Neste nosso sexto comentário sobre Os Lusíadas, continuaremos lendo o primeiro canto da obra, onde Camões canta a chegada dos portugueses na costa oriental africana.

OS LUSÍADAS A COSTA AFRICANA ORIENTAL
A costa africana oriental

CANTO I – ESTROFE 42

“Enquanto acontecia o consílio dos deuses, a frota dos lusíadas cortava as águas da costa africana”

 

Enquanto isso se passa na fermosa

Casa etérea do Olimpo onipotente,

Cortava o mar a gente belicosa,

Já la da banda do Austro e do Oriente,

Entre a costa etiópica e a famosa

Ilha de São Lourenço; e o sol ardente

Queimava então os deuses, que Tifeu

C’om temor grande em peixes converteu.

 

“Enquanto isso se passa na fermosa casa etérea do Olimpo onipotente, cortava o mar a gente belicosa, já la da banda do Austro e do Oriente, entre a costa etiópica e a famosa Ilha de São Lourenço (1); e o sol ardente queimava então os deuses, que Tifeu c’om temor grande em peixes converteu.”

(1) Enquanto ocorriam as discussões no celeste Olimpo, os portugueses atravessavam o mar na região oriental da costa africana, local onde está localizada a famosa Ilha de São Lourenço. A reunião dos deuses se desenrolava enquanto os portugueses navegam pelo mar. Ilha de São Lourenço é o território que hoje é conhecido como Madagascar, já sendo ela um local famoso na época.

(2) Nessa hora o Sol queimava os deuses, estes que, por medo, foram transformados em peixes por Tifeu. Tifeu é um deus que, por medo dos gigantes, os transformou todos em peixes, sendo essa explicação da constelação de peixes. Sol queimando os peixes é uma referência ao Sol, naquele momento, estar n constelação de Peixes, ou seja, que o encerramento do concílio e a aproximação dos portugueses de Madagascar ocorreu no mês de março.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Enquanto ocorria o concílio no onipotente Olimpo de Júpiter, as naus lusitanas cortavam o mar, já se encontrando nos lados Sul e Oriental, próximos a costa etiópica e da famosa Ilha de São Lourenço; neste momento o sol ardente queimava os deuses que, por medo, Tifeu transformou em peixes.”

CANTO I – ESTROFE 43

“Com ventos favoráveis, os lusíadas se aproximavam das ilhas na costa de Moçambique”

 

Tão brandamente os ventos os levavam,

Como quem o Céu tinha por amigo;

Sereno o ar e os tempo se mostravam

Sem nuvens, sem receio do perigo.

O promontório Prasso já passavam,

Na costa de Etiópia, nome antigo,

Quando o mar descobrindo lhe mostrava

Novas ilha que entorno cerca e lava.

 

“Tão brandamente os ventos os levavam, como quem o Céu tinha por amigo; sereno o ar e os tempo se mostravam sem nuvens, sem receio do perigo. (1) O promontório Prasso já passavam, na costa de Etiópia, nome antigo, quando o mar descobrindo lhe mostrava novas ilha que entorno cerca e lava.”

(1) Os ventos levavam as embarcações portuguesas com tanta calma que pareciam até que eles tinham o céu como amigo. O ar e o tempo estavam tranquilos, sem receio de nuvens perigosas. A viajem segue tranquila, como se os céus cuidassem para que o mar, os ventos e o clima não prejudiquem a empreitada dos portugueses. Está situação é causada pelas bençãos que Júpiter garantiu aos portugueses no concílio dos deuses.

(2) Já haviam passado pelo cabo do Prasso na Etiópia, mostrando o mar que cercava e lavava ilhas novas que não tinham sido descobertas. Prasso hoje é conhecido como Cabo Delgado; A região recém descoberta é o litoral de Moçambique e suas ilhas.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Ventos, ar e o tempo eram brandos, dando a impressão que os lusitanos tinham o Céu como amigo; já passavam pelo promontório Prasso, na costa da Etiópia, quando descobriram novas ilhas cercadas pelo mar.”

CANTO I – ESTROFE 44

“Vasco da Gama, o capitão dos lusíadas, pretendia passar direto pelas ilhas, mas algo acabou acontecendo”

 

Vasco da Gama, o forte capitão

Que a tamanhas empresas se oferece,

De soberbo e de altivo coração,

A quem Fortuna sempre favorece,

Pra aqui se deter não vê razão,

Que inabitada a terra lhe parece:

Por diante passar determinava;

Mas não lhe sucedeu como cuidava.

 

“Vasco da Gama, o forte capitão que a tamanhas empresas se oferece, de soberbo e de altivo coração, a quem Fortuna sempre favorece (1), pra aqui se deter não vê razão, que inabitada a terra lhe parece: por diante passar determinava; mas não lhe sucedeu como cuidava.”

(1) O forte capitão Vasco da Gama, de grande valor e resiliente contras dificuldades, sendo sempre favorecido pela Fortuna. Elogios ao capitão das embarcações; Fortuna é divindade que representava a sorte e o bom destino, no caso, Camões afirma que Vasco da Gama sempre teve a sorte como aliada.

(2) Acreditando que as ilhas pareciam desabitadas, ele pretendia não parar em nenhuma delas, porém as coisas não aconteceram como ele desejava. Vasco da Gama pretendia passar reto pela região, mas as coisas não saíram como ele planejou. Camões faz essa menção para introduzir novos eventos que acontecerão nas próximas estrofes.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“O forte e corajoso capitão Vasco da Gama, a quem a Fortuna sempre o favoreceu, não via razão para parar nas ilhas que lhe pareciam inabitadas, porém as coisas não aconteceram como ele queria.” 

CANTO I – ESTROFE 45

“A frota dos lusíadas se depara com pequenos e ágeis barcos vindos das ilhas em sua direção”

 

Eis aparecem logo em companhia

Uns pequenos batéis, que vem daquela

Que mais chegada à terra parecia,

Cortando o longo mar com larga vela.

A gente se alvoroça, e de alegria

Não sabe mais que olhar a causa dela.

Que gente será esta, em si diziam,

Que costumes, que lei, que rei teriam?

 

“Eis aparecem logo em companhia uns pequenos batéis, que vem daquela que mais chegada à terra parecia, cortando o longo mar com larga vela (1). A gente se alvoroça, e de alegria não sabe mais que olhar a causa dela. Que gente será esta, em si diziam, que costumes, que lei, que rei teriam? (2)

(1) Quando Vasco da Gama pretendia passar direto pelas ilhas de Moçambique, eis que aparecem grupos de canoas vindo das ilhas, atravessando o mar com velas largas. Vasco da Gama se surpreende com a surgimento repentino das canoas, já que acreditava que as ilhas na região eram inabitadas.

(2) Os portugueses ficam alvoroçados de alegria, não fazendo mais nada que ficar olhando as canoas se aproximando e indagarem-se: Quem serem esses que se aproximam? Que costumes tem? Que leis seguem? Quem será seu rei? A tripulação fica curiosa e entusiasmada com a aproximação dos povos locais de Moçambique.

Podemos, portanto, entender que a estrofe diz que:

“Eis que surgem uma companhia de pequenos batéis vindo das terras próximas. A tripulação fica se alvoroça, com tanta alegria que nada mais fazem que olhar. Que gente será está, diziam entre sim, que costumes, que lei, que rei teriam?”

 

Gostou do conteúdo? Comece lendo a nossa série de posts sobre Os Lusíadas clicando aqui.

Leia o nosso próximo post sobre Os Lusíadas clicando aqui.

Os Lusíadas (Edição Didática) - Volume I e II – Editora Concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

os-lusíadasII-editora-concreta

Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II

Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.

 

Esses foram os nossos comentários sobre a quadragésima segunda até a quadragésima quinta estrofe do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões canta a chegada da frota dos lusíadas na costa oriental africana e a repentina aproximação de barcos vindos das ilhas de Moçambique

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

plugins premium WordPress