se souberam, de quem ficam memórias soberanas, de quem se ganha a vida com perde-la, doce fazendo a morte as honras dela! (1)”
(1) “Oh! Bem ditos sejam aqueles portugueses que puderam morrer pelas lanças africanas enquanto defendiam com toda a força a fé nas terras mauritanas! Daqueles que os grandes feitos ficaram conhecidos e que permaneceram soberanos nas memórias ao consagrarem suas vidas com a doce e honrada morte!” Camões canta a prece que o capitão Vasco da Gama faz aos céus diante da terrível tempestade, dizendo que são gloriosos os homens que morrem realizando grandes feitos em nome da fé.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Oh! Bem ditos sejam aqueles portugueses que puderam morrer pelas lanças africanas enquanto defendiam com toda a força a fé nas terras mauritanas! Daqueles que os grandes feitos ficaram conhecidos e que permaneceram soberanos nas memórias ao consagrarem suas vidas com a doce e honrada morte!”
CANTO VI – ESTROFE 84
“Continuava a forte tempestade, com os ventos ficando cada vez mais fortes”
Assi dizendo, os ventos que lutavam,
Como touros indômitos bramando,
Mais e mais a tormenta acrescentavam,
Pela miúda enxárcia assoviando;
Relâmpagos medonhos não cessavam,
Feros trovões, que vêm representando
Cair ao céu dos eixos sobre a terra,
Consigo os elementos terem guerra.
“Assi dizendo, os ventos que lutavam, como touros indômitos bramando, mais e mais a tormenta acrescentavam, pela miúda enxárcia assoviando; relâmpagos medonhos não cessavam, feros trovões, que vêm representando cair ao céu dos eixos sobre a terra, consigo os elementos terem guerra. (1)”
(1) Enquanto dizia o capitão Vasco da Gama dizia sua prece, os ventos continuavam lutando e rugindo como touros indomáveis, fortalecendo mais e mais a tormenta; os medonhos relâmpagos e os ferozes trovões não paravam, parecendo que os céus caiam sobre a terra que os elementos guerreavam entre si. Camões canta que a tempestade continua a cair sobre a frota portuguesa, se fortalecendo ainda mais.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Enquanto dizia o capitão Vasco da Gama dizia sua prece, os ventos continuavam lutando e rugindo como touros indomáveis, fortalecendo mais e mais a tormenta; os medonhos relâmpagos e os ferozes trovões não paravam, parecendo que os céus caiam sobre a terra que os elementos guerreavam entre si.”
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a septuagésima até a octogésima quarta estrofe do sexto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a terrível tempestade que atinge a frota portuguesa.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.