Neste nosso terceiro comentário sobre São Bernardo, vemos como Paulo Honório conheceu sua esposa Madalena e os primeiros anos dos dois juntos na fazenda.

Vontade de casar?
Certo dia Paulo Honório acordou com vontade de casar. Como nunca foi um homem de muito amores, somente coçando aqui e ali com umas raparigas, achou o desejo bem estranho. Após um pouco de reflexão percebeu que, na verdade, queria um herdeiro para dar continuidade aos trabalhados de São Bernardo. Tudo o que Paulo fazia girava entorno da fazenda; ela era sua vida. A partir deste dia começou a fantasiar uma esposa e um filho.
Das poucas figuras femininas que pensou como pretendente, a mais interessante era d. Marcela, filha do juiz Dr. Magalhães. O interesse foi tanto que até chegou a visitar o escritório do bom juiz para dar uma boa olha na mulher, porém outra figura feminina chamava sua atenção. No gabinete do juiz estava uma jovem loira muito bonita de olhos azuis acompanhada de um senhor mais alta; ouvindo a conversas descobriu que a senhora se chamava Glória.
O nome da mocinha loira ele só foi descobrir em outra oportunidade: Quando retornava da capital de Alagoas após resolver um desentendimento com Costa Brito – questão está que foi causada por uma matéria publicada na Gazeta que, dentre várias coisas, acusava-o de ladrão e assassino -, Paulo Honório reencontrou dona Glória e eles passaram toda a viagem conversando e se conhecendo. A mocinha chamava-se Madalena e era sobrinha de d. Glória. Retornando de viagem, ambos foram apresentados e, a partir daí, Paulo começou a se encontrar com elas frequentemente.
Após brigar com Padilha por ele tentar espalhar ideias socialistas em São Bernardo, Paulo Honório, que já não gostava da figura, pensava em retirar o ex-proprietário da fazenda do cargo de professor da escola e, querendo se aproximar de Madalena, tentou convida-la para trabalhar em S. Bernardo, proposta que ela recusou. Então, como não conseguia retirar a imagem de Madalena como a esposa, Paulo Honório criou coragem e pedi-a em casamento, dizendo que toda a questão de contrata-la para trabalhar em S. Bernardo não passava de uma desculpa para ficar próximo dela e que o que ele realmente queria era casar com ela.
Madalena não ficou surpreendida com a proposta, já que, em conversas anteriores com d. Glória, Paulo tinha comentado, sem dar mostrar suas intenções, que a jovem professora precisava de um marido. Sendo uma mulher pobre, Madalena, mesmo nem conhecendo-o direito, viu vantagem na proposta e aceitou o pedido. Casaram-se pouco tempo depois, levando d. Glória para morar com eles em São Bernardo.
Madalena e d. Glória em São Bernardo
Madalena e d. Glória não sofrearam com a mudança para o campo. D. Glória, que em outra oportunidade já tinha dito preferir a cidade por achar o mato lugar inadequado, gostou muito do seu quarto na casa principal da fazenda, além de ficar impressionada com quão avançada era a estrutura do lugar.
Agora como senhora da fazenda, Madalena não conseguia ficar parada. Visitava as moradias e as famílias, conversando com os trabalhadores e trazendo suas questões para Paulo. Ele não gostou disso, dizendo que quem cuidava do trabalho no campo e das pessoas era ele, que ela não precisava se envolver com essas questões, e, caso quisesse algum serviço, que fosse ajudar dentro de casa. Com isso, acabou indo cuidar dos livros da fazendo junto com seu Ribeiro, a quem gostou muito da companhia.
Certo dia, durante o jantar, aconteceu a primeira das muitas discussões da nova família. Madalena questionava a baixa remuneração que Riberio recebia de Paulo, este que se enfureceu, já que ele não gostava de ser questionado na forma que conduzia sua fazenda. O que mais irritou Paulo foi quando d. Glória, com um único comentário, concordou com a opinião de Madalena. Isso foi suficiente para ele dizer para Glória não se intrometer em assuntos que ela nada entendia. Após a discussão, percebendo que tinha exagerado, Paulo desculpou-se e, para não deixar d. Glória desocupada na fazenda, também lhe arrumou serviço.
Meses depois nascia o filho que Paulo tanto deseja, mas isso não foi o suficiente para conforta-lo.
Problemas no paraíso
Mesmo trabalhando com seu Ribeiro, Madalena ainda percorria a fazenda, sempre querendo auxiliar as famílias que viviam em São Bernardo. Paulo, que não gostava disso, tentava conter seu temperamento explosivo para não começar uma discussão com sua esposa, mas nem sempre conseguia evitar uma briga. Quando não brigavam por causa das opiniões da esposa sobre o tratamento que Paulo dava aos seus homens, brigavam por causa de alguma coisa ínfima feita por d. Glória que desagradou o dono da fazenda.
Se já não bastasse arrumar brigas por qualquer coisa, Paulo também começou a acreditar que estavam conspirando contra ele. Não podia ver Padilha ou d. Glória conversando que já pensava que estavam falando sobre ele. Isso perturbava-o, fazendo com que brigasse com eles e com Madalena.
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São Bernardo – Graciliano Ramos (Editora Record)
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Esse foi o nosso terceiro comentário sobre a obra São Bernardo, de Graciliano Ramos, onde vimos como Paulo Honório conheceu sua esposa Madalena e os primeiros anos dos dois juntos na fazenda.
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