Neste nosso quinquagésimo sétimo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o sexto canto da obra, onde Camões canta que a deusa Vênus vai socorrer os marinheiros portugueses durante a tempestade.

OS LUSÍADAS A FÚRIA DOS VENTOS CONTRA A FROTA PORTUGUESA
Vênus salva os portugueses durante a tempestade

CANTO VI – ESTROFE 85

“Vênus vê que a frota portuguesa, a quem ela nutre um profundo amor, está sofrendo com a terrível tempestade”

 

Mas já a amorosa estrela cintilava

Diante do Sol claro no horizonte

Mensageira do dia, e visitava

A terra e o largo mar com leda fronte;

A deusa que nos céus a governava,

De quem foge o ensífero Oriente,

Tanto que o mar e a cara armada vira,

Tocada junto foi de medo e de ira:

 

“Mas já a amorosa estrela cintilava diante do Sol claro no horizonte mensageira do dia, e visitava a terra e o largo mar com leda fronte; a deusa que nos céus a governava, de quem foge o ensífero Oriente, tanto que o mar e a cara armada vira, tocada junto foi de medo e de ira: (1)

(1) Mas a estrela d’alva, a amorosa estrela que anuncia o dia, já cintilava no horizonte diante do claro Sol e visitava a terra e largo mar com o seu alegre brilho; a deusa Vênus, que nos céus governa esta estrela e que afugenta as tempestades, fica com medo e ira ao ver ao ver o mar e sua amada frota portuguesa. Camões canta que chega o dia e a deusa Vênus vê a tempestade que ataca a frota portuguesa.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Mas a estrela d’alva, a amorosa estrela que anuncia o dia, já cintilava no horizonte diante do claro Sol e visitava a terra e largo mar com o seu alegre brilho; a deusa Vênus, que nos céus governa esta estrela e que afugenta as tempestades, fica com medo e ira ao ver ao ver o mar e sua amada frota portuguesa.”

CANTO VI – ESTROFE 86

“Vênus especula que a tempestade é obra de Baco e então prepara as ninfas nereidas para socorrer os portugueses”

 

“Estas obras de Baco são por certo,

Disse; mas não será que avante leve

Tão danada tenção, que descoberto

Me será sempre o mal a que se atreve.”

Isto dizendo, desce ao mar aberto,

No caminho gastando espaço breve,

Enquanto manda às ninfas amorosas

Grinaldas nas cabeças pôr de rosas.

 

“Estas obras de Baco são por certo, disse; mas não será que avante leve tão danada tenção, que descoberto me será sempre o mal a que se atreve.” Isto dizendo, desce ao mar aberto, no caminho gastando espaço breve, enquanto manda às ninfas amorosas grinaldas nas cabeças pôr de rosas. (1)

(1) “Isso que acontece só pode ser obra de Baco, disse Vênus; mas essa danada tenção não continuará, pois eu sempre interromperei essas malignas ações.” Dizendo isto, Vênus desce ao mar, mandando as amorosas ninfas se adornarem com grinaldas de rosas na cabeça. Camões canta que Vênus percebe que a tempestade que assola a frota portuguesa é obra de Baco e imediatamente desce ao mar para, junto das ninfas, socorre-la.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Isso que acontece só pode ser obra de Baco, disse Vênus; mas essa danada tenção não continuará, pois eu sempre interromperei essas malignas ações.” Dizendo isto, Vênus desce ao mar, mandando as amorosas ninfas se adornarem com grinaldas de rosas na cabeça.

CANTO VI – ESTROFE 87

“Vênus prepara as ninfas para que seduzam os furiosos ventos e assim consiga salvar a frota portuguesa”

 

Grinaldas manda pôr de várias cores

Sobre cabelos louros à porfia.

Quem não dirá que nascem roxas flores

Sobre ouro natural, que amor enfia?

Abrandar determina por amores

Dos ventos a nojosa companhia,

Mostrando-lhes as amadas ninfas belas

Que mais fermosas vinham que as estrelas.

 

Grinaldas manda pôr de várias cores sobre cabelos louros à porfia. Quem não dirá que nascem roxas flores sobre ouro natural, que amor enfia? Abrandar determina por amores dos ventos a nojosa companhia, mostrando-lhes as amadas ninfas belas que mais fermosas vinham que as estrelas. (1)

(1) Vênus manda os as grinaldas coloridas sobre os louros cabelos das ninfas. Quem negará que, quando a amor coloca, não nascem flores roxas sobre o ouro natural? Ela determina que as amadas ninfas, que estavam mais formosas que as estrelas, abrandem a companhia dos ferozes ventos. Camões canta que Vênus enfeita e prepara as ninfas e as manda abrandam a fúria dos ventos, para que assim a frota portuguesa não seja destruída.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Vênus manda os as grinaldas coloridas sobre os louros cabelos das ninfas. Quem negará que, quando a amor coloca, não nascem flores roxas sobre o ouro natural? Ela determina que as amadas ninfas, que estavam mais formosas que as estrelas, abrandem a companhia dos ferozes ventos.”

CANTO VI – ESTROFE 88

“Os furiosos ventos ficam encantados ao ver as lindas ninfas”

 

Assim foi: porque tanto que chegaram

À vista delas, logo lhe falecem

As forças com que dantes pelejaram,

E já como rendidos lhe obedecem;

Os pés e as mãos, parece que lhe ataram

Os cabelos que os raios escurecem.

A Bóreas, que do peito mais queria,

Assi disse a belíssima Oritia:

 

Assim foi: porque tanto que chegaram à vista delas, logo lhe falecem as forças com que dantes pelejaram, e já como rendidos lhe obedecem; os pés e as mãos, parece que lhe ataram os cabelos que os raios escurecem. A Bóreas, que do peito mais queria, assi disse a belíssima Oritia: (1)

(1) Desta forma, quando as ninfas chegaram diante dos furiosos ventos, eles logo perderam as forças com que lutava, estando já rendidos à beleza delas. Os cabelos dourados, que escureciam os raios do Sol, pareciam ter amarrados os pés e as mãos. O vento Bóreas, que de todo coração desejava, assim disse a belíssima ninfa Orita. Camões canta que as ninfas, utilizando de sua beleza, conseguem acalmar os furiosos ventos que castigavam as naus portuguesas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Desta forma, quando as ninfas chegaram diante dos furiosos ventos, eles logo perderam as forças com que lutava, estando já rendidos à beleza delas. Os cabelos dourados, que escureciam os raios do Sol, pareciam ter amarrados os pés e as mãos. O vento Bóreas, que de todo coração desejava, assim disse a belíssima ninfa Orita.”

CANTO VI – ESTROFE 89

“Oritia, uma das ninfas, tenta acalmar o furioso vento Bóreas”

 

“Não creias, fero Bóreas, que te creio,

Que me tiveste nunca amor constante;

Que brandura é de amor mais certo arreio,

E não convém furor a firme amante;

Se já não pões a tanta insânia freio,

Não esperes de mi, daqui em diante

Que possa mais amar-te, mas temer-te;

Que amor contigo em medo se converte.”

 

“Não creias, fero Bóreas, que te creio, que me tiveste nunca amor constante; que brandura é de amor mais certo arreio, e não convém furor a firme amante; se já não pões a tanta insânia freio, não esperes de mi, daqui em diante que possa mais amar-te, mas temer-te; que amor contigo em medo se converte.” (1)

(1)  Não acredite, feroz Bóreas, que eu acredito no seu amor por mim, porque, com relação ao amor, ao carinho é um ornamento mais certo do que está ferocidade; se já não colocar um freio nesta insanidade, não espere que eu venha a ama-lo, mas, sim, teme-lo, pois agora eu mais o temo do que amo. Camões canta a fala que a ninfa Oritia faz ao vento Bóreas, dizendo que ele deve se acalmar. 

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Não acredite, feroz Bóreas, que eu acredito no seu amor por mim, porque, com relação ao amor, ao carinho é um ornamento mais certo do que está ferocidade; se já não colocar um freio nesta insanidade, não espere que eu venha a ama-lo, mas, sim, teme-lo, pois agora eu mais o temo do que amo.”

CANTO VI – ESTROFE 90

“A ninfa Galateia também tenta acalmar o furioso vento Noto”

 

Assi mesmo a fermosa Galateia

Dizia ao fero Noto, que bem sabe

Que dias há que em vê-la se recreia

E bem crê que com ele tudo acabe.

Não sabe o bravo tanto bem se o creia,

Que o coração no peito lhe não cabe.

De contente de ver que a dama o manda,

Pouco cuida que faz, se logo abranda.

 

Assi mesmo a fermosa Galateia dizia ao fero Noto, que bem sabe que dias há que em vê-la se recreia e bem crê que com ele tudo acabe. Não sabe o bravo tanto bem se o creia, que o coração no peito lhe não cabe. De contente de ver que a dama o manda, pouco cuida que faz, se logo abranda. (1)

(1) Da mesma forma a formosa Galateia dizia isso ao feroz Noto, pois já sabia que ele gostava dela e não negaria o pedido. O feroz vento fica tão feliz que não acreditava, tanto que o coração quase não cabia em seu peito; tão contente estava com as ordens da dava, que o bravo vento logo se acalma. Camões canta que as ninfas, utilizando de seus charmes, conseguem acalmar a fúria dos ventos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Da mesma forma a formosa Galateia dizia isso ao feroz Noto, pois já sabia que ele gostava dela e não negaria o pedido. O feroz vento fica tão feliz que não acreditava, tanto que o coração quase não cabia em seu peito; tão contente estava com as ordens da dava, que o bravo vento logo se acalma.”

CANTO VI – ESTROFE 91

“As ninfas conseguem acalmar os furiosos ventos e, desta forma, Vênus salva a frota portuguesa”

 

Desta maneias as outras amansavam

Subitamente os outros amadores;

E logo à linda Vênus se entregavam,

Amansadas as iras e os furores.

Ela lhe prometeu, vendo que amavam,

Sempiterno favor em seus amores,

Nas belas mãos tomando-lhe homenagem

De lhe serem leais esta viagem.

 

Desta maneias as outras amansavam subitamente os outros amadores; e logo à linda Vênus se entregavam, amansadas as iras e os furores. Ela lhe prometeu, vendo que amavam, sempiterno favor em seus amores, nas belas mãos tomando-lhe homenagem de lhe serem leais esta viagem. (1)

(1) Assim as belas ninfas foram amansando os ferozes ventos, com ele se entregando mais calmos à linda Vênus. Ela, vendo que eles a amavam, promete o eterno favor de seus amores e, com eles segurando a mão de suas amadas, que jurem sempre serem favoráveis aos portugueses nesta viagem. Camões canta que Vênus consegue acalmar os ferozes ventos que atacam as naus portuguesas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Assim as belas ninfas foram amansando os ferozes ventos, com ele se entregando mais calmos à linda Vênus. Ela, vendo que eles a amavam, promete o eterno favor de seus amores e, com eles segurando a mão de suas amadas, que jurem sempre serem favoráveis aos portugueses nesta viagem.”

CANTO VI – ESTROFE 92

“Com a dissipação da tormenta, a frota portuguesa se aproxima das terras indianas”

 

Já a manhã clara dava nos outeiros,

Por onde o Ganges murmurando soa,

Quando da celsa gávea os marinheiros

Enxergaram terra alta pela proa.

Já fora de tormenta e dos primeiros

Mares, o temor vão do peito voa!

Disse alegre o piloto melindano:

“Terra é de Caleu, se não me engano.

 

Já a manhã clara dava nos outeiros, por onde o Ganges murmurando soa, quando da celsa gávea os marinheiros enxergaram terra alta pela proa. Já fora de tormenta e dos primeiros mares, o temor vão do peito voa! Disse alegre o piloto melindano: “terra é de Caleu, se não me engano. (1)

(1) A manhã já vinha pelos montes onde o rio Gangues soa quando os marinheiros que estavam na alta gávea das naus enxergaram a alta terra adiante. Como a tormenta já tinha se dissipado e os terríveis mares já foram navegados, o temos que estava no peito dos marinheiros ia embota! O piloto guia de Melinde alegremente disse: “Está terra é de Caleu, se não me engano. Camões canta que os portugueses, já estando salvos da terrível tormenta, agora finalmente chegam nas tão sonhadas terras indianas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

A manhã já vinha pelos montes onde o rio Gangues soa quando os marinheiros que estavam na alta gávea das naus enxergaram a alta terra adiante. Como a tormenta já tinha se dissipado e os terríveis mares já foram navegados, o temos que estava no peito dos marinheiros ia embota! O piloto guia de Melinde alegremente disse: “Está terra é de Caleu, se não me engano.

CANTO VI – ESTROFE 93

“O piloto de Melinde diz que ao capitão Vasco da Gama e aos seus marinheiros que eles finalmente chegaram ao seu tão sonhado destino”

 

“Está é por certo a terra que buscais

Da verdadeira Índia, que aparece;

E se do mundo mais não desejais,

Vosso trabalho longo aqui fenece.”

Sofrer aqui não pôde o Gama mais,

De ledo ver que a terra se conhece;

Os giolhos no chão, mas mãos ao céu,

A mercê grande a Deus agradeceu.

 

“Está é por certo a terra que buscais da verdadeira Índia, que aparece; e se do mundo mais não desejais, vosso trabalho longo aqui fenece.” Sofrer aqui não pôde o Gama mais, de ledo ver que a terra se conhece; os giolhos no chão, mas mãos ao céu, a mercê grande a Deus agradeceu. (1)

(1) “Estas são, sem dúvida, as terras da Índia que buscais e, se do mundo não desejais mais nada, vossa longa empreitada termina aqui.” Com isso, agora termina o sofrimento do capitão Vasco da Gama ao alegremente ver que chegou ao seu destino; ele se ajoelha e leva as mãos aos céus, agradecendo a Deus a grande mercê. Camões canta que o piloto de Melinde informa os portugueses de sua chega às terras da Índia, com o capitão Vasco da Gama se ajoelhando e agradecendo aos céus.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Estas são, sem dúvida, as terras da Índia que buscais e, se do mundo não desejais mais nada, vossa longa empreitada termina aqui.” Com isso, agora termina o sofrimento do capitão Vasco da Gama ao alegremente ver que chegou ao seu destino; ele se ajoelha e leva as mãos aos céus, agradecendo a Deus a grande mercê.

CANTO VI – ESTROFE 94

“O capitão Vasco da Gama agradece a Deus por chegar ao seu destino e por ter sobrevivido à terrível tempestade”

 

As graças a Deus dava, e razão tinha,

Que não somente a terra lhe mostrava

Que com tanto temor buscando vinha,

Por quem tanto trabalho exp’rimentava;

Mas via-se livrado tão asinha

Da morte, que no mar lhe aparelhava

O vento duro, férvido e medonho,

Com quem despertou de horrendo sonho.

 

As graças a Deus dava, e razão tinha, que não somente a terra lhe mostrava que com tanto temor buscando vinha, por quem tanto trabalho exp’rimentava; mas via-se livrado tão asinha da morte, que no mar lhe aparelhava o vento duro, férvido e medonho, com quem despertou de horrendo sonho. (1)

(1) O capitão Vasco da Gama dava, com toda a razão, as graças a Deus, já que não somente porque foi Deus quem lhe mostrou as terras da Índia que ele vinha buscando com tanto temor e com tanto esforço, mas também dava graças por ter se livrado, como se tivesse acordado de um pesadelo, da terrível tempestade que, com seus medonhos e furiosos ventos, quase o matou. Camões canta que o capitão Vasco da Gama não só agradece a Deus por chegas nas terras do Oriente como também por sobrevivido à dura tempestade.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O capitão Vasco da Gama dava, com toda a razão, as graças a Deus, já que não somente porque foi Deus quem lhe mostrou as terras da Índia que ele vinha buscando com tanto temor e com tanto esforço, mas também dava graças por ter se livrado, como se tivesse acordado de um pesadelo, da terrível tempestade que, com seus medonhos e furiosos ventos, quase o matou.

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Esses foram os nossos comentários sobre a octogésima quinta até a nonagésima quarta estrofe do sexto canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que a deusa Vênus vai socorrer os marinheiros portugueses durante a tempestade.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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