Neste nosso septuagésimo nono comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o décimo canto da obra, onde Camões canta que a ninfa sereia começa a cantar os futuros feitos dos portugueses no Oriente, mencionando as glórias de Duarte Pacheco.

OS LUSÍADAS OS FUTUROS E GRANDES FEITOS DE DUARTE PACHECO
Os futuros e grandes feitos de Duarte Pacheco

CANTO X – ESTROFE 10

“A ninfa sereia, ao cantar sobre o futuro, diz que frotas portuguesas iriam atravessar o caminho feito pelo capitão Vasco da Gama para conquistar o Oriente”

 

Cantava a bela deusa que viriam

Do Tejo pelo mar que o Gama abrira,

Armadas que as ribeiras venceriam,

Por onde o Oceano Índico suspira;

E que os gentios reis, que não dariam

A cerviz sua ao jugo, e ferro ira

Provariam do braço duro e forte,

Até render-se a ele, ou logo à morte.

 

Cantava a bela deusa que viriam do Tejo pelo mar que o Gama abrira, armadas que as ribeiras venceriam, por onde o Oceano Índico suspira; e que os gentios reis, que não dariam a cerviz sua ao jugo, e ferro ira provariam do braço duro e forte, até render-se a ele, ou logo à morte. (1)

(1) A bela ninfa sereia, ao cantar o futuro que Proteu viu, diz que os portugueses, vindos da região do Tejo, atravessariam com suas armadas os mares pelos caminhos abertos pelo capitão Vasco da Gama descobriu e tomariam as praias tocadas pelo Oceano Índico. Os reis gentios que não aceitassem serem vassalos desses senhores enfrentariam o duro e forte braço e provariam a ira do ferro até que se rendessem ou morressem. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que os portugueses conquistarão as terras do Oriente.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

A bela ninfa sereia, ao cantar o futuro que Proteu viu, diz que os portugueses, vindos da região do Tejo, atravessariam com suas armadas os mares pelos caminhos abertos pelo capitão Vasco da Gama descobriu e tomariam as praias tocadas pelo Oceano Índico. Os reis gentios que não aceitassem serem vassalos desses senhores enfrentariam o duro e forte braço e provariam a ira do ferro até que se rendessem ou morressem.

CANTO X – ESTROFE 11

“A ninfa sereia diz que um aliado indiano dos portugueses será atacado pelo rei Samorim”

 

Cantava dum, que tem nos Malabares

Do sumo sacerdócio a dignidade,

Que só por não quebrar c’os singulares

Barões os nós que dera d’amizade,

Sofrerá suas cidades e lugares

Com ferro, incêndios, ira e crueldade

Ver destruir do Samorim potente,

Que tais ódios terá co’a nova gente.

 

Cantava dum, que tem nos Malabares do sumo sacerdócio a dignidade, que só por não quebrar c’os singulares barões os nós que dera d’amizade, sofrerá suas cidades e lugares com ferro, incêndios, ira e crueldade ver destruir do Samorim potente, que tais ódios terá co’a nova gente. (1)

(1) A ninfa sereia canta que, na região de Malabar, um rei gentio que também é o sumo sacerdote, por não querer romper o laço de amizade que fez com os portugueses, verá as suas cidades e aldeias serem incendiadas e destruídas pela crueldade e pelo ferro do poderoso rei Samorim, já que este odeia os portugueses. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que um aliado dos portugueses na Índia será atacado por outros indianos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

A ninfa sereia canta que, na região de Malabar, um rei gentio que também é o sumo sacerdote, por não querer romper o laço de amizade que fez com os portugueses, verá as suas cidades e aldeias serem incendiadas e destruídas pela crueldade e pelo ferro do poderoso rei Samorim, já que este odeia os portugueses.

CANTO X – ESTROFE 12

“A ninfa canta que, em resposta a esse ataque, o grande Duarte Pacheco seria aquele que resolveria esses conflitos”

 

E canta como lá se embarcaria

Em Belém o remédio deste dano,

Sem saber o que em si ao mar traria,

O grão Pacheco, Aquiles lusitano.

O peso sentirão, quando entraria,

O curvo lenho, e o férvido oceano,

Quando mais n’água os troncos, que gemerem,

Contra sua natureza se meterem.

 

E canta como lá se embarcaria em Belém o remédio deste dano, sem saber o que em si ao mar traria, o grão Pacheco, Aquiles lusitano. O peso sentirão, quando entraria, o curvo lenho, e o férvido oceano, quando mais n’água os troncos, que gemerem, contra sua natureza se meterem. (1)

(1) E a ninfa sereia canta que, na praia de Belém, embarcaria o rumo ao Oriente o grão Duarte Pacheco Pereira, o Aquiles lusitano, para que acabasse com esses conflitos, embora nem ele mesmo soubesse o seu grande valor. Quando ele entrasse a bordo, a embarcação e o férvido oceano sentiriam o seu peso, tanto que se contorceriam os mastros e as águas perceberiam que isso não é natural. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que o grande Duarte Pacheco Pereira resolveria os conflitos que aconteciam em Cochim, na Índia.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

E a ninfa sereia canta que, na praia de Belém, embarcaria o rumo ao Oriente o grão Duarte Pacheco Pereira, o Aquiles lusitano, para que acabasse com esses conflitos, embora nem ele mesmo soubesse o seu grande valor. Quando ele entrasse a bordo, a embarcação e o férvido oceano sentiriam o seu peso, tanto que se contorceriam os mastros e as águas perceberiam que isso não é natural.

CANTO X – ESTROFE 13

“A ninfa conta que o Duarte Pacheco, mesmo com poucos soldados, conseguiu vencer o inimigo indiano”

 

Mas já chegado aos fins orientais,

E deixado em ajuda do gentio

Rei de Cochim com poucos naturais,

Nos braços do salgado e curvo rio,

Desbaratará os Naires infernais

No passo do Cambalão, tornando frio

D’espanto o ardor imenso do Oriente,

Que verá tanto obrar tão pouca gente,

 

Mas já chegado aos fins orientais, e deixado em ajuda do gentio rei de Cochim com poucos naturais, nos braços do salgado e curvo rio, desbaratará os Naires infernais no passo do Cambalão, tornando frio d’espanto o ardor imenso do Oriente, que verá tanto obrar tão pouca gente (1)

(1) Mas o bravo Pacheco, já tendo chegado nas distantes terras do Oriente e lutando ao lado do rei gentio de Cochim com apenas alguns poucos soldados, derrotou os infernais guerreiros Naires no Estreito de Cabalam; este feito foi tão surpreendente que até esfriou os quentes ares do Oriente, já foi feito por tão pouca gente. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que os grandes feitos que serão realizados por Duarte Pacheco Pereira no Oriente.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Mas o bravo Pacheco, já tendo chegado nas distantes terras do Oriente e lutando ao lado do rei gentio de Cochim com apenas alguns poucos soldados, derrotou os infernais guerreiros Naires no Estreito de Cabalam; este feito foi tão surpreendente que até esfriou os quentes ares do Oriente, já foi feito por tão pouca gente.

CANTO X – ESTROFE 14

“A ninfa conta que o rei Samorim convoca um gigantesco exército para derrotar Duarte Pacheco”

 

Chamará o Samorim mais gente nova;

Virão reis de Bijur e de Tanor,

Das serras da Narsinga, que alta prova

Estarão prometendo a seu senhor.

Fará que todo o Naire enfim se mova,

Que entre Calecut jaz e Cananor,

D’ambas as leis imigas, pera a guerra,

Mouros por mar, gentios pola terra.

 

Chamará o Samorim mais gente nova; virão reis de Bijur e de Tanor, das serras da Narsinga, que alta prova estarão prometendo a seu senhor. Fará que todo o Naire enfim se mova, que entre Calecut jaz e Cananor, d’ambas as leis imigas, pera a guerra, mouros por mar, gentios pola terra. (1)

(1) O rei Samorim de Calecut, querendo destruir Cochim, convoca mais aliados; chegam as forças dos reis de Bijur e de Tanor, este que vem das serras da Narsinga e que promete alta prova de obediência ao seu suserano. Para conquistar sua vitória, o rei Samorim convocará para guerra todos Naires que vivem entre Calecut e Cananor; além disso, também convoca de homens das duas religiões inimigas do Cristianismo, sendo os mouros pelo mar, enquanto os gentios pela terra. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que o rei Samorim de Calecut, querendo destruir os portugueses e seus aliados em Cochim, convoca uma grande força para ataca-los.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O rei Samorim de Calecut, querendo destruir Cochim, convoca mais aliados; chegam as forças dos reis de Bijur e de Tanor, este que vem das serras da Narsinga e que promete alta prova de obediência ao seu suserano. Para conquistar sua vitória, o rei Samorim convocará para guerra todos Naires que vivem entre Calecut e Cananor; além disso, também convoca de homens das duas religiões inimigas do Cristianismo, sendo os mouros pelo mar, enquanto os gentios pela terra.

CANTO X – ESTROFE 15

“A ninfa conta que, apesar dos grandes números do rei Samorim, Duarte Pacheco mais uma vez vence o rei gentio”

 

E todos outra vez desbaratando

Por terra e mar o grão Pacheco ousado,

A grande multidão, que irá matando,

A todo Malabar terá admirado.

Cometerá outra vez, não dilatando,

O gentio os combates apressado,

Injuriando os seus, fazendo votos

Em vão aos deuses vãos, surdos e imotos.

 

E todos outra vez desbaratando por terra e mar o grão Pacheco ousado, a grande multidão, que irá matando, a todo Malabar terá admirado. Cometerá outra vez, não dilatando, o gentio os combates apressado, injuriando os seus, fazendo votos em vão aos deuses vãos, surdos e imotos. (1)

(1) E toda essa multidão de inimigos, mais uma vez, serão derrotados e mortos, tanto no mar quanto na terra, pelo grande e ousado Pacheco, tendo ele ganhado a admiração de toda a população de Malabar. O rei Samorim, sendo muito apressado, mais uma vez tentou um ataque, porém só conseguir ferir seus companheiros e fazer votos vãos aos seus deuses vãos, surdos e imóveis. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que o rei Samorim de Calecut foi mais uma vez derrotado pelo grande Pachego; o rei indiano tentou outros ataques, sendo todos eles fracassados.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

E toda essa multidão de inimigos, mais uma vez, serão derrotados e mortos, tanto no mar quanto na terra, pelo grande e ousado Pacheco, tendo ele ganhado a admiração de toda a população de Malabar. O rei Samorim, sendo muito apressado, mais uma vez tentou um ataque, porém só conseguir ferir seus companheiros e fazer votos vãos aos seus deuses vãos, surdos e imóveis.

CANTO X – ESTROFE 16

“A ninfa conta que o grande Pacheco continua enfrentando e derrotando as forças do rei Samorim”

 

Já não defenderá somente os passos,

Mas queimar-lhes-á lugares, templo, casas:

Aceso da ira o cão, não vendo lassos

Aqueles que as cidades fazem rasas,

Fará que os seus, de vida pouco escassos,

Cometam o Pacheco, que tem asas,

Por dous passos num tempo: mas voando

Num noutro, tudo irá desbaratando.

 

Já não defenderá somente os passos, mas queimar-lhes-á lugares, templo, casas: aceso da ira o cão, não vendo lassos aqueles que as cidades fazem rasas, fará que os seus, de vida pouco escassos, cometam o Pacheco, que tem asas, por dous passos num tempo: mas voando num noutro, tudo irá desbaratando. (1)

(1) O grande Pacheco não defenderá somente os passos, mas também queimará lugares, templos e casas. O rei Samorim, como um cão tomado pela ira, ao ver que os portugueses não se exaurem ao destruir as suas cidades, fará com que os companheiros que tem pouco apresso pela vida ataquem o Pacheco por dois passos ao mesmo tempo; mas o Pacheco, como se tivesse asas, destrói os inimigos nos dois lados. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que o rei Samorim de Calecut será derrotado várias vezes pelo Pacheco.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O grande Pacheco não defenderá somente os passos, mas também queimará lugares, templos e casas. O rei Samorim, como um cão tomado pela ira, ao ver que os portugueses não se exaurem ao destruir as suas cidades, fará com que os companheiros que tem pouco apresso pela vida ataquem o Pacheco por dois passos ao mesmo tempo; mas o Pacheco, como se tivesse asas, destrói os inimigos nos dois lados.

CANTO X – ESTROFE 17

“A ninfa conta que os esforços e artimanhas do rei Samorim contra Duarte Pacheco serão todos fracassados”

 

Virá ali Samorim, por que em pessoa

Veja a batalha e os seus esforce e anime;

Mas um tiro, que com zunido voa,

De sangue o tingirá no andor sublime.

Já não verá remédio ou manha boa,

Nem força, que o Pacheco muito estime;

Inventará traições e vãos venenos;

Mas sempre (o Céu querendo) fará menos;

 

Virá ali Samorim, por que em pessoa veja a batalha e os seus esforce e anime; mas um tiro, que com zunido voa, de sangue o tingirá no andor sublime. Já não verá remédio ou manha boa, nem força, que o Pacheco muito estime; inventará traições e vãos venenos; mas sempre (o Céu querendo) fará menos; (1)

(1) O rei Samorim vira nesta batalha contra o grande Pacheco para que, em pessoa, veja a conflito e animar os soldados com seu esforço; porém, com um tiro, que voa com um zunido, o monarca indiano é coberto pelo sangue dos serviçais do seu séquito. Samorim não conseguira encontrar uma solução, artimanha ou força que possa superar Pacheco; tentará inventar traições e vãos venenos, mas, como o Céu protegendo os portugueses, ele não realizara o que deseja. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que o rei Samorim de Calecut fracassará em todas as suas tentativas de destruir o grande Pacheco.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

O rei Samorim vira nesta batalha contra o grande Pacheco para que, em pessoa, veja a conflito e animar os soldados com seu esforço; porém, com um tiro, que voa com um zunido, o monarca indiano é coberto pelo sangue dos serviçais do seu séquito. Samorim não conseguira encontrar uma solução, artimanha ou força que possa superar Pacheco; tentará inventar traições e vãos venenos, mas, como o Céu protegendo os portugueses, ele não realizara o que deseja.

CANTO X – ESTROFE 18

“A ninfa conta que o rei Samorim faz uma sétima tentativa de ataque contra Duarte Pacheco”

 

Que tornará a vez sétima, cantavam,

Pelejar c’o invicto e forte Luso,

A quem nenhum trabalho pesa e agrava;

Mas contudo este só o fará confuso:

Trará pera a batalha horrenda e brava

Máquinas de madeiros fora de uso,

Para lhe abalroar as caravelas,

Que até ‘li vão lhe fora cometê-las.

 

Que tornará a vez sétima, cantavam, pelejar c’o invicto e forte Luso, a quem nenhum trabalho pesa e agrava; mas contudo este só o fará confuso: trará pera a batalha horrenda e brava máquinas de madeiros fora de uso, para lhe abalroar as caravelas, que até ‘li vão lhe fora cometê-las. (1)

(1) Canta a ninfa sereia que o rei Samorim de Calecut, pela sétima vez, lutará contra o invicto e forte Pacheco, este que não sente dificuldade ou cansaço. Na verdade, ele apenas deixa o monarca indiano envergonhado, pois o monarca indiano trará para o combate antigas máquinas de guerra de madeira para abordar as naus portuguesas que até aquele momento ele não conseguiu vencer. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que o rei Samorim de Calecut tentará, mais outra vez, enfrentar o grande Pacheco.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Canta a ninfa sereia que o rei Samorim de Calecut, pela sétima vez, lutará contra o invicto e forte Pacheco, este que não sente dificuldade ou cansaço. Na verdade, ele apenas deixa o monarca indiano envergonhado, pois o monarca indiano trará para o combate antigas máquinas de guerra de madeira para abordar as naus portuguesas que até aquele momento ele não conseguiu vencer.

CANTO X – ESTROFE 19

“A ninfa conta que, mesmo com o uso de máquinas de guerra, o rei Samorim não consegue vencer Duarte Pacheco”

 

Pela água levará serras de fogo,

Para abrasar-lhe quanta armada tenha;

Mas a militar arte e engenho logo

Fará ser vã a braveza com que venha.

Nenhum claro barão no márcio jogo,

Que nas asas a fama se sustenha,

Chega a este, que a palma todos toma,

E perdoe-me a ilustre Grécia ou Roma.

 

Pela água levará serras de fogo, para abrasar-lhe quanta armada tenha; mas a militar arte e engenho logo fará ser vã a braveza com que venha. Nenhum claro barão no márcio jogo, que nas asas a fama se sustenha, chega a este, que a palma todos toma, e perdoe-me a ilustre Grécia ou Roma. (1)

(1) Querendo queimar a armada de Pacheco, Samorim levará serras de fogo pelas águas, mas o esforço e a estratégia militar do capitão português farão vã a braveza do monarca indiano. Nenhum dos grandes comandantes militares que são conhecido chegam aos pés de Pacheco; e perdoem-me ilustres heróis Gregos e Romanos. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, profetiza que o rei Samorim de Calecut falhará em seu novo plano para destruir os portugueses; Camões diz que nenhum comandante militar da história se igualou ao grande Duarte Pacheco.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Querendo queimar a armada de Pacheco, Samorim levará serras de fogo pelas águas, mas o esforço e a estratégia militar do capitão português farão vã a braveza do monarca indiano. Nenhum dos grandes comandantes militares que são conhecido chegam aos pés de Pacheco; e perdoem-me ilustres heróis Gregos e Romanos.

CANTO X – ESTROFE 20

“A ninfa canta que os feitos militares de Duarte Pacheco são tão impressionantes que até parecem fábulas”

 

“Por que tantas batalhas, sustentadas

Com muito pouco mais de cem soldados,

Com tamanhas manhas e artes inventadas,

Tantos cães não imbeles profligados,

Ou parecerão fábulas sonhadas,

Ou que os celestes coros invocados

Descerão a ajudá-lo, e lhe darão

Esforço, força, ardil e coração.

 

“Por que tantas batalhas, sustentadas com muito pouco mais de cem soldados, com tamanhas manhas e artes inventadas, tantos cães não imbeles profligados, ou que parecerão fábulas sonhadas, ou que os celestes coros invocados descerão a ajudá-lo, e lhe darão esforço, força, ardil e coração. (1)

(1) Canta a bela ninfa: “Duarte Pacheco é superior aos grandes comandos por que, em diversas batalhas que lutou, tinha apenas um pouco mais de cem soldados e teve que enfrentar inúmeras artinhas e trapaças; venceu tantos bravos inimigos que o seu relato parecerá uma fábula inventada ou que ele teve ajuda celeste em seus combates, sendo agraciado com esforço, força, astúcia e coragem. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, glorifica Duarte Pacheco como o maior dos comandantes.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Canta a bela ninfa: “Duarte Pacheco é superior aos grandes comandos por que, em diversas batalhas que lutou, tinha apenas um pouco mais de cem soldados e teve que enfrentar inúmeras artinhas e trapaças; venceu tantos bravos inimigos que o seu relato parecerá uma fábula inventada ou que ele teve ajuda celeste em seus combates, sendo agraciado com esforço, força, astúcia e coragem.

CANTO X – ESTROFE 21

“A ninfa diz que os feitos de Duarte Pacheco são muito superiores aos dos grandes generais do passado”

 

“Aquele que nos campos maratônios

O grão poder de Dário estruí e rende;

Ou quem com quatro mil Lacedemônios

O passo de Termópilas defende;

Nem o mancebo Cocles dos Ausônios,

Que com todo o poder tusco contente

Em defesa da ponte, ou do Quinto Fábio,

Foi como este na guerra forte e sábio.”

 

“Aquele que nos campos maratônios o grão poder de Dário estruí e rende; ou quem com quatro mil Lacedemônios o passo de Termópilas defende; nem o mancebo Cocles dos Ausônios, que com todo o poder tusco contente em defesa da ponte, ou do Quinto Fábio, foi como este na guerra forte e sábio.” (1)

(1) “Mesmo o grande general Melcíades, que venceu o grande o poderoso rei Dário nos campos de Maratona; mesmo o grande rei Leônidas, que defendeu as Termópilas com apenas quatro mil espartanos; Mesmo o mancebo Cocles, dos Ausônios, que defendeu uma ponte contra todo poder do exército tusco; ou mesmo o grande Quinto Fábio, nenhum destes grandes comandantes foi tão forte e sábio quanto Duarte Pacheco.” Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, glorifica Duarte Pacheco como o maior dos comandantes.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Mesmo o grande general Melcíades, que venceu o grande o poderoso rei Dário nos campos de Maratona; mesmo o grande rei Leônidas, que defendeu as Termópilas com apenas quatro mil espartanos; Mesmo o mancebo Cocles, dos Ausônios, que defendeu uma ponte contra todo poder do exército tusco; ou mesmo o grande Quinto Fábio, nenhum destes grandes comandantes foi tão forte e sábio quanto Duarte Pacheco.”

CANTO X – ESTROFE 22

“A ninfa começa a falar sobre os infortúnios de Duarte Pacheco”

 

Mas neste passo a ninfa, o som canoro

Abaixando, fez ronco e entristecido,

Cantando em baixa voz, envolta em choro,

O grande esforço mal agradecido:

“Ó Belisário (disse), que no coro

Das Musas serás sempre engrandecido,

Se em ti viste abatido o bravo Marte,

Aqui tens com quem podes consolar-te!

 

Mas neste passo a ninfa, o som canoro abaixando, fez ronco e entristecido, cantando em baixa voz, envolta em choro, o grande esforço mal agradecido: “Ó Belisário (disse), que no coro das Musas serás sempre engrandecido, se em ti viste abatido o bravo Marte, aqui tens com quem podes consolar-te! (1)

(1) Mas, no palácio da Ilha dos Amores, a ninfa sereia interrompe o seu canto e, deixando-o rouco e entristecido, canta quase chorando o mau agradecimento do esforço: “Ó Belisário, que sempre foi engradecido no canto das Musas, se por acaso tenha ofendido o bravo Marte, saiba que tens algum que pode te consolar! Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, para de falar as glórias de Duarte Pacheco para começar a cantar seus infortúnios.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

Mas, no palácio da Ilha dos Amores, a ninfa sereia interrompe o seu canto e, deixando-o rouco e entristecido, canta quase chorando o mau agradecimento do esforço: “Ó Belisário, que sempre foi engradecido no canto das Musas, se por acaso tenha ofendido o bravo Marte, saiba que tens algum que pode te consolar!

CANTO X – ESTROFE 23

“A ninfa canta que, apesar de seus grandes feitos, Duarte de Pacheco não será devidamente recompensado”

 

“Aqui tens companheiro, assi nos feitos,

Como no galardão injusto e duro.

Em ti e nele veremos altos peitos

A baixo estado vir, humilde e escuro!

Morrer nos hospitais, em pobres leitos,

Os que o rei e à lei servem de muro!

Isso fazem os reis cuja vontade

Manda mais que a justiça e que a verdade,

 

“Aqui tens companheiro, assi nos feitos, como no galardão injusto e duro. Em ti e nele veremos altos peitos a baixo estado vir, humilde e escuro! Morrer nos hospitais, em pobres leitos, os que o rei e à lei servem de muro! Isso fazem os reis cuja vontade manda mais que a justiça e que a verdade, (1)

(1) “Aqui, Belisário, tens o grande Duarte Pacheco como companheiro, pois ele também realizou grandes feitos e foi pagado com duro e injustiça. Em ti e nele veremos dois grandes homens que morreram na pobre e miséria! Apesar de terem sido os muros que defendem o rei e à lei, morreram em pobres leitos de hospitais, pois é isso que fazem os monarcas em que a vontade é mais forte que a justiça e que a verdade. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, comenta o quão mau recompensado Duarte Pacheco foi pelos seus grandes feitos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Aqui, Belisário, tens o grande Duarte Pacheco como companheiro, pois ele também realizou grandes feitos e foi pagado com duro e injustiça. Em ti e nele veremos dois grandes homens que morreram na pobre e miséria! Apesar de terem sido os muros que defendem o rei e à lei, morreram em pobres leitos de hospitais, pois é isso que fazem os monarcas em que a vontade é mais forte que a justiça e que a verdade.

CANTO X – ESTROFE 24

“A ninfa lamenta que os reis não reconheçam aqueles que sejam devidamente merecidos”

 

“Isto fazem os Reis, quando embebidos

Numa aparência branda, que os contenta,

Dão os prêmios, Aiace merecidos,

À língua vã de Ulisses fraudulenta.

Mas vingo-me; que os bens mal repartidos

Por quem só doces sombras apresenta,

Se não os dão a sábios cavaleiros,

Dão-os logo a avarentos lisonjeiros.

 

“Isto fazem os Reis, quando embebidos numa aparência branda, que os contenta, dão os prêmios, Aiace merecidos, à língua vã de Ulisses fraudulenta. Mas vingo-me; que os bens mal repartidos por quem só doces sombras apresenta, se não os dão a sábios cavaleiros, dão-os logo a avarentos lisonjeiros. (1)

(1) “Quando estão embebidos numa aparência branda que os contenta, os reis não dão o devido valor aos seus heróis, vide o caso de Ulisses que, graças a sua língua vã e fraudulenta, recebeu o prêmio de Ajax. Mas vingo-me, já que as recompensas que são entregues para quem somente apresenta uma boa imagem, em vês de serem entregues aos sábios cavaleiros, acabam caindo nas mãos de avarentos lisonjeiros. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, comenta o quão mau recompensado Duarte Pacheco foi pelos seus grandes feitos.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Quando estão embebidos numa aparência branda que os contenta, os reis não dão o devido valor aos seus heróis, vide o caso de Ulisses que, graças a sua língua vã e fraudulenta, recebeu o prêmio de Ajax. Mas vingo-me, já que as recompensas que são entregues para quem somente apresenta uma boa imagem, em vês de serem entregues aos sábios cavaleiros, acabam caindo nas mãos de avarentos lisonjeiros.

CANTO X – ESTROFE 25

“A ninfa diz que ela sempre cantará as glórias do grande Duarte Pacheco”

 

“Mas tu, de quem ficou tão mal pagado

Um tal vassalo, ó rei só nisto inico,

Se não és pera dar-lhe honroso estado,

É ele pera dar-te um reino rico.

Enquanto for o mundo rodeado

Dos apolíneos raios, eu te fico

Que ele seja entre a gente ilustre e claro,

E tu nisto culpado por avaro.

 

“Mas tu, de quem ficou tão mal pagado um tal vassalo, ó rei só nisto inico, se não és pera dar-lhe honroso estado, é ele pera dar-te um reino rico. Enquanto for o mundo rodeado dos apolíneos raios, eu te fico que ele seja entre a gente ilustre e claro, e tu nisto culpado por avaro. (1)

(1) “Mas tu, ó rei D. Manoel, que foste injusto ao recompensar tão mal este grande vassalo, pois ele foi Duarte Pacheco que tornou seu reino rico. Digo que, enquanto o mundo for rodeado pelos raios do Sol, eu prometo e afirmo que ele será lembrado como um ilustre português, enquanto tu serás acusado de avareza. Camões canta que a ninfa sereia, enquanto canta no palácio na Ilha dos Amores, comenta o quão mau recompensado Duarte Pacheco foi pelo rei D. Manoel.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Mas tu, ó rei D. Manoel, que foste injusto ao recompensar tão mal este grande vassalo, pois ele foi Duarte Pacheco que tornou seu reino rico. Digo que, enquanto o mundo for rodeado pelos raios do Sol, eu prometo e afirmo que ele será lembrado como um ilustre português, enquanto tu serás acusado de avareza.

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Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.

Os Lusíadas (Edição Didática) - Volume I e II – Editora Concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I

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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a décima até vigésima quinta estrofe do décimo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que a ninfa sereia começa a cantar os futuros feitos dos portugueses no Oriente, mencionando as glórias de Duarte Pacheco.

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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