Neste nosso septuagésimo terceiro comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o nono canto da obra, onde Camões canta que o Cupido, atendendo ao pedido de Vênus, lança seu ataque contra as ninfas, fazendo-as ficarem apaixonadas pelos portugueses.
CANTO IX – ESTROFE 43
“O Cupido acata o pedido de sua mãe e logo se prepara para atacar as ninfas com suas flechas de amor”
Assi Vênus propôs, e o filho inico
Pera lhe obedecer já se apercebe;
Manda trazer o arco ebúrneo, rico,
Onde as setas da ponta de ouro embebe.
Com gesto ledo, a Cípria, e imbudico
Dentro no carro o filho seu recebe;
A rédea largas às aves, cujo canto
A faetonteia morte chorou tanto.
Assi Vênus propôs, e o filho inico pera lhe obedecer já se apercebe; manda trazer o arco ebúrneo, rico, onde as setas da ponta de ouro embebe. Com gesto ledo, a Cípria, e imbudico dentro no carro o filho seu recebe; a rédea largas às aves, cujo canto a faetonteia morte chorou tanto. (1)
(1) Assim Vênus propôs seu plano ao Cubico, este que imediatamente se prepara para obedecer; ele manda trazer seu rico arco de marfim e suas flechas com setas embebecidas em ouro. Com um alegre gesto, a deusa recebe seu filho em sua carruagem puxada por cisnes, as aves cuja o canto anuncia a morte. Camões canta que Cupido, após ouvir o desejo de sua mãe de recompensar os portugueses, se prepara para colocar o plano de Vênus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Assim Vênus propôs seu plano ao Cubico, este que imediatamente se prepara para obedecer; ele manda trazer seu rico arco de marfim e suas flechas com setas embebecidas em ouro. Com um alegre gesto, a deusa recebe seu filho em sua carruagem puxada por cisnes, as aves cuja o canto anuncia a morte.
CANTO IX – ESTROFE 44
“Cupido diz que, para que as ninfas se apaixonem pelos portugueses, ele precisa da ajuda da deusa Fama”
Mas diz Cupido que era necessária
Uma famosa e célebre terceira,
Que, posto que mil vezes lhe é contrária,
Outras muitas a têm por companheira:
A deusa gigantéia temerária
Jactante, mentirosa e verdadeira,
Que com cem mil olhos vê e, por onde voa,
O que vê com mil bocas apregoa.
Mas diz Cupido que era necessária uma famosa e célebre terceira, que, posto que mil vezes lhe é contrária, outras muitas a têm por companheira: a deusa gigantéia temerária jactante, mentirosa e verdadeira, que com cem mil olhos vê e, por onde voa, o que vê com mil bocas apregoa. (1)
(1) Mas diz Cupido diz que, para a realizar o plano de Vênus, ele precisava da ajuda da conhecida e celebrada deusa Fama, embora ele lhe seja mil vez contrária, às vezes tem ela por companheira. Deusa audaciosa, jactante, mentirosa e verdadeira, que vê com cem olhos e, por onde voa, com mil bocas apregoa o que vê. Camões canta que Cúpido, querendo concretizar o plano de Vênus, diz que precisara da ajuda da deusa Fama.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Mas diz Cupido diz que, para a realizar o plano de Vênus, ele precisava da ajuda da conhecida e celebrada deusa Fama, embora ele lhe seja mil vez contrária, às vezes tem ela por companheira. Deusa audaciosa, jactante, mentirosa e verdadeira, que vê com cem olhos e, por onde voa, com mil bocas apregoa o que vê.
CANTO IX – ESTROFE 45
“Para enamorar as ninfas, a Fama vai falando sobre os grandes feitos dos marinheiros portugueses”
Vão buscar, e mandam adiante,
Que celebrando vá com tuba clara
Os louvores da gente navegante,
Mais do que nunca os d’outrem celebrara.
Já murmurando a Fama penetrante
Pelas fundas cavernas se espalhara;
Fala verdade, havia por verdade,
Que junto a deusa traz credulidade.
Vão buscar, e mandam adiante, que celebrando vá com tuba clara os louvores da gente navegante, mais do que nunca os d’outrem celebrara. Já murmurando a Fama penetrante pelas fundas cavernas se espalhara; fala verdade, havia por verdade, que junto a deusa traz credulidade. (1)
(1) Vão buscar a Fama, sendo que vá na frente, com claros sons, celebrando os louvores dos navegantes portugueses, celebração está que deve ser maior do que qualquer já realizada antes. A Fama vai murmurando pelas cavernas, falando o que conhecia por verdade e trazendo consigo a celeridade. Camões canta que a Fama espalha os grandes feitos dos portugueses
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Vão buscar a Fama, sendo que ela vá na frente, com claros sons, celebrando os louvores dos navegantes portugueses, celebração está que deve ser maior do que qualquer já realizada antes. A Fama vai murmurando pelas cavernas, falando o que conhecia por verdade e trazendo consigo a celeridade.
CANTO IX – ESTROFE 46
“Fama consegue fazer os deuses marítimos deixarem de odiar os portugueses e começar a admira-los”
O louvor grande, o rumor excelente,
O coração dos deuses, que indinados
Foram por Baco contra a ilustre gente,
Mudando, os fez um pouco afeiçoados.
O peito feminil, que levemente
Muda quaisquer propósitos tomados,
Já julga por mau zelo e por crueza
Desejar mal a tanta fortaleza.
O louvor grande, o rumor excelente, o coração dos deuses, que indinados foram por Baco contra a ilustre gente, mudando, os fez um pouco afeiçoados. O peito feminil, que levemente muda quaisquer propósitos tomados, já julga por mau zelo e por crueza desejar mal a tanta fortaleza. (1)
(1) O grande louvor e o excelente murmúrio da Fama mudando os corações dos deuses marítimos para com os portugueses, pois eles, por conta da influência de Baco, estavam irados; agora ficam um pouco mais afeiçoados. A influência feminina que facilmente muda quaisquer decisões que já foram tomadas, já fazia com que os deuses julgassem errado desejar o mal de um povo tão valente. Camões canta que a influência da Fama começa a afetar os deuses marítimos, estes que, anteriormente, desejam destruir os portugueses, agora começam a nutrir um pouco de afeição por eles.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O grande louvor e o excelente murmúrio da Fama mudando os corações dos deuses marítimos para com os portugueses, pois eles, por conta da influência de Baco, estavam irados; agora ficam um pouco mais afeiçoados. A influência feminina que facilmente muda quaisquer decisões que já foram tomadas, já fazia com que os deuses julgassem errado desejar o mal de um povo tão valente.
CANTO IX – ESTROFE 47
“Cupido dispara suas flechas de amor nas ninfas”
Despede nisto o fero moço as setas
Uma após a outra; geme o mar c’os tiros;
Direitas pelas ondas inquietas
Algumas vão, e algumas fazem giros;
Caem as ninfas, lançam das secretas
Entranhas ardentíssimos suspeitos:
Cai qualquer, sem ver o vulto que ama,
Que tanto como a vista pode a Fama.
Despede nisto o fero moço as setas uma após a outra; geme o mar c’os tiros; direitas pelas ondas inquietas algumas vão, e algumas fazem giros; caem as ninfas, lançam das secretas entranhas ardentíssimos suspeitos: cai qualquer, sem ver o vulto que ama, que tanto como a vista pode a Fama. (1)
(1) Enquanto isso, o feroz Cupido disparava uma flecha após a outra, fazendo o mar gemer com os disparos que, ora vão direitos, ora fazem giros. As ninfas acertadas caem, com seus corações soltando ardentes suspiros; qualquer uma delas cai de amor sem nem ainda terem visto os navegantes portugueses, pois a Fama somente canta os seus louvores. Camões canta que as ninfas nereidas são atingidas pelas flechas de Cupido, caindo em amor pelos portugueses; também são influenciadas pela Fama, que canta as glórias deles.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Enquanto isso, o feroz Cupido disparava uma flecha após a outra, fazendo o mar gemer com os disparos que, ora vão direitos, ora fazem giros. As ninfas acertadas caem, com seus corações soltando ardentes suspiros; qualquer uma delas cai de amor sem nem ainda terem visto os navegantes portugueses, pois a Fama somente canta os seus louvores.
CANTO IX – ESTROFE 48
“Todas as ninfas são atingidas pelas flechas de amor do Cupido”
Os cornos ajuntou da ebúrnea luma
Com força o moço indômito excessiva,
Que Tétis quer ferir mais que nenhuma,
Porque mais que nenhuma lhe era esquiva.
Já não fica na aljava seta alguma,
Nem nos equóreos campos ninfa viva;
E se feridas inda estão vivendo,
Será para sentir que vão morrendo.
Os cornos ajuntou da ebúrnea luma com força o moço indômito excessiva, que Tétis quer ferir mais que nenhuma, porque mais que nenhuma lhe era esquiva. Já não fica na aljava seta alguma, nem nos equóreos campos ninfa viva; e se feridas inda estão vivendo, será para sentir que vão morrendo. (1)
(1) Cupido, o moço indômito, querendo ferir Tétis mais do qualquer outra ninfa, puxou seu arco com uma força muito excessiva, pois ela era mais esquiva do as outras. Em sua aljava não sobra nenhuma flecha, assim como nos campos do mar não tem nenhuma ninfa que não esteja morta de amor; e, caso ainda estejam vivas, será para sentir que morrem de amores. Camões canta que Cupido acerta suas flechas de amor nas ninfas nereidas, principalmente em Tétis.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Cupido, o moço indômito, querendo ferir Tétis mais do qualquer outra ninfa, puxou seu arco com uma força muito excessiva, pois ela era mais esquiva do as outras. Em sua aljava não sobra nenhuma flecha, assim como nos campos do mar não tem nenhuma ninfa que não esteja morta de amor; e, caso ainda estejam vivas, será para sentir que morrem de amores.
CANTO IX – ESTROFE 49
“Vênus consegue concretizar seu plano, fazer as ninfas se apaixonarem pelos marinheiros portugueses”
Dai lugar, altas e cerúleas ondas,
Que, vedes, Vênus traz a medicina,
Mostrando as brancas velas e redondas
Que vêm por cima da água neptunina!
Pera que tu recíproco respondas,
Ardente Amor, à flama feminina,
É forçado que a pudicícia honesta
Faça qualquer lhe Vênus amoesta!
Dai lugar, altas e cerúleas ondas, que, vedes, Vênus traz a medicina, mostrando as brancas velas e redondas que vêm por cima da água neptunina! Pera que tu recíproco respondas, ardente Amor, à flama feminina, é forçado que a pudicícia honesta faça qualquer lhe Vênus amoesta! (1)
(1) Altas e azulas ondas, daí lugar para Vênus que, como vedes, traz a cura e mostra as brancas e redondas velas de sua embarcação que passa por cima das águas de Netuno! Para que tu, ó ardente Amor, respondas de forma recíproca à chama feminina, para que as ninfas façam exatamente o que a deusa manda. Camões canta a descrição de Vênus passando sobre as águas para falar com as ninfas e, assim, faze-las amorosas com os portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Altas e azulas ondas, daí lugar para Vênus que, como vedes, traz a cura e mostra as brancas e redondas velas de sua embarcação que passa por cima das águas de Netuno! Para que tu, ó ardente Amor, respondas de forma recíproca à chama feminina, para que as ninfas façam exatamente o que a deusa manda.
CANTO IX – ESTROFE 50
“As ninfas, estando apaixonadas, vão até a ilha que Vênus preparou”
Já todo o belo coro se aparelha
Das Nereidas, e junto caminhava
Em coréias gentis, usança velha,
Pera a ilha a que Vênus as guiava.
Ali a fermosa deusa lhe aconselha
O que ela fez mil vezes, quando amava;
Elas, que vão do doce amor vencidas,
Estão a seu conselho oferecidas.
Já todo o belo coro se aparelha das Nereidas, e junto caminhava em coréias gentis, usança velha, pera a ilha a que Vênus as guiava. Ali a fermosa deusa lhe aconselha o que ela fez mil vezes, quando amava; elas, que vão do doce amor vencidas, estão a seu conselho oferecidas. (1)
(1) Já estava preparado o belo agrupamento das ninfas nereidas, com elas caminhando e bailando juntas, conforme o seu antigo costume, para a ilha que a deusa Vênus as guiava. Na ilha, a formosa deusa as aconselhava a fazer o que ela fazia quando amava; elas, que estão dominadas pelo doce amor, seguem os seus conselhos. Camões canta que as ninfas nereidas, estando dominadas pelo amor, seguem a deusa Vênus até a ilha que ela preparou.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Já estava preparado o belo agrupamento das ninfas nereidas, com elas caminhando e bailando juntas, conforme o seu antigo costume, para a ilha que a deusa Vênus as guiava. Na ilha, a formosa deusa as aconselhava a fazer o que ela fazia quando amava; elas, que estão dominadas pelo doce amor, seguem os seus conselhos.
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a quadragésima terceira até a quinquagésima estrofe do nono canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que o Cupido, atendendo ao pedido de Vênus, lança seu ataque contra as ninfas, fazendo-as ficarem apaixonadas pelos portugueses.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.