Neste nosso segundo comentário, vemos como foram os primeiros anos de Paulo Honório como dono de São Bernardo, a relação dele com seus vizinhos e o desenvolvimento da fazenda. 

SÃO BERNARDO A AQUISIÇÃO DA FAZENDA SÃO BERNARDO
O crescimento da fazenda

O vizinho Mendonça

Com a aquisição de São Bernardo por Paulo Honório, é introduzido na obra Mendonça, o proprietário da fazenda Bom-Sucesso, fazenda vizinha de São Bernardo. Segundo Paulo Honório, Mendonça é do tipo perigo que, após a morte do velho Padilha, foi mexendo nas cercas das fazendas, roubando as terras de São Bernardo.

Administrar a fazenda foi difícil para Paulo nos primeiros anos, com as plantações não vingando e, do pouco que colhia, mal tinha lucro, já que os preços estavam muito baixos. Passou graves apertos, trabalhou muito, tendo que vender o almoço para pagar a janta. Com tantas dificuldades acontecendo não conseguia parar de pensar em quanta terra São Bernardo perdeu para as investidas da cerca de Bom-Sucesso. Para piorar, durante a noite, escutava barulhos estranhos, como se fossem passos de alguém rondando sua casa.  Numa das noites, ao ouvir mais uma vez um ruído, olhou pela janela e viu um dos homens de Mendonça nas sombras rodando a casa. Paulo não conseguia parar de pensar em seu vizinho.

Mas certo dia, voltando de um domingo de eleições na cidade, o velho Mendonça foi alvejado com tiro nas estradas próximas de sua fazenda, morrendo na hora e deixando sua propriedade de herança para suas ingênuas filhas solteironas. A partir daí, foram as cercas de São Bernardo que começaram a avançar, engolindo as terras de Bom-Sucesso.

O velho Ribeiro

Nesta época também chegou em São Bernardo o Ribeiro, um velho de setenta anos que Paulo Honório trouxe para trabalhar como guarda-livros (contador).

Segundo sua história, ele teria sido o major de um pequeno povoado, sendo a pessoa mais importante da região. Tudo o que acontecia passava pela sabedoria do bom major Ribeiro. Se tinha uma briga, ele quem resolvia; se chegava uma carga, ele quem transmitia as palavras para os pobres ignorantes; se acontecia um assassinato, ele quem procurava, prendia e mandava o culpado para a cadeia; se uma moça aparecia grávida, ele quem encontrava o pai da criança e casava os dois.

Na região não existia nenhuma autoridade político, jurídica ou religiosa, pois a sabedoria do major era suficiente. Ele decidiu, ninguém discorda.

Mas isso aconteceu quando ele era jovem. O tempo foi passando, as pessoas foram morrendo, outras foram nascendo, e a região começou a crescer cada vez mais. Com o crescimento, chegaram as autoridades e, com isso, a sabedoria e o conhecimento do major foram sendo substituídas por um juiz, por um médico, por um delegado e por um padre.

Chegou o momento que, ao perceber que estava velho e não tinha mais utilidade, o major vendeu suas coisas e foi embora para perambular por aí. De um lado para o outro, trabalhando aqui e a ali, o velho acabou indo trabalhar como guarda-livros na Gazeta de Viçosa, onde Paulo Honório o conheceu e, ao ouvir sua história, trouxe para São Bernardo para trabalhar.

O desenvolvimento de São Bernardo

Cinco anos vão se passando desde a aquisição de São Bernardo. Paulo Honório, contrariando a tudo e todos, trouxe prosperidade à terra, tendo lucro e realizando muito mais do que esperava. É claro que diversas dificuldades surgiram no caminho e, por muitas vezes, ele pensou em desistir. Em um momento de reflexão, ele percebe que precisou fazer coisas ruins para conseguir o que quer, mas que tudo foi válido para conseguir S. Bernardo.

Um dos investimentos mais bem sucedidos foi na parte de maquinário para potencializar seus resultados. Precisou se endividar e, arriscando tudo, as coisas deram certo. A pomicultura e a avicultura também deram tão certo que ele precisou construir estradas para escoar a mercadoria.

O sucesso foi tanto que até recebeu a visita do governador de Alagoas na fazenda. Ao mostrar seu pomar, as galinhas, o gado, a serraria e o descaroçador de mamonas, conseguiu impressionar a autoridade. Quando foi questionado sobre implantar uma escola para instruir seus homens, Paulo Honório achou ridículo. Por que ensinar as letras a um apanhador de mamonas? Porém, pensando apenas nas vantagens que conseguiria ao agradar o governador, prometeu que, na próxima visita à S. Bernardo, o político veria todos aprendendo. 

No dia seguinte, João Nogueira, advogado de respeito que cuidava das questões jurídicas de S. Bernardo, junto com Luís Padilha e Azevedo Gondim comentavam para Paulo Honório sobre uma mulher que tinham visto. Diziam que era bela e muito educada, tanto que trabalhava como professora. Paulo não deu muita importância aos comentários e, com a intenção de abrir a escola, convidou Padilha para lecionar na fazenda. São Bernardo, que já contava com iluminação nas casas e se preparara para ganhar telefones, agora também teria uma escola.

Nessa época Paulo também conseguiu encontrar e trazer a velha Margarida para morar em São Bernardo. A chegada da preta, que era chamada de Mãe Margarida, trouxe muita alegria para Paulo, tanto que ela ganhou uma bela casinha na fazenda.

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São Bernardo – Graciliano Ramos (Editora Record)

Uma das melhores obras do escritor Graciliano Ramos, bem como uma das mais importantes da literatura ficcional brasileira em uma nova edição publicada pela editora Record.

 

Esse foi o nosso segundo comentário sobre a obra São Bernardo, de Graciliano Ramos, onde vimos como foram os primeiros anos de Paulo Honório como dono de São Bernardo, a relação dele com seus vizinhos e o desenvolvimento da fazenda. 

 

Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre os grandes textos de Graciliano Ramos, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.

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