Neste nosso oitavo comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos lendo o primeiro canto da obra, onde Camões canta a visita do regente de Moçambique aos lusíadas, as perguntas que ele fez ao capitão Vasco da Gama e ódio que ele começou a nutrir contra a frota protuguesa.

Os Lusíadas O encontro com regente de Moçambique
O encontro com o rengete de Moçambique

CANTO I – ESTROFE 60

 

Partia alegremente navegando,

A ver as naus ligeiras lusitanas,

Com refresco da terra, em si cuidando

Que são aquelas gentes inumanas,

Que, os apousentos cáspios habitando,

A conquistas as terras asianas

Vieram; e por ordem do Destino,

O Império tomara a Constantino.

 

“Partia alegremente navegando, a ver as naus ligeiras lusitanas, com refresco da terra (1), em si cuidando que são aquelas gentes inumanas, que, os apousentos cáspios habitando, a conquistas as terras asianas vieram; e por ordem do Destino, o Império tomara a Constantino (2).”

(1) Camões canta que, logo ao amanhecer, o regente de Moçambique foi alegremente conhecer os portugueses e suas rápidas embarcações, sendo que ele trazia consigo mantimentos (refresco) para os marinheiros visitantes;

(2) o regente ia até os portugueses crendo que eles, por serem marinheiros, eram muçulmanos (gentes inumanas) vindos do Mar Cáspio, esta que é a região daqueles que conquistaram as terras asiáticas e Constantinopla (Império de Constantino).

 

“O regente vinha alegremente para conhecer as rápidas naus portuguesas, sendo que ele carregava refresco da terra. Acreditava que esses visitantes eram os habitantes do mar Cáspio que conquistaram, por ordem do Destino, o Império de Constantino.”

CANTO I – ESTROFE 61

 

Recebe o capitão alegremente

O mouro, e toda a sua companhia;

Dá-lhe de ricas peças um presente,

Que só para este efeito já trazia;

Dá-lhe conserva doce, e da dá-lhe o ardente,

Não usado licor, que dá alegria.

Tudo o mouro contente bem recebe;

E muito mais contente come e bebe.

 

Recebe o capitão alegremente o mouro, e toda a sua companhia; dá-lhe de ricas peças um presente, que só para este efeito já trazia (1); dá-lhe conserva doce, e da dá-lhe o ardente, não usado licor, que dá alegria. Tudo o mouro contente bem recebe; e muito mais contente come e bebe (2).

(1) O capitão Vasco da Gama recebe o regente mouro e sua companhia com muita alegria e os presenteia com ricas peças, essas que eles traziam nas embarcações para este único propósito;

(2) também são servidos doces em conserva e licor para os mouros, estes que aceitam tudo com alegria e comem com muito prazer.

 

“Vasco da Gama recebe o regente mouro e sua companhia e lhes presenteia com ricas peças que carregava para este propósito, além de também servir conserva doce e licor. O mouro aceita tudo de forma contente, bebendo e comendo alegremente.”

CANTO I – ESTROFE 62

“Os lusíadas olham admirados para a companhia do regente de Moçambique, este que também olha com os estranheza os portugueses e lhes faz algumas perguntas”

 

Está a gente marítima de Luso

Subida de enxárcia, e admirada,

Notando o estrangeiro modo e uso,

E a linguagem tão bárbara e enleada.

Também o mouro astuto está confuso,

Olhando a cor, o trajo e a forte armada;

E perguntando tudo, lhe dizia

“Se por ventura vinham da Turquia.”

 

“Está a gente marítima de Luso subida de enxárcia, e admirada, notando o estrangeiro modo e uso, e a linguagem tão bárbara e enleada (1). Também o mouro astuto está confuso, olhando a cor, o trajo e a forte armada; e perguntando tudo, lhe dizia “Se por ventura vinham da Turquia.””

(1) Os portugueses subiam a enxárcia de admiração, notando os trajes dos estrangeiros, assim como sua linguagem bárbara e enleada. Camões canta que os lusíadas ficaram admirados ao conhecer os trajes e a estranha linguagem que mouros de Moçambique utilizavam. Enxárcia são o conjunto de cordas que seguram o mastro do navio; Linguagem bárbara e enleada mostra a estranheza que era para os portugueses ouvir o dialeto falado em Moçambique.

(2) O regente mouro também estava confuso ao olhar a cor dos portugueses, seus trajes e sua forte armada. Curioso ele pergunta de tudo: “Vocês vieram da Turquia?”. Camões canta que o regente mouro está confuso ao conhecer o os lusíadas, estranhando a cor de pele deles, os trajes que utilizam, bem como sua grande e impressionante frota; ele perguntou se vieram da Turquia porque o Império Otomano, na época, estava no auge de sua grandeza.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Os lusitanos subiam na enxárcia para admirar o regente e sua comitiva, notando os trajes que usavam, bem como a linguagem bárbara e aleada que falavam. O regente mouro também ficou confuso enquanto olhava para a cor, trajes e a forte armada lusitana. E a tudo perguntando, dizia “Se eles, por ventura, vinham da Turquia”

CANTO I – ESTROFE 62

 

Está a gente marítima de Luso

Subida de enxárcia, e admirada,

Notando o estrangeiro modo e uso,

E a linguagem tão bárbara e enleada.

Também o mouro astuto está confuso,

Olhando a cor, o trajo e a forte armada;

E perguntando tudo, lhe dizia

“Se por ventura vinham da Turquia.”

 

“Está a gente marítima de Luso subida de enxárcia, e admirada, notando o estrangeiro modo e uso, e a linguagem tão bárbara e enleada (1). Também o mouro astuto está confuso, olhando a cor, o trajo e a forte armada; e perguntando tudo, lhe dizia “Se por ventura vinham da Turquia.”

(1) Para ver melhor os mouros, os marinheiros portugueses se espalhavam por toda a nau, tanto que até subiam nas cordas dos mastros (enxárcia). Olhavam com admiração os trajes dos negros, assim como prestavam atenção no estranho dialeto daquela gente.

(2) o regente mouro também olha atento para os visitantes, reparando na cor dos portugueses, nos seus trajes e, principalmente, no poderio da armada. Estando muito curioso sobre tudo, o regente pergunta se os portugueses são marinheiros vindos da Turquia.

 

“Os portugueses até subiam na enxárcia para admirar o regente e sua comitiva, notando os trajes que usavam, bem como a linguagem bárbara e aleada que falavam. O regente mouro também ficou confuso enquanto olhava para a cor, trajes e a forte armada lusitana. Querendo saber de tudo, dizia “Se eles, por ventura, vinham da Turquia”

CANTO I – ESTROFE 63

 

E mais lhe diz também, que ver deseja

Os livros de sua Lei, preceito ou fé,

Para ver se conforme à sua seja,

Ou se são dos de Cristo, como crê.

E porque tudo note e tudo veja,

Ao capitão pedia que lhe dê

Mostras das fortes armas de que usavam

Quando c’os inimigos pelejavam.

 

“E mais lhe diz também, que ver deseja os livros de sua Lei, preceito ou fé, para ver se conforme à sua seja, ou se são dos de Cristo, como crê (1). E porque tudo note e tudo veja, ao capitão pedia que lhe dê mostras das fortes armas de que usavam quando c’os inimigos pelejavam (2).”

(1) O regente diz que também deseja saber qual religião (lei) os portugueses seguem, para assim confirmar se são muçulmanos como ele, ou se são cristãos como ele acredita;

(2) e, como último pedido, o regente deseja ver as armas que os portugueses utilizavam em suas batalhas.

 

“Além disso, o regente mouro de Moçambique também quer ver os livros da religião dos portugueses, a fim de confirmar se são seguidores da fé de Maomé, ou se, conforme ele crê, são da fé de Cristo. E para que tudo saiba, também pede ao capitão Vasco da Gama que mostre as armas que utilizam quando pelejam seus inimigos. 

CANTO I – ESTROFE 64

 

Responde o valeroso Capitão

Por um, que a língua escura bem sabia:

“Dar-te-ei, senhor ilustre, relação

De mi, das leis, das armas que trazia.

Nem sou da terra, nem da geração

Das gentes enojosas da Turquia:

Mas sou da forte Europa belicosa,

Busco as terras da Índia tão famosa.

 

“Responde o valeroso Capitão por um, que a língua escura bem sabia: “Dar-te-ei, senhor ilustre, relação de mi, das leis, das armas que trazia (1). Nem sou da terra, nem da geração das gentes enojosas da Turquia: mas sou da forte Europa belicosa, busco as terras da Índia tão famosa (2).”

(1) O capitão Vasco da Gama, utilizando um interprete que conhecia o idioma dos muçulmanos (língua escura), responde que mostrará os livros da religião que eles seguem, assim como mostrará as armas que ele trazia;

(2) diz que os portugueses não são os povos odiosos da Turquia, mas, sim, do povo guerreiro da Europa e que estão realizando essa empreitada para alcançar as famosas terras da Índia.

 

“O valoroso capitão Vasco da Gama responde às perguntas do regente de Moçambique por meio de um interprete que conhecia a língua obscura: “Dar-te-ei, senhor ilustre, a relação de mim, das leis, das armas que possuo. Não da terra, tão pouco pertenço ao povo odioso da Turquia, mas da forte Europa belicosa, sendo que busca as tão famosas terras da Índia.”

CANTO I – ESTROFE 65

 

“A lei tenho d’Aquele, a cujo império

Obedece o visíbil e o invisíbil,

Aquele que criou todo o Hemisfério,

Tudo o que sente e todo o insensíbil;

Que padeceu desonra e vitupério,

Sofrendo morte injusta e insofríbil,

E que do Céu a Terra, enfim desceu,

Por subir dos mortais da Terra ao Céu.

 

“A lei tenho d’Aquele, a cujo império obedece o visíbil e o invisíbil, aquele que criou todo o Hemisfério, tudo o que sente e todo o insensíbil (1); que padeceu desonra e vitupério, sofrendo morte injusta e insofríbil, e que do Céu a Terra, enfim desceu, por subir dos mortais da Terra ao Céu (2).”

(1) Vasco da Gama diz que seu Deus é Jesus Cristo, aquele que cuja a vontade mando no mundo visível e invisível, que criou todo o universo, assim como todas as coisas que sentimos e não sentimos.

(2) aquele que foi morto de uma forma desonrosa, ultrajante, injusta e insofrível; que desceu Paraiso à Terra para poder dar a imortalidade aos homens, fazendo-os subir da Terra ao Paraíso.

 

“Eu sigo a religião daquele cujo a vontade manda no visível e no invisível, aquele que criou todo o universo, aquele que criou tudo o que sente e todo o insensível. Aquele que padeceu de forma desonrada e ultrajante, sofrendo uma morte injusta e insuportável, e que desceu do Céu à Terra para elevar os mortais da Terra ao Céu.”

CANTO I – ESTROFE 66

 

“Deste Deus-Homem, alto e infinito,

Os Livros, que tu pedes não trazia,

Que bem posso escusar trazer escrito

O que em papel na alma andar devia.

Se as armas queres ver, como tens dito,

Cumprido esse desejo te seria;

Como amigo as verás, porque eu me obrigo

Que nunca as queira ver como inimigo.”

 

“Deste Deus-Homem, alto e infinito, os Livros, que tu pedes não trazia, que bem posso escusar trazer escrito o que em papel na alma andar devia (1). Se as armas queres ver, como tens dito, cumprido esse desejo te seria; Como amigo as verás, porque eu me obrigo que nunca as queira ver como inimigo (2).”

(1) Vasco da gama diz que não traz os livros de sua religião – do Deus-Homem, alto e infinito, pois já traz as palavras da sua religião na sua alma.

(2) diz que mostrará para o regente as armas que ele deseja ver, sendo que as mostrará como um amigo, porque não recomenda que o mouro as veja como um inimigo. 

 

“Não trago os Livros deste Deus-Homem, alto e infinito, a quem eu sigo, pois não preciso trazer escrito em papel o que devo carregar na alma. Se minhas armas queres ver, será cumprido o seu desejo, porém aviso que as verás como amigo, porque eu garanto que nunca queira as ver como inimigo.

CANTO I – ESTROFE 67

 

Isto dizendo, manda os diligentes

Ministros amostrar as armaduras:

Veem arneses e peitos reluzentes,

Malhas finas, e lâminas seguras,

Escudos de pinturas diferentes,

Pelouros, espingardas de aço puras,

Arcos e sagitíferas aljavas,

Pantanasas agudas, chuças bravas.

 

Isto dizendo, manda os diligentes ministros amostrar as armaduras: veem arneses e peitos reluzentes, malhas finas, e lâminas seguras, escudos de pinturas diferentes, pelouros, espingardas de aço puras, arcos e sagitíferas aljavas, pantazanas agudas, chuças bravas (1).

(1) Vasco da Gama manda os seus homens mostrarem as armas e armaduras da frota portuguesa para os mouros, onde são mostradas peitos metálicos, lâminas, escudos, espingardas, arcos e flechas.

 

Vasco da Gama manda os seus homens mostrarem suas armas e armaduras: arneses e peitos reluzentes, malhas finas, e lâminas seguras, escudo de pinturas diferentes, pelouros, espingardas de aço, arcos e aljavas, e chuças.”

CANTO I – ESTROFE 68

 

As bombas veem de fogo, e juntamente

As panelas sulfúreas, tão danosas;

Porém aos de Vulcano não consente

Que deem fogo as bombardas temerosas;

Porque o generoso ânimo e valente,

Entre gentes tão poucas e medrosas,

Não mostra quanto pode, e com razão,

Que é fraqueza entre ovelhas ser leão.

 

“As bombas veem de fogo, e juntamente as panelas sulfúreas, tão danosas (1); porém aos de Vulcano não consente que deem fogo as bombardas temerosas; porque o generoso ânimo e valente, entre gentes tão poucas e medrosas, não mostra quanto pode, e com razão, que é fraqueza entre ovelhas ser leão (2).”

(1) Também são mostradas as granadas de pólvora (bombas de fogo) e as panelas de enxofre (sulfúreas).

(2) porém o capitão Vasco da Gama não deixa que os seus artilheiros (os de Vulcano¹) mostrem as bombardas em ação, pois ele não acha correto fazer uma demonstração de poder para os povos mais fracos.

 

“São trazidas as bombas de fogo, juntamente com as danosas panelas sulfúreas; porém o capitão Vasco da Gama não permite que os de Vulcano deem fogo as temerosas bombas da frota, já que o generoso e valente ânimo do Capitão não permite, entre tão pouca e medrosa gente, mostrar o quanto é poderoso, já que seria fraqueza ser leão no meio de ovelhas.”

 

¹Vulcano, nome romano de Hefesto, é o deus dos artesões, sendo o responsável por forjar o raio de Júpiter, bem como outros artefatos bélicos fantásticos. “Os de Vulcano” são os artilheiros que operam as bombardas da frota. 

CANTO I – ESTROFE 69

 

Porém disto, que o mouro aqui notou,

E de tudo o que viu com olho atento,

Um ódio certo na alma lhe ficou,

Uma vontade má de pensamento.

Nas mostras e no gesto não mostrou;

Mas com risonho e ledo fingimento,

Tratá-los brandamente determina,

Até que mostrar possa o que imagina.

 

“Porém disto, que o mouro aqui notou, e de tudo o que viu com olho atento, um ódio certo na alma lhe ficou, uma vontade má de pensamento (1). Nas mostras e no gesto não mostrou; mas com risonho e ledo fingimento, tratá-los brandamente determina, até que mostrar possa o que imagina (2).”

(1) Considerando tudo o que viu nas naus portuguesas, o regente de Moçambique é tomado por grande ódio que o leva a ter pensamentos malignos contra os marinheiros portugueses.

(2) mas, apesar de sua alma ser tomada por esse sentimento, o regente não o demonstra no seus gestos, mantendo um falso sorriso e, neste momento, tratando os portugueses de forma amigável, pois aguarda uma oportunidade de colocar em prática os seus pensamentos odiosos.

 

“Nisto que notou e viu com seus olhos atentos, um ódio cresceu dentro da alma do mouro, uma vontade maligna de destruir os portugueses. Mas se conteve no momento, mostrando um sorriso falso e tratando-os brandamente até que surja uma oportunidade de mostrar o que sentia”

CANTO I – ESTROFE 70

 

Pilotos lhe pedia o capitão,

Por quem pudesse à Índia ser levado;

Diz que largo prêmio levarão

Do trabalho que nisso for tomado.

Promete-lhos o mouro, com tenção

Do peito venenoso, e tão danado,

Que a morte, se pudesse, neste dia,

Em lugar de pilotos lhe daria.

 

“Pilotos lhe pedia o capitão, por quem pudesse à Índia ser levado; diz que largo prêmio levarão do trabalho que nisso for tomado (1). Promete-lhos o mouro, com tenção do peito venenoso, e tão danado, que a morte, se pudesse, neste dia, em lugar de pilotos lhe daria. (2)

(1) O capitão Vasco da Gama aproveita o encontro e pede ao regente de Moçambique um piloto para guia-lo até as terras da Índia, sendo que oferece um prêmio se os ajudar nesta questão.

(2) Em resposta, o regente mouro promete ajuda-los, embora, estando com o coração dominado por este ódio venenoso, ele deseja dar apenas a morte aos portugueses.

 

“O capitão Vasco da Gama pedia um piloto para os levar até as terras da Índia, oferecendo um largo prêmio para quem tomar este trabalho. O regente mouro promete um piloto, mas, com uma tenção venenosa tão danosa no peito, se pudesse, neste mesmo dia, lhes daria a morte no lugar do piloto.”

CANTO I – ESTROFE 71

 

Tamanho ódio foi, e má vontade,

Que aos estrangeiros súbito tomou,

Sabendo ser sequaces da Verdade,

Que o filho de David nos ensinou.

Ó segredos daquela Eternidade

A quem juízo algum não alcançou!

Que nunca falte um pérfido inimigo

Àqueles a quem foste tanto amigo!

 

“Tamanho ódio foi, e má vontade, que aos estrangeiros súbito tomou, sabendo ser sequaces da Verdade, que o filho de David nos ensinou (1). Ó segredos daquela Eternidade a quem juízo algum não alcançou! Que nunca falte um pérfido inimigo àqueles a quem foste tanto amigo! (2)

(1) O ódio muito grande e uma má vontade tem o regente de Moçambique contra os portugueses, já que sabe que eles são seguidores (sequaces) de Jesus Cristo, aquele que trouxe a Verdade e é descente (filho) do profeta David.

(2) Camões comenta esta situação dirigindo suas palavras a Deus, aquele que os segredos são inalcançáveis, dizendo que nunca não faltarão inimigos para aqueles quem forem amigos de Cristo.

“O ódio e a má vontade que o regente mouro sentiu ao descobrir que os portugueses eram sequazes da Verdade ensinada pela descendente de David foram muito grandes. Ó Deus, o que são os segredos da eternidade a quem nunca juízo alcançou. Que nunca falte um pérfido inimigo àqueles a quem foste tanto amigo.”

CANTO I – ESTROFE 72

 

Partiu-se nisto enfim c’a companhia,

Das naus o falso mouro despedido,

Com enganosa e grande cortesia,

Com gesto ledos a todos, e fingido.

Cortaram os batéis a curta via

Das águas de Netuno, e recebido

Na terra de obsequente ajuntamento,

Se foi o mouro ao cógnito aposento.

 

“Partiu-se nisto enfim c’a companhia, das naus o falso mouro despedido, com enganosa e grande cortesia, com gesto ledos a todos, e fingido (1). Cortaram os batéis a curta via das águas de Netuno, e recebido na terra de obsequente ajuntamento, se foi o mouro ao cógnito aposento.”

(1) Após conversar com os portugueses e ver a frota lusitana, o regente de Moçambique retorna para terra com sua companhia, sendo que ele esconde o ódio com uma falsa cortesia e uma alegria fingida.

(2) os mouros todos retornam em suas canoas (batéis) cortando as águas de Netuno¹. Quando chega em terra, o regente é recebido por seus súditos e então dirige-se para os seus aposentos.

 

“Então partiu o regente com sua companhia em suas naus, carregando o aspecto enganoso e de falsa cortesia que usava para despedir-se de todos. As suas naus cortaram as águas de Netuno e, quando chegou em terra, o regente foi recebido por seu povo e voltou aos seus aposentos.”

 

¹ Netuno, nome romano de Poseidon, é o deus dos mares. Camões o cita para dizer que as embarcações navegam pelo mar.

 

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Esses foram os nossos comentários sobre a sexagésima até a septuagésima nona estrofe do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a visita do regente de Moçambique aos lusíadas, as perguntas que ele fez ao capitão Vasco da Gama e ódio que ele começou a nutrir contra a frota portuguesa.

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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