Neste nosso septuagésimo oitavo comentário sobre Os Lusíadas, começaremos a ler o décimo canto da obra, onde Camões canta que, após ficarem juntos, os portugueses e as ninfas se juntam num banquete na Ilha dos Amores.
CANTO X – ESTROFE 1
“Anoitece na Ilha dos Amores”
Mas já o claro amador da Larisseia
Adúltera inclinava os animais
Lá pera o grande lago que rodeia
Temistitão, nos fins ocidentais;
O grande ardor do sol favônio enfreia
C’o sopro, que nos tanques naturais
Encrespa a água serena, e despertava
Os lírios e jasmins, que a calma agrava;
Mas já o claro amador da Larisseia adúltera inclinava os animais lá pera o grande lago que rodeia Temistitão, nos fins ocidentais; O grande ardor do sol favônio enfreia c’o sopro, que nos tanques naturais encrespa a água serena, e despertava os lírios e jasmins, que a calma agrava; (1)
(1) Mas o brilhante Febo, amante da adúltera Larisseoa, já guiava os seus cavalos em direção a Ocidente, onde fica o grande lago que rodeia a cidade de Temistitão, sinalizando, assim, o pôr do sol. Zéfiro, o vento Oeste, atenuava o grande calor do sol com seus sopros e encrespa as serenas águas naturais, assim como desperta os lírios e jasmins que a calma agrava. Camões canta que o Sol já estava se pondo, dando início ao anoitecer.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Mas o brilhante Febo, amante da adúltera Larisseoa, já guiava os seus cavalos em direção a Ocidente, onde fica o grande lago que rodeia a cidade de Temistitão, sinalizando, assim, o pôr do sol. Zéfiro, o vento Oeste, atenuava o grande calor do sol com seus sopros e encrespa as serenas águas naturais, assim como desperta os lírios e jasmins que a calma agrava.
CANTO X – ESTROFE 2
“Após ficarem juntos, as ninfas levam os portugueses para um banquete no palácio de cristal”
Quando as fermosas ninfas, c’os amantes
Pela mão, já conformes e contentes,
Subiam pera os paços radiantes,
E de metais ornados reluzentes,
Mandados pela rainha, que abundantes
Mesas d’altos manjares excelentes
Lhe tinha aparelhadas, que a fraqueza
Restaurem da cansada natureza.
Quando as fermosas ninfas, c’os amantes pela mão, já conformes e contentes, subiam pera os paços radiantes, e de metais ornados reluzentes, mandados pela rainha, que abundantes mesas d’altos manjares excelentes lhe tinha aparelhadas, que a fraqueza restaurem da cansada natureza. (1)
(1) O Sol já estava indo descansar quando as formosas ninfas, estando resignadas e contentes levavam os seus amantes portugueses pelas mãos até o radiante palácio de cristal, este que estava ornamentado com metias brilhantes. As ninfas e os portugueses foram chamados por Tétis para um abundante e fino banquete, para que assim restaurassem as suas forças. Camões canta que as ninfas e os portugueses sobem até o palácio na Ilha dos Amores para participar de um grandioso banquete.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O Sol já estava indo descansar quando as formosas ninfas, estando resignadas e contentes levavam os seus amantes portugueses pelas mãos até o radiante palácio de cristal, este que estava ornamentado com metias brilhantes. As ninfas e os portugueses foram chamados por Tétis para um abundante e fino banquete, para que assim restaurassem as suas forças.
CANTO X – ESTROFE 3
“Os portugueses e as ninfas sentam-se juntos”
Ali, em cadeiras ricas cristalinas,
Se assentam dous e dous, amante e dama;
Noutras, à cabeceira, d’ ouro finas,
Está co’a bela deusa o claro Gama.
De iguarias suaves e divinas,
A quem não chega à egípcia antiga fama,
Se acumulam os pratos de fulvo ouro,
Trazidos lá do atlântico tesouro.
Ali, em cadeiras ricas cristalinas, se assentam dous e dous, amante e dama; noutras, à cabeceira, d’ ouro finas, está co’a bela deusa o claro Gama. De iguarias suaves e divinas, a quem não chega à egípcia antiga fama, se acumulam os pratos de fulvo ouro, trazidos lá do atlântico tesouro. (1)
(1) No palácio da Ilha dos Amores, as ninfas e os portugueses de dois em dois em ricas cadeiras de cristal; noutras finas cadeiras de ouro, à cabeceira, está o capitão Vasco da Gama junto com a bela Tétis. Em pratos de ouro que trazidos lá do tesouro do fundo do mar são servidas iguarias suaves e divinas, estas que nem a antiga fama egípcia chega perto. Camões descreve o banquete que acontece no palácio da Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
No palácio da Ilha dos Amores, as ninfas e os portugueses de dois em dois em ricas cadeiras de cristal; noutras finas cadeiras de ouro, à cabeceira, está o capitão Vasco da Gama junto com a bela Tétis. Em pratos de ouro que trazidos lá do tesouro do fundo do mar são servidas iguarias suaves e divinas, estas que nem a antiga fama egípcia chega perto.
CANTO X – ESTROFE 4
“São servidos os vinhos mais saborosos do mundo”
Os vinhos odoríferos, que acima
Estão, não só do itálico Falerno,
Mas da ambrósia, que Jove tanto estima
Com todo o ajuntamento sempiterno,
Nos vasos onde em vão trabalha a lima,
Crespas escumas erguem, que no interno
Coração movem súbita alegria,
Saltando co’a mistura d’água fria.
Os vinhos odoríferos, que acima estão, não só do itálico Falerno, mas da ambrósia, que Jove tanto estima com todo o ajuntamento sempiterno, nos vasos onde em vão trabalha a lima, crespas escumas erguem, que no interno coração movem súbita alegria, saltando co’a mistura d’água fria. (1)
(1) Os cheirosos vinhos servidos eram superiores, não só aos dos italianos, mas da própria ambrosia, esta que é muito estimada por Júpiter e por todos os outros deuses. Estavam em vasos de diamante, com crespas bolhas subindo nele, sendo estas que geram uma súbita alegria nos corações, saltando com mistura d’água fria. Camões descreve o banquete que acontece no palácio da Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Os cheirosos vinhos servidos eram superiores, não só aos dos italianos, mas da própria ambrosia, esta que é muito estimada por Júpiter e por todos os outros deuses. Estavam em vasos de diamante, com crespas bolhas subindo nele, sendo estas que geram uma súbita alegria nos corações, saltando com mistura d’água fria.
CANTO X – ESTROFE 5
“Os portugueses alegremente conversam com as ninfas”
Mil práticas alegres se trocavam,
Risos doces, sutis e argoutos ditos,
Que entre um e outro manjar se alevantavam,
Despertando os alegres apetitos.
Músicos instrumentos não faltavam,
(Quais no profundo reino os nus esp’ritos
Fizeram descansar da eterna pena)
C’uma voz d’uma angélica Sirena.
Mil práticas alegres se trocavam, risos doces, sutis e argoutos ditos, que entre um e outro manjar se alevantavam, despertando os alegres apetitos. Músicos instrumentos não faltavam, (quais no profundo reino os nus esp’ritos fizeram descansar da eterna pena) c’uma voz d’uma angélica Sirena. (1)
(1) As ninfas e os seus portugueses trocavam mil conversas e doces risos, sendo sutis e engraçados ditos que, entre um e outro prato que era servido, só despertava ainda mais os alegres espíritos. Não faltavam instrumentos musicais no palácio que, por serem tocados junto com uma angélica voz de Sereia, fariam as almas sem corpo que estão no fundo do inferno descanar. Camões descreve o banquete que acontece no palácio da Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
As ninfas e os seus portugueses trocavam mil conversas e doces risos, sendo sutis e engraçados ditos que, entre um e outro prato que era servido, só despertava ainda mais os alegres espíritos. Não faltavam instrumentos musicais no palácio que, por serem tocados junto com uma angélica voz de Sereia, fariam as almas sem corpo que estão no fundo do inferno descanar.
CANTO X – ESTROFE 6
“Uma ninfa sereia começa a cantar”
Cantava a bela ninfa, e c’os acentos
Que pelos altos paços vão soando,
Em consonância igual aos instrumentos
Suaves vêm a um tempo conformando.
Um súbito silêncio enfreia os ventos,
E faz ir docemente murmurando
As águas, e nas casas naturais
Adormecer os brutos animais.
Cantava a bela ninfa, e c’os acentos que pelos altos paços vão soando, em consonância igual aos instrumentos suaves vêm a um tempo conformando. Um súbito silêncio enfreia os ventos, e faz ir docemente murmurando as águas, e nas casas naturais adormecer os brutos animais. (1)
(1) A bela ninfa sereia cantava, sendo que os acentos de sua voz iam soando pelo suntuoso palácio em consonância com o som dos suaves instrumentos. Por causa da música, uma súbita calmaria corre pelos ventos e que segue murmurando pelas águas até chegar nas florestas, adormecendo os brutos animais. Camões descreve o banquete que acontece no palácio da Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
A bela ninfa sereia cantava, sendo que os acentos de sua voz iam soando pelo suntuoso palácio em consonância com o som dos suaves instrumentos. Por causa da música, uma súbita calmaria corre pelos ventos e que segue murmurando pelas águas até chegar nas florestas, adormecendo os brutos animais.
CANTO X – ESTROFE 7
“A ninfa, já tendo sabido do futuro, canta os louvores dos futuros varões portugueses”
Com doce voz está subindo ao céu
Altos varões, que estão por vir ao mundo,
Cujas claras ideias viu Proteu
Num globo vão, diáfano, rotundo,
Que Júpiter em dom lho concedeu.
Em sonhos, e depois no reino fundo
Vaticinando o disse; e na memória
Recolheu logo a ninfa a clara história.
Com doce voz está subindo ao céu altos varões, que estão por vir ao mundo, cujas claras ideias viu Proteu num globo vão, diáfano, rotundo, que Júpiter em dom lho concedeu. Em sonhos, e depois no reino fundo vaticinando o disse; e na memória recolheu logo a ninfa a clara história. (1)
(1) Com seu canto, a ninfa louva os futuros grandes varões portugueses, pois o deus Proteu viu suas imagens num globo oco, diáfano e rotundo que lhe foi concedido por Júpiter. E Proteu, estando no profundo reino dos mares, disse em sonhos, com a ninfa guardando na memória está brilhante história. Camões canta que a ninfa sereia canta louvores aos grandes senhores portugueses que ainda vão nascer.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Com seu canto, a ninfa louva os futuros grandes varões portugueses, pois o deus Proteu viu suas imagens num globo oco, diáfano e rotundo que lhe foi concedido por Júpiter. E Proteu, estando no profundo reino dos mares, disse em sonhos, com a ninfa guardando na memória está brilhante história.
CANTO X – ESTROFE 8
“Camões pede, mais uma vez, inspiração às musas para cantar os futuros feitos dos varões portugueses.”
Matéria é de coturno e não de soco,
A que a ninfa aprendeu no imenso lago,
Qual Iopas não soube, ou Demodoco,
Entre as Feaces um, outro em Cartago.
Aqui, minha Calíope, te invoco
Neste trabalho extremo, por que em pago
Me tornes do que escrevo, e em vão pretendo,
O gosto de escrever, que vou perdendo.
Matéria é de coturno e não de soco, a que a ninfa aprendeu no imenso lago, qual Iopas não soube, ou Demodoco, entre as Feaces um, outro em Cartago. Aqui, minha Calíope, te invoco neste trabalho extremo, por que em pago me tornes do que escrevo, e em vão pretendo, o gosto de escrever, que vou perdendo. (1)
(1) O assunto que a ninfa iria contar é coisa nobre, e não vulgar, pois ela descobriu ao ouvi-lo de Proteu no imenso mar, sendo que este assunto nem saberia contar o poeta Iopas, nem Demodoco, um que viveu entre as feaces e um outro em Cartago. Aqui, mais uma vez te invoco, minha Calíope, sendo que agora preciso de sua ajuda para fazer esse trabalho extremo e, como pagamento, que me devolva a vontade de escrever, vontade está que tendo conservas, mas que vou perdendo. Camões canta a ninfa, como soube do futuro por Proteu, contara os grandes feitos que os portugueses realizarão no Orientes; Camões também pede, mais uma vez, inspiração das musas.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O assunto que a ninfa iria contar é coisa nobre, e não vulgar, pois ela descobriu ao ouvi-lo de Proteu no imenso mar, sendo que este assunto nem saberia contar o poeta Iopas, nem Demodoco, um que viveu entre as feaces e um outro em Cartago. Aqui, mais uma vez te invoco, minha Calíope, sendo que agora preciso de sua ajuda para fazer esse trabalho extremo e, como pagamento, que me devolva a vontade de escrever, vontade está que tendo conservas, mas que vou perdendo.
CANTO X – ESTROFE 9
“Camões pede que Calíope inspire os seus versos”
Vão os anos descendo, e já do estio
Há pouco que passar até o outuno;
A fortuna me faz engenho frio,
Do qual já não me jacto, nem me abono;
Os desgostos me vão levando ao rio
Do negro esquecimento e eterno sono;
Mas tu me dá que cumpra, ó grã rainha
Das Musas, c’o que quero à nação minha!
Vão os anos descendo, e já do estio há pouco que passar até o outuno; a fortuna me faz engenho frio, do qual já não me jacto, nem me abono; os desgostos me vão levando ao rio do negro esquecimento e eterno sono; mas tu me dá que cumpra, ó grã rainha das Musas, c’o que quero à nação minha! (1)
(1) Os meus anos vão passando, sendo que se aproxima o fim da minha maturidade e o início da minha velhice; a má sorte atrapalha os talentos, pois já sinto que não posso nem mais me gabar. Como os desgostos desta vida vão me levando para o meu fim, peço que tu, ó grande Calíope, rainha das Musas, conceda-me mais uma vez a inspiração para que meus versos cumpram o bem para minha nação. Camões pede, mais uma vez, que Calíope, a rainha das musas, abençoe os versos, já que agora ele caminha para concluir a sua obra.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Os meus anos vão passando, sendo que se aproxima o fim da minha maturidade e o início da minha velhice; a má sorte atrapalha os talentos, pois já sinto que não posso nem mais me gabar. Como os desgostos desta vida vão me levando para o meu fim, peço que tu, ó grande Calíope, rainha das Musas, conceda-me mais uma vez a inspiração para que meus versos cumpram o bem para minha nação.
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a primeira até a nona estrofe do décimo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que, após ficarem juntos, os portugueses e as ninfas se juntam num banquete na Ilha dos Amores.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.