Neste nosso septuagésimo quinto comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o nono canto da obra, onde Camões canta que os portugueses desembarcam na Ilha dos Amores e encontram as ninfas nereidas.
CANTO XI – ESTROFE 64
“Os portugueses desembarcam na Ilha dos Amores”
Desta frescura tal desembarcaram
Já das naus os segundos Argonautas,
Onde pela floresta se deixavam
Andar as belas deusas, como incautas.
Algumas, doces cítaras tocavam,
Algumas, harpas e sonoras frautas,
Outra, c’os arcos de ouro se fingiam
Seguir os animais, que não seguiam.
Desta frescura tal desembarcaram já das naus os segundos Argonautas, onde pela floresta se deixavam andar as belas deusas, como incautas. Algumas, doces cítaras tocavam, algumas, harpas e sonoras frautas, outra, c’os arcos de ouro se fingiam seguir os animais, que não seguiam. (1)
(1) Nesta ilha que parecia tão fresca, os portugueses desembarcavam de suas naus, sendo que as ninfas estavam descuidadas pelas florestas. Algumas delas tocavam doces cítaras, algumas harpas e sonoras flautas, enquanto outras, com arcos de ouro, fingiam caçar animais. Camões canta que os portugueses chegam na Ilha dos Amores e encontram as ninfas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Nesta ilha que parecia tão fresca, os portugueses desembarcavam de suas naus, sendo que as ninfas estavam descuidadas pelas florestas. Algumas delas tocavam doces cítaras, algumas harpas e sonoras flautas, enquanto outras, com arcos de ouro, fingiam caçar animais.
CANTO XI – ESTROFE 65
“As ninfas, seguindo os conselhos de Vênus, ficam espalhadas pela ilha aguardando os portugueses”
Assi lho aconselhara a mestre experta,
Que andassem pelos campos espalhadas,
Que, vista dos barões a presa incerta,
Se fizessem primeiro desejadas.
Algumas, que na forma descoberta
Do belo corpo estavam confiadas,
Posta a artificiosa fermosura,
Nuas lavar se deixavam na água pura.
Assi lho aconselhara a mestre experta, que andassem pelos campos espalhadas, que, vista dos barões a presa incerta, se fizessem primeiro desejadas. Algumas, que na forma descoberta do belo corpo estavam confiadas, posta a artificiosa fermosura, nuas lavar se deixavam na água pura. (1)
(1) A deusa Vênus, que era mestra nos amores, aconselhara as ninfas para que andassem espalhadas pelos campos e que, ao serem vistas pelos barões portugueses, primeiro se fizessem desejadas. Algumas delas, que estavam confiantes na formosa forma de seus corpos, se deixavam tomar banho nuas nas puras águas da ilha. Camões canta que as ninfas, seguindo as instruções de Vênus, seduzem os marinheiros portugueses.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
A deusa Vênus, que era mestra nos amores, aconselhara as ninfas para que andassem espalhadas pelos campos e que, ao serem vistas pelos barões portugueses, primeiro se fizessem desejadas. Algumas delas, que estavam confiantes na formosa forma de seus corpos, se deixavam tomar banho nuas nas puras águas da ilha.
CANTO XI – ESTROFE 66
“Os portugueses, que não esperam encontrar as ninfas, exploram a Ilha dos Amores em busca de caça”
Mas os fortes mancebos, que na praia
Punham os pés, de terra cobiçosos,
(Que não há nenhum deles que não saia)
De acharem caça agreste desejosos,
Não cuidam que, sem laço ou redes, caia
Caça, naqueles montes deleitosos,
Tão suave, doméstica e benina,
Qual ferida lha tinha já Ericina.
Mas os fortes mancebos, que na praia punham os pés, de terra cobiçosos, (que não há nenhum deles que não saia) de acharem caça agreste desejosos, não cuidam que, sem laço ou redes, caia caça, naqueles montes deleitosos, tão suave, doméstica e benina, qual ferida lha tinha já Ericina. (1)
(1) Mas os fortes portugueses, que acabaram de colocar os pés na tão cobiçosa terra, já que todos eles picou a bordo das naus, ao saírem para caçar, não imaginavam que encontrarão no meio destes morros deleitosos uma caça tão suave, doméstica e benina; eles nem precisaram de laço ou rede, pois esta caça já tinha sido ferida por Vênus. Camões canta que os portugueses, que saem para caçar, mal sabem que encontram as ninfas os esperando.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Mas os fortes portugueses, que acabaram de colocar os pés na tão cobiçosa terra, já que todos eles picou a bordo das naus, ao saírem para caçar, não imaginavam que encontrariam no meio destes morros deleitosos uma caça tão suave, doméstica e benina; eles nem precisaram de laço ou rede, pois esta caça já tinha sido ferida por Vênus.
CANTO XI – ESTROFE 67
“Os portugueses, que não esperavam encontrar as ninfas, explorar a ilha em busca de caça”
Alguns, que em espingardas e nas bestas,
Para ferir os cervos se fiavam,
Pelos sombrios matos e florestas
Determinadamente se lançavam;
Outros, nas sombras que das altas sestas
Defendem a verdura, passeavam
Ao longa da água, que suave e queda
Por alvas pedras corre à praia leda.
Alguns, que em espingardas e nas bestas, para ferir os cervos se fiavam, pelos sombrios matos e florestas determinadamente se lançavam; outros, nas sombras que das altas sestas defendem a verdura, passeavam ao longa da água, que suave e queda por alvas pedras corre à praia leda. (1)
(1) Alguns dos portugueses se estavam armados com espingardas e bestas para procurar cervos nos sombrios matos e florestas das ilhas; outros, que se escondiam do sol do meio-dia em baixo das sombras das altas árvores, passeavam ao longo das margens do lago, este que caia suave pelas alvas pedras à legre praia. Camões canta que os portugueses exploram a recém descoberta Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Alguns dos portugueses se estavam armados com espingardas e bestas para procurar cervos nos sombrios matos e florestas das ilhas; outros, que se escondiam do sol do meio-dia em baixo das sombras das altas árvores, passeavam ao longo das margens do lago, este que caia suave pelas alvas pedras à legre praia.
CANTO XI – ESTROFE 68
“Os portugueses encontram as ninfas na Ilha dos Amores”
Começam de enxergar subitamente,
Por entre verdes ramos, várias cores:
Cores de quem a vista julga e sente
Que não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda, diferente,
Que mais incita a força dos amores,
De que se vestem as humanas rosas,
Fazendo-se por arte mais fermosas.
Começam de enxergar subitamente, por entre verdes ramos, várias cores: cores de quem a vista julga e sente que não eram das rosas ou das flores, mas da lã fina e seda, diferente, que mais incita a força dos amores, de que se vestem as humanas rosas, fazendo-se por arte mais fermosas. (1)
(1) Os portugueses começam a ver, por entre os verdes ramos da ilha, várias cores, sendo que estas, para quem quer que visse, não eram cores de flores ou rosas, mas, sim, da fina lã e seda usadas pelas ninfas e que tanto incitam a força dos amores. Camões canta que os portugueses, ao explorarem a Ilha dos Amores, começam a encontrar a ninfas nereidas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Os portugueses começam a ver, por entre os verdes ramos da ilha, várias cores, sendo que estas, para quem quer que visse, não eram cores de flores ou rosas, mas, sim, da fina lã e seda usadas pelas ninfas e que tanto incitam a força dos amores.
CANTO XI – ESTROFE 69
“Os portugueses encontram as ninfas na Ilha dos Amores”
Dá Veloso espantado um grande grito:
“Senhores, caça estranha, disse, é esta;
Se inda dura o gentio antigo rito,
A deusas é sagrada esta floresta.
Mais descobrimos do que humano esp’rito
Desejou nunca; e bem se manifesta
Que são grandes as cousas e excelentes,
Que o mundo encobre aos homens imprudentes.
Dá Veloso espantado um grande grito: “Senhores, caça estranha, disse, é esta; se inda dura o gentio antigo rito, a deusas é sagrada esta floresta. Mais descobrimos do que humano esp’rito desejou nunca; e bem se manifesta que são grandes as cousas e excelentes, que o mundo encobre aos homens imprudentes. (1)
(1) Veloso, espantado com que viu, dá um grande grito e disse: “Senhores, que caça extraordinária é está; se ainda são praticados os antigos ritos, está floresta é consagrada às deusas! Parece que descobrimos o que o espírito humano nunca imaginou e, como se vê, são coisas grandiosas e excelentes que o mundo esconde dos homens imprudentes. Camões canta que Veloso, um dos marinheiros portugueses, grita ao encontrar as ninfas, dizendo que estar espantado ao ver figuras tão maravilhosas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Veloso, espantado com que viu, dá um grande grito e disse: “Senhores, que caça extraordinária é está; se ainda são praticados os antigos ritos, está floresta é consagrada às deusas! Parece que descobrimos o que o espírito humano nunca imaginou e, como se vê, são coisas grandiosas e excelentes que o mundo esconde dos homens imprudentes.
CANTO XI – ESTROFE 70
“O marinheiros Veloso, ao ver as ninfas, começa a persegui-las junto com os demais portugueses”
“Sigamos estas deusas, e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras.”
Isto dito, veloces mais que gamos,
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos;
Mas mais industriosas que ligeiras,
Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos alcançando.
“Sigamos estas deusas, e vejamos se fantásticas são, se verdadeiras.” Isto dito, veloces mais que gamos, se lançam a correr pelas ribeiras. Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos; mas mais industriosas que ligeiras, pouco e pouco, sorrindo e gritos dando, se deixam ir dos galgos alcançando. (1)
(1) “Sigamos estas deusas, para que assim descobrirmos se elas são fantásticas e verdadeiras”. Tendo Veloso dito isso, os portugueses, mais velozes do que cervos, se lançam a correr atrás delas pelas ribeiras. As ninfas vão fugindo por entre os ramos dando gritos e sorrindo, mas, sendo elas mais ardilosas do que ligeiras, pouco a pouco vão deixando-se serem alcançadas. Camões canta que os portugueses começam a seguir as ninfas pelas florestas da Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Sigamos estas deusas, para que assim descobrirmos se elas são fantásticas e verdadeiras”. Tendo Veloso dito isso, os portugueses, mais velozes do que cervos, se lançam a correr atrás delas pelas ribeiras. As ninfas vão fugindo por entre os ramos dando gritos e sorrindo, mas, sendo elas mais ardilosas do que ligeiras, pouco a pouco vão deixando-se serem alcançadas.
CANTO XI – ESTROFE 71
“As ninfas fingem que resistem aos portugueses”
De uma os cabelos de ouro o vento leva
Correndo, e de outra as fraldas delicadas;
Acende-se o desejo que se ceva
Nas alvas carnes súbito mostradas;
Uma de indústria cai, e já releva
Com mostras mais macias que indinadas,
Que sobre ela empecendo também caia
Quem a seguiu pela arenosa praia.
De uma os cabelos de ouro o vento leva correndo, e de outra as fraldas delicadas; acende-se o desejo que se ceva nas alvas carnes súbito mostradas; uma de indústria cai, e já releva com mostras mais macias que indinadas, que sobre ela empecendo também caia quem a seguiu pela arenosa praia. (1)
(1) Uma das ninfas, que tinha cabelos dourados, era levada pelo vento ao correr, enquanto outra ninfa leva as delicadas fraldas; os portugueses ficam incendiados com o desejo do amor ao seguir as ninfas que mostravam as alvas carnes; de propósito, uma das ninfas cai no chão e perdoa o perseguidor que cai sobre ela na arenosa praia. Camões canta que os portugueses, estando deslumbrados pela visão nas ninfas, as perseguem pela Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Uma das ninfas, que tinha cabelos dourados, era levada pelo vento ao correr, enquanto outra ninfa leva as delicadas fraldas; os portugueses ficam incendiados com o desejo do amor ao seguir as ninfas que mostravam as alvas carnes; de propósito, uma das ninfas cai no chão e perdoa o perseguidor que cai sobre ela na arenosa praia.
CANTO XI – ESTROFE 72
“As ninfas fingem que resistem aos portugueses”
Outros por outra parte vão topar
Com deusas despidas, que se lavam;
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam.
Umas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando.
Outros por outra parte vão topar com deusas despidas, que se lavam; elas começam súbito a gritar, como que assalto tal não esperavam. Umas, fingindo menos estimar a vergonha que a força, se lançavam nuas por entre o mato, aos olhos dando o que às mãos cobiçosas vão negando. (1)
(1) Outros portugueses, que estavam em outra parte da ilha, vão encontrar as ninfas se banhando nuas; de súbito elas gritando, fingindo que não sabiam que seriam vistas. Algumas delas, querendo parecer que temem serem forçadas e não ligarem ao serem vistas despidas, correm nuas por entre o mato, deixando que os olhos dos portugueses vejam aquilo que suas mãos não podem tocar. Camões canta os encontros dos portugueses com as ninfas na Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Outros portugueses, que estavam em outra parte da ilha, vão encontrar as ninfas se banhando nuas; de súbito elas gritando, fingindo que não sabiam que seriam vistas. Algumas delas, querendo parecer que temem serem forçadas e não ligarem ao serem vistas despidas, correm nuas por entre o mato, deixando que os olhos dos portugueses vejam aquilo que suas mãos não podem tocar.
CANTO XI – ESTROFE 73
“As ninfas fingem que resistem aos portugueses”
Outra, como acudindo mais depressa
À vergonha da deusa caçadora,
Esconde o corpo n’água; outra se apressa
Por tomar os vestidos que tem fora.
Tal dos mancebos há, que se arremessa
Vestido assi e calçado (que co’a mora
De se despir há medo que inda tarde)
A matar na água o fogo que nele arde.
Outra, como acudindo mais depressa à vergonha da deusa caçadora, esconde o corpo n’água; outra se apressa por tomar os vestidos que tem fora. Tal dos mancebos há, que se arremessa vestido assi e calçado (que co’a mora de se despir há medo que inda tarde) a matar na água o fogo que nele arde. (1)
(1) Outra ninfa, se mostrando envergonha assim como ficou Diana, esconde seu corno na água, enquanto outra se apressa para pegar os vestidos que tem fora. Um dos portugueses, temendo que demore muito para se despir, se lança vestido e calçado na água, para que assim matasse na água o fogo que nele ardia. Camões canta os encontros dos portugueses com as ninfas na Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Outra ninfa, se mostrando envergonha assim como ficou Diana, esconde seu corno na água, enquanto outra se apressa para pegar os vestidos que tem fora. Um dos portugueses, temendo que demore muito para se despir, se lança vestido e calçado na água, para que assim matasse na água o fogo que nele ardia.
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Esses foram os nossos comentários sobre a sexagésima quarta até a septuagésima terceira estrofe do nono canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que os portugueses desembarcam na Ilha dos Amores e encontram as ninfas nereidas.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.