Neste nosso octogésimo quarto comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o décimo canto da obra, onde Camões canta que Tétis revela a máquina do mundo criado por Deus para o capitão Vasco da Gama.
CANTO X – ESTROFE 75
“Depois de terminado o banquete e a longa canção da ninfa sereia, Tétis fala com o capitão Vasco da Gama”
Depois que a corporal necessidade
Se satisfez do mantimento nobre,
E na harmônica e doce suavidade
Viram os altos feitos, que descobre
Tétis, de graça ornada e gravidade,
Pera que com mais alta glória dobre
As festas deste alegre e claro dia,
Pera o felice Gama assim dizia:
Depois que a corporal necessidade se satisfez do mantimento nobre, e na harmônica e doce suavidade viram os altos feitos, que descobre Tétis, de graça ornada e gravidade, pera que com mais alta glória dobre as festas deste alegre e claro dia, pera o felice Gama assim dizia: (1)
(1) Depois que as necessidades corporais foram satisfeitas com o nobre banquete e depois de serem ditos, com a harmônica e suave voz da ninfa, os grandes feitos que os portugueses irão realizar, Tétis, ornamentada com graça e suavidade para que aumentar com glória a alegria deste dia festivo, assim diz para o capitão Vasco da Gama. Camões canta que, já tendo sido feito o grandiosos banquete e canto as futuras glórias portuguesas, Tétis se prepara para falar com o capitão Vasco da Gama.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Depois que as necessidades corporais foram satisfeitas com o nobre banquete e depois de serem ditos, com a harmônica e suave voz da ninfa, os grandes feitos que os portugueses irão realizar, Tétis, ornamentada com graça e suavidade para que aumentar com glória a alegria deste dia festivo, assim diz para o capitão Vasco da Gama.
CANTO X – ESTROFE 76
“Tétis diz que o capitão Vasco da Gama, por seus grandes feitos, merece obter o conhecimento supremo e pede para ele segui-la”
“Faz-te mercê, barão, a sapiência
Suprema de, c’os corporais,
Veres o que não pode a vã ciência
Dos errados e míseros mortais.
Segue-me firme e forte, com prudência,
Por este monte espesso, tu c’os mais.”
Assi lhe diz, e o guia por um mato
Árduo, difícil, duro a humano trato.
“Faz-te mercê, barão, a sapiência suprema de, c’os corporais, veres o que não pode a vã ciência dos errados e míseros mortais. Segue-me firme e forte, com prudência, por este monte espesso, tu c’os mais.” Assi lhe diz, e o guia por um mato árduo, difícil, duro a humano trato. (1)
(1) “Faz-te merecedor, capitão Vasco da Gama, do supremo conhecimento dos corpos celestes e, assim, poder ver o que a vã ciência dos míseros e errados mortais não consegue. Siga-me agora com firmeza, força e prudência por este espesso morro”. Desta forma lhe diz Tétis, enquanto o guia por entre uma vegetação que é árdua, difícil e dura para o homem. Camões canta que Tétis convida o capitão Vasco da Gama para conhecer o supremo conhecimento das esferas celestes.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Faz-te merecedor, capitão Vasco da Gama, do supremo conhecimento dos corpos celestes e, assim, poder ver o que a vã ciência dos míseros e errados mortais não consegue. Siga-me agora com firmeza, força e prudência por este espesso morro”. Desta forma lhe diz Tétis, enquanto o guia por entre uma vegetação que é árdua, difícil e dura para o homem.
CANTO X – ESTROFE 77
“Tétis leve o capitão Vasco da Gama para o alto de um morro; ali então surge um globo que flutua no ar”
Não andam muito, que no erguido cume
Se acharam, onde um campo se esmaltava
De esmeraldas, rubis tais que presume
A vista que divino chão pisava.
Aqui um globo vem no ar, que lume
Claríssimo por ele penetrava,
De modo que o seu centro está evidente,
Como a sua superfície, claramente.
Não andam muito, que no erguido cume se acharam, onde um campo se esmaltava de esmeraldas, rubis tais que presume a vista que divino chão pisava. Aqui um globo vem no ar, que lume claríssimo por ele penetrava, de modo que o seu centro está evidente, como a sua superfície, claramente. (1)
(1) Gama e Tétis não andam muito, pois logo chegam ao topo do monte e encontram uma planície esmaltada de esmeraldas e rubis, fazendo-o presumir que eles pisavam num chão divino. Aqui vem um globo pelo ar e que a lume penetrava por ele, de modo que ficava evidente o seu centro e a sua superfície. Camões canta que o Tétis leva o capitão Vasco da Gama ao topo de morro que repleto de pedras preciosas; também surge no ar uma esfera transparente.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Gama e Tétis não andam muito, pois logo chegam ao topo do monte e encontram uma planície esmaltada de esmeraldas e rubis, fazendo-o presumir que eles pisavam num chão divino. Aqui vem um globo pelo ar e que a lume penetrava por ele, de modo que ficava evidente o seu centro e a sua superfície.
CANTO X – ESTROFE 78
“O globo que flutua é transparente e composto de vários orbes”
Qual a matéria seja não se enxerga,
Mas enxerga-se bem que está composto
De vários orbes, que divina verga
Compôs, e um centro a todos tem só posto.
Volvendo, ora se abaixe, agora se erga,
Nunca s’ergue, ou se abaixa, e um mesmo rosto
Por toda a parte tem, e em toda a parte
Começa e acha enfim, por divina arte:
Qual a matéria seja não se enxerga, mas enxerga-se bem que está composto de vários orbes, que divina verga compôs, e um centro a todos tem só posto. Volvendo, ora se abaixe, agora se erga, nunca s’ergue, ou se abaixa, e um mesmo rosto por toda a parte tem, e em toda a parte começa e acha enfim, por divina arte: (1)
(1) O globo é feito de uma matéria que não é possível ver, embora enxerga-se que ele é composto de vários orbes feitos pela força divina e que a todos em um centro só. Volvendo, ora o globo se abaixa, ora ele se ergue, nunca se ergue ou se abaixo; tem um mesmo rosto por toda a parte, sendo que em toda a parte, por divina arte, começa e se acha. Camões descreve o globo transparente que está no topo do morro na Ilha dos Amores.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
O globo é feito de uma matéria que não é possível ver, embora enxerga-se que ele é composto de vários orbes feitos pela força divina e que a todos em um centro só. Volvendo, ora o globo se abaixa, ora ele se ergue, nunca se ergue ou se abaixo; tem um mesmo rosto por toda a parte, sendo que em toda a parte, por divina arte, começa e se acha.
CANTO X – ESTROFE 79
“O capitão Vasco da gama fica pasmado ao ver o globo; Tétis lhe diz que ele é uma cópia do mundo e um presente para ele”
Uniforme, perfeito, em si sustido,
Qual enfim o arquétipo que o criou.
Vendo o Gama este globo, comovido,
De espanto e de desejo ali ficou.
Diz-lhe a deusa: “O transunto reduzido
Em pequeno volume aqui te dou
Do mundo os olhos teus, para que vejas
Por onde vás e irás, e o que desejas.
Uniforme, perfeito, em si sustido, qual enfim o arquétipo que o criou. Vendo o Gama este globo, comovido, de espanto e de desejo ali ficou. Diz-lhe a deusa: “O transunto reduzido em pequeno volume aqui te dou do mundo os olhos teus, para que vejas por onde vás e irás, e o que desejas. (1)
(1) Ao ver esse globo que, por ser criado por uma força superior, é uniforme, perfeito e em si sustido, o capitão Vasco da Gama fica comovido e espantado, pois desejava entende-lo. Assim lhe diz Tétis: “Dou aqui aos teus olhos uma cópia pequena do mundo, para que assim vejas por ai vai e irás, assim como para que saiba o que desejas. Camões canta que o capitão Vasco da Gama fica impressionado com o globo; Tétis então diz que ele é uma cópia do mundo e que será dado para ele.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
Ao ver esse globo que, por ser criado por uma força superior, é uniforme, perfeito e em si sustido, o capitão Vasco da Gama fica comovido e espantado, pois desejava entende-lo. Assim lhe diz Tétis: “Dou aqui aos teus olhos uma cópia pequena do mundo, para que assim vejas por ai vai e irás, assim como para que saiba o que desejas.
CANTO X – ESTROFE 80
“Tétis diz que o globo é a máquina do mundo criada por Deus”
“Vês aqui a grande máquina do mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assim foi do saber alto e profundo,
Que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo e superfície tão limada,
É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende;
Que a tanto o engenho humano não se estende.
“Vês aqui a grande máquina do mundo, etérea e elemental, que fabricada assim foi do saber alto e profundo, que é sem princípio e meta limitada. Quem cerca em derredor este rotundo globo e superfície tão limada, é Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende; que a tanto o engenho humano não se estende. (1)
(1) “Aqui vês a grande, etérea e elemental máquina do mundo, esta que foi fabricada por, Deus, o alto e profundo saber que existe sem princípio e sem limites. Quem cerca este rotundo globo e sua ilimitada superfície é Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende, pois não é possível para as capacidades do ser humano. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama que o globo é a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Aqui vês a grande, etérea e elemental máquina do mundo, esta que foi fabricada por, Deus, o alto e profundo saber que existe sem princípio e sem limites. Quem cerca este rotundo globo e sua ilimitada superfície é Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende, pois não é possível para as capacidades do ser humano.
CANTO X – ESTROFE 81
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Este orbe, que primeiro vai cercando
Os outros mais pequenos, que em si tem,
Que está com luz tão clara radiando,
Que a vista cega, e a mente vil também,
Empíreo se nomeia, onde logrando
Puras almas estão daquele bem
Tamanho, que ele só entende e alcança,
De quem não há no mundo semelhança.
“Este orbe, que primeiro vai cercando os outros mais pequenos, que em si tem, que está com luz tão clara radiando, que a vista cega, e a mente vil também, Empíreo se nomeia, onde logrando puras almas estão daquele bem tamanho, que ele só entende e alcança, de quem não há no mundo semelhança. (1)
(1) “Este orbe, que se chama Empíreo, vai cercando os outros mais pequenos e, em si, tem uma luz tão clara que, ao irradiar, cega a vista e até a mente, sendo que somente as puras amas podem alcança-lo. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Este orbe, que se chama Empíreo, vai cercando os outros mais pequenos e, em si, tem uma luz tão clara que, ao irradiar, cega a vista e até a mente, sendo que somente as puras amas podem alcança-lo.
CANTO X – ESTROFE 82
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Aqui só verdadeiros gloriosos
Divos estão: porque eu, Saturno e Jano,
Júpiter, Juno, fomos fabulosos,
Fingidos de mortal e cego engano.
Só pera fazer versos deleitosos
Servimos; e se mais o trato humano
Nos pode dar, é só que o nome nosso
Nestas estrelas pôs o engano vosso;
“Aqui só verdadeiros gloriosos divos estão: porque eu, Saturno e Jano, Júpiter, Juno, fomos fabulosos, fingidos de mortal e cego engano. Só pera fazer versos deleitosos servimos; e se mais o trato humano nos pode dar, é só que o nome nosso nestas estrelas pôs o engano vosso; (1)
(1) “No Empíreo, estão somente os verdadeiros divos: porque eu, Saturno e Jano, Júpiter e Juno fomos invenções fantásticas criadas pelos mortais em seu cego engano. Servimos apenas para ilustrar os versos deleitosos e, se mais os homens podem nos dar, é colocar nossos nomes nestas estrelas. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“No Empíreo, estão somente os verdadeiros divos: porque eu, Saturno e Jano, Júpiter e Juno fomos invenções fantásticas criadas pelos mortais em seu cego engano. Servimos apenas para ilustrar os versos deleitosos e, se mais os homens podem nos dar, é colocar nossos nomes nestas estrelas.
CANTO X – ESTROFE 83
“Tétis explica como funciona o mundo”
“E também porque a Santa Providência,
Que em Júpiter aqui se representa,
Por espíritos mil que tem prudência,
Governa o mundo todo que sustenta.
Ensina-lo a profética ciência
Em muitos dos exemplos que apresenta:
Os que são bons, guiando favorecem,
Os maus, em quanto podem, nos empecem.
“E também porque a Santa Providência, que em Júpiter aqui se representa, por espíritos mil que tem prudência, governa o mundo todo que sustenta. Ensina-lo a profética ciência em muitos dos exemplos que apresenta: os que são bons, guiando favorecem, os maus, em quanto podem, nos empecem. (1)
(1) “É assim porque a Santa Providência, que é aqui representada por Júpiter, é quem governa o mundo, fazendo-o por meio de mil espíritos, este que são bons e maus. A Bíblia, sendo a profética ciência, ensina por meio de muitos exemplos que os bons espíritos nos favorecem, enquanto os maus nos prejudicam. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“É assim porque a Santa Providência, que é aqui representada por Júpiter, é quem governa o mundo, fazendo-o por meio de mil espíritos, este que são bons e maus. A Bíblia, sendo a profética ciência, ensina por meio de muitos exemplos que os bons espíritos nos favorecem, enquanto os maus nos prejudicam.
CANTO X – ESTROFE 84
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Quer logo aqui a pintura, que varia,
Agora deleitando, ora ensinando,
Dar-lhe nomes que a antiga poesia
A seus deuses já dera, fabulando:
Que os anjos de celeste companhia
‘Deuses’ o sacro verso está chamando;
Nem nega que esse nome preeminente
Também aos maus se dá, falsamente.
“Quer logo aqui a pintura, que varia, agora deleitando, ora ensinando, dar-lhe nomes que a antiga poesia a seus deuses já dera, fabulando: que os anjos de celeste companhia ‘deuses’ o sacro verso está chamando; nem nega que esse nome preeminente também aos maus se dá, falsamente. (1)
(1) “A representação que aqui varia, ora deleitando e ora ensinando, tem o nome daqueles deuses mencionados nas fábulas da antiga poesia, pois os versos sagrados chama ‘deuses’ os anjos companhia celestes; também se dá aos anjos maus. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“A representação que aqui varia, ora deleitando e ora ensinando, tem o nome daqueles deuses mencionados nas fábulas da antiga poesia, pois os versos sagrados chama ‘deuses’ os anjos companhia celestes; também se dá aos anjos maus.
CANTO X – ESTROFE 85
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Enfim que o Sumo Deus, que por segundas
Causas obra no mundo, tudo manda.
E tornando a contar-te das profundas
Obras da mão divina veneranda,
Debaixo deste círculo, onde as mundas
Almas divinas gozam, que não anda,
Outro corre tão leve e tão ligeiro,
Que não se enxerga: é o primeiro mobile.
“Enfim que o Sumo Deus, que por segundas causas obra no mundo, tudo manda. E tornando a contar-te das profundas obras da mão divina veneranda, debaixo deste círculo, onde as mundas almas divinas gozam, que não anda, outro corre tão leve e tão ligeiro, que não se enxerga: é o primeiro mobile. (1)
(1) “É o Sumo Deus que, enfim, manda em tudo, pois ele é a causa das coisas do mundo. Mas, voltando a contar-te o que sei sobre as profundas obras feitas pela venerada mão divina, veja que debaixo deste círculo que não anda e que é onde gozam as mundanas almas divinas, está primeiro mobile, que é tão leve e ligeiro que não o enxergamos. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“É o Sumo Deus que, enfim, manda em tudo, pois ele é a causa das coisas do mundo. Mas, voltando a contar-te o que sei sobre as profundas obras feitas pela venerada mão divina, veja que debaixo deste círculo que não anda e que é onde gozam as mundanas almas divinas, está primeiro mobile, que é tão leve e ligeiro que não o enxergamos.
CANTO X – ESTROFE 86
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Com este rapto e grande movimento
Vão todos os que dentro tem no seio.
Pôr obra deste, o Sol andando a tento,
O dia e a noite faz, com curso alheio.
Debaixo deste leve anda outro lento,
Tão lento e sojugado a duro freio,
Que enquanto Febo, de luz nunca escasso,
Duzentos cursos faz, dá ele um passo.
“Com este rapto e grande movimento vão todos os que dentro tem no seio. Pôr obra deste, o Sol andando a tento, o dia e a noite faz, com curso alheio. Debaixo deste leve anda outro lento, tão lento e sojugado a duro freio, que enquanto Febo, de luz nunca escasso, duzentos cursos faz, dá ele um passo. (1)
(1) “O primeiro móvel, por causa de seu rápido e grande movimento, faz andar todos os círculos que tem dentro de seu seio; por causa deste movimento, o Sol anda regularmente, fazendo o dia e a noite. Em baixo do primeiro móvel anda outro que é tão lento e reprimido por um duro freio que, enquanto o Sol faz duzentos círculos, este faz apenas um. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O primeiro móvel, por causa de seu rápido e grande movimento, faz andar todos os círculos que tem dentro de seu seio; por causa deste movimento, o Sol anda regularmente, fazendo o dia e a noite. Em baixo do primeiro móvel anda outro que é tão lento e reprimido por um duro freio que, enquanto o Sol faz duzentos círculos, este faz apenas um.
CANTO X – ESTROFE 87
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Olha estoutro debaixo, que esmaltado
De corpos lisos anda radiantes
Que também nele têm curso ordenado,
E nos seus axes corem cintilantes.
Bem vês como se veste, e faz ornado
C’o largo cinto d’ouro, que estrelantes
Animais doze traz afigurados,
Aposentos de Febo limitados.
“Olha estoutro debaixo, que esmaltado de corpos lisos anda radiantes que também nele têm curso ordenado, e nos seus axes corem cintilantes. Bem vês como se veste, e faz ornado c’o largo cinto d’ouro, que estrelantes animais doze traz afigurados, aposentos de Febo limitados. (1)
(1) “Olha este outro que é esmaltado de lisas e radiantes estrelas, sendo que estas têm seu curso ordenado, correndo em eixos cintilantes. Bem vês como ele está ornado com um largo cinto d’outro e com constelações de doze animais: são os limitados aposentos do Sol. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha este outro que é esmaltado de lisas e radiantes estrelas, sendo que estas têm seu curso ordenado, correndo em eixos cintilantes. Bem vês como ele está ornado com um largo cinto d’outro e com constelações de doze animais: são os limitados aposentos do Sol.
CANTO X – ESTROFE 88
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Olha por outras partes a pintura
Que as estrelas fulgentes vão fazendo;
Olha a Carreta, atenta a Cinosura,
Andrômeda e seu pai, e o Drago horrendo;
Vê Cassiopéia a fermosura,
E de Orionte o gesto metuendo;
Olha o Cisne morrendo que suspira,
A Lebre, os Cães, a Nau e a doce Lira.
“Olha por outras partes a pintura que as estrelas fulgentes vão fazendo; olha a Carreta, atenta a Cinosura, Andrômeda e seu pai, e o Drago horrendo; vê Cassiopéia a fermosura, e de Orionte o gesto metuendo; olha o Cisne morrendo que suspira, a Lebre, os Cães, a Nau e a doce Lira. (1)
(1) “Olha por outras partes a pintura que as fulgentes estrelas vão fazendo; veja a Ursa Maior que olha atenta a Ursa Menor, Andrômeda e seu pai, e o horrendo; vê a fermosa Cassiopéia, e o gesto metuendo de Orionte; olha o Cines que morre suspirando; olha a Lebre, os Cães, a Nau e a doce Lira. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha por outras partes a pintura que as fulgentes estrelas vão fazendo; veja a Ursa Maior que olha atenta a Ursa Menor, Andrômeda e seu pai, e o horrendo; vê a fermosa Cassiopéia, e o gesto metuendo de Orionte; olha o Cines que morre suspirando; olha a Lebre, os Cães, a Nau e a doce Lira.
CANTO X – ESTROFE 89
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Debaixo deste grande firmamento
Vês o céu Saturno, deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
E Marte abaixo, bélico inimigo;
O claro olho do céu no quarto assento,
E Vênus, que os amores traz consigo;
Mercúrio, de eloquência soberana;
Com três rostos debaixo vai Diana.
“Debaixo deste grande firmamento vês o céu Saturno, deus antigo; Júpiter logo faz o movimento, e Marte abaixo, bélico inimigo; o claro olho do céu no quarto assento, e Vênus, que os amores traz consigo; Mercúrio, de eloquência soberana; com três rostos debaixo vai Diana. (1)
(1) “Debaixo deste grande firmamento vês o céu de Saturno, o deus antigo; Júpiter logo faz o movimento, enquanto Marte, o bélico inimigo, está logo abaixo; o Sol, claro olho do céu, está no quarto assento, vindo depois Vênus, esta que traz o amor consigo; depois dele vem Mercúrio, com sua eloquência soberana e, por fim, debaixo vai Diana com três rostos. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Debaixo deste grande firmamento vês o céu de Saturno, o deus antigo; Júpiter logo faz o movimento, enquanto Marte, o bélico inimigo, está logo abaixo; o Sol, claro olho do céu, está no quarto assento, vindo depois Vênus, esta que traz o amor consigo; depois dele vem Mercúrio, com sua eloquência soberana e, por fim, debaixo vai Diana com três rostos.
CANTO X – ESTROFE 90
“Tétis explica como funciona o mundo”
“Em todos estes orbes diferente
Curso verás, nuns grave e noutros leve;
Ora fogem do centro longamente,
Ora da terra estão caminho breve;
Bem como quis o Padre onipotente,
Que o fogo fez, e o ar, e o vento e neve,
Os quais verás que jazem mais a dentro,
E tem, c’o mar, a terra por seu centro.
“Em todos estes orbes diferente curso verás, nuns grave e noutros leve; ora fogem do centro longamente, ora da Terra estão caminho breve; bem como quis o Padre onipotente, que o fogo fez, e o ar, e o vento e neve, os quais verás que jazem mais a dentro, e tem, c’o mar, a terra por seu centro. (1)
(1) “Verás que todos esses orbes fazem cursos diferentes, sendo um mais graves, enquanto outros são mais breves; ora eles se afastam do centro, ora estão próximas da Terra. Como quis e fez o Padre onipotente, ficavam mais a dentro o fogo, o ar, o vento e a neve, tendo eles o mar e a terra no seu centro. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Verás que todos esses orbes fazem cursos diferentes, sendo um mais graves, enquanto outros são mais breves; ora eles se afastam do centro, ora estão próximas da Terra. Como quis e fez o Padre onipotente, ficavam mais a dentro o fogo, o ar, o vento e a neve, tendo eles o mar e a terra no seu centro.
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Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre a septuagésima quinta até a nonagésima estrofe do décimo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que Tétis revela a máquina do mundo criado por Deus para o capitão Vasco da Gama.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.