Neste nosso comentário sobre os versos memoráveis de Camões, falaremos sobre a terceira estrofe do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões diz que se esqueçam os feitos dos gregos, romanos e demais generais do passado, pois agora serão cantados os grandes feitos dos portugueses.
A obra Os Lusíadas
O épico de Camões canta as glórias do povo português desde de sua fundação até as conquistas deles em suas expedições pelo Oriente. Para fazer isso, Camões narra a empreitada comandada pelo capitão Vasco da Gama que chegou até à Índia; enquanto narra os percalços que os portugueses enfrentaram nesta viagem, Camões também conta os eventos que precederam essa viagem e os eventos que acontecerem depois.
A obra começa com a introdução do poeta, onde ele diz que cantará as glórias dos homens que desbravaram os mares do mundo, como também as glórias dos reis e heróis que expandiram o império de Portugal e a fé de Cristo. Após isso, ele faz uma dedicatória ao jovem rei D. Sebastião, onde tece elogios ao monarca português.
Começa narrando um conselho dos deuses no Olimpo, onde as divindades greco-romanas, após uma discussão entre Baco e Vênus, decidem apoiar os portugueses, favorecendo-os em sua empreitada. Neste momento da viagem, a frota do capitão Vasco da Gama já está navegando pelas águas da costa africana oriental, onde os portugueses conhecem e enfrentam os povos africanos de Moçambique e, posteriormente, de Mombaça.
Após interferência favorável de Vênus, os portugueses chegam até Melinde, onde são muito bem recebidos pelo monarca local. Curioso com a chegada dos visitantes europeus, o rei de Melinde pede para os portugueses se apresentarem e contarem a história de seu povo e como eles, tendo vindo de terras tão longínquas, chegaram até Melinde.
A partir deste momento, Camões, utilizando o capitão Vasco da Gama como narrador, conta a história de Portugal. Começa descrevendo os territórios da Europa, até finalmente chegar na região que ficam as terras lusitanas; menciona a formação do condado de Portugal pelo conde Henrique de Borgonha e como seu filho, Afonso Henriques, veio a se tornar rei destas terras após vencer um grandioso exército mouro.
A narração segue contando os reinados dos monarcas portugueses e como eles, ao longo do tempo, foram expandindo o reino de Portugal pela Península Hispânica (Ibérica). Depois disso, continuando narrando como foi a expansão do então Império de Portugal nos territórios da África, até que decidiram também explorar as distantes terras do Oriente.
Uma viagem marítima foi preparada, sendo escolhido o capitão Vasco da Gama como comandante da frota portuguesa. A partir daí, a narração conta como foi a viagem dos portugueses desde sua partida das praias de Lisboa até chegar nos domínios do rei de Melinde.
A frota portuguesa segue ao Sul navegando pela costa africana Oriental até chegar ao extremo do continente. Ali, na divisa do lado ocidental para o oriental, os portugueses passam pela Cabo da Boa Esperança, que é o território do terrível e implacável Gigante Adamastor. Após passarem por ele, os portugueses seguem navegando pela costa oriental, atravessando os territórios de Moçambique e Mombaça, onde lutam com os mouros que dominam estas terras. Tendo superado as dificuldades que encontraram com esses povos, a frota portuguesa chega até Melinde, com capitão Vasco da Gama concluindo sua narração.
Seguindo viagem, a frota portuguesa deixa Melinde e avança rumo às terras da Índia. O deus Baco, como queria destruir os portugueses, manipula outros deuses, fazendo-os lançar os furiosos ventos contra as embarcações. A frota do capitão Vasco da Gama só não foi destruída porque Vênus, intervindo mais uma vez em seu favor, salva-os, ao acalmar os furiosos ventos com o amor das belas ninfas.
Quando finalmente chegam nas tão sonhadas terras do Oriente, os portugueses desembarcam na península indiada de Malabar, onde fica o reino de Calecut. Um emissário encontra um muçulmano do norte da África por ali, este que descreve para eles como são os reinos e povos da região.
Ao saber da chegada dos visitantes, Samorim, rei de Calecut, envia um emissário para trazê-los até o seu palácio. Diante do monarca indiano, o capitão Vasco da Gama faz uma proposta de aliança com ele, dizendo pra eles estabelecerem uma tratado comercial e de proteção com Portugal.
O rei Samorim pede para o capitão português aguardar enquanto ele pondera sobre o pedido. Querendo ter certeza de quem são os portugueses, manda seu conselheiro descobrir investigá-los, este que vai até as naus onde estão os demais membros da frota portuguesa. Ali, Paulo da Gama, irmão de Vasco da Gama, mostra pinturas que representam os grandes heróis da história lusitana. O monarca indiano também pede para que seus feiticeiros utilizem de suas magias pra descobrir mais sobre portugueses, sendo que eles vêem o futuro e dizem que os portugueses conquistarão todo o Oriente.
O deus Baco, numa última tentativa de destruir os portugueses, visita um sacerdote muçulmano e, estando disfarçado do profeta Maomé, manda que ele e os demais sacerdotes acabem com portugueses. Acreditando que era realmente o profeta em seus sonhos, o sacerdote convoca um conselho com os demais sacerdotes, onde eles decidem subornar os conselheiros do rei Samorim, para que eles manipulem o monarca contra os portugueses.
Quando o capitão Vasco da Gama vai até o rei Samorim para ouvir sua resposta, o monarca, que já está influenciado por seus conselheiros corruptos, acusa os portugueses de serem piratas e vagabundos. Em resposta, o comandante português reafirmar ser quem diz que é, pois não faria sentido um grupo de vagabundos ou piratas fazer tal empreitada.
Sendo convencido pelos argumentos de Vasco da Gama, e porque também está influenciado pela cobiça, já que uma aliança com Portugal seria muito lucrativa, o rei Samorim aceita a proposta. Para celebrar o arco, o monarca indiano dá aos portugueses um carregamento de mercadorias para eles levarem para levarem e venderem.
Neste momento, a grande empreitada dos portugueses está concluída, só faltando eles iniciarem a viagem de volta e retornarem para as terras de Portugal. Mas, como os conselheiros corruptos de rei Samorim ainda desejavam destruir a frota portuguesa, eles impediram o retorno do capitão Vasco da Gama de volta para as naus, segurando-o o máximo de tempo possível em terra.
Após discussões entre o conselheiro e o comandante português, este que já tinha percebido que estavam tentando sabotar sua viagem, fica acordado entre eles que as mercadorias seriam vendidas na cidade e o ouro ficaria com os conselheiros, sendo que tudo isso acontecia sem o consentimento do rei Samorim. Neste acordo, Vasco da Gama volta para as naus e dois marinheiros portugueses ficam em terra para concretizar as negociações.
Mas existia uma nova armadilha neste acordo, seno está a última tentativa dos conselheiros: os mercadores da cidade foram instruídos a não negociar com os dos marinheiros, para assim retardar a partida da frota o máximo possível, pois, nesta época, era comum que uma grande e poderosa frota muçulmana vindo de Meca chegasse em Calecut para negociar mercadorias. Quando essa frota chegasse, ela entraria em combate com os portugueses e os destruiriam.
O capitão Vasco da Gama acaba descobrindo tal armadilha e manda os dois marinheiros retornarem para as naus, mas, como eles estavam sendo vigiados, foram pegos tentando fugir e acabaram sendo presos. Em resposta a tal prisão, os portugueses capturam alguns mercadores de Calecut, fazendo-os de reféns. Quando o rei Samorim ficou sabendo de toda essa situação, ordenou que os marinheiros portugueses fossem libertados e voltassem para as naus com as mercadorias que receberam.
Assim, depois de tanta dificuldade, a frota portuguesa finalmente deixa às terras da Índia e começa sua viagem de volta para Portugal.
A deusa Vênus, que sempre protegeu e auxiliou os portugueses, decide recompensa-los por terem conseguido realizar está viagem tão difícil. Decide ela que eles poderão descasar em uma das suas ilhas, sendo que está ilha está cheia de belas ninfas apaixonadas. Para isso, ela vai até Cúpido, seu filho, para que ele faça as ninfas se apaixonarem pelos marinheiros; então Cupido atira as suas fechas do amor nas belas ninfas e as manda para a ilha que Vênus preparou, a Ilha dos Amores.
No caminho de volta para Portugal, os marinheiros encontram está ilha peculiar e atracam no local. Conforme exploram a ilha, eles vão encontrando as belas ninfas e acabam ficando juntos, sendo que o capitão Vasco da Gama, por sua grande importância, fica com a famosa ninfa Tétis.
Após uma longa tarde de amores, as ninfas levam os portugueses para um banquete, onde uma ninfa sereia, que tinha conhecimento do futuro, começa a cantar os futuros feitos que portugueses realizarão nas terras do Oriente. Ela vai mencionando os conflitos e feitos que foram travados nestas terras tão distantes e mencionando os nomes dos bravos portugueses que se consagraram lutando para expandir o Império de Portugal.
Terminado o banquete e o canto da ninfa seria, Tétis leva o capitão Vasco da Gama para conhecer a Máquina do Mundo, uma cópia de toda a criação que foi feita por Deus e que era um presente para ele. Ela começa a mostrar como funciona o mundo, mostrando os firmamentos que circunda a Terra e então os vastos territórios do mundo.
Os portugueses, já tendo se deleitado com os prazeres da Ilha dos Amores, continuam viagem de volta e finalmente retornam para Portugal, concluindo essa grandiosa empreitada.
Camões encerra sua grande obra se dirigindo novamente ao rei D. Sebastião, onde comenta o desprezo que poeta recebeu seus conterrâneos portugueses, lamentando que eles não valorizem a sua arte. Também dá alguns conselhos ao jovem monarca, dizendo para que ele escolha seus conselheiros com sabedoria, os selecionando por seus méritos. Finaliza seus conselhos pedindo para que o rei D. Sebastião busque realizar grandes feitos, assim como seus antepassados fizeram.
O contexto da estrofe
A obra de Camões começa com a introdução, onde o poeta diz que seus versos cantarão as glórias dos bravos homens que desbravam os perigosos mares para alcançarem as terras do Oriente, e cantarão as vitórias dos grandes reis e heróis que, graças aos seus grandes feitos, expandiram o Império de Portugal e o Cristianismo.
Encerrando a sua introdução, ele para serem esquecidos os grandes feitos do passado que até então eram cantados, pois agora ele cantará os grandes feitos que os portugueses fizeram, estes que são muito maiores do que qualquer um feito até então.
O significado da estrofe
Cessem do sábio grego e do troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cala-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a musa antiga canta
Que outro valor mais alto se alevanta.
Dando fim a sua introdução, onde mostrou sobre o que se trata a sua obra, Camões diz que deixem de ser cantadas as glórias dos grandes homens da antiguidade e que agora sejam cantadas as dos portugueses.
No começo da estrofe, ele diz para que deixem de cantar (cessem) os feitos marítimos realizados pelo sábio grego e o troiano. O sábio grego é Ulisses, personagem presente na Ilíada e protagonista da Odisseia, ambas as epopeias do grande Homero que cantam os grandes feitos realizados pelos gregos no Cerco de Tróia (Ilíada) e as dificuldades que Ulisses teve superar durante a sua viagem de volta para sua casa (Odisseia). O troiano é uma referência a Enéias, protagonista da epopeia Eneida, o grande épico do poeta romano Vírgilio, que também canta as navegações feitas por ele.
Camões também diz que deixem de ser cantadas as grandes vitórias dos generais Alexandre, o Grande, e de Trajano, imperador de Roma. Ao dizer isso, Camões não se refere somente aos dois grandes generais da Antiguidade, mas a todos os feitos militares realizados até então, pois, quaisquer destes feitos do passado ficam pequenos quando comparados com os dos portugueses; tão grandes são estes feitos no mar e nos campos de batalha, que até Netuno, deus romano do mar, e Marte, deus romano da guerra, os obedeceram.
Dando fim a estrofe e voltando a dizer que sejam esquecidos os feitos do passado, Camões diz que a Musa Antiga, que aqui representa a arte do passado que ilustrou as façanhas dos heróis, seja deixada de lado, pois agora ele, ao narrar os feitos portugueses, cantará algo muito mais grandioso.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume I
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Os Lusíadas (Edição Didática) – Volume II
Obra completa de Camões com notas e comentários de Francisco de Sales Lencastre, sendo a melhor edição para quem busca compreender todos os detalhes deste grande épico.
Esse foi o nosso comentário sobre os belos versos da terceira estrofe do primeiro canto de Os Lusíadas, onde Camões diz que se esqueçam os feitos dos gregos, romanos e demais generais do passado, pois agora serão cantados os grandes feitos dos portugueses.
Eu sou Caio Motta e convido você a continuar acompanhando os nossos comentários sobre a grande obra de Camões, bem como demais textos da grande literatura universal presentes no nosso blog.