Neste nosso sexagésimo sexto comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos de ler o oitavo canto da obra, onde Camões canta o fim da descrição das pinturas dos lusitanos que Paulo da Gama fez ao ministro Catual.
CANTO VIII – ESTROFE 25
“Paulo da Gama mostra a pintura de um cavaleiro que vinga sete caçadores portugueses que foram mortos pelos mouros”
“Olha um Mestre, que desce de Castela,
Português de nação, como conquista
A terra de Algarves, e já nela
Não acha quem por armas lhe resista.
Com manha, esforço e com benigna estrela
Vilas, castelos toma à escala vista.
Vês Tavila tomada aos moradores,
Em vingança dos sete caçadores?
“Olha um Mestre, que desce de Castela, português de nação, como conquista a terra de Algarves, e já nela não acha quem por armas lhe resista. Com manha, esforço e com benigna estrela vilas, castelos toma à escala vista. Vês Tavila tomada aos moradores, em vingança dos sete caçadores? (1)
(1) “Veja como vai o Mestre da de S. Tiago, que conquista as terras de Algarves que não conseguem resistir a sua força. Com sua astúcia, esforço e felicidade ele toma vilas e castelos. Vês a vila Tavira tomada em vingança após os mouros matares sete caçadores portugueses. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta que um português, que é Mestre da Ordem de S. Tiago de Castela, derrota os mouros e conquista suas terras em vingança por eles terem mata setes caçadores portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Veja como vai o Mestre da de S. Tiago, que conquista as terras de Algarves que não conseguem resistir a sua força. Com sua astúcia, esforço e felicidade ele toma vilas e castelos. Vês a vila Tavira tomada em vingança após os mouros matares sete caçadores portugueses.
CANTO VIII – ESTROFE 26
“Paulo da Gama diz que esse cavaleiro se chama Paio Correia; também mostra uma pintura de cavaleiros portugueses que ganharam torneios”
“Vês? Com bélica astúcia ao Mouro ganha
Silves, que ele ganhou com força ingente:
É dom Paio Correia, cuja manha
E grande esforço faz inveja à gente
Mas não passes os três que em França e Espanha
Se fazem conhecer perpetuamente
Em desafios, justas e torneios,
Nelas deixando públicos troféus.
“Vês? Com bélica astúcia ao Mouro ganha Silves, que ele ganhou com força ingente: É dom Paio Correia, cuja manha e grande esforço faz inveja à gente mas não passes os três que em França e Espanha se fazem conhecer perpetuamente em desafios, justas e torneios, nelas deixando públicos troféus. (1)
(1) “Vês como ele usa de sua estratégia militar para conquistar Silves do grande exército dos mouros? Ele é dom Paio Correio, cuja a astúcia e o seu grande esforço fazem inveja a todos nós. Também não deixe de ver a representação dos três cavaleiro que se imortalizaram na memória por seus feitos nas justas e nos torneios da França e da Espanha, sendo essas vitórias presenciadas pelo público. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta que o cavaleiro português que conquistou as terras de Algarves é D. Paio Correio, mestre da Ordem de S. Tiago; também comenta os três cavaleiros portugueses que ficaram muito famosos por suas conquistas em torneios.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vês como ele usa de sua estratégia militar para conquistar Silves do grande exército dos mouros? Ele é dom Paio Correio, cuja a astúcia e o seu grande esforço fazem inveja a todos nós. Também não deixe de ver a representação dos três cavaleiro que se imortalizaram na memória por seus feitos nas justas e nos torneios da França e da Espanha, sendo essas vitórias presenciadas pelo público.
CANTO VIII – ESTROFE 27
“Paulo da Gama mostra a pintura dos cavaleiros portugueses que conquistaram torneios fora de Portugal”
“Vê-los? C’o nome vêm de aventureiros
A Castela, onde o preço sós levaram
Dos jogos de Belona verdadeiros,
Que com dano de alguns se exercitaram.
Vê mortos os soberbos cavaleiros
Que o principal dos três desafiaram,
Que Gonçalo Ribeiro se nomeia,
Que pode não temer a lei letéia.
“Vê-los? C’o nome vêm de aventureiros a Castela, onde o preço sós levaram dos jogos de Belona verdadeiros, que com dano de alguns se exercitaram. Vê mortos os soberbos cavaleiros que o principal dos três desafiaram, que Gonçalo Ribeiro se nomeia, que pode não temer a lei letéia. (1)
(1) Vê os cavaleiros portugueses? Com o nome de aventureiros vem da França a Castela, onde somente eles conseguiram os prêmios dos jogos de Belona, embora tenham sofrido algum dano. Veja que estão mortos os soberbos cavaleiros que desafiaram Gonçalo Ribeiro, o principal dos três cavaleiros portugueses e que não seria esquecido na história. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta que os três cavaleiros portugueses se sairam muito bem nos torneios e que Gonçalo Ribeiro, o principal deles, derrota e mata cavaleiros adversários.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Vê os cavaleiros portugueses? Com o nome de aventureiros vem da França a Castela, onde somente eles conseguiram os prêmios dos jogos de Belona, embora tenham sofrido algum dano. Veja que estão mortos os soberbos cavaleiros que desafiaram Gonçalo Ribeiro, o principal dos três cavaleiros portugueses e que não seria esquecido na história.
CANTO VIII – ESTROFE 28
“Paulo da Gama mostra a pintura do maior dos cavaleiros portugueses, este que salvou o reino de Portugal”
“Atenta num que a fama tanto estende
Que nenhum passado contenta;
Que a pátria, que de um fraco fio pende,
Sobre seus duros ombros a sustenta.
Não no vês tinto de ira, que reprende
A vil desconfiança inerte e lenta
Do povo, e faz que tome o doce freio
De rei seu natural, e não de alheio?
“Atenta num que a fama tanto estende que nenhum passado contenta; que a pátria, que de um fraco fio pende, sobre seus duros ombros a sustenta. Não no vês tinto de ira, que reprende a vil desconfiança inerte e lenta do povo, e faz que tome o doce freio de rei seu natural, e não de alheio? (1)
(1) “Agora preste atenção na pintura de um cavaleiro que a fama engrandeceu mais que qualquer outro do passado e que sustentou em seus duros ombros o fraco fio que sustentava a pátria portuguesa. Não vês na pintura a representação da ira deste cavaleiro que, ao afastar a desconfiança de seu povo, fez com que aceitassem o seu verdadeiro rei e recusassem o estrangeiro? Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, a pintura que mostra o mais famoso e consagrado cavaleiro português, este que imortalizou seu nome ao salvar o reino de Portugal.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Agora preste atenção na pintura de um cavaleiro que a fama engrandeceu mais que qualquer outro do passado e que sustentou em seus duros ombros o fraco fio que sustentava a pátria portuguesa. Não vês na pintura a representação da ira deste cavaleiro que, ao afastar a desconfiança de seu povo, fez com que aceitassem o seu verdadeiro rei e recusassem o estrangeiro?
CANTO VIII – ESTROFE 29
“Paulo da Gama comenta que este grande cavaleiro salvou Portugal da invasão feita pelo grande exército de Castela”
“Olha, por seu conselho e ousadia,
De Deus guiada só e de santa estrela,
Só pode o que impossíbil parecia:
Vencer o povo ingente de Castela.
Vês, por indústria, esforço e valentia
Outro estrago e vitória clara e bela
Na gente, assi feroz como infinita,
Que entre o Tartesso e Guadiana habita?
“Olha, por seu conselho e ousadia, de Deus guiada só e de santa estrela, só pode o que impossíbil parecia: Vencer o povo ingente de Castela. Vês, por indústria, esforço e valentia outro estrago e vitória clara e bela na gente, assi feroz como infinita, que entre o Tartesso e Guadiana habita? (1)
(1) “Olhe a pintura e veja que, por seu conselho e ousadia, e também pelo guiamento de Deus e da Santa estrela, ele conseguiu o feito impossível de vencer o grande exército de Castela! Consegue também ver que, com a estratégia, esforço e valentia, ele fez um grande estrago nos números castelhanos na região da Andaluzia? Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, ainda comenta os grandes feitos deste cavaleiro português.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olhe a pintura e veja que, por seu conselho e ousadia, e também pelo guiamento de Deus e da Santa estrela, ele conseguiu o feito impossível de vencer o grande exército de Castela! Consegue também ver que, com a estratégia, esforço e valentia, ele fez um grande estrago nos números castelhanos na região da Andaluzia?
CANTO VIII – ESTROFE 30
“Paulo da Gama comenta o caso de quando este cavaleiro se ausentou de sua tropa para orar”
“Mas não vês quase já desbaratado
O poder lusitano, pela ausência
Do capitão devoto, que apartado
Orando invoca a suma e trina essência?
Vê-lo com pressa já dos seus achado,
Que lhe dizem que falta resistência
Contra poder tamanho, e que viesse,
Por que consigo esforço aos fracos desse.
“Mas não vês quase já desbaratado o poder lusitano, pela ausência do capitão devoto, que apartado orando invoca a suma e trina essência? Vê-lo com pressa já dos seus achado, que lhe dizem que falta resistência contra poder tamanho, e que viesse, por que consigo esforço aos fracos desse. (1)
(1) “Consegue ver representado na figura que, como o devoto capitão estava ausente da batalha para orar e pedir o auxílio da Santíssima Trindade, o exército lusitano ia perdendo a batalha? Veja como os companheiros vão encontra-lo pedindo ajuda, pois sem ele os portugueses não teriam chance contra o grande exército castelhano. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, ainda comenta os grandes feitos deste cavaleiro português.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Consegue ver representado na figura que, como o devoto capitão estava ausente da batalha para orar e pedir o auxílio da Santíssima Trindade, o exército lusitano ia perdendo a batalha? Veja como os companheiros vão encontra-lo pedindo ajuda, pois sem ele os portugueses não teriam chance contra o grande exército castelhano.
CANTO VIII – ESTROFE 31
“Paulo da Gama comenta o quão confiante este cavaleiro era na sua fé”
“Mas olha com que santa confiança,
Que ‘inda não era tempo’, respondia;
Como quem tinha em Deus a segurança
Da vitória, que logo lhe daria.
Assi Pompílio, ouvindo que a possança
Dos imigos da terra lhe corria,
A quem lhe a dura nova estava dando,
‘Pois eu, responde, estou sacrificando’.
“Mas olha com que santa confiança, que ‘inda não era tempo’, respondia; como quem tinha em Deus a segurança da vitória, que logo lhe daria. Assi Pompílio, ouvindo que a possança dos imigos da terra lhe corria, a quem lhe a dura nova estava dando, ‘pois eu, responde, estou sacrificando’. (1)
(1) “Mas olhe que santa confiança tinha esse cavaleiro em sua prece ao dizer aos companheiros: ‘ainda não é tempo’, mostrando que depositava a certeza da vitória em Deus. Assim como o rei Romano Pompílio que, ao ouvir que o exército inimigo invadia a suas terras, disse ‘espere, pois eu estou rezando’. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, ainda comenta os grandes feitos deste cavaleiro português.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas olhe que santa confiança tinha esse cavaleiro em sua prece ao dizer aos companheiros: ‘ainda não é tempo’, mostrando que depositava a certeza da vitória em Deus. Assim como o rei Romano Pompílio que, ao ouvir que o exército inimigo invadia a suas terras, disse ‘espere, pois eu estou rezando’.
CANTO VIII – ESTROFE 32
“Paulo da Gama diz que este grande cavaleiro se chama Dom Nuno Álvares de Pereira”
“Se quem com tanto esforço em Deus se atreve,
Ouvir quiseres como se nomeia,
Português Cipião chamar-se deve;
Mas mais de ‘Dom Nuno Álvares’ se arreceia
Ditosa pátria, que tal filho teve!
Mas antes pai – que enquanto o Sol rodeia
Este Globo de Ceres e Netuno,
Sempre suspirará por tal aluno.
“Se quem com tanto esforço em Deus se atreve, ouvir quiseres como se nomeia, português Cipião chamar-se deve; mas mais de ‘Dom Nuno Álvares’ se arreceia ditosa pátria, que tal filho teve! Mas antes pai – que enquanto o Sol rodeia este Globo de Ceres e Netuno, sempre suspirará por tal aluno. (1)
(1) “Se quiseres ouvir o nome deste cavaleiro que deposita toda a sua confiança em Deus, este que, por seus feitos, deveríamos chama-lo de Cipião português, é Dom Nuno Álvares Pereira; filho que, enquanto o Sol rodear iluminar este globo, Portugal sempre se orgulhara. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, conta que o grande cavaleiro português se cham Nuno Álvares Pereira.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Se quiseres ouvir o nome deste cavaleiro que deposita toda a sua confiança em Deus, este que, por seus feitos, deveríamos chama-lo de Cipião português, é Dom Nuno Álvares Pereira; filho que, enquanto o Sol rodear iluminar este globo, Portugal sempre se orgulhara.
CANTO VIII – ESTROFE 33
“Paulo da Gama comenta a participação do cavaleiro Pedro Rodrigues”
“Na mesma guerra vê que presas ganha
Estoutro capitão de pouca gente!
Comendadores vence, o gado apanha
Que levavam roubado ousadamente.
Outra vez vê que a lança em sangue banha
Destes, só por livrar com amor ardente
O preso amigo, preso leal:
Pero Rodrigues é do Landroal.
“Na mesma guerra vê que presas ganha estoutro capitão de pouca gente! Comendadores vence, o gado apanha que levavam roubado ousadamente. Outra vez vê que a lança em sangue banha destes, só por livrar com amor ardente o preso amigo, preso leal: Pero Rodrigues é do Landroal. (1)
(1) “Veja que, nesta mesma guerra quantos inimigos derruba este outro capitão português! Ele vence comendadores castelhanos e toma o gado que eles ousadamente tinham roubado. Veja que ele, Pedro Rodrigues do Alentejo, também banha a sua lança com sangue dos inimigos ao salvar seu amigo que, por ser leal ao rei João I, acabou preso. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, também comenta a participação do cavaleiro Pedro Rodrigues nas guerras do rei João I.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Veja que, nesta mesma guerra quantos inimigos derruba este outro capitão português! Ele vence comendadores castelhanos e toma o gado que eles ousadamente tinham roubado. Veja que ele, Pedro Rodrigues do Alentejo, também banha a sua lança com sangue dos inimigos ao salvar seu amigo que, por ser leal ao rei João I, acabou preso.
CANTO VIII – ESTROFE 34
“Paulo da Gama comenta a pintura que mostra a vingança de Gil Fernades; também mostra o sacrifico do almirante Rui Pereira”
“Olha este desleal! E como paga
O perjúrio que fez e vil engano!
Gil Fernandes é de Elvas quem o estraga,
E faz vir a passar o último dano.
De Xerez rouba o campo, e quase alaga
C’o sangue de seus donos castelhano.
Mas olha Rui Pereira, que c’o rosto
Faz escudo às galés, diante posto.
“Olha este desleal! E como paga o perjúrio que fez e vil engano! Gil Fernandes é de Elvas quem o estraga, e faz vir a passar o último dano. De Xerez rouba o campo, e quase alaga c’o sangue de seus donos castelhano. Mas olha Rui Pereira, que c’o rosto faz escudo às galés, diante posto. (1)
(1) “Olhe este desleal português que, por seus perjúrios e vilezas, é morto por Gil Fernandes, de Elvas; Gil Fernandes então saqueia o campo de Xerez e derrama no chão o sangue dos senhores castelhanos. Agora olha a representação de Rui Pereira, o almirante que deu a vida para salvar as galés portuguesas. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta a vingança do cavaleiro Gil Fernandez e o sacrifício do almirante Rui Pereira.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olhe este desleal português que, por seus perjúrios e vilezas, é morto por Gil Fernandes, de Elvas; Gil Fernandes então saqueia o campo de Xerez e derrama no chão o sangue dos senhores castelhanos. Agora olha a representação de Rui Pereira, o almirante que deu a vida para salvar as galés portuguesas.
CANTO VIII – ESTROFE 35
“Paulo da Gama mostra a pintura que retrata o incrível feito que dezessete portugueses fizeram ao vencer quatrocentos castelhanos”
“Olha, que dezessete Lusitanos
Neste outeiro subidos se defendem
Forte de quatrocentos Castelhanos,
Que em derredor, pelo tomar, se estendem.
Porém logo sentiram com seus danos,
Que não só se defendem, mas ofendem:
Digno de feito de ser no mundo eterno!
Grande no tempo antigo e no moderno!
“Olha, que dezessete Lusitanos neste outeiro subidos se defendem forte de quatrocentos Castelhanos, que em derredor, pelo tomar, se estendem. Porém logo sentiram com seus danos, que não só se defendem, mas ofendem: Digno de feito de ser no mundo eterno! Grande no tempo antigo e no moderno! (1)
(1) “Olhe essa pintura que mostra quando apenas dezessete portugueses, estando no alto de um morro, se defendem com toda força contra quatrocentos castelhanos, estes que, tentando mata-los, os circundam. Conforme lutavam, os portugueses perceberam que não só se defendiam do ataque, como também conseguiam causar muito dano. Resistir com tão poucos homens é um feito digno de ser eternizado e tão grande quanto qualquer um do passado ou do futuro! Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta o caso de quando apenas dezessete portugueses venceram quatrocentos castelhanos.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olhe essa pintura que mostra quando apenas dezessete portugueses, estando no alto de um morro, se defendem com toda força contra quatrocentos castelhanos, estes que, tentando mata-los, os circundam. Conforme lutavam, os portugueses perceberam que não só se defendiam do ataque, como também conseguiam causar muito dano. Resistir com tão poucos homens é um feito digno de ser eternizado e tão grande quanto qualquer um do passado ou do futuro!
CANTO VIII – ESTROFE 36
“Paulo da Gama compara o caso dos dezessete portugueses com o de Viriato, pois este, mesmo lutando em menor número, vencia seus adversários”
“Sabe-se antigamente que trezentos
Já contra mil Romanos pelejaram,
No tempo que os viris atrevimentos
De Viriato tanto se ilustraram.
E deles alcançando vencimentos
Memoráveis, de herança nos deixaram
Que os muitos, por ser poucos, não temamos;
O que depois mil vezes amostramos.
“Sabe-se antigamente que trezentos já contra mil Romanos pelejaram, no tempo que os viris atrevimentos de Viriato tanto se ilustraram. E deles alcançando vencimentos memoráveis, de herança nos deixaram que os muitos, por ser poucos, não temamos; o que depois mil vezes amostramos. (1)
(1) “Sobre grandes feitos realizados por poucos, sabe-se que, nos célebres e passados tempos de Viriato, trezentos lusitanos lutaram contra mil romanos. Os lusitanos realizaram grandes feitos quando enfrentaram os romanos nessa época, estabelecendo a tradição de que, mesmo poucos, conseguem vencer muitos. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, compara o caso dos dezessete portugueses com as lutas dos lusitanos do passado, sendo que ambos, mesmo estando em menor número, conseguiam vencer seus adversários.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Sobre grandes feitos realizados por poucos, sabe-se que, nos célebres e passados tempos de Viriato, trezentos lusitanos lutaram contra mil romanos. Os lusitanos realizaram grandes feitos quando enfrentaram os romanos nessa época, estabelecendo a tradição de que, mesmo poucos, conseguem vencer muitos.
CANTO VIII – ESTROFE 37
“Paulo da Gama mostra pintura de Pedro e Henrique, os filhos ilustres filhos do rei João I”
“Olha cá dous infantes, Pedro e Henrique,
Progênie generosa de Joane:
Aquele faz que fama ilustre fique
Dele em Germânia, com que a morte engane;
Este, que ela nos mares o publique
Por seu descobridor, e desengane
De Ceita a maura túmida vaidade,
Primeiro entrando as portas da cidade.
“Olha cá dous infantes, Pedro e Henrique, progênie generosa de Joane: Aquele faz que fama ilustre fique dele em Germânia, com que a morte engane; este, que ela nos mares o publique por seu descobridor, e desengane de Ceita a maura túmida vaidade, primeiro entrando as portas da cidade. (1)
(1) “Olhe aqui está pintura de dois infantes portugueses: Pedro e Henrique, filhos ilustre do rei João I. Aqui está Pedro, que, por seus ilustres feitos na Alemanha, não teve o seu nome esquecido após sua morte; e este é Henrique, que ficou conhecido por seus descobrimentos marítimos e por ter tomado Ceuta dos vaidosos mouros. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta os feitos de Pedro e Henrique, os filhos do rei João I.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olhe aqui está pintura de dois infantes portugueses: Pedro e Henrique, filhos ilustre do rei João I. Aqui está Pedro, que, por seus ilustres feitos na Alemanha, não teve o seu nome esquecido após sua morte; e este é Henrique, que ficou conhecido por seus descobrimentos marítimos e por ter tomado Ceuta dos vaidosos mouros.
CANTO VIII – ESTROFE 38
“Paulo da Gama mostra a pintura dos senhores portugueses que lutaram nas terras africanas”
“Vês o conde Dom Pedro, que sustenta
Dous cercos contra toda a Barbaria?
Vês? Outro conde está, que representa
Em terra Marte em força e ousadia.
De poder defender se não contenta
Alcácere da ingente companhia;
Mas do seu rei defende a cara vida,
Pondo por muro a sua, ali perdida.
“Vês o conde Dom Pedro, que sustenta dous cercos contra toda a Barbaria? Vês? Outro conde está, que representa em terra Marte em força e ousadia. De poder defender se não contenta Alcácere da ingente companhia; mas do seu rei defende a cara vida, pondo por muro a sua, ali perdida. (1)
(1) “Veja está representação que mostra o conde Dom Pedro que se mantém contra dois cercos feitos pelos bárbaros mouros? Vês? Está aí outro conde que, representando a força do deus Marte na terra, não somente se defende contra o cerco feito pelo grande exército mouro em Alcácer, como também deu sua vida para salvar a vida de seu rei. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta os feitos dos nobres portugueses em combate.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Veja está representação que mostra o conde Dom Pedro que se mantém contra dois cercos feitos pelos bárbaros mouros? Vês? Está aí outro conde que, representando a força do deus Marte na terra, não somente se defende contra o cerco feito pelo grande exército mouro em Alcácer, como também deu sua vida para salvar a vida de seu rei.
CANTO VIII – ESTROFE 39
“Paulo da Gama termina de mostrar as pinturas dos ilustres lusitanos na capitania portuguesa”
“Outros muitos verias, que os pintores
Aqui também por certo pintaram;
Mas falta-lhe pincel, faltam-lhe cores,
Honra, prêmio, favor, que as artes criam:
Culpa dos viciosos sucessores,
Que degeneram, certo, e se desviam
Do lustre e do valor dos seus passados,
Em gostos e vaidades atolados.
“Outros muitos verias, que os pintores aqui também por certo pintaram; mas falta-lhe pincel, faltam-lhe cores, honra, prêmio, favor, que as artes criam: Culpa dos viciosos sucessores, que degeneram, certo, e se desviam do lustre e do valor dos seus passados, em gostos e vaidades atolados. (1)
(1) “Poderias ver muitos outros heróis representados aqui, já que os pintores certamente pintariam, mas faltaria estimulo e proteção para realizarem a sua arte; isso é culpa dos viciosos senhores portugueses que, atolados em seus vícios, não honram a memória de seus ilustres antepassados. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta que ainda poderiam ser mencionados inúmeros outros portugueses, mas que os artistas não tem estimulo dos seus senhores para realizar as suas artes.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Poderias ver muitos outros heróis representados aqui, já que os pintores certamente pintariam, mas faltaria estimulo e proteção para realizarem a sua arte; isso é culpa dos senhores portugueses que, atolados em seus vícios, não honram a memória de seus ilustres antepassados.
CANTO VIII – ESTROFE 40
“Paulo da Gama lamenta que os artistas não sejam tão valorizados; também lamenta o destino dos descendentes destes grandes senhores”
“Aqueles pais ilustres que já deram
Princípio à geração, que deles pende,
Pela virtude muito então fizeram,
E por deixar a casa, que descende.
Cegos! Que dos trabalhos que tiveram,
Se alta fama e rumor deles se estende,
Escuros deixam sempre seus menores,
Com lhe deixar descansos construtores.
“Aqueles pais ilustres que já deram princípio à geração, que deles pende, pela virtude muito então fizeram, e por deixar a casa, que descende. Cegos! Que dos trabalhos que tiveram, se alta fama e rumor deles se estende, escuros deixam sempre seus menores, com lhe deixar descansos construtores. (1)
(1) “Aqueles ilustres pais que deram início à geração dos portugueses e que muito fizeram pela consagração da virtude, deixam os seus bens que agora caem em decadência. Cegos foram estes senhores, já que tanto realizaram e ficaram famosos, mas que acabaram deixando os seus descendentes na ociosidade e no vício. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta que os grandes senhores portugueses se consagram, mas que deixaram seus sucessores se entregarem ao vício e ao comodismo.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Aqueles ilustres pais que deram início à geração dos portugueses e que muito fizeram pela consagração da virtude, deixam os seus bens que agora caem em decadência. Cegos foram estes senhores, já que tanto realizaram e ficaram famosos, mas que acabaram deixando os seus descendentes na ociosidade e no vício.
CANTO VIII – ESTROFE 41
“Paulo da Gama comenta sobre aqueles que enriqueceram por serem bajuladores dos reis”
“Outros também há grandes e abastados,
Sem nenhum tronco ilustre donde venham:
Culpa de reis, que às vezes a privados
Dão mais que a mil que esforço e saber tenham.
Estes os seus não querem ver pintados,
Credo que cores vãs lhe não convenham;
E como seu contrario natural
A pintura que falta querem mal.
“Outros também há grandes e abastados, sem nenhum tronco ilustre donde venham: Culpa de reis, que às vezes a privados dão mais que a mil que esforço e saber tenham. Estes os seus não querem ver pintados, credo que cores vãs lhe não convenham; e como seu contrario natural a pintura que falta querem mal. (1)
(1) “Há também outros portugueses grandes e abastados e que não possuem nenhuma descendência nobre, sendo isso culpa dos reis, pois deram muito benefícios a cortesãos em vez de premiar aqueles mil que se esforçaram. Estes portugueses não querem ver retratados os seus avós, para que assim não sejam retratados a obscuridade de sua origem. Camões canta que Paulo da Gama, continuando a mostrar as representações dos lusitanos ao ministro Catual, comenta que existem aqueles se enriqueceram por seus ancestrais serem cortesãos dos reis, não querendo que esses sejam retratados para que assim não se revele este passado obscuro.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Há também outros portugueses grandes e abastados e que não possuem nenhuma descendência nobre, sendo isso culpa dos reis, pois deram muito benefícios a cortesãos em vez de premiar aqueles mil que se esforçaram. Estes portugueses não querem ver retratados os seus avós, para que assim não sejam retratados a obscuridade de sua origem.
CANTO VIII – ESTROFE 42
“Paulo da Gama conclui seus comentários sobre os ilustres homens lusitanos”
“Não nego que há contudo descendentes
Do generoso tronco e casa rica,
Que com costumes altos e excelentes
Sustentam a nobreza que lhe fica.
E se a luz dos antigos seus parentes
Neles mais o valor não clarifica,
Não falta ao menos, nem se faz escura.
Mas destes acha poucos a pintura.”
“Não nego que há contudo descendentes do generoso tronco e casa rica, que com costumes altos e excelentes sustentam a nobreza que lhe fica. E se a luz dos antigos seus parentes neles mais o valor não clarifica, não falta ao menos, nem se faz escura. Mas destes acha poucos a pintura.” (1)
(1) “Não nego que, destes portugueses, haja aqueles que tem uma nobre e rica descendência, com costumes que, por serem elevados e excelentes, justifiquem a nobreza que carreguem. E, se a reluzente luz de seus antepassados não se clareia neles o valor, pelo menos não lhes falta luz, embora se encontre poucas representações destes. Camões canta que Paulo da Gama conclui os seus comentários sobres as pinturas dos ilustre portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Não nego que, destes portugueses, haja aqueles que tem uma nobre e rica descendência, com costumes que, por serem elevados e excelentes, justifiquem a nobreza que carreguem. E, se a reluzente luz de seus antepassados não se clareia neles o valor, pelo menos não lhes falta luz, embora se encontre poucas representações destes.
CANTO VIII – ESTROFE 43
“O ministro Catual fica impressionado com a narração feita por Paulo da Gama e as representações dos portugueses”
Assi está declarando os grandes feitos
O Gama que ali mostra a varia tinta,
Que a douta mão tão claros, tão perfeitos
Do singular artífice ali pinta.
Os olhos tinha prontos e direitos
O Catual na história bem distinta;
Mil vez perguntava, e mil ouvia
As gostosas batalhas que ali vinha.
Assi está declarando os grandes feitos o Gama que ali mostra a varia tinta, que a douta mão tão claros, tão perfeitos do singular artífice ali pinta. Os olhos tinha prontos e direitos o Catual na história bem distinta; mil vez perguntava, e mil ouvia as gostosas batalhas que ali vinha. (1)
(1) E foi assim que Paulo da Gama comentava os feitos dos ilustres portugueses que estavam pintados, estes que foram pintados por um artista de singular capacidade. O ministro Catual prestava toda a atenção na história que era contada; mil vezes ele perguntava e mil vezes ele ouvia as histórias destas batalhas que ele tanto apreciou. Camões canta que Paulo da Gama conclui a narração das pinturas que estão na capitania portuguesa o ministro Catual de Calecut, este que fica muito impressionado e entusiasmado com o que ouve.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
E foi assim que Paulo da Gama comentava os feitos dos ilustres portugueses que estavam pintados, estes que foram pintados por um artista de singular capacidade. O ministro Catual prestava toda a atenção na história que era contada; mil vezes ele perguntava e mil vezes ele ouvia as histórias destas batalhas que ele tanto apreciou.
CANTO VIII – ESTROFE 44
“Com o cair da noite, o ministro Catual deixa a capitania portuguesa”
Mas já a luz se mostrava duvidosa,
Porque a alâmpada grande se escondia
Debaixo do horizonte, e iluminosa
Levava aos antípodas o dia,
Quando o gentio, e a gente generosa
Dos Naires, da nau forte se partia
A buscar o repouso, que descansa
Os lassos animais na noite mansa.
Mas já a luz se mostrava duvidosa, porque a alâmpada grande se escondia debaixo do horizonte, e iluminosa levava aos antípodas o dia, quando o gentio, e a gente generosa dos Naires, da nau forte se partia a buscar o repouso, que descansa os lassos animais na noite mansa. (1)
(1) A luz do dia ia desaparecendo, porque o Sol, esta grande lâmpada, já se escondia debaixo do horizonte, levando seu brilho para os antípodas. O ministro gentio e os demais Naires já partiam da forte nau portuguesa para descansarem, pois a serena noite da descanso aos fadigados animais. Camões canta que, com o cair da noite, os indianos deixam as naus portuguesas e volta para Calecut.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
A luz do dia ia desaparecendo, porque o Sol, esta grande lâmpada, já se escondia debaixo do horizonte, levando seu brilho para os antípodas. O ministro gentio e os demais Naires já partiam da forte nau portuguesa para descansarem, pois a serena noite da descanso aos fadigados animais.
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
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Esses foram os nossos comentários sobre a vigésima quinta até a quadragésima quarta estrofe do oitavo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta o fim da descrição das pinturas dos lusitanos que Paulo da Gama fez ao ministro Catual.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.