Neste nosso octogésimo sétimo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos a ler o décimo canto da obra, onde Camões canta que Tétis termina de mostrar as terras do Oriente para o capitão Vasco da Gama.
CANTO X – ESTROFE 120
“Tétis, continuando a mostrar o mundo para o capitão Vasco da Gama, continua mostrando as terras do Oriente”
“Mas passo esta matéria perigosa,
E tornemos à costa debuxada.
Já com esta cidade tão famosa,
Se faz curva gangética enseada.
Corre Narsinga rica e poderosa,
Corre Orixa de roupas abastada;
No fundo da enseada, o ilustre rio
Ganges vem ao salgado senhorio:
“Mas passo esta matéria perigosa, e tornemos à costa debuxada. Já com esta cidade tão famosa, se faz curva gangética enseada. Corre Narsinga rica e poderosa, corre Orixa de roupas abastada; No fundo da enseada, o ilustre rio Ganges vem ao salgado senhorio: (1)
(1) “Mas, deixando de falar desse terrível evento, voltemos comenta à costa indiana. A famosa cidade de Meliapor faz curva na enseada do rio Ganges; corre a rica e poderosa Narsinga, assim como Orixa, rica por causa de suas roupas. No fundo da enseada, o ilustre rio Ganges vem encontrar o salgado mar. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas, deixando de falar desse terrível evento, voltemos comenta à costa indiana. A famosa cidade de Meliapor faz curva na enseada do rio Ganges; corre a rica e poderosa Narsinga, assim como Orixa, rica por causa de suas roupas. No fundo da enseada, o ilustre rio Ganges vem encontrar o salgado mar.
CANTO X – ESTROFE 121
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Ganges, no qual os seus habitadores
Morrem banhados, tendo por certeza
Que, inda que sejam grandes pescadores,
Está água santa os lava e os dá pureza.
Vê Castigão, cidade das melhores
De Bengala, província que se preza
De abundante; mas olha, que está posta
Pera o Austro daqui virada a costa.
“Ganges, no qual os seus habitadores morrem banhados, tendo por certeza que, inda que sejam grandes pescadores, está água santa os lava e os dá pureza. Vê Castigão, cidade das melhores de Bengala, província que se preza de abundante; mas olha, que está posta pera o Austro daqui virada a costa. (1)
(1) “O Ganges é o rio que seus habitantes morrem se afogando, pois acreditam que, ainda que sejam pescadores, as suas águas sagradas os lava e os dá pureza. Veja a cidade de Castigão, que é a melhor cidade da abundante província de Bengala, esta que, como pode ver, está com sua costa virada para o Sul. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“O Ganges é o rio que seus habitantes morrem se afogando, pois acreditam que, ainda que sejam pescadores, as suas águas sagradas os lava e os dá pureza. Veja a cidade de Castigão, que é a melhor cidade da abundante província de Bengala, esta que, como pode ver, está com sua costa virada para o Sul.
CANTO X – ESTROFE 122
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Olha o reino de Arracão, olha o assento
De Pegu, que já monstros povoaram;
Monstros filhos do feio ajuntamento
Duma mulher e um cão, que a sós se acharam.
Aqui soante arame no instrumento
Da geração costumam, o que usaram
Por manha da rainha, que, inventando
Tal uso, deitou fora o error nefando.
“Olha o reino de Arracão, olha o assento de Pegu, que já monstros povoaram; monstros filhos do feio ajuntamento duma mulher e um cão, que a sós se acharam. Aqui soante arame no instrumento da geração costumam, o que usaram por manha da rainha, que, inventando tal uso, deitou fora o error nefando. (1)
(1) “Olha o reino de Arracão e a capital Pegu, que já foi povoada por monstros que nasceram da união de uma mulher e de um cão que naufragaram sozinhos. Os seus habitantes tenham o costume de trazer os instrumentos de ferro, os mesmos que a rainha de Sodoma utilizou para encantar os homens, livrando-os da sodomia. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha o reino de Arracão e a capital Pegu, que já foi povoada por monstros que nasceram da união de uma mulher e de um cão que naufragaram sozinhos. Os seus habitantes tenham o costume de trazer os instrumentos de ferro, os mesmos que a rainha de Sodoma utilizou para encantar os homens, livrando-os da sodomia.
CANTO X – ESTROFE 123
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Olha Tavai, cidade onde começa
De Sião largo o império tão comprido;
Tenassari, Quedá, que é só cabeça
Das que pimenta tem ali produzido.
Mais avante fareis que se conheça
Malaca por empório enobrecido,
Onde toda a província do mar grande
Suas mercadorias ricas mande.
“Olha Tavai, cidade onde começa de Sião largo o império tão comprido; Tenassari, Quedá, que é só cabeça das que pimenta tem ali produzido. Mais avante fareis que se conheça Malaca por empório enobrecido, onde toda a província do mar grande suas mercadorias ricas mande. (1)
(1) “Olha a cidade de Tavai, onde começa o grande e comprido império de Sião; olha Tenassari e Quedá, que sozinha é a cabeça das pimentas produzidas na região. Mais adiante no futuro fazeis que Malaca fique conhecida por ser um nobre empório, pois todas as províncias do grande mar da Índia mandarão suas mercadorias. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha a cidade de Tavai, onde começa o grande e comprido império de Sião; olha Tenassari e Quedá, que sozinha é a cabeça das pimentas produzidas na região. Mais adiante no futuro fazeis que Malaca fique conhecida por ser um nobre empório, pois todas as províncias do grande mar da Índia mandarão suas mercadorias.
CANTO X – ESTROFE 124
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Dizem que desta terra, c’o as possantes
Ondas do mar entrando, dividiu
A nobre ilha Samatra, que já dantes
Juntas ambas a gente antiga viu.
Quersonesco foi dita, e das prestantes
Veias d’ouro que a terra produziu,
‘Aurea’ por epíteto lhe ajuntaram.
Alguns que fosse Ofir imaginaram.
“Dizem que desta terra, c’o as possantes ondas do mar entrando, dividiu a nobre ilha Samatra, que já dantes juntas ambas a gente antiga viu. Quersonesco foi dita, e das prestantes veias d’ouro que a terra produziu, ‘aurea’ por epíteto lhe ajuntaram. Alguns que fosse Ofir imaginaram. (1)
(1) “Dizem que o mar, com as suas poderosas ondas, dividiu a nobre ilha de Samatra, pois os antigos diziam que antes elas estavam juntas. Malaca, que já foi chamada de Quersonesco, já ganhou o epiteto de ‘aurea’ por causa das excelentes veias de ouro que sua terra produziu. Alguns imaginaram que Malaca fosse Ofir. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Dizem que o mar, com as suas poderosas ondas, dividiu a nobre ilha de Samatra, pois os antigos diziam que antes elas estavam juntas. Malaca, que já foi chamada de Quersonesco, já ganhou o epiteto de ‘aurea’ por causa das excelentes veias de ouro que sua terra produziu. Alguns imaginaram que Malaca fosse Ofir.
CANTO X – ESTROFE 125
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Mas na porta da terra Cingapura
Verás, onde o caminho às naus se estreita:
Daqui tomando a costa Cinosura,
Se encurva, e pera a Aurora se endireita.
Vês Pam, Patene, reinos, e a longura
De Sião, que estes e outros mais sujeita.
Olha o rio Menão, que se derrama
Do grande lago que Chiamai se chama.
“Mas na porta da terra Cingapura verás, onde o caminho às naus se estreita: daqui tomando a costa Cinosura, se encurva, e pera a Aurora se endireita. Vês Pam, Patene, reinos, e a longura de Sião, que estes e outros mais sujeita. Olha o rio Menão, que se derrama do grande lago que Chiamai se chama. (1)
(1) “Mas logo na entrada de Cingapura veras o caminho das naus se estreito; daqui a costa de Cinosura se encurva e vai se endireitando para o Leste. Vês os reinos de Pam, Patene e as extensas terras de Sião, que sujeita esses e outros reinos. Olha o rei Menão, que se derrama no grande lago Chiamai. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Mas logo na entrada de Cingapura veras o caminho das naus se estreito; daqui a costa de Cinosura se encurva e vai se endireitando para o Leste. Vês os reinos de Pam, Patene e as extensas terras de Sião, que sujeita esses e outros reinos. Olha o rei Menão, que se derrama no grande lago Chiamai.
CANTO X – ESTROFE 126
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Vês neste grão terreno os diferentes
Nomes de mil nações nunca sabidas;
Os Laos, em terra e número potentes,
Avás, Bramás, por serras tão compridas.
Vês nos remotos montes outras gentes,
Que Gueos se chamam, de selvagens vidas:
Humana carne comem, mas a sua
Pintam com ferro ardente, usança crua.
“Vês neste grão terreno os diferentes nomes de mil nações nunca sabidas; os Laos, em terra e número potentes, avás, bramás, por serras tão compridas. Vês nos remotos montes outras gentes, que Gueos se chamam, de selvagens vidas: humana carne comem, mas a sua pintam com ferro ardente, usança crua. (1)
(1) “Vês neste enorme território o nome de mil nações desconhecidas; os Laos, que são poderosos em terras e número; vê os avás e bramás em serras tão compridas. Vês nos distantes montes os selvagens povos guéus, que tem o hábito cruel de comer carne humana e pintar a própria pele com ferro ardente. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vês neste enorme território o nome de mil nações desconhecidas; os Laos, que são poderosos em terras e número; vê os avás e bramás em serras tão compridas. Vês nos distantes montes os selvagens povos guéus, que tem o hábito cruel de comer carne humana e pintar a própria pele com ferro ardente.
CANTO X – ESTROFE 127
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Vês, passa por Camboja Mecom rio,
Que ‘capitão das águas’ se interpreta;
Tantos recebe d’outro só no estio,
Que alaga os campos largos, e inquieta.
Tem as enchentes quais o Nilo frio;
A gente dele crê, como indiscreta,
Que pena e glória têm depois de morte
Os brutos animais de toda a sorte.
“Vês, passa por Camboja Mecom rio, que ‘capitão das águas’ se interpreta; tantos recebe d’outro só no estio, que alaga os campos largos, e inquieta. Tem as enchentes quais o Nilo frio; a gente dele crê, como indiscreta, que pena e glória têm depois de morte os brutos animais de toda a sorte. (1)
(1) “Vês que passa pelo Camboja rio Mecom, que o nome significa ‘capitão das águas’; ele recebe tanta água de outros reios que alaga e inquieta os largos capôs, sendo que suas enchentes são como as do fio rio Nilo. A gente daquela região acredita que os animais de todas as espécies eram humanos transformados. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vês que passa pelo Camboja rio Mecom, que o nome significa ‘capitão das águas’; ele recebe tanta água de outros reios que alaga e inquieta os largos capôs, sendo que suas enchentes são como as do fio rio Nilo. A gente daquela região acredita que os animais de todas as espécies eram humanos transformados.
CANTO X – ESTROFE 128
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Este receberá plácido e brando
No seu regaço o Canto, que molhado
Vem do naufrágio triste e miserando,
Dos procelosos baixos escapado;
Das fomes, dos perigos grandes, quando
Será injusto o mando executado
Naquela cuja lira sonorosa
Sera mais afamada que ditosa.
“Este receberá plácido e brando no seu regaço o Canto, que molhado vem do naufrágio triste e miserando, dos procelosos baixos escapado; das fomes, dos perigos grandes, quando será injusto o mando executado naquela cuja lira sonorosa sera mais afamada que ditosa. (1)
(1) “Este rio, no seu plácido e brando regaço, recebera o poema que vem molhado do triste e miserável naufrágio que escapou de tempestades; quando a injusta governança, que resulta em fome e perigos, for executado naquele poeta suja a sonora lira é mais afamada que ditosa. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Este rio, no seu plácido e brando regaço, recebera o poema que vem molhado do triste e miserável naufrágio que escapou de tempestades; quando a injusta governança, que resulta em fome e perigos, for executado naquele poeta suja a sonora lira é mais afamada que ditosa.
CANTO X – ESTROFE 129
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Vê, corre a costa, que Champá se chama,
Cuja mata é do pau cheiroso ornada;
Vês, chauchichina está, de escura fama,
E de Ainão vê a incógnita enseada.
Aqui o soberbo império, que se afama
Com terras e riqueza não cuidada,
Da China corre, e ocupa o senhorio
Desd’ o trópico ardente ao cinto frio.
“Vê, corre a costa, que Champá se chama, cuja mata é do pau cheiroso ornada; vês, Chauchichina está, de escura fama, e de Ainão vê a incógnita enseada. Aqui o soberbo império, que se afama com terras e riqueza não cuidada, da China corre, e ocupa o senhorio desd’ o trópico ardente ao cinto frio. (1)
(1) “Vê que corre a costa que se chama Champa, e cujas as matas são ornadas de cheirosas madeirs; vês adiante a desconhecida Cochinchina e a incógnita enseada de Ainão. Nesta enseada corre o soberbo império da China, que é famoso pelas terras e riquezas inexploradas e que ocupa os territórios que vão desde o ardente Trópico de Câncer até o frio Círculo Polar Ártico. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vê que corre a costa que se chama Champa, e cujas as matas são ornadas de cheirosas madeirs; vês adiante a desconhecida Cochinchina e a incógnita enseada de Ainão. Nesta enseada corre o soberbo império da China, que é famoso pelas terras e riquezas inexploradas e que ocupa os territórios que vão desde o ardente Trópico de Câncer até o frio Círculo Polar Ártico.
CANTO X – ESTROFE 130
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Olha o muro e edifício nunca crido,
Que entre um império e outro se edifica;
Certíssimo sinal e conhecido
Da potência real, soberba e rica.
Estes, o rei que têm, não foi nascido
Príncipe, nem dos pais aos filhos fica;
Mas elegem aquele que é famoso
Por cavaleiro sábio e virtuoso.
“Olha o muro e edifício nunca crido, que entre um império e outro se edifica; certíssimo sinal e conhecido da potência real, soberba e rica. Estes, o rei que têm, não foi nascido príncipe, nem dos pais aos filhos fica; mas elegem aquele que é famoso por cavaleiro sábio e virtuoso. (1)
(1) “Olha a Muralha da China que, de tão grande e por separar dois impérios, é difícil acreditar que alguém a construiu; ela é um evidente sinal que da realeza, soberba e riqueza chinesa. No vizinho império da Mongólia, os reis não são aqueles que nasceram príncipes, pois o poder dos pais não fica de herança; eles são eleitos dentre os cavaleiros mais sábios e virtuosos. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha a Muralha da China que, de tão grande e por separar dois impérios, é difícil acreditar que alguém a construiu; ela é um evidente sinal que da realeza, soberba e riqueza chinesa. No vizinho império da Mongólia, os reis não são aqueles que nasceram príncipes, pois o poder dos pais não fica de herança; eles são eleitos dentre os cavaleiros mais sábios e virtuosos.
CANTO X – ESTROFE 131
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Inda outra muita terra se te esconde,
Até que venha o tempo de mostrar-se;
Mas não deixes no mar as ilhas onde
A natureza quis mais afamar-se.
Esta, meia escondida, que responde
De longe à China, donde vem buscar-se,
É Japão, onde nasce a prata fina,
Que ilustrada será co’a lei divina.
“Inda outra muita terra se te esconde, até que venha o tempo de mostrar-se; mas não deixes no mar as ilhas onde a natureza quis mais afamar-se. Esta, meia escondida, que responde de longe à China, donde vem buscar-se, é Japão, onde nasce a prata fina, que ilustrada será co’a lei divina. (1)
(1) “Ainda existem muitas outras terras desconhecidas que aguardam o tempo para mostra-se; mas não deixe no mar as ilhas onde a natureza parece que mais se dedicou. Uma destas terras, meio escondia e defronte à China é o Japão, cujas a fina prata será muito buscada e onde será disseminada a fé de Cristo. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Ainda existem muitas outras terras desconhecidas que aguardam o tempo para mostra-se; mas não deixe no mar as ilhas onde a natureza parece que mais se dedicou. Uma destas terras, meio escondia e defronte à China é o Japão, cujas a fina prata será muito buscada e onde será disseminada a fé de Cristo.
CANTO X – ESTROFE 132
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Olha cá pelos mares do Oriente
As infinitas ilhas espalhadas.
Vê Tidore e Ternate, c’o fervente
Cume, que lança as flamas ordenadas.
As árvores verás do cravo ardente,
C’o sangue português inda compradas.
Aqui há as áureas aves, que não descem
Nunca à terra, e só mortas aparecem.
“Olha cá pelos mares do Oriente as infinitas ilhas espalhadas. Vê Tidore e Ternate, c’o fervente cume, que lança as flamas ordenadas. As árvores verás do cravo ardente, c’o sangue português inda compradas. Aqui há as áureas aves, que não descem nunca à terra, e só mortas aparecem. (1)
(1) “Olha aqui as infinitas ilhas que estão espalhadas pelos mares do Oriente. Vê Tidore e Ternate, que tem um fervente vulcão lançando ordenadas flamas. Verás as árvores do ardente cravo que os portugueses deram o sangue para comprar. Aqui há douradas aves que nunca descem à terra e só mortas aparecem. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha aqui as infinitas ilhas que estão espalhadas pelos mares do Oriente. Vê Tidore e Ternate, que tem um fervente vulcão lançando ordenadas flamas. Verás as árvores do ardente cravo que os portugueses deram o sangue para comprar. Aqui há douradas aves que nunca descem à terra e só mortas aparecem.
CANTO X – ESTROFE 133
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Olha de Banda as ilhas, que se esmaltam
De vária cor que pinta o roxo fruto;
As aves variadas que ali saltam,
Da verde noz tomando o seu tributo.
Olha também Bornéu, onde não faltam
Lágrimas, no licor coalhado e enxuto
Das árvores, que cânfora é chamado,
Com que a ilha o nome é celebrado.
“Olha de Banda as ilhas, que se esmaltam de vária cor que pinta o roxo fruto; as aves variadas que ali saltam, da verde noz tomando o seu tributo. Olha também Bornéu, onde não faltam lágrimas, no licor coalhado e enxuto das árvores, que cânfora é chamado, com que a ilha o nome é celebrado. (1)
(1) “Olha as ilhas Banda, que estão esmaltadas com as várias cores da noz moscada e tem as várias aves que, saltando por ali, se alimenta das nozes verdes. Olha também Bornéu, que não faltam lágrimas no licor coalhado e enxuto das árvores que é chamado de cânfora e, por isso, dá o nome a ilha. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha as ilhas Banda, que estão esmaltadas com as várias cores da noz moscada e tem as várias aves que, saltando por ali, se alimenta das nozes verdes. Olha também Bornéu, que não faltam lágrimas no licor coalhado e enxuto das árvores que é chamado de cânfora e, por isso, dá o nome a ilha.
CANTO X – ESTROFE 134
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Ali também Timor, que o lenho manda
Sândalo salutífero e cheiroso:
Olha a Sunda tão larga, que uma banda
Esconde para o Sul dificultoso.
A gente do sertão, que as terras anda,
Um rio diz que tem miraculoso,
Que por onde ele só sem outro vai,
Converte em pedra o pau que nele cai.
“Ali também Timor, que o lenho manda sândalo salutífero e cheiroso: olha a Sunda tão larga, que uma banda esconde para o Sul dificultoso. A gente do sertão, que as terras anda, um rio diz que tem miraculoso, que por onde ele só sem outro vai, converte em pedra o pau que nele cai. (1)
(1) “Olha ali também Timor, que exporta a madeira do salutífero e cheiroso sândalo. Olha a larga Sunda, que esconde uma banda para o dificultoso Sul; as gentes do sertão que andam nessas terras dizem que há um rio miraculoso que, por ele vai só, transforma os paus que nele cai em pedras. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha ali também Timor, que exporta a madeira do salutífero e cheiroso sândalo. Olha a larga Sunda, que esconde uma banda para o dificultoso Sul; as gentes do sertão que andam nessas terras dizem que há um rio miraculoso que, por ele vai só, transforma os paus que nele cai em pedras.
CANTO X – ESTROFE 135
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Vê naquela que o tempo tornou ilha,
Que também flamas trêmulas vapora,
A fonte, que óleo mana, e a maravilha
Do cheiroso licor que o tronco chora;
Cheiroso mais que quando estila a filha
De Ciniras na Arábia, onde ela mora.
E vê que, tendo quando outras têm,
Branda seda e fino ouro dá também.
“Vê naquela que o tempo tornou ilha, que também flamas trêmulas vapora, a fonte, que óleo mana, e a maravilha do cheiroso licor que o tronco chora; Cheiroso mais que quando estila a filha de Ciniras na Arábia, onde ela mora. E vê que, tendo quando outras têm, branda seda e fino ouro dá também. (1)
(1) “Vê Java, a ilha que foi se formando com o tempo e que também evapora trêmulas flamas de um vulcão; vê também o petróleo que mana e o maravilhoso licor que escorre de seus troncos, este que consegue ser mais cheiroso do que goteja Mira, a filha de Ciniras na Arábia. E vê que essa ilha, além de ter o que as outras ilhas possuem, também tem a branda e seda e o fino ouro. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Vê Java, a ilha que foi se formando com o tempo e que também evapora trêmulas flamas de um vulcão; vê também o petróleo que mana e o maravilhoso licor que escorre de seus troncos, este que consegue ser mais cheiroso do que goteja Mira, a filha de Ciniras na Arábia. E vê que essa ilha, além de ter o que as outras ilhas possuem, também tem a branda e seda e o fino ouro.
CANTO X – ESTROFE 136
“Tétis mostra as terras do Oriente”
“Olha em Ceilão, que o monte se alevanta
Tanto, que as nuvens passa, ou se vista engana.
Os naturais o têm por cousa santa,
Pela pedra onde está a pegada humana.
Nas ilhas de Maldiva nasce a pranta,
No profundo das águas, soberana,
Cujo o pomo contra o veneno urgente
É tido por antídoto excelente.
“Olha em Ceilão, que o monte se alevanta tanto, que as nuvens passa, ou se vista engana. Os naturais o têm por cousa santa, pela pedra onde está a pegada humana. Nas ilhas de Maldiva nasce a pranta, no profundo das águas, soberana, cujo o pomo contra o veneno urgente é tido por antídoto excelente. (1)
(1) “Olha para Ceilão, que possui um monte que, de tão alto, passa das nuvens e se perde de vista. E nas profundezas das águas da Ilha das Maldivas nasce a soberana planta cujo o pomo é considerado um excelente antídoto para venenos. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Olha para Ceilão, que possui um monte que, de tão alto, passa das nuvens e se perde de vista. E nas profundezas das águas da Ilha das Maldivas nasce a soberana planta cujo o pomo é considerado um excelente antídoto para venenos.
CANTO X – ESTROFE 137
“Tétis mostra a Ilha de São Lourenço, que hoje é conhecida como Madagascar”
“Verás defronte estar do roxo estreito
Socotorá, c’o amaro aloé famosa;
Outras ilhas no mar também sujeito
A vós na costa de África arenosa;
Onde sai do cheiro mais perfeito
A massa, ao mundo oculta e preciosa.
De São Lourenço vê a ilha afamada,
Que Madagascar é d’alguns chamada.
“Verás defronte estar do roxo estreito Socotorá, c’o amaro aloé famosa; outras ilhas no mar também sujeito a vós na costa de África arenosa; onde sai do cheiro mais perfeito a massa, ao mundo oculta e preciosa. De São Lourenço vê a ilha afamada, que Madagascar é d’alguns chamada. (1)
(1) “Verás que em frente ao estreito do Mar Vermelho está Socotorá, que é famosa pelo amargo oloés; também verão outras ilhas na costa oriental da África que serão submetidas a vós. E é nesse mar que sai a massa do mais agradável cheiro, que é preciosa e oculta do mundo. Vê a famosa ilha de São Lourenço, está que também chamada por alguns de Madagascar. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Verás que em frente ao estreito do Mar Vermelho está Socotorá, que é famosa pelo amargo oloés; também verão outras ilhas na costa oriental da África que serão submetidas a vós. E é nesse mar que sai a massa do mais agradável cheiro, que é preciosa e oculta do mundo. Vê a famosa ilha de São Lourenço, está que também chamada por alguns de Madagascar.
CANTO X – ESTROFE 138
“Tétis termina de mostrar as terras do Oriente”
“Eis aqui as novas partes do Oriente,
Que vós outros agora ao mundo dais,
Abrindo a porta ao vasto mar patente,
Que com tão forte peito navegais.
Mas também é razão que no Ponente
Dum Lusitano um feito inda vejais,
Que de seu rei mostrando-se agravado,
Caminha há-de fazer nunca cuidado.
“Eis aqui as novas partes do Oriente, que vós outros agora ao mundo dais, abrindo a porta ao vasto mar patente, que com tão forte peito navegais. Mas também é razão que no Ponente dum Lusitano um feito inda vejais, que de seu rei mostrando-se agravado, caminha há-de fazer nunca cuidado. (1)
(1) “Eis aqui então as novas partes do Oriente que vós revelais agora ao mundo, dando um caminho pelo mar que tão bravamente navegais. Mas também é importante mencionar que um outro lusitano, navegando no Ocidente em nome de seu rei, descobrira um no caminho nunca antes imaginado. Camões canta que Tétis explica para o capitão Vasco da Gama como funciona a máquina do mundo criada por Deus.
Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:
“Eis aqui então as novas partes do Oriente que vós revelais agora ao mundo, dando um caminho pelo mar que tão bravamente navegais. Mas também é importante mencionar que um outro lusitano, navegando no Ocidente em nome de seu rei, descobrira um no caminho nunca antes imaginado.
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Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esses foram os nossos comentários sobre até a centésima quinta até a centésima décima nona estrofe do décimo canto de Os Lusíadas, onde Camões canta que Tétis termina de mostrar as terras do Oriente para o capitão Vasco da Gama.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.