Neste nosso septuagésimo segundo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o nono canto da obra, onde Camões canta que Vênus vai até o seu filho Cupido para pedir a sua ajuda.
CANTO IX – ESTROFE 25
“Vênus chega ao monte onde o Cúpido morava”
Já sobre os Idálios montes pende,
Os o filho frecheiro estava então
Ajuntando outros muitos; que pretende
Fazer uma famosa expedição
Contra o mundo rebelde, por que emende
Erros grandes que há dias nele estão,
Amando cousas que nos foram dadas,
Não pera ser amadas, mas usadas.
Já sobre os Idálios montes pende, os o filho frecheiro estava então ajuntando outros muitos; que pretende fazer uma famosa expedição contra o mundo rebelde, por que emende erros grandes que há dias nele estão, amando cousas que nos foram dadas, não pera ser amadas, mas usadas. (1)
(1) Vênus chega até os montes Idálios, onde reside Cupido, o seu filho flecheiro, este que estava juntando um grupo de outros meninos para fazer uma expedição por todo o mundo que castigaria aqueles que preenchem o coração com os vícios que ocupam o lugar do amor. Camões canta que Vênus chega até onde mora Cupido, seu filho, a fim de pedir para que ele a ajude a recompensar os portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Vênus chega até os montes Idálios, onde reside Cupido, o seu filho flecheiro, este que estava juntando um grupo de outros meninos para fazer uma expedição por todo o mundo que castigaria aqueles que preenchem o coração com os vícios que ocupam o lugar do amor.
CANTO IX – ESTROFE 26
“Cúpido prepara uma expedição para castigar aqueles que preenchem o coração com vícios que ocupam o lugar do amor; cita-se o caso do caçador Acteon”
Via Acteon na caça, tão austero,
De cego na alegria bruta, insana,
Que, por seguir um feio animal fero,
Foge da gente e bela forma humana.
E por castigo quer, doce e severo,
Mostrar-lhe a fermosura de Diana;
E guarde-se não seja inda comido
Desses cães, que agora ama, e consumido,
Via Acteon na caça, tão austero, de cego na alegria bruta, insana, que, por seguir um feio animal fero, foge da gente e bela forma humana. E por castigo quer, doce e severo, mostrar-lhe a fermosura de Diana; e guarde-se não seja inda comido desses cães, que agora ama, e consumido (1)
(1) Vênus via Acteon, este que, por estar tão focado e alegre em sua caçada, preferia ficar perseguindo os feios e ferozes animais do que ir atrás das belas e mulheres. Querendo castiga-lo de forma doce e severa, Vênus mostra-lhe a formosura da deusa Diana e guarda-lo para que não seja consumido pelos cães que ele amava. Camões, ao comentar sobre aqueles que foram punidos por colocar prazer e vícios no lugar do amor, canta o caso do caçador Acteon, que viu a deusa Diana nua e, como castigo, foi transformado em caça e devorado por seus próprios cães.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Vênus via Acteon, este que, por estar tão focado e alegre em sua caçada, preferia ficar perseguindo os feios e ferozes animais do que ir atrás das belas e mulheres. Querendo castiga-lo de forma doce e severa, Vênus mostra-lhe a formosura da deusa Diana e guarda-lo para que não seja consumido pelos cães que ele amava.
CANTO IX – ESTROFE 27
“Vênus se decepciona ao ver as pessoas do mundo”
E vê do mundo todo os principais
Que nenhum no bem público imagina;
Vê neles que não têm amor a mais
Que a si somente e a quem filáucia ensina;
Vê que esses que frequentam os reais
Paços, por verdadeira e são doutrina,
Vendem adulação, que mal consente
Mondar-se novo trigo florescente.
E vê do mundo todo os principais que nenhum no bem público imagina; vê neles que não têm amor a mais que a si somente e a quem filáucia ensina; vê que esses que frequentam os reais paços, por verdadeira e são doutrina, vendem adulação, que mal consente mondar-se novo trigo florescente. (1)
(1) E Vênus, ao ver as pessoas mais importantes do mundo, percebe que nenhum deles se preocupa com o bem do público; vê que eles só têm somente amor com eles mesmo, como se fossem educados pelo egoísmo; vê que essas pessoas que frequentam os palácios reais corrompem a verdadeira e sã doutrina com adulação, não permitindo que as ervas ruins sejam arrancadas. Camões comenta que Vênus vê os bajuladores, estes que corrompem os ambientes que estão com suas adulações.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
E Vênus, ao ver as pessoas mais importantes do mundo, percebe que nenhum deles se preocupa com o bem do público; vê que eles só têm somente amor com eles mesmo, como se fossem educados pelo egoísmo; vê que essas pessoas que frequentam os palácios reais corrompem a verdadeira e sã doutrina com adulação, não permitindo que as ervas ruins sejam arrancadas.
CANTO IX – ESTROFE 28
“Vênus vê a corrupção dos religiosos e dos nobres”
Vê que aqueles que devem à pobreza
Amor divino, e ao povo caridade,
Amam somente mandos e riqueza,
Simulando justiça e integridade.
Da feia tirania e aspereza
Fazem direito e vã severidade;
Leis em favor do rei se estabelecem,
As em favor do povo só perecem.
Vê que aqueles que devem à pobreza amor divino, e ao povo caridade, amam somente mandos e riqueza, simulando justiça e integridade. Da feia tirania e aspereza fazem direito e vã severidade; leis em favor do rei se estabelecem, as em favor do povo só perecem. (1)
(1) Vênus vê aqueles religiosos que, invés de amarem o amor divino à pobreza e a caridade ao povo, amam somente a riqueza e que fingem ser justos íntegros. Esses homens chamam de justos os seus atos de tirania e de severos os seus atos de crueldade; estabelecem leis que somente favoreçam o rei, enquanto deixam o povo de lado. Camões comenta que Vênus também vê os homens que ocupam os grandes cargos religiosos, estes que só se preocupam com suas riquezas e seus vis interesses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Vênus vê aqueles religiosos que, invés de amarem o amor divino à pobreza e a caridade ao povo, amam somente a riqueza e que fingem ser justos íntegros. Esses homens chamam de justos os seus atos de tirania e de severos os seus atos de crueldade; estabelecem leis que somente favoreçam o rei, enquanto deixam o povo de lado.
CANTO IX – ESTROFE 29
“Vênus, por fim, vê que as pessoas amam somente o que os seus próprios desejos”
Vê enfim que ninguém ama o que deve
Senão o que somente mal deseja.
Não quer que tanto tempo se revele
O castigo, que duro e justo seja.
Seus ministros ajunta, por que leve
Exércitos conformes à peleja
Que espera ter co’a mal regida gente
Que lhe não for agora obediente.
Vê enfim que ninguém ama o que deve senão o que somente mal deseja. Não quer que tanto tempo se revele o castigo, que duro e justo seja. Seus ministros ajunta, por que leve exércitos conformes à peleja que espera ter co’a mal regida gente que lhe não for agora obediente. (1)
(1) Vênus, enfim, vê que, em vez de amarem o que deve ser amado, as pessoas amam somente aquilo que o errado. Ela não deseja que, por tanto tempo, se alivie o castigo das culpas, querendo que ele seja justo e duro; reúne seus filhos e outros meninos num exército, para lutar contra as ninfas que não lhe obedecerem. Camões canta que Vênus se prepara para atacar as ninfas nereidas e faze-las se apaixonarem pelos marinheiros portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Vênus, enfim, vê que, em vez de amarem o que deve ser amado, as pessoas amam somente aquilo que o errado. Ela não deseja que, por tanto tempo, se alivie o castigo das culpas, querendo que ele seja justo e duro; reúne seus filhos e outros meninos num exército, para lutar contra as ninfas que não lhe obedecerem.
CANTO IX – ESTROFE 30
“Vênus quer que Cupido e o seu exército de meninos para atacar as ninfas”
Muitos destes meninos voadores
Estão em várias obras trabalhando,
Uns amolando ferros passadores,
Outros hásteas de setas delgaçando.
Trabalhando, cantando estão de amores,
Vários casos em verso modulando:
Melodia sonora e concertada,
Suave a letra, angélica e soada.
Muitos destes meninos voadores estão em várias obras trabalhando, uns amolando ferros passadores, outros hásteas de setas delgaçando. Trabalhando, cantando estão de amores, vários casos em verso modulando: Melodia sonora e concertada, suave a letra, angélica e soada. (1)
(1) Muitos destes meninos voadores do exército de Cupido estão trabalhando em várias obras, com uns preparando as setas das fechas, enquanto outros preparam as suas hastes. No trabalho, cantam sobre os amores e fazem versos de casos variados: melodia sonora e concertada, suave a letra, angélica e soada. Camões canta que os meninos do exército de Cupido se preparam a campanha contra as ninfas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Muitos destes meninos voadores do exército de Cupido estão trabalhando em várias obras, com uns preparando as setas das fechas, enquanto outros preparam as suas hastes. No trabalho, cantam sobre os amores e fazem versos de casos variados: melodia sonora e concertada, suave a letra, angélica e soada.
CANTO IX – ESTROFE 31
“Cupido e seus meninos preparam as suas flechas para atacar as ninfas”
Nas fráguas imortais, onde forjavam
Pera as setas as pontas penetrantes,
Por lenha, corações ardendo estavam,
Vivas entranhas inda palpitantes;
As águas onde os feros temperavam
Lágrimas são de míseros amantes;
A viva flama, o nunca morto lume,
Desejo é só queima e não consume.
Nas fráguas imortais, onde forjavam pera as setas as pontas penetrantes, por lenha, corações ardendo estavam, vivas entranhas inda palpitantes; as águas onde os feros temperavam lágrimas são de míseros amantes; a viva flama, o nunca morto lume, desejo é só queima e não consume. (1)
(1) Os meninos forjavam as pontas penetrantes das setas nas forjas imortais, onde, em vês de lenha, ardiam e palpitavam corações e vivas entranhas; no lugar de água, temperavam as setas com lágrimas de amantes miseráveis; as chamas e as brasas eram o desejo queimava, mas não se consumia. Camões canta que os meninos do exército de Cupido se preparam a campanha contra as ninfas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Os meninos forjavam as pontas penetrantes das setas nas forjas imortais, onde, em vês de lenha, ardiam e palpitavam corações e vivas entranhas; no lugar de água, temperavam as setas com lágrimas de amantes miseráveis; as chamas e as brasas eram o desejo queimava, mas não se consumia.
CANTO IX – ESTROFE 32
“Cupido e seus meninos preparam as suas flechas para atacar as ninfas”
Alguns exercitando a mão andavam
Nos duros corações da plebe ruda;
Crebros suspiros pelo ar soavam
Dos que feridos vão da seta aguda.
Fermosas ninfas são as que curavam
As chagas recebidas, cuja ajuda
Não somente dá vida aos mal feridos,
Mas põe em vida os ainda não nascidos.
Alguns exercitando a mão andavam nos duros corações da plebe ruda; crebros suspiros pelo ar soavam dos que feridos vão da seta aguda. Fermosas ninfas são as que curavam as chagas recebidas, cuja ajuda não somente dá vida aos mal feridos, mas põe em vida os ainda não nascidos. (1)
(1) Alguns meninos praticam a pontaria atirando nos corações dos plebeus, com frequentes suspiros sendo soados no ar pelos que alvejados pelas setas. As formosas ninfas curavam essas feridas que se abriam, sendo que elas não somente dão vida aos que foram feridos, como também os estimulam para que ganhem vida os que ainda não nasceram. Camões canta que os meninos do exército de Cupido se preparam a campanha contra as ninfas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Alguns meninos praticam a pontaria atirando nos corações dos plebeus, com frequentes suspiros sendo soados no ar pelos que alvejados pelas setas. As formosas ninfas curavam essas feridas que se abriam, sendo que elas não somente dão vida aos que foram feridos, como também os estimulam para que ganhem vida os que ainda não nasceram.
CANTO IX – ESTROFE 33
“A qualidade das ninfas”
Fermosas são algumas e outras feias,
Segundo a qualidade for das chagas;
Que o veneno espalhado pelas veias
Curam-no às vezes ásperas triagas.
Alguns ficam ligados em cadeias
Por palavras sutis de sábias magas;
Isto acontece às vezes, quando as setas
Acertam de levar ervas secretas.
Fermosas são algumas e outras feias, segundo a qualidade for das chagas; que o veneno espalhado pelas veias curam-no às vezes ásperas triagas. Alguns ficam ligados em cadeias por palavras sutis de sábias magas; isto acontece às vezes, quando as setas acertam de levar ervas secretas. (1)
(1) Das que curam, algumas ninfas são fermosas, enquanto outras são feias, sendo de acordo com as feridas, pois a verdade é que, às vezes, é o remédio amargo que cura o ferimento envenenado. Alguns homens acabam presos por causa das sutis palavras proferidas por sábias magas, pois isso, às vezes, acontece por que algumas setas são envenenadas por ervas secretas. Camões canta que os meninos do exército de Cupido se preparam a campanha contra as ninfas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Das que curam, algumas ninfas são fermosas, enquanto outras são feias, sendo de acordo com as feridas, pois a verdade é que, às vezes, é o remédio amargo que cura o ferimento envenenado. Alguns homens acabam presos por causa das sutis palavras proferidas por sábias magas, pois isso, às vezes, acontece por que algumas setas são envenenadas por ervas secretas.
CANTO IX – ESTROFE 34
“Cupido e seus meninos se prepara para atacar as ninfas”
Destes tiros assi desordenados,
Que estes moços mal destros vão tirando,
Nascem amores mil desconcertados
Entre o povo ferido, miserando.
E também nos heróis dos altos estados
Exemplos mil se vêem de amor nefando,
Qual o das moças Bíbli e Cinireia,
Um mancebo de Assíria, um de Judéia.
Destes tiros assi desordenados, que estes moços mal destros vão tirando, nascem amores mil desconcertados entre o povo ferido, miserando. E também nos heróis dos altos estados exemplos mil se vêem de amor nefando, qual o das moças Bíbli e Cinireia, um mancebo de Assíria, um de Judéia. (1)
(1) Destes tiros desordenados que os meninos vão atirando, nascem mil amores desconcertados entre o miserável povo que foi atingido. E também, no meio da alta hierarquia social, mil horríveis amores vão surgindo, como o das moças Bíbli e Cinireia, e de um mancebo da Assíria com um da Judéia. Camões canta que os meninos do exército de Cupido se preparam a campanha contra as ninfas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Destes tiros desordenados que os meninos vão atirando, nascem mil amores desconcertados entre o miserável povo que foi atingido. E também, no meio da alta hierarquia social, mil horríveis amores vão surgindo, como o das moças Bíbli e Cinireia, e de um mancebo da Assíria com um da Judéia.
CANTO IX – ESTROFE 35
“Camões comenta sobre os nobres que se relacionam com plebeus”
E vós, ó poderosos, por pastoras
Muitas vezes ferido o peito vedes;
E por baixos e rudos, vós senhoras,
Também vos tomam nas vulcâneas redes.
Uns, esperando andais noturnas horas,
Outros, subis telhados e paredes.
Mas eu creio que, deste amor indino,
É mais culpa a da mãe que a do menino!
E vós, ó poderosos, por pastoras muitas vezes ferido o peito vedes; e por baixos e rudos, vós senhoras, também vos tomam nas vulcâneas redes. Uns, esperando andais noturnas horas, outros, subis telhados e paredes. Mas eu creio que, deste amor indino, é mais culpa a da mãe que a do menino! (1)
(1) E vós, ó homens poderosos, vedes muitas vezes o vosso coração ferido por pastoras; e vós, ó poderosas senhoras, também são enredadas no amor por homens de caráter baixo e rude. Alguns de vós acabam esperando horas por esse amor, enquanto outros chegam até a subir em paredes e telhados. Mas acredito eu que, quando acontece esses amores ilícitos, é mais culpa de Vênus do que de Cupido. Camões faz alguns comentários sobres os nobres que se relacionam com pessoas de baixa hierarquia.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
E vós, ó homens poderosos, vedes muitas vezes o vosso coração ferido por pastoras; e vós, ó poderosas senhoras, também são enredadas no amor por homens de caráter baixo e rude. Alguns de vós acabam esperando horas por esse amor, enquanto outros chegam até a subir em paredes e telhados. Mas acredito eu que, quando acontece esses amores ilícitos, é mais culpa de Vênus do que de Cupido.
CANTO IX – ESTROFE 36
“Vênus chega até o Cupido’
Mas já no verde prado o carro leve
Punham os brancos cisnes mansamente;
E Dione, que as rosas entre a neve
No rosto traz, descia diligente.
O frecheiro, que contra o céu se atreve,
A recebe-la vem ledo e contente;
Vêm todos os Cupidos servidores
Beijar a mão à deusa dos amores.
Mas já no verde prado o carro leve punham os brancos cisnes mansamente; e Dione, que as rosas entre a neve no rosto traz, descia diligente. O frecheiro, que contra o céu se atreve, a recebe-la vem ledo e contente; vêm todos os Cupidos servidores beijar a mão à deusa dos amores. (1)
(1) Os brancos cisnes mansamente colocam no prado, pois a conduziam, a carruagem de Vênus, sendo que ela, que trazia a face branca e rosada, descia rapidamente. O Cupido, cuja as flechas ferem até o coração dos deuses, vem alegremente receber sua mãe, com todos os seus meninos ajudante indo beijar a mão da deusa dos amores. Camões canta que Vênus chega até a residência de seu filho, o Cupido.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Os brancos cisnes mansamente colocam no prado, pois a conduziam, a carruagem de Vênus, sendo que ela, que trazia a face branca e rosada, descia rapidamente. O Cupido, cuja as flechas ferem até o coração dos deuses, vem alegremente receber sua mãe, com todos os seus meninos ajudante indo beijar a mão da deusa dos amores.
CANTO IX – ESTROFE 37
“Vênus pede ajuda ao Cupido”
Ela, por que não gaste o tempo em vão,
Nos braços tendo o filho, confiada
Lhe diz: “Amado filho, em cuja mão
Toda minha potência está fundada,
Filho, em quem minhas forças sempre estão,
Tu, que as armas tifeias tens em nada,
A socorrer-me à tua potestade
Me traz especial necessidade.
Ela, por que não gaste o tempo em vão, nos braços tendo o filho, confiada lhe diz: “Amado filho, em cuja mão toda minha potência está fundada, filho, em quem minhas forças sempre estão, tu, que as armas tifeias tens em nada, a socorrer-me à tua potestade me traz especial necessidade. (1)
(1) Vênus, não querendo perder tempo, coloca o filho nos braços e assim lhe diz: “Amado filho, que possui nas mãos todo o poder do meu amor” Filho, que sempre carrega as minhas forças! Tu, que nem teme as armas de Tifeu, me ajude, pois preciso que me socorras. Camões canta que Vênus, estando diante de seu filho Cupido, pede para que ele a ajude.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Vênus, não querendo perder tempo, coloca o filho nos braços e assim lhe diz: “Amado filho, que possui nas mãos todo o poder do meu amor” Filho, que sempre carrega as minhas forças! Tu, que nem teme as armas de Tifeu, me ajude, pois preciso que me socorras.
CANTO IX – ESTROFE 38
“Vênus diz que deseja recompensar os portugueses”
“Bem vês as lusitânicas fadigas,
Que eu já de muito longe favoreço,
Porque das Parcas sei, minhas amigas,
Que me hão-de venerar e ter em preço.
E porque tanto imitaram as antigas
Obras de meus Romanos, me ofereço
A lhe dar tanta ajuda em quanto posso,
A quanto se estender o poder nosso.
“Bem vês as lusitânicas fadigas, que eu já de muito longe favoreço, porque das Parcas sei, minhas amigas, que me hão-de venerar e ter em preço. E porque tanto imitaram as antigas obras de meus Romanos, me ofereço a lhe dar tanta ajuda em quanto posso, a quanto se estender o poder nosso. (1)
(1) “Bem vês, meu filho, o cansaço destes marinheiros lusitanos que eu há tanto tempo venho cuidando, já que sei, pelas minhas amigas Parcas, que eles hão de me venerar e ter preço e, porque eles tanto imitaram as antigas obras dos meus romanos, me ofereço a dar-lhes toda a ajuda que posso, até onde os meus poderes forem possíveis. Camões canta que Vênus, falando ao seu filho Cupido, comenta o cansaço dos portugueses após passarem por toda esta empreita, além de dizer que sem cuidou deles.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Bem vês, meu filho, o cansaço destes marinheiros lusitanos que eu há tanto tempo venho cuidando, já que sei, pelas minhas amigas Parcas, que eles hão de me venerar e ter preço e, porque eles tanto imitaram as antigas obras dos meus romanos, me ofereço a dar-lhes toda a ajuda que posso, até onde os meus poderes forem possíveis.
CANTO IX – ESTROFE 39
“Vênus diz que deseja recompensar os portugueses”
“E porque das insídias do odioso
Baco foram na Índia molestados,
E das injúrias sós do mar undoso
Puderam mais ser mortos que cansados,
No mesmo mar, que sempre temeroso
Lhe foi, quero que sejam repousados,
Tomando aquele prêmio e doce glória
Do trabalho, que faz clara a memória.
“E porque das insídias do odioso Baco foram na Índia molestados, e das injúrias sós do mar undoso puderam mais ser mortos que cansados, no mesmo mar, que sempre temeroso lhe foi, quero que sejam repousados, tomando aquele prêmio e doce glória do trabalho, que faz clara a memória. (1)
(1) “E, porque os portugueses sofreram por causa das artimanhas de Baco quando eles estiveram na Índia, já não bastando os danos causados pelas temerosas ondas do mar que, não apenas os cansaram, como poderiam os ter matados, quero que agora eles ganharem o repouso que bem merecem, sendo recompensados pelo árduo esforço que empreenderam. Camões canta que Vênus, falando ao seu filho Cupido, pede para que os portugueses, após passarem por tantos sofrimentos, sejam recompensados.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E, porque os portugueses sofreram por causa das artimanhas de Baco quando eles estiveram na Índia, já não bastando os danos causados pelas temerosas ondas do mar que, não apenas os cansaram, como poderiam os ter matados, quero que agora eles ganharem o repouso que bem merecem, sendo recompensados pelo árduo esforço que empreenderam.
CANTO IX – ESTROFE 40
“Vênus diz que deseja fazer as ninfas se apaixonarem pelos marinheiros portugueses”
“E pera isso queria que feridas
As filhas de Nereu no Ponto fundo,
D’amor dos Lusitanos incendidas,
Que vêm de descobrir o novo mundo;
Todas numa ilha juntas e subidas,
(Ilha, que nas entranhas do profundo
Oceano terei aparelhada,
De dons de Flora e Zéfiro adornada):
“E pera isso queria que feridas as filhas de Nereu no Ponto fundo, d’amor dos Lusitanos incendidas, que vêm de descobrir o novo mundo; todas numa ilha juntas e subidas, (ilha, que nas entranhas do profundo Oceano terei aparelhada, de dons de Flora e Zéfiro adornada) (1)
(1) “E para recompensar portugueses, eu queria que as ninfas nereidas, que estão no Oceano, fossem feridas por suas flechas e assim ficassem incendiadas de amor pelos lusitanos que descobriam o caminho para o novo mundo. Quero todas elas juntas numa ilha, sendo que esta terei preparada no fundo do Oceano e adornada de flores e os bons ventos de Zéfiro. Camões canta que Vênus, falando ao seu filho Cupido, pede para que as ninfas sejam atingidas pelas flechas de amor, para assim se apaixonadas pelos portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“E para recompensar portugueses, eu queria que as ninfas nereidas, que estão no Oceano, fossem feridas por suas flechas e assim ficassem incendiadas de amor pelos lusitanos que descobriam o caminho para o novo mundo. Quero todas elas juntas numa ilha, sendo que esta terei preparada no fundo do Oceano e adornada de flores e os bons ventos de Zéfiro.
CANTO IX – ESTROFE 41
“Vênus diz que colocara os portugueses e as ninfas em uma ilha”
“Ali com mil refrescos e manjares,
Com vinhos odoríferos e rosas,
Em cristalinos paços singulares
Fermosos leitos, e elas mais fermosas;
Enfim, com mil deleites não vulgares,
Os esperem as ninfas amorosas,
D’ amor feridas, pera lhe entregarem
Quanto delas os olhos cobiçarem.
“Ali com mil refrescos e manjares, com vinhos odoríferos e rosas, em cristalinos paços singulares fermosos leitos, e elas mais fermosas; enfim, com mil deleites não vulgares, os esperem as ninfas amorosas, d’amor feridas, pera lhe entregarem quanto delas os olhos cobiçarem. (1)
(1) “Esta ilha terá mil frutas e bebidas, com vinhas odoríferos e rosas enfeitando as mesas, e um palácio de cristal com formosos leitos, sendo que as ninfas estarão ainda mais formosas. Enfim, com mil deleites não vulgares, as mais formosas ninfas, que estão amorosas por causa de suas flechas, esperarão os portugueses para lhes entregarem o que eles mais desejarem. Camões canta que Vênus, falando ao seu filho Cupido, diz que as ninfas, quando estiverem apaixonadas, estarão esperando os portugueses numa formosa ilha.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Esta ilha terá mil frutas e bebidas, com vinhas odoríferos e rosas enfeitando as mesas, e um palácio de cristal com formosos leitos, sendo que as ninfas estarão ainda mais formosas. Enfim, com mil deleites não vulgares, as mais formosas ninfas, que estão amorosas por causa de suas flechas, esperarão os portugueses para lhes entregarem o que eles mais desejarem.
CANTO IX – ESTROFE 42
“Vênus quer ver os portugueses se espalharem pelo mundo”
“Quero que haja no reino neptunino,
Onde eu nasci, progênie forte e bela,
E tome exemplo o mundo vil, malino,
Que contra tua potência se rebela,
Por que entendam que muro adamantino
Nem triste hipocrisia val contra ela.
Mal haverá na terra quem se guarde,
Se teu fogo imortal nas águas arde.”
“Quero que haja no reino neptunino, onde eu nasci, progênie forte e bela, e tome exemplo o mundo vil, malino, que contra tua potência se rebela, por que entendam que muro adamantino nem triste hipocrisia val contra ela. Mal haverá na terra quem se guarde, se teu fogo imortal nas águas arde.” (1)
(1) “Quero haja no Oceano, que é o local de onde eu nasci, uma prole forte e bela dos portugueses, tomando de exemplo o mundo vil e maligno que se rebela contra o seu amor, Cupido. Que entendam que nem mesmos um muro de diamantes ou a triste hipocrisia podem com o amor. Dificilmente alguém resistira na terra contra os portugueses, se poder do seu fogo prevalecer nas águas.” Camões canta que Vênus concluí sua fala ao seu filho Cupido, dizendo que o amor que ele colocara nos corações das ninfas fará com que os portugueses se multipliquem pelo mar e favoreça a expansão do povo lusitano.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Quero haja no Oceano, que é o local de onde eu nasci, uma prole forte e bela dos portugueses, tomando de exemplo o mundo vil e maligno que se rebela contra o seu amor, Cupido. Que entendam que nem mesmos um muro de diamantes ou a triste hipocrisia podem com o amor. Dificilmente alguém resistira na terra contra os portugueses, se poder do seu fogo prevalecer nas águas.”
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a vigésima quinta até a quadragésima terceira estrofe do nono canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que Vênus vai até o seu filho Cupido para pedir a sua ajuda.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.