Neste nosso quarto comentário sobre São Bernardo, vemos como foram os primeiros anos do casamento de Paulo e Madalena e como os ciúmes do protagonista desgastou a relação de ambos.

SÃO BERNARDO A AQUISIÇÃO DA FAZENDA SÃO BERNARDO
Os ciúmes de Paulo Honório

Inferno na terra

Com o tempo o relacionamento de Paulo e Madalena ia piorando. Paulo acreditava que estavam sempre falando dele; não podia ver Padilha e Madalena conversando que já começava a se remoer de raiva.

Passa o tempo e a paranoia se transformou em ciúmes. Se via Madalena conversando com algum homem, Paulo começava a se questionar se eles estavam tendo um caso. Desde de Padilha, quando conversavam na porta da escola; Caetano, pedreiro de S. Bernardo, quando Madalena visitava as famílias da fazenda; o advogado Nogueira; o juiz Magalhães e até o velho Ribeiro. Bastava um homem conversar com ela que ciúme corroía Paulo Honório por dentro.  A principal suspeita caia sobre Padilha, já que, por ser professor da escola e morar em São Bernardo, ele conversava mais com Madalena. Por causa disso, Paulo começou a castigar o coitado, deixando praticamente preso dentro da escola, tendo que comer e dormir no lugar, além de não lhe pagar o salário.

A suspeita, que antes existia apenas na sua imaginação, agora já tomava controle de sua razão. Paulo começou a questionar diretamente as ações de sua esposa que julgava suspeitas, chegando até a interroga-la.

Assassino

A relação dos dois se mostrou arruinada quando, ao interrogar sua esposa acerca de alguns papéis, se iniciou uma briga e, durante trocas de insultos, Madalena o chamou de assassino. De onde tirara essa ideia, se perguntava Paulo. A única pessoa que já o chamou assim foi Costa Brito, que, em um artigo escrito na Gazeta, o acusava de matar o vizinho Mendonça para tomar suas terras. Paulo pensava se ela teria lido aquela antiga matéria escrita.

A culpa, como sempre, caiu sobre Padilha. Para Paulo, ele era o culpado de tudo. Padilha quem plantava as ideias coletivistas da esposa e estimulava ela se intrometer na gestão de São Bernardo; ele quem ficava aos fuxicos com sua esposa pelos cantos, e, quando estavam sozinhos, deviam fazer muito mais. Quem mais teria espalhados esses boatos para Madalena?

Paulo até tentou demitir o professor, acusando-o de espalhar boatos Madalena, mas a paranoia e o ciúmes eram ridículos até mesmo para Paulo. Padilha disse que nunca fez tal coisa; que os boatos correm por aí sozinhos e que, quando Madalena o questionou sobre o assassinato, ele defendeu Paulo, dizendo que Mendonça tinha muitos inimigos, sendo muito mais provável que outro tenha-o liquidado.  

Acreditou no que disse Padilha, porém já estava ficando louco, tanto que ficava se perguntado se estaria Madalena se encontrando com os trabalhadores da Fazenda. Tamanho era absurdo pensar nisso que até ele já chegou à conclusão que estava maluco.

O pedido de desculpas

Numa tarde, enquanto acompanha algumas atividades em São Bernardo, Paulo encontrou uma folha de papel em frente ao escritório. Era parte de algum texto mais longo e, reconhecendo a letras, percebeu que foi escrito por Madalena. Não tendo a mesmas capacidades literárias da esposa, ele sentia certa dificuldade em entender texto. Com isso o ciúme apareceu, e Paulo começou a se perguntar se ela teria escrito isso a algum homem.

Leu e releu o papel diversas vezes. Não tendo ele dúvida alguma que era endereçada um homem, Paulo foi furioso até Madalena, questionando o papel que encontrou no chão.

Foi encontrar sua esposa rezando na igreja, ela que estava um aspecto estranhamente calmo e, diferente do que costumava fazer, não respondeu as acusações de Paulo com a raiva de costume. Apenas respondeu dizendo que o papel se separou do resto de uma carta que estava no escritório, carta está que ela escreveu para Paulo. Ao ver o estranho comportamento da esposa, que falava de assuntos aparentemente desconexos, a raiva de Paulo perdeu força, dando lugar a calma e o arrependimento.

Numa tentativa de salvar seu casamento fracassado, Paulo se desculpa propondo uma viagem para eles dois. Deixariam a fazenda e ficariam alguns meses descansando no Rio de Janeiro, longe da vida infernal que estavam vivendo em São Bernardo. Madalena, que estava claramente perturbada não respondeu a propostas, apenas disse que estava cansada e despediu-se do seu marido.

Paulo ficou um pouco na igreja e acabou pegando no sono, só acordando na manhã seguinte, nem imaginando o que estava por vir.

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Esse foi o nosso quarto comentário sobre São Bernardo, onde vimos como foram os primeiros anos do casamento de Paulo e Madalena e como os ciúmes do protagonista desgastou a relação de ambos.

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