Neste nosso septuagésimo comentário sobre Os Lusíadas, começaremos a ler o nono canto da obra, onde Camões canta a última armadilha do ministro Catual contra os portugueses e a partida deles de Calecut.
CANTO IX – ESTROFE 1
“Os dois marinheiros portugueses não conseguem vender as mercadorias em Calecut, já que Catual queria mantê-los o mais tempo possível na cidade”
Tiveram longamente na cidade,
Sem vender-se, a fazenda os dous feitores;
Que os infiéis por manha e falsidade
Fazem que lha comprem mercadores;
Que todo o seu propósito e vontade
Era deter ali os descobridores
Da Índia tanto tempo, que viessem
De Meca as naus, que as suas desfizessem.
Tiveram longamente na cidade, sem vender-se, a fazenda os dous feitores; que os infiéis por manha e falsidade fazem que lha comprem mercadores; que todo o seu propósito e vontade era deter ali os descobridores da Índia tanto tempo, que viessem de Meca as naus, que as suas desfizessem. (1)
(1) Os dois portugueses que ficaram em Calecut não conseguiram vender as mercadorias, pois os muçulmanos, utilizando de suas artimanhas e mentiras, faziam com que os mercadores não quisessem negociar. O propósito deles era bem claro: deter os portugueses o máximo de tempo na Índia para que as naus que vinham de Meca os destruíssem. Camões canta que os muçulmanos retardam a partida dos portugueses, pois eles ainda desejam destruir a frota lusitana.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Os dois portugueses que ficaram em Calecut não conseguiram vender as mercadorias, pois os muçulmanos, utilizando de suas artimanhas e mentiras, faziam com que os mercadores não quisessem negociar. O propósito deles era bem claro: deter os portugueses o máximo de tempo na Índia para que as naus que vinham de Meca os destruíssem.
CANTO IX – ESTROFE 2
“A cidade de Meca é a centro do Mundo Islâmico”
Lá no seio Eritreu, onde fundada
Arsínoe foi do egípcio Ptolomeu,
Do nome da sua irmã sua assi chamada,
Que despois em Suez se converteu,
Não longe o porto jaz da nomeada
Cidade de Meca, que se engrandeceu
Com a superstição falsa e profana
Da religiosa água maometana.
Lá no seio Eritreu, onde fundada Arsínoe foi do egípcio Ptolomeu, do nome da sua irmã sua assi chamada, que despois em Suez se converteu, não longe o porto jaz da nomeada cidade de Meca, que se engrandeceu com a superstição falsa e profana da religiosa água maometana. (1)
(1) Lá no seio do mar Eritreu, onde o rei egípcio Ptolomeu fundou a cidade Arsínoe, está que foi nomeada em homenagem a sua irmã e que depois foi renomeada para Suez, está o porto da cidade de Meca, esta que se engrandeceu com a falsa e profana superstição da água maometana. Camões canta que a cidade de Meca fica na região próxima ao Mar Vermelho e o Oceano Índico, próxima a cidade de Suez; diz que ela ficou conhecida por causa da água milagrosa que foi utilizada por Maomé.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Lá no seio do mar Eritreu, onde o rei egípcio Ptolomeu fundou a cidade Arsínoe, está que foi nomeada em homenagem a sua irmã e que depois foi renomeada para Suez, está o porto da cidade de Meca, esta que se engrandeceu com a falsa e profana superstição da água maometana.
CANTO IX – ESTROFE 3
“Do porto de Meca, os muçulmanos partem até a Índia para comprar especiarias”
Gidá se chama o porto aonde o trato
De todo o Roxo mar mais florecia,
De que tinha proveito grande e grato
O soldão que este reino possuía.
Daqui os Malabares, por contrato
Dos infiéis, fermosa companhia
De grandes naus, pelo Índico Oceano,
Especiaria vem buscar cada ano.
Gidá se chama o porto aonde o trato de todo o Roxo mar mais florecia, de que tinha proveito grande e grato o soldão que este reino possuía. Daqui os Malabares, por contrato dos infiéis, fermosa companhia de grandes naus, pelo Índico Oceano, especiaria vem buscar cada ano. (1)
(1) O porto da cidade de Meca se chama Gidá, sendo aqui onde florescia todo o comércio do Mar Vermelho e que enriquecia o sultão deste reino. Os indianos de Malabar, tendo um contrato com os muçulmanos, recebem todo ano uma formosa companhia de grandes naus que vem buscar especiarias. Camões canta que o porto de Meca é um ponto fundamental de comércio no Oriente Médio; os muçulmanos de Meca já têm o habito de negociar com os indianos de Malabar.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O porto da cidade de Meca se chama Gidá, sendo aqui onde florescia todo o comércio do Mar Vermelho e que enriquecia o sultão deste reino. Os indianos de Malabar, tendo um contrato com os muçulmanos, recebem todo ano uma formosa companhia de grandes naus que vem buscar especiarias.
CANTO IX – ESTROFE 4
“O ministro Monçaide quer os portugueses sejam destruídos pelos navios muçulmanos que estão vindo de Meca”
Por estas naus os mouros esperavam;
Que, como fossem grandes e possantes,
Aquelas que o comércio lhe tomavam,
Com flamas abrasassem crepitantes.
Neste socorro tanto confiavam,
Que já não querem mais dos navegantes
Senão que tanto tempo ali tardassem,
Que da famosa Meca as naus chegassem.
Por estas naus os mouros esperavam; que, como fossem grandes e possantes, aquelas que o comércio lhe tomavam, com flamas abrasassem crepitantes. Neste socorro tanto confiavam, que já não querem mais dos navegantes senão que tanto tempo ali tardassem, que da famosa Meca as naus chegassem. (1)
(1) Os muçulmanos de Calecut esperavam a chegada destas naus vindas de Meca, pois, sendo elas grandes e poderosas, destruiriam aquelas naus portuguesas que tomavam o seu comércio. Eles acreditavam tanto neste plano que não queriam nada mais do que atrasar a partida dos portugueses o máximo possível para que chegassem as naus da famosa cidade de Meca. Camões canta que os muçulmanos indianos, querendo destruir os portugueses, tentam atrasar a partida dele o máximo possível, para que assim eles enfrentassem as naus que estão vindo de Meca.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Os muçulmanos de Calecut esperavam a chegada destas naus vindas de Meca, pois, sendo elas grandes e poderosas, destruiriam aquelas naus portuguesas que tomavam o seu comércio. Eles acreditavam tanto neste plano que não queriam nada mais do que atrasar a partida dos portugueses o máximo possível para que chegassem as naus da famosa cidade de Meca.
CANTO IX – ESTROFE 5
“O mouro Monçaide, que se afeiçoou aos portugueses, vai até as naus para avisa-los sobre esta nova armadilha”
Mas o governador dos céus e gentes,
Que pera quando tem determinado
De longe os meios dá convenientes
Por onde vem a efeito o fim fadado,
Influiu piedosos acidentes
De afeição em Monçaide, que guardado
Estava pera dar ao Gama aviso,
E merecer por isso o paraíso.
Mas o governador dos céus e gentes, que pera quando tem determinado de longe os meios dá convenientes por onde vem a efeito o fim fadado, influiu piedosos acidentes de afeição em Monçaide, que guardado estava pera dar ao Gama aviso, e merecer por isso o paraíso. (1)
(1) Mas Deus, que governa os céus e as gentes, que, quando determina algo, logo se realiza o que estava destinado, influi uma piedosa afeição no coração do mouro Monçaide, que avisou o capitão Vasco da Gama do perigo, sendo só por isso digno de ir para o paraíso. Camões canta que, por piedade divina, o mouro Monçaide salvou os portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Mas Deus, que governa os céus e as gentes, que, quando determina algo, logo se realiza o que estava destinado, influi uma piedosa afeição no coração do mouro Monçaide, que avisou o capitão Vasco da Gama do perigo, sendo só por isso digno de ir para o paraíso.
CANTO IX – ESTROFE 6
“O mouro Monçaide sabia do plano dos indianos contra a frota portuguesa”
Este, de quem se os mouros não guardavam
Por ser mouro como eles (antes era
Participante em quanto maquinavam),
A tenção lhe descobre torpe e fera.
Muitas vezes as naus, que longe estavam,
Visita, e com piedade considera
O dano, sem razão, que se lhe ordena
Pela maligna gente sarracena.
Este, de quem se os mouros não guardavam por ser mouro como eles (antes era participante em quanto maquinavam), a tenção lhe descobre torpe e fera. Muitas vezes as naus, que longe estavam, visita, e com piedade considera o dano, sem razão, que se lhe ordena pela maligna gente sarracena. (1)
(1) O mouro Monçaide, que os muçulmanos não escondiam seus planos traiçoeiros por que ele também era muçulmano e cumplice em suas maquinações, sabia da torpe e cruel intenção contra os portugueses. Monçaide constante visitava as naus portuguesas que estavam longe e se apiedava ao imaginar o dano que os cruéis muçulmanos queriam lhe causar. Camões conta que Monçaide sabia que os muçulmanos de Calecut desejam destruir as naus portuguesas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O mouro Monçaide, que os muçulmanos não escondiam seus planos traiçoeiros por que ele também era muçulmano e cumplice em suas maquinações, sabia da torpe e cruel intenção contra os portugueses. Monçaide constante visitava as naus portuguesas que estavam longe e se apiedava ao imaginar o dano que os cruéis muçulmanos queriam lhe causar.
CANTO IX – ESTROFE 7
“O mouro Monçaide informa os portugueses que uma poderosa frota está vindo de Meca para Calecut”
Informa o cauto Gama das armadas
Que da arábica Meca vêm cad’ano,
Que agora são dos seus tão desejadas
Pera ser instrumento deste dano.
Diz-lhe que vêm de gente carregadas,
E dos trovões horrendos de Vulcano;
E que pode ser delas oprimido,
Segundo estava mal apercebido.
Informa o cauto Gama das armadas que da arábica Meca vêm cad’ano, que agora são dos seus tão desejadas pera ser instrumento deste dano. Diz-lhe que vêm de gente carregadas, e dos trovões horrendos de Vulcano; e que pode ser delas oprimido, segundo estava mal apercebido. (1)
(1) Monçaide informa o cautelo capitão Vasco da Gama das armadas que todo ano vêm da arábica cidade de Meca para Calecut, estas que serão o instrumento dos muçulmanos indianos para destruir os portugueses. Ele comenta que elas vêm com muitos homens e armadas com as horrendas bombardas, sendo possível que elas consigam destruir a frota portuguesa que se encontra tão mal abastecida. Camões canta que o mouro Monçaide, por ter se afeiçoado aos portugueses, conta que uma poderosa frota muçulmana está vindo de Meca e que ela pode destruir a frota portuguesa.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Monçaide informa o cautelo capitão Vasco da Gama das armadas que todo ano vêm da arábica cidade de Meca para Calecut, estas que serão o instrumento dos muçulmanos indianos para destruir os portugueses. Ele comenta que elas vêm com muitos homens e armadas com as horrendas bombardas, sendo possível que elas consigam destruir a frota portuguesa que se encontra tão mal abastecida.
CANTO IX – ESTROFE 8
“O capitão Vasco da Gama manda os dois marinheiros que estavam em terra voltarem para as naus portuguesas”
O Gama, que também considerava
O tempo, que pera a partida o chama,
E que despacho já não esperava
Melhor do rei, que os Maometanos ama,
Aos feitores, que em terra estão, mandava
Que se tornem às naus; e por que a fama
Desta súbita vinda os não impida,
Lhe manda que a fizessem escondida.
O Gama, que também considerava o tempo, que pera a partida o chama, e que despacho já não esperava melhor do rei, que os Maometanos ama, aos feitores, que em terra estão, mandava que se tornem às naus; e por que a fama desta súbita vinda os não impida, lhe manda que a fizessem escondida. (1)
(1) O capitão Vasco da Gama, já considerando ter chegado o tempo de partir de Calecut, e como o rei Samorim já lhe deu a resposta que queria, manda os dois marinheiros que estão terra retornar para as naus portuguesas. Para que a partida deles não causassem nenhum problema, manda os dois marinheiros embarcarem escondidos. Camões canta que o capitão Vasco da Gama prepara as naus para a partida, mandando os dois marinheiros que estão em terra embarcarem sem serem vistos pelo ministro Cautal.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O capitão Vasco da Gama, já considerando ter chegado o tempo de partir de Calecut, e como o rei Samorim já lhe deu a resposta que queria, manda os dois marinheiros que estão terra retornar para as naus portuguesas. Para que a partida deles não causassem nenhum problema, manda os dois marinheiros embarcarem escondidos.
CANTO IX – ESTROFE 9
“Os marinheiros, ao tentar sair de Calecut, foram presos pelos indianos; em resposta o capitão Vasco da Gama faz alguns mercadores de reféns”
Porém não tardou muito que voando
Um rumor não soasse com verdade,
Que foram presos os feitores, quando
Foram sentidos vir-se da cidade.
Esta fama as orelhas penetrando
Do sábio capitão, com brevidade
Faz represaria nuns que às naus vieram
A vender pedraria que trouxeram.
Porém não tardou muito que voando um rumor não soasse com verdade, que foram presos os feitores, quando foram sentidos vir-se da cidade. Esta fama as orelhas penetrando do sábio capitão, com brevidade faz represaria nuns que às naus vieram a vender pedraria que trouxeram. (1)
(1) Porém o plano de embarcar os dois marinheiros escondidos não funcionou, pois em pouco os mouros perceberam e os prenderam quando viram eles saindo da cidade. O capitão Vasco da Gama, ao saber do ocorrido, em represália prende alguns mercadores de Calecut que tinham ido até às naus portuguesas para vender pedras preciosas. Camões canta que os dois marinheiros portugueses acabaram presos enquanto tentavam deixar Calecut; o capitão Vasco da Gama, em resposta, faz alguns mercadores de reféns.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Porém o plano de embarcar os dois marinheiros escondidos não funcionou, pois em pouco os mouros perceberam e os prenderam quando viram eles saindo da cidade. O capitão Vasco da Gama, ao saber do ocorrido, em represália prende alguns mercadores de Calecut que tinham ido até às naus portuguesas para vender pedras preciosas.
CANTO IX – ESTROFE 10
“Os mercadores feitos de reféns pelo capitão Vasco da Gama eram antigos e respeitos comerciantes de pedras preciosas”
Eram estes antigos mercadores
Ricos em Calecut, e conhecidos;
De falta deles, logo entre os melhores
Sentido foi que estão no mar retidos.
Mas já nas naus os bons trabalhadores
Volvem os cabrestante e, repartidos
Pelo trabalho, uns puxam pela amarra,
Outros quebram c’o peito duro a barra.
Eram estes antigos mercadores ricos em Calecut, e conhecidos; de falta deles, logo entre os melhores sentido foi que estão no mar retidos. Mas já nas naus os bons trabalhadores volvem os cabrestante e, repartidos pelo trabalho, uns puxam pela amarra, outros quebram c’o peito duro a barra. (1)
(1) Os vendedores de joias que foram capturados pelo capitão Vasco da Gama eram os ricos e antigos mercadores de Calecut, tanto que a falta deles logo foi notada, com a cidade sabendo que eles estavam presos no mar. Mas, nas naus portuguesas, os bons marinheiros já se preparavam para uma possível e imediata partida, com a ancora do navio sendo puxada para cima. Camões canta que foi percebido na cidade que ao capitão Vasco da Gama capturou alguns mercadores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Os vendedores de joias que foram capturados pelo capitão Vasco da Gama eram os ricos e antigos mercadores de Calecut, tanto que a falta deles logo foi notada, com a cidade sabendo que eles estavam presos no mar. Mas, nas naus portuguesas, os bons marinheiros já se preparavam para uma possível e imediata partida, com a ancora do navio sendo puxada para cima.
CANTO IX – ESTROFE 11
“As famílias dos mercadores sequestrados vão até o rei Samorim pedir ajuda”
Outros prendem da verga, e já desatam
A vela, que com gritaria soltava,
Quando com maior grita ao rei relatam
A presa com que a armada se levava.
As mulheres e filhos, que se matam
Daqueles que vão presos, onde estava
O Samorim, se aqueixam que perdidos
Uns têm os pais, as outras os maridos.
Outros prendem da verga, e já desatam a vela, que com gritaria soltava, quando com maior grita ao rei relatam a presa com que a armada se levava. As mulheres e filhos, que se matam daqueles que vão presos, onde estava o Samorim, se aqueixam que perdidos uns têm os pais, as outras os maridos. (1)
(1) Enquanto alguns marinheiros, que se preparam para uma possível e imediata partida de Calecut, levantam as âncoras das naus, outros soltavam, aos gritos, as velas que estavam presas. Os familiares dos mercadores capturados pelo capitão Vasco da Gama chegam ao rei Samorim gritando em desespero; as mulheres e filhos, quase que se matando, se queixavam ao monarca indiano, com os filhos dizendo que tinham perdido os pais, enquanto as mulheres dizendo que perderam os maridos. Camões canta que a frota portuguesa, tendo os mercadores de Calecut como reféns, se prepara para partida; as famílias dos mercadores capturados vão em desespero ao rei Samorim pedir ajudar.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Enquanto alguns marinheiros, que se preparam para uma possível e imediata partida de Calecut, levantam as âncoras das naus, outros soltavam, aos gritos, as velas que estavam presas. Os familiares dos mercadores capturados pelo capitão Vasco da Gama chegam ao rei Samorim gritando em desespero; as mulheres e filhos, quase que se matando, se queixavam ao monarca indiano, com os filhos dizendo que tinham perdido os pais, enquanto as mulheres dizendo que perderam os maridos.
CANTO IX – ESTROFE 12
“Ao saber do ocorrido, o rei Samorim liberta os dois portugueses junto com as mercadorias; com isso, a frota portuguesa finalmente deixa Calecut”
Manda logo os feitores lusitanos
Com toda a fazenda livremente,
Apesar dos imigos maometanos,
Por que lhe torne a sua presa gente.
Desculpas manda o rei de seus engenhos;
Recebe o capitão de melhor mente
Os presos que as desculpas; e, tornando
Alguns negros, se parte as velas dando.
Manda logo os feitores lusitanos com toda a fazenda livremente, apesar dos imigos maometanos, por que lhe torne a sua presa gente. Desculpas manda o rei de seus engenhos; recebe o capitão de melhor mente os presos que as desculpas; e, tornando alguns negros, se parte as velas dando. (1)
(1) Ao ouvir essas queixas e ficar ciente dos acontecimentos, o rei Samorim manda dois marinheiros sejam soltas junto com todas as mercadorias, contrariando o desejo dos muçulmanos. Junto disso, ele manda um pedido de desculpas ao rei Portugal. O capitão Vasco da recebe os dois marinheiros que estavam presos com mais alegria do que recebeu o pedido de desculpas; após devolver os mercadores, ele parte de Calecut com a frota lusitana. Camões canta que o rei Samorim interfere em toda a situação, desfazendo os planos dos mouros ao libertar os dois marinheiros portugueses junto com as mercadorias.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Ao ouvir essas queixas e ficar ciente dos acontecimentos, o rei Samorim manda dois marinheiros sejam soltas junto com todas as mercadorias, contrariando o desejo dos muçulmanos. Junto disso, ele manda um pedido de desculpas ao rei Portugal. O capitão Vasco da recebe os dois marinheiros que estavam presos com mais alegria do que recebeu o pedido de desculpas; após devolver os mercadores, ele parte de Calecut com a frota lusitana.
CANTO IX – ESTROFE 13
“A frota portuguesa começa a viagem de volta para Portugal”
Parte-se costa abaixo, porque entende
Que em vão c’o rei gentio trabalhava
Em querer dele paz, a qual pretende
Por firmar o comércio que tratava.
Mas, como aquela terra que se estende
Pela Aurora, sabida já deixava,
Com estas novas torna à pátria cara,
Certos sinais levando do que achara.
Parte-se costa abaixo, porque entende que em vão c’o rei gentio trabalhava em querer dele paz, a qual pretende por firmar o comércio que tratava. Mas, como aquela terra que se estende pela Aurora, sabida já deixava, com estas novas torna à pátria cara, certos sinais levando do que achara. (1)
(1) O capitão Vasco da Gama parte com a frota segue a costa indiana rumo ao Sul, pois percebeu que seria inútil conseguir a paz com rei Samorim e assim firmar o acordo comercial que pretendia. Mas, como já descobriu as terras Orientais, decidiu finalmente retornar à cara pátria lusitana levando as coisas que conseguiu. Camões canta que o capitão Vasco da Gama, após partir de Calecut, decide seguir para o sul da costa da Índia e, depois disso, finalmente retornar para Portugal.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O capitão Vasco da Gama parte com a frota segue a costa indiana rumo ao Sul, pois percebeu que seria inútil conseguir a paz com rei Samorim e assim firmar o acordo comercial que pretendia. Mas, como já descobriu as terras Orientais, decidiu finalmente retornar à cara pátria lusitana levando as coisas que conseguiu.
CANTO IX – ESTROFE 14
“Os portugueses levam alguns cativos indianos e especiais para Portugal”
Leva alguns malabares, que tomou
Por força, dos que o Samorim mandara,
Quando os presos feitores lhe tornou;
Leva a pimenta ardente que comprara;
A seca flor de Banda não ficou,
A noz, o negro cravo que faz clara
A nova ilha Maluco, co’a canela
Com que Ceilão é rica, ilustre e bela.
Leva alguns malabares, que tomou por força, dos que o Samorim mandara, quando os presos feitores lhe tornou; leva a pimenta ardente que comprara; a seca flor de Banda não ficou, a noz, o negro cravo que faz clara a nova ilha Maluco, co’a canela com que Ceilão é rica, ilustre e bela. (1)
(1) O capitão Vasco da Gama leva consigo alguns habitantes de Malabar que ele capturou em Calecut como cativos; leva a pimenta ardente que comprou; não levou noz moscada, a seca flor de Banda, nem levou o negro cravo que faz clara a nova ilha Maluco e nem leva a famosa canela, que faz Ceilão rica, ilustre e bela. Camões canta as coisa que os portugueses conseguiram pegar nas terras da Índia para levar para Portugal.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O capitão Vasco da Gama leva consigo alguns habitantes de Malabar que ele capturou em Calecut como cativos; leva a pimenta ardente que comprou; não levou noz moscada, a seca flor de Banda, nem levou o negro cravo que faz clara a nova ilha Maluco e nem leva a famosa canela, que faz Ceilão rica, ilustre e bela.
CANTO IX – ESTROFE 15
“O mouro Monçaide volta com os portugueses, sendo que depois ele veio a se converter ao Cristianismo”
Isto tudo lhe houvera a diligência
De Monçaide fiel, que também leva;
Que, inspirado de angélica influência,
Quer no livro de Cristo que se escrava.
Ó ditoso Africano, que a clemência
Divina assi tirou d’escura treva,
E tão longe da pátria achou maneira
Pera subir à pátria verdadeira!
Isto tudo lhe houvera a diligência de Monçaide fiel, que também leva; que, inspirado de angélica influência, quer no livro de Cristo que se escrava. Ó ditoso Africano, que a clemência divina assi tirou d’escura treva, e tão longe da pátria achou maneira pera subir à pátria verdadeira! (1)
(1) Tudo isso só foi possível graças às diligências do fiel mouro Monçaide, que o capitão Vasco da Gama também levava consigo para Portugal. O mouro, inspirado pela influência angelical, decidiu se converter à fé de Deus, inscrevendo seu nome no livro de cristo. Ó ditoso africano, que bem dito sejas tu que, ao estar tão longe da sua pátria, decidiu abandonar as trevas escuras do culto de Maomé e subir à verdadeira pátria de Deus. Camões canta louvores ao mouro Monçaide, este que, não somente salvou os portugueses em Calecut, como também decidiu voltar junto com eles e se converter ao Cristianismo.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Tudo isso só foi possível graças às diligências do fiel mouro Monçaide, que o capitão Vasco da Gama também levava consigo para Portugal. O mouro, inspirado pela influência angelical, decidiu se converter à fé de Deus, inscrevendo seu nome no livro de cristo. Ó ditoso africano, que bem dito sejas tu que, ao estar tão longe da sua pátria, decidiu abandonar as trevas escuras do culto de Maomé e subir à verdadeira pátria de Deus.
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Esses foram os nossos comentários sobre a primeira até a décima quinta estrofe do nona canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a última armadilha do ministro Catual contra os portugueses e a partida deles de Calecut.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.